Capítulo 37: Adônis

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Depois de ter entrado em todos os lugares que eu já tinha ido com Klaus na cidade, cheguei à conclusão de que ele não estava em Esperança.

Tentei ser discreto e não alarmar ninguém quanto ao seu sumiço. Apenas passeava pelos lugares de forma despreocupada, e eventualmente quando via um rosto amigo, perguntava se o tinham visto. Nada.

Tony tinha ido cobrir os bares e lanchonetes, eu fiquei com todo o resto. Pensei ainda em ligar para Samuel, mas não queria deixar mais uma pessoa preocupada com o idiota do Klaus. Além de que Tony tinha algo que Samuel não possuía: carro.

Se Lorena não me ligasse dando notícias dele ainda naquela noite, eu daria queixa de sumiço e colocaria todo o meu pessoal nisso.

Eu estava com muita raiva dele nesse momento.

Com raiva por ter deixado Lorena sem dormir o final de semana inteiro. Com raiva por ele estar se comportando como um menino de doze anos. Com raiva dele não ter me avisado que queria desaparecer uns dias, e o pior, com raiva porque ele tinha perdido a primeira imagem do filho dele que foi, de longe, a coisa mais bonita que eu já tinha visto na minha vida.

Sentei num banco de praça, observando os velhinhos passearem de mãos dadas e algumas crianças brincando sob a supervisão dos pais. Eu jamais tive aquilo com os meus pais. Eram pessoas ocupadas e um pouco superficiais comigo, ainda que tivessem aquele fogo italiano nas veias. Quem suprira minha criança emocionalmente frustrada foi minha nona, e depois que vim para Esperança, Klaus. Ele era a melhor pessoa que eu conhecia, apesar de ultimamente ser a mais babaca.

Quantas e quantas vezes tentei ajudá-los?

Lorena não via problema com a minha presença constante na vida deles, mas Klaus tinha surtado total depois que soube da gravidez dela, e começou a brigar comigo por qualquer coisa, como se estivesse desconfiado da minha vontade de ajudar ou com ciúmes do tempo que eu tinha disponível para Lorena. O fato de eu ter dinheiro demais passou a ser um muro estranho entre nós dois.

Porra, ele era meu amigo! Meu irmão. A pessoa que eu mais amava naquela cidade e vinha agora, depois de tantos anos, com chilique para não aceitar minha ajuda? Eu estava me sentindo um merda com essa situação toda.

Até que me afastar por uns tempos iria me fazer bem, mas não com Klaus agindo como uma ameba e deixando Lorena sempre à mercê da vida, sozinha. Não podia deixá-la sozinha. Não queria deixa-la sozinha.

Klaus era a pessoa que mais sabia sobre tudo o que Lorena tinha passado. Ele viveu os últimos meses ridículos da garota junto dela, e daí, invés de tratá-la com todo o amor e atenção que ela merecia, sumia no mundo. Aquilo era realmente tão egoísta quanto parecia ser.

Eu sabia que meu amigo reagia muito mal a certas coisas, mas sempre pensei que Lorena seria a exceção dessa regra. Ele a amava, e eu não tinha dúvidas disso. Só estava perdido entre contas para pagar e uma mulher grávida deitada em sua cama todas as noites. Isso era demais para qualquer pessoa, mesmo uma equilibrada quanto Klaus. Eu tentava ajudar como eles permitiam.

Usei o fato de ser padrinho do bebê para enchê-lo de presentes, e vi por muitas vezes Klaus entortar a boca para a minha ajuda. Era como se um alien tivesse se apossado do corpo do meu amigo e o transformado naquela coisa esquisita que bebia diariamente e se escondia pelos cantos, com medo de encarar a responsabilidade que de repente tinha.

O fato de eu ter dinheiro em excesso não era garantia de felicidade. Olhe para meus pais! Cada um era muito bom no que fazia: Meu pai fazia dinheiro, e minha mãe fazia caridade com o dinheiro dele. Nenhum dos dois tinha aprendido a incrível arte de ser pai. Eu ainda acreditava que tinha sido obra do acaso, o meu nascimento, já que nenhum deles quisera outros filhos. Então eu levei toda a pressão do legado da família, ou seja, eu herdaria todos os vinhedos espalhados pelo mundo inteiro. E até que eu gostava demais daqueles vinhedos, mas não tinha pretensões de dar o braço a torcer e fazer o que meu pai queria que eu fizesse.

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