Capítulo 14 - Renascendo

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Fogo. 
Gritos. 
Lágrimas. 
Pedidos de socorro. 
Estas três coisas foram as últimas lembranças de Anastasia antes de abrir os olhos. 
— SOCORRO! - A morena acordou ofegante, desesperada, pedindo por ajuda acreditando que ainda estava presa no salão do hospício em meio ao fogo e a dor.  
— Cala a boca, Anastasia! - Penélope mandou tapando a boca dela com a mão imediatamente - Oh inferno! - Resmungou revirando os olhos - Odeio gritos há essa hora do dia. Vai calar essa maldita boca de uma vez por todas?! - Perguntou e Ana assentiu com a cabeça confirmando - Ótimo. - Tirou a mão. 
— Que lugar é esse?! - Ana questionou olhando para os lados, sentindo seu corpo todo arder, especialmente seu braço direito. 
— Uma casa abandonada. Sequer tem água encanada aqui, mas por sorte tem poço no jardim. Se é que podemos chamar aquilo lá de jardim. - Penélope respondeu largando ela totalmente e se levantando. 
Anastasia olhou ao seu redor. 
A casa era pequena, parecia ter poucos cômodos. 
Cheirava a mofo e poeira. 
Mal tinha móveis, tanto que a jovem estava deitada em um chão duro. Seu braço direito estava enfaixado com alguns pedaços de pano e ardia muito. 
— O que aconteceu Penélope? Não lembro de muita coisa. Estávamos no sanatório, tudo estava pegando fogo e...
— E aí aquela vaca engoliu a chave, mas teve o que mereceu porque agora está no inferno, fiz questão de não salva-la. - A loira revirou os olhos ao lembrar - Muitos começaram a passar mal, desmaiar, tossir. Um horror! Nós também, mas você desmaiou primeiro porque é fraca demais, não aguenta nada. Eu e meus amigos tivemos então uma ótima ideia, trocamos nossas roupas com a de algumas pessoas que estavam desmaiadas para que se escapássemos com vida, todos pensassem que estávamos mortos. Assim o fizemos. Depois, com muito custo, conseguimos quebrar a porta, janela e fugir pouco antes dos bombeiros aparecerem. 
— Quem está aqui conosco? - Ana perguntou tocando o braço ferido. 
— Mais uns três amiguinhos. Boa parte dos outros foram capturados ou simplesmente morreram queimados. - Respondeu friamente. 
— Penélope, você matou essas pessoas! Foi você quem provocou o incêndio! - Anastasia a acusou começando ao se lembrar do ocorrido. 
— Não queria que ninguém morresse, só queria sair daquele lugar. Mas a vida é assim, uns se vão para que os outros se saíam vitoriosos. Meu padrasto sempre me dizia isto. - Recordou - Nossos colegas estão na rua dando um jeito de arrumar comida e remédios para nos tratar. Mas pensando bem, devia ter te deixado lá pra morrer também. Você está muito chata agora, pior do que antes. 
— Você é louca. 
— Claro que sou! E você também. Esqueceu que três dias atrás estávamos em um hospício? 
— TRÊS DIAS? - Ana arregalou os olhos. 
— Depois que te resgatamos você ficou muito mal. Teve febre, a queimadura do braço não está nada boa, assim como a da minha perna que vai ficar cheia de cicatrizes como a sua. - Mostrou os ferimentos - Você ficou três dias delirando que só. Mas a Sia cuidou bem de você. 
— Sia? Quem é Sia?
— Nossa amiguinha. Sabe como ela foi parar no nosso ex-lar? - Perguntou se escorando na parede - Ela era enfermeira e matou um paciente que tentou abusar dela certa vez. Depois, enlouqueceu quase que totalmente. Mas ela tem chamado de enfermeira mesmo, tanto que te socorreu como pode e também me ajudou muito. Depois desses três dias, você finalmente acordou. Agora vai levantar e esquentar água pra tomar um banho porque está cheirando muito mal. 
— É, estou mesmo. - Ana reparou tentando cheirar as próprias axilas. 
— Já aconteceu isso contigo? Ficar dias e dias sem banho? Tô perguntando porque sei lá, você é milionária. Rico adora tomar um banho. - Brincou. 
— Fiquei sim, depois que a Carla partiu. Mas só daquela vez. - Ana respondeu se levantando e procurando a cozinha. 
Ana pegou um pouco de água que tinha em um balde, a esquentou e foi tomar banho de caneca mesmo. 
Colocou uma camiseta e uma calça que não lhe serviam muito bem, mas era o que tinha naquele momento. 
[...]
Meia hora depois...

— Anastasia, agora você vai conhecer nossos coleguinhas. - Penélope avisou com um sorriso largo no rosto - Esta aqui é Sia, que comentei mais cedo com você. - Falou apresentando uma mulher magra, de aspecto franzino e olhos grandes e amendoados. Este é o Warrick, o fortão do grupo. - Falou apontando para um homem negro, alto e musculoso. Ele foi parar no hospício porque gostava de matar uns ladrões do bairro onde morava, com requintes de crueldade. Essa aqui é a Liza, ela foi parar lá porque gosta de se cortar. E de cortar os outros também. - Revelou mostrando uma mulher mais gordinha de olhos puxados. 
— Entendi... Er, prazer. - Anastasia tentou ser simpática. 
— O prazer é todo nosso. Trouxemos comida. - Liza falou mostrando as sacolas a todos. 
— E remédios. - Sia disse se aproximando da morena - Deixa eu ver como está este braço. - Começou a examinar Anastasia que tremeu - Ei, não fique com medo, não te farei mal algum. - Garantiu e a CEO relaxou um pouco. 
— Ei, sabia que você está nos jornais? É famosa!! - Warrick perguntou entregando o jornal para Anastasia.
— Eu? - Ela pegou o jornal em mãos e começou a lê-lo. 
 

"Morre Anastasia Steele, presidente e herdeira de uma das maiores empresas de tecnologia do Vale do Silício. 

Anastasia Steele, 26 anos, teve o corpo reconhecido por seu marido ontem na Califórnia

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Anastasia Steele, 26 anos, teve o corpo reconhecido por seu marido ontem na Califórnia. Segundo Jack Steele esposo da milionária há quase cinco anos, sua mulher foi internada no hospício há uma semana após ter um surto psicótico no aniversário da morte da mãe. Há três dias, o sanatório pegou fogo, tendo poucos sobreviventes. A vida de Anastasia Steele foi marcada por tragédias: Há dez anos seu pai, o todo poderoso Raymond Steele, assassinou sua mãe, Carla Steele e seu amante na mansão da família onde ambos residiam até a jovem ter o surto. Conhecida por ser uma empresária de mãos de ferro e temperamento forte, Anastasia nunca foi totalmente "normal", segundo seu marido disse após fazer o reconhecimento do corpo."

 

— Vai ficar com muitas cicatrizes. - Sia avisou terminando de trocar o curativo da morena - Está me ouvindo? - Perguntou dando um tapa no braço da jovem que gritou. 
— Estava lendo a matéria. Quer dizer que todo mundo pensa que estou morta agora? - Ana perguntou franzindo a testa. 
— Já tinha te dito isso. Você é surda por acaso? - Penélope revirou os olhos - Nós trocamos sua roupa e aliança com uma das vítimas. 
— Assim podemos ter a chance de ter vida nova. - Liza explicou sorrindo. 
— E seu maridinho deve ter adorado, afinal, agora a herança é toda dele e da possível amante que com certeza ele tem. - Penélope incitou vendo a morena amassar o jornal - Está bravinha é?
— Que ódio. - Ana disse furiosa - Mas isso não vai ficar assim, não vai mesmo!
— O que pretende fazer? - Liza questionou com a sobrancelha arqueada. 
— Não acha que seria melhor aproveitar pra sumir no mundo? Penélope nos contou sua história e olha... Ficamos passados com o mau caratismo desse seu marido. Mas você já perdeu todo mundo, não tem mais nada, nem ninguém. Não é melhor sumir de uma vez e recomeçar? - Sia aconselhou. 
— Não. Sabe... Sinto que aquele incêndio de certa forma me fez renascer. Mas não para o bem. Renasci sim, mas para o mal. Ressurgi das cinzas daquele incêndio para me vingar. Me vingar de todos que me fizeram mal. 
— A quem está se referindo? - Warrick perguntou abrindo as sacolas de comida. 
— A Jack e Leila. Somente eles. Quero que eles sofram o mesmo que eu, que passem pelas mesmas dores que enfrentei. - Fechou os punhos - Quero vê-los derrubar o dobro das lágrimas que eu derrubei e até já sei como farei isso. - Sorriu, mas não era o sorriso de sempre.
Agora Anastasia sorria de forma maldosa, seus olhos, antes muito alegres tinham uma sombra, uma tristeza, uma chama. 
— Como pretende fazer isso? - Liza perguntou curiosa. 
— Primeiro vamos nos alimentar, estou com muita fome. Depois, irei explicar o que pretendo fazer com aqueles lixos. 
[...]
— Espera... Você quer que eles fiquem loucos? - Penélope perguntou entre gargalhadas - Ta maluca? Não tem como isso acontecer. 
— Claro que tem, basta o gatilho certo. - Anastasia respondeu tomando um gole do refrigerante - Todos nós podemos enlouquecer, basta escolher a chave certa, abri-la e joga-la fora pra sempre. A chave que abre a porta da loucura. 
— Você não está dizendo coisa com coisa. - Warrick gargalhou. 
— Estou sim. Quero deixa-los apavorados, consigo. Sei que consigo. Conheço aquela casa como a palma da minha mão. Vou entrar naquele lugar e vou fazê-los se arrependerem de terem nascido, eu juro. 
— E depois? O que você fará? - Penélope questionou de boca cheia. 
— Não tem depois, só o agora. E agora o que eu mais quero é destruir a vida de Jack e Leila antes de coloca-los na cadeia. Só isso. E depois, dane-se o resto. 

********

E a reviravolta da história finalmente aconteceu...

Será que a Ana vai conseguir se vingar?

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