Capítulo 5: Klaus

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E foi do conhecimento desse jornalista que vos fala, que o grupo de música da escola vai fazer a apresentação final do Festival da Colheita de Uva na cidade de Esperança, e sabemos que não é exatamente uma novidade, vide a falta de criatividade de quem coordena o festival. Também chegou ao meu ouvido que eles escolheram o tema "Musicais da Broadway" como distração para os participantes do evento. Claro que uvas e musicais americanos tem tudo a ver! Tem aquele do... Não, esse era sobre um órfão. Mas tem aquele de... Negativo, estou pensando no da menina que aprendeu a ser uma dama.

Retiro o que disse. Musicais americanos e uvas não combinam em nada!

Não é a primeira e nem será a última vez que lhes digo o quanto acho inútil a escola perder tanto dinheiro comprando equipamento e vestimenta para esse grupo, quando tem tantos outros que realmente querem fazer algo maior para a escola do que dançar e cantar em cima de um palco.

Temos o grupo de políticas escolares lutando por melhorias nos bebedouros de nossa escola. Também tem a galera da ecologia que precisa de material para replantar novas mudas no lugar onde as árvores ao redor do laboratório foram queimadas. E o próprio laboratório, que precisa ser reconstruído. E invés de investir nosso dinheiro em algo que vá render bons frutos para essa escola, nosso conselho de diretores vai pagar milhares com plumas e paetês para vestir um Gene Kelly e uma possível Bárbara Streisand.

Alguém mais vê a falta de lógica dessa situação?

Vamos pedir aos céus que pelo menos eles não resolvam colocar um collant rosa Pink em Klaus Hunter para interpretar uma cena de Footloose ou Flashdance. Pois, como também é de conhecimento geral, ele não precisa de mais um vexame no seu currículo artístico, depois da sua versão bizarra de Rick Martin no ano passado.

Lenar Chanzenaro

— Eu juro que vou matar aquela garota!

Amassei o jornal sentindo o sangue ferver e minhas mãos suarem. Como ela tinha sido capaz de algo assim depois de eu ter escondido de toda a turma que ela era o tal do Chanzenaro?

Adônis estava parado na minha frente, encostado numa pilastra, fumando um cigarro com uma expressão levemente divertida, o que me fez jogar o jornal amassado na cabeça dele. Samuel, sentado na grade enferrujada, olhava apreensivo para mim, esperando que eu explodisse ali mesmo, o que era bem provável que eu fizesse. Mas invés disso eu puxei um cigarro do meu próprio bolso e o acendi, tentando fazer com que as baforadas levassem embora a matéria ridícula que Lorena tinha escrito.

Olhei para o lado preocupado. Quase não fumávamos mais na escola desde o dia em que Adônis tinha sido pego nesse mesmo local. Mas era uma situação de emergência e se algum funcionário nos achasse, eu poderia dizer que a culpa era de Lorena e mostraria o jornal. Até podia ver a cena deles me entregando um lencinho com pena de mim.

Ai que ódio eu estava!

Já não bastava ter sido chamado de Rick por semanas, ela ainda tinha colocado a cereja do bolo dizendo que eu poderia aparecer de collant rosa Pink.

— Filha da puta! – Xinguei me apoiando na grade e apertando com força o ferro gelado.

— Você realmente não achou que aquela história de Matheus iria ficar barato, não é?

Adônis pisou no resto do cigarro, soltando a baforada final.

— Pensei. Eu nunca contei sobre ela no grupo. Escondi seu segredo. – Falei pausadamente, tentando disfarçar a raiva que estava sentindo e fazendo força em segurar minha língua para não falar demais. Não gostava de guardar segredos deles, mas de repente me pareceu impróprio falar da vida de Lorena por ai, mesmo que fosse para meus dois melhores amigos.

— Isso não salvaria você, Klaus. – Ele continuou. – Ela não dá a mínima para o grupo de música.

— Soube que Matheus acabou com ela e está saindo com aquela tal de Isabela. A gostosona ruiva que se formou ano passado. – Samuel avaliava as pessoas correndo ao redor do campo de forma pensativa.

Isabela? Tudo bem que ela era bonita, mas era fútil até a alma e se fingia de revolucionária para chamar a atenção do pai, que sempre negava seus pedidos esdrúxulos. Sem contar que...

— Pera aí. Lorena namorava aquele imbecil? – Perguntei caindo na real do que tinha ouvido.

Quando Samuel balançou a cabeça afirmando, eu quase cai no chão. Fiquei tão surpreso que por um momento esqueci a raiva que estava sentindo de Lorena. Ela tinha tentado livrar a cara do namorado que tinha a deixado para morrer. Ou ela era muito idiota ou esse grupo de ambientalistas drogados fazia lavagem cerebral nas pessoas. Acho que fico com a primeira opção.

— Bem feito para ela. – Disse sentindo meu peito inflar.

— Tsc... tsc... tsc.

O barulho que vinha de Adônis fez o meu sorriso sumir do rosto. Essa mania que ele tinha de estalar a língua para mim era muito irritante.

— Você não está entendendo, meu caro amigo. – Ele falou com um ar de Sherlock Holmes — Ela vai jogar toda a raiva desse rompimento em você. Foi isso o que ela fez nesse jornal. Está descontando em quem ela acha que tem culpa.

—E sou eu? – Gritei. – Eu tenho culpa do babaca ter visto a megera que ela é? Aquilo não é uma garota. Está mais para um cruzamento de bestas demoníacas.

— Talvez. – Adônis me encarou com os olhos acinzentados e firmes, em sua postura pouco abalável, como sempre. — E você só tem duas opções, deixar para lá a esperar que ela fique quieta e não passe na sua frente, ou revidar antes que piore.

Foi a única coisa que ele disse antes de se recostar ao lado de Samuel, fitando uma garota de short minúsculo que corria selvagemente na pista. Ele sempre gostou das mulheres mais impossíveis e desafiantes. Dei de ombros e virei de costas para pensar.

Eu precisava fazer alguma coisa. Não queria mais um slogan para a minha campanha de não conseguir sair quieto da cidade. Só queria ir embora em paz, e faltavam poucos meses para isso. Quem sabe nas férias eu poderia viajar com uma banda da cidade? Já tinham me convidado, mas meu pai se recusava a aceitar o filho num ônibus de músicos bêbados e drogados. Bem, eu não precisava ir tão longe para ficar bêbado e drogado. Fazia aquilo pelo menos três vezes por semana e embaixo do nariz dele.

Concentra, Klaus! Para de pensar no futuro e organiza o que vai fazer no presente para evitar mais um mês de gozação com você.

Eu tinha que resolver o problema de Lorena nesse momento. Ela escrevia matérias horríveis sobre nós e eu dedurei o namorado imbecil que ela tinha. Ela entrou para o grupo de música e eu não a queria lá. Eu teria que aguentar Lorena Sanchez por mais alguns dias e ela não poderia cantar de galo todo esse tempo achando que é a Manda-Chuva. Eu daria o troco em dose cavalar.

— Como andam as leituras dos livros de Stephen King de vocês?

Perguntei com sarcasmo e vi o sorriso se formar no rosto de Adônis. Samuel bateu palmas enquanto pulava da grade.

— Vingança? — Perguntou eufórico meu amigo baixo e de aparência impecável.

— Vingança. – Respondi confiante.

Iria me vingar dela, mesmo que eu pegasse uma detenção por isso.

A Mais Bela MelodiaWhere stories live. Discover now