Capítulo 19: Klaus

128 17 0
                                    

— Qual o seu problema? Está fazendo de propósito ou nunca aprendeu a definição de esquerda e direita?

Ela me fuzilou com os olhos e retrucou:

— Eu escorreguei, ok? Você está todo suado e pegajoso e não consegui evitar!

— E você está usando uma porra de calça jeans!— Berrei em resposta. — Quem vem dançar usando calça jeans?

— Eu não me lembrava de ter ginástica olímpica no filme, seu babaca! — Respondeu também gritando. — Além disso, meu guarda-roupa não tem essas coisas esquisitas. — Ela apontou para o collant de uma das dançarinas.

— Isso não é problema meu. Você caindo em cima de mim, arriscando quebrar meu braço é problema meu.

— Ah, deixa de drama, Hunter!

— Vai se ferrar, Sanchez!

Chega!

Gustavo levantou da poltrona e subiu no palco numa velocidade que deixaria o Flash com inveja. Olhei ao redor e todo mundo, até o pessoal que estava montando cenário nos bastidores, tinha vindo para ver qual havia sido o motivo de tanta gritaria. Era a sexta vez que tentávamos fazer um levantamento e Lorena caia em cima de mim como uma jaca mole. A coitada da professora de dança, Estela, só fazia entortar a boca quando ela caía, o que estava me dando nos nervos. O trabalho dela não era nos ensinar?

— Vocês estão querendo me matar antes do tempo, não é? — Gus bufou na minha frente e ambos abrimos a boca para falar, mas ele levantou as mãos numa imposição bem convincente. — Não estão nem se esforçando.

— O que? — Lorena gritou

— Você não pode estar falando sério! — apontei para meu braço arranhado e vermelho.

—Estão se comportando como crianças e só quando pararem com isso é que vão conseguir fazer a cena funcionar. Vocês conseguiram cantando, não acredito que vão emperrar na dança.

Tinha sido bem fácil, na verdade. A música era uma briga entre o casal, coisa que eu e Lorena conseguíamos fazer com facilidade. Quase tinha gostado do castigo que recebemos com essa canção, isso até Gustavo me lembrar de que mesmo que eles estivessem meio que discutindo em cena, eles eram namorados e a dança exigia essa cumplicidade. E cumplicidade era um cão de três cabeças para nós dois.

— Só estou pedindo que vocês tentem de verdade. Sem ficar se agredindo ou fazendo de má vontade por se odiarem. — Gustavo falou baixinho, só para a gente, o que foi bem foda para mim. Odiava quando ele vinha com essa coisa de nos atingir de modo delicado!

Virei para Lorena e ficamos por um bom tempo nos olhando.

Depois daquele sábado eu tinha prometido para mim mesmo que não iria mais tentar. Que se ela quisesse ser idiota e viver isolada, ela que se ferrasse sozinha. Eu juro que era muito mais fácil pensar assim quando ela não estava no meu campo de visão, porque quando revolvia aparecer na minha frente, sentia toda a força de vontade derreter, como se minha resistência a ela fosse feita de gelo. Então eu usava da agressividade para me manter firme. Sabia que ela reagiria espontaneamente rude se eu a tratasse com indelicadeza, e foi o que fiz durante toda a semana toda. Ensaiamos a parte musical na segunda anterior, e foi consideravelmente fácil já que os ensaios eram feitos a portas fechadas com a orquestra que Gustavo tinha chamado da cidade vizinha, e as pessoas que cantariam cada canção. Como eu só estaria no palco com ela em duas canções, e uma delas envolvia toda a turma, só tive que enfrenta-la na briga ridícula de Anita e Bernardo em América.

E então Lorena fez algo que me assustou bastante, estendeu-me a mão.

— Trégua? — Perguntou com um sorriso cansado. — Pelo menos em cima do palco? Quero ir embora ainda hoje.

A Mais Bela MelodiaWhere stories live. Discover now