➣ Prólogo

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Naomi

Trinta e um de outubro de 2012.

Dia passagem do verão para a o inverno, dia da Reforma Protestante... Dia das bruxas. Hum? Talvez tenha sido a maior ironia da história que este tenha sido o dia em que os mortos resolveram voltaram a vida.

No começo todos acharam que era uma piada. Depois acharam que era uma estratégia do governo para eliminar os pobres e os doentes. Não importa. As únicas coisas das quais eu consigo me lembrar sobre o começo de tudo são os avisos do governo através dos rádios, jornais e televisão... até que tudo saiu do ar. Foi decretado um toque de recolher e que só saíssem de casa caso fosse de extrema urgência. Um dia depois mandaram que todos se escondessem em casa e não destrancassem as portas por nada até uma segunda ordem, mas a segunda ordem nunca foi dada.

Foi fácil ver como a sociedade é capaz de desmoronar em algumas horas se as leis não se aplicam mais a ela. As pessoas enlouqueceram, viraram delinquentes. Começaram a saquear as lojas e mercados, as farmácias, começaram a buscar armas, começaram a se matar por nada e, é claro, começaram a comer umas as outras. Depois que a luz acabou e que a comida ficou escassa, aquelas pessoas que sentiam medo do caos do lado de fora de suas casas protegida começaram a sair para tentar encontrar água e algo para comer, mas nem todos deram sorte. Cada vez mais confusão. Cada vez mais infectados nas ruas de Atlanta. 

Os militares conseguiram controlar a situação por um tempo. Fizeram alguns acampamentos perto de laboratórios, zonas de quarentena e varreduras na cidade. Conseguiram manter todos que estavam em sua zona de quarentena em segurança, até perderem o controle. Ouvi dizer que abandonaram as zonas seguras e fugiram atrás de suas famílias ou de algum lugar mais seguro do que com os civis sem experiência nenhuma de combate. Mesmo com uma boa força militar não conseguiram impedir que a doença se alastrasse e que mais mortos surgissem. 

E então, veio o PLANO B.

Como eu gosto de chamar, o Plano B de bomba. Jogaram bombas de curto alcance em algumas áreas de Atlanta. Não duvido que tenham feito diferente em outro lugar dos Estados Unidos. Tentaram acabar com a praga, mas não se pode salvar o que já está condenado. 

Onde estão os governadores agora? Onde estão os engomadinhos milionários? Estão vivos? Com certeza. Bem, alguns estão. Provavelmente devem ter se escondido em algum bunker com suas família e qualquer outra pessoa que fosse capaz de pagar, enquanto deixaram seu próprio povo morrer.  Viva ao patriarcado e o estilo de vida americana. Ou morte. Se algum dia eu encontrar aqueles idiotas eu tenho certeza que os mato, isso se um infectado não fizer esse favor por mim.

Eu realmente os mataria. Uma cortesia de ser uma... ser uma pessoa perigosa envolvida com outras pessoas perigosas. Não é tão confuso. Vamos voltar um pouco nessa história. A minha história.

Minha vida sempre foi um pouco complicada. Minha relação com meu pai foi ruim desde que eu nasci e só piorou quando a minha mãe morreu. Meu tio se abalou demais com a morte dela e se afastou da família, minha vó era doida e provavelmente estava morando em algum lugar na Alemanha com um cara trinta anos mais novo que ela. Minha vida dentro de casa foi um verdadeiro inferno até que meus vizinhos denunciaram meu pai para o conselho tutelar. Eu tinha doze anos quando fui mandada para um lar adotivo meia boca onde eu fiquei até completar a maioridade.

Depois que eu fiz dezoito me expulsaram de lá e eu tive de aprender a me virar sozinha. Procurei meu pai com esperanças que ele tinha mudado para melhor e se arrependido, mas eu nunca o encontrei e as coisas que eu descobria sobre ele não me agradavam nem um pouco. Então, eu acabei encontrando o doce Jace, meu ex-namorado, que me garantiu que cuidaria de mim se eu o ajudasse. Foi praticamente amor a primeira vista.

Ele era um criminoso. Mas que pessoa que nunca teve um bom exemplo na vida ou juízo não se apaixonaria por um cara meia boca que era um idiota, mas que dava abraços e ingressos para o cinema? O amor as vezes é veneno. Também não sou nenhuma santa. Gostei quando Jace me contou do que ele fazia parte e pediu minha ajuda para roubar. Acontece que eu era muito boa nisso. Mãos bonitas e leves.

Ele me deu serviços fáceis, digamos assim: invadir lojas, roubar estabelecimentos pequenos. No começo eu me sentia mal e suja em fazer tais coisas, mas com o tempo eu descobri que era boa no que fazia e eu me sentia bem com isso. Jace me olhava orgulhoso quando eu tinha sucesso, e eu sempre tive sucesso.

Quando as coisas ficaram boas para nós dois e os chefes da facção nos ofereceram um bônus, saímos de Cynthiana para ir viver cidade grande. Mais chances de roubo, mais gente com grana. Os chefes gostaram bastante de mim. Sou rápida e sem querer me gabar, muito inteligente. Com o tempo recebi um "cargo"  importante e até consegui o meu próprio nome dentro da facção. Rainha noturna. Nome escolhido pelo grupo de elite da facção. Todos os meus maiores roubos foram feitos a noite e voilà, um nome e uma linda carreira. (e não, não há nenhuma rainha diurna.) 

No dia das bruxas o mundo acabou e meu querido ex-namorado me deixou em um beco com um policial infectado para se salvar. Bem romântico. Ganhei meus privilégios por ser criminosa e essas coisas, então não foi difícil acertar o policial na cabeça e escalar a grade no beco para o outro lado da rua. Continuei fazendo o que eu fazia de melhor: roubar o que preciso e sair ilesa.

A única coisa certa nesse apocalipse é que eu vou sobreviver até o fim. Até a última gota de sangue.

𝐖𝐚𝐫𝐫𝐢𝐨𝐫𝐬 - 𝐑𝐢𝐜𝐤 𝐆𝐫𝐢𝐦𝐞𝐬 (reforma) Where stories live. Discover now