A Origem de Gênesis

30 - Pangen

Fiz algo errado, aposto.

Mas minha mente está com muito céus na mente e eu não consigo balbuciar nada coerente. Eu pego a mochila, volto novamente onde ela continua sentada, como se nada estivesse acontecendo. Acho que ontem teve uma tensão muito grande.

— Então eu já vou indo. A gente se fala.

Ela ri.

— Será que eu poderia te apresentar meus amigos hoje?

Uma pergunta feita antes de eu abrir a porta e sair o mais rápido possível daqui. Um segundo e eu já teria respirado fundo lá fora.

— Seus amigos?

— É.

— Claro. Por quê?

— Hoje. Tu poderia conhecer meus amigos? — Eu arqueio as sobrancelhas. — Acho que seria importante conhecer hoje.

— Pode ser. Você... me manda mensagem.

Eu tropeço antes de sair de casa. A porta fecha desengonçada, barulhenta.

Meu Deus.

Eu me declarei pra ela? Aquilo foi uma declaração?

Se foi uma declaração, será que ela respondeu bem? Eu sou... lésbica?

Tudo bem, acho que sou lésbica.

Meu Deus, acho?

Aquilo... pode ser considerado minha primeira vez mesmo que não pareça já que... sei lá. Certo, eu tenho uma prova agora, que não tem tanta importância assim, e eu estou pensando em... Pandora? Eu lésbica?

Céus, minha melhor amiga me masturbou. É isso? E eu gostei muito? Ela me deu banho com espuma então significa que ela sente o que estou sentindo? Ou pelo menos parecido?

Se tinha adrenalina ontem para aguentar dizer tudo aquilo, hoje não tem nada. Meu cérebro vai estourar. Não sobrou absolutamente nem um pouco de adrenalina pra não surtar pensando em como eu fui precipitada. Impulsiva. Em como jorrei as palavras de forma imprudente e desesperada. Eu disse com todas as palavras que não gosto de garotos depois de beijar Isaac. E, no fim, não teve nada a ver com sentir nada com o beijo dele.

E sim, com o fato de sentir tudo com uma garota. Tudo, o bastante para não sobrar nenhum sentimento desse tipo para garotos.

Parando pra pensar, se não fosse pela imprudência, eu ainda estaria na mesma. Talvez a imprudência até esteja me deixando um pouco feliz, mas me dando um frio na barriga também.

E esse frio na barriga se intensifica quando vejo Isaac, do outro lado do pátio. Mais do que me entender, é não magoar ninguém com minha confusão. Ou, agora, com minha aceitação. Isaac é um cara legal e talvez seja isso que faça o frio na barriga se intensificar. Ele é tudo o que eu criança imaginou que gostaria.

E aí, sem adrenalina, meu coração está ansioso. Confessar que gosto da Pandora é confirmar que, por mais incrível que Isaac seja, não gosto dele nem um pouco. Assim que ele me vê, sorri de uma maneira que não consigo retribuir à altura enquanto caminho em sua direção. Ele é um cara incrível. Isaac me tratou bem, é gentil e eu não gosto dele. E, do modo como ele sorri, acho que é pior ainda.

Isaac gosta de mim. E eu não gosto dele.

E, em teoria, isso deve não me fazer a pior pessoa do mundo.

Em prática, sim.

O sino ecoa antes de eu conseguir chegar perto dele. Preciso dar meia volta para ir para a sala e fazer a última prova de Geografia. Eu nem devo notar nessa matéria, mas parece da minha vontade querer aproveitar os últimos segundos do ensino médio como se ele tivesse sido incrível. Não foi.