Capítulo 27: Klaus

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Tinha simplesmente 27 dias que eu não falava com Lorena. Estava a ponto de enlouquecer de saudade.

Fui visitar Diego todas as tardes desde que pegamos os canalhas. Se por acaso encontrasse Lorena no hospital, ela arranjava um motivo para ir embora. Marcos me disse que só duas coisas a tiravam de lá: A escola e eu.

Diego já tinha acordado. Às vezes ele falava e às vezes apenas emitia uns sons que aprendemos a entender. Ainda não movia bem as pernas e os braços, mas o fisioterapeuta disse que era apenas uma questão de tempo. Estávamos extremamente felizes com sua nítida melhora, mas ninguém parecia mais radiante do que Marcos. Passava todo o tempo falando sobre as adaptações que faria no apartamento deles quando voltassem. Ele ainda não tinha conversado com Diego sobre ir embora, e por recomendação médica, provavelmente nem iria. A ideia era dopar e transportá-lo de uma cidade para a outra em um helicóptero, e só quando ele se desse conta de não estar mais em Esperança, contar a verdade.

Marcos me falou que Lorena estava dormindo no apartamento de Diego. Alguma coisa sobre não poder ir para casa nesse momento. Saber que ela estava dormindo sozinha naquele lugar era como uma droga para um viciado. Tive que resistir à tentação de correr até lá e colocar um pouco de juízo na cabeça dela, mas eu tinha prometido que iria dar o tempo que ela precisasse, e estava dando. O problema era que esse tempo me machucava e me angustiava mais a cada dia que passava.

Tivemos as últimas aulas de música nessas quatro semanas. Ela se sentava bem longe de nós, ao lado de Rany e Lis. Percebia quando ela me encarava e virava o rosto quando me pegava olhando para ela também. Não tinha como resistir, por mais que eu tentasse. Lorena estava abatida e eu estava desesperado para poder fazer alguma coisa por ela além de olhar e babar de longe. Eu falei sério quando disse ao meu pai que iria até o inferno por aquela garota. Essa afirmação me assustava? Lógico! Mas também me enchia de forças.

Esperava o momento em que ela me chamaria num canto para dizer que queria ficar comigo, e isso era quase embaraçoso, visto que nunca esperei mulher alguma por tempo nenhum. Tempo antigamente para mim implicava em possibilidade de ter outras mulheres. Tempo hoje em dia significava tortura.

Foi o mês mais longo da minha vida, e eu andava notavelmente antipático e agressivo. Meu pai já nem falava comigo a não ser que eu puxasse assunto. Samuel vinha todo cauteloso quando queria conversar, e até meus professores pesavam as palavras antes de chamar minha atenção por alguma coisa, inclusive Gustavo. O único que sabia me trazer para a realidade era Adônis, que gritava comigo quando eu estava me comportando como um idiota.

Adônis também era minha maior fonte de notícias sobre Lorena. Eles se davam muito bem, e meu amigo sabia separar quando Lorena estava precisando dele, e quando eu estava. Eu duvidava que Lorena falasse de mim o tempo inteiro, como eu falava dela. Ela era a durona. A garota que tinha me enchido de orgulho quando rejeitou bater nos caras que deixaram seu irmão numa cama de hospital por consideração a ele. Que me fez perceber o quanto eu a amava quando deu as costas para mim e foi para o carro de Adônis me pedindo um tempo. Lorena me deixou apavorado aquele dia, e desde então eu agia com a maior cautela do mundo para que ela não se afastasse mais ainda de mim. Isso era humilhante, eu sei, mas eu não me importava em parecer humilhante se fosse para estar com ela.

E quando estiver triste, simplesmente me abrace...— Adônis cantou do meu lado e me tirou do mundo de Oz que eu me encontrava.

Ele estava com um violão no colo, dedilhando a música do Skank. Os cabelos loiros caindo no rosto e um sorriso divertido nos lábios enquanto me empurrava com o ombro.

Estávamos embaixo da nossa árvore. O sol nascendo no horizonte e o calor fazendo cócegas no meu rosto. Tinha muitas horas que eu não ia para casa. Meu pai esteve de plantão a noite toda, então Adônis resolveu intervir na minha depressão e me tirou do meu ninho, me enchendo de música e vinho.

A Mais Bela MelodiaWhere stories live. Discover now