A Mais Bela Melodia

Capítulo 6: Lorena

O salão estava cheio.

O novato tentava colocar mais cadeiras para as pessoas que ainda estavam em pé. Em uma contagem rápida de olho, diria que tinha quase cem pessoas, e a maioria mulheres.

Dava para ouvir o mascar de chiclete e um garoto mandando outro para um canto que a mãe certamente ficaria escandalizada de ouvir. Mas o último ano ao lado de Matt tinha me treinado para o pior das pessoas, e eu não ligava mais para palavrões, muito pelo contrário. Às vezes minhas frases eram compostas de 80% deles.

Matt.

Um buraco se abriu em meu peito quando me lembrei do seu sorriso relaxado e encantador. Era estranha essa coisa do comodismo em um relacionamento. A gente não sai por medo de mudar, e ainda assim torce pela mudança que não é capaz de começar.

Ele não tinha ligado para se desculpar, e pelo o que entendi, estava saindo com a vaca da Isabela. A palhaça não esperou nem o negócio esfriar de vez antes de se engraçar com meu antigo namorado, mas eu não estava nem ai. Oficialmente nem tínhamos acabado, mas ambos sabíamos que a partir daquela ligação o respeito tinha ido embora de vez, e nada funciona sem respeito.

— Lorena, você pode começar quando quiser.

O novato me olhou com um sorriso alegre e olheiras profundas nos olhos. Eu tinha feito o rapaz arrumar todo o ginásio para aquela ocasião com luzes de natal. Eu sabia que não era natal, mas sempre gostei da delicadeza das luzes piscando. Eu queria que todo o evento tivesse um ar descontraído e caseiro para os participantes. Acho que consegui. Sentia-me aconchegada ali.

O diretor tinha marcado aquela palestra cerca de dois meses atrás. Espalhamos vários cartazes pela escola, que obviamente iam parar na lixeira com o desenho de um bigode no meu rosto, e fizemos uma divulgação pesada no jornal e no rádio. Mesmo assim, dois dias atrás só tinham vinte pessoas inscritas, e a grande maioria eram meus ex-alunos de escola dominical. Quase morri de alegria quando mais de oitenta pessoas apareceram de última hora para participar, o que me rendeu uma carga de adrenalina excessiva - diga-se de passagem, a quantidade de chá que eu ingerira nos últimos dias. Eu sabia que propaganda era a alma do negócio, mas não sabia que tantas pessoas na escola se interessavam por gases poluentes e os efeitos nocivos na nossa atmosfera. É eu sei que o nome não era lá muito chamativo para jovens, mas tinha me rendido um público de cem pessoas, e não dava a mínima se todas elas entendiam o que ouviriam naquela manhã.

Vi o novato na mesa de som, ajustando algum controle, e enchi meu peito antes de pegar a muleta e ir me arrastando, usando toda a dignidade que ainda me restava para subir no palco.

Sempre gostei de público, e convivendo toda a minha vida com meu pai, estava bem acostumada com esse tipo de atenção. Então apoiei a muleta no púlpito e ajeitei as folhas da minha palestra, para que eu pudesse me orientar durante a apresentação. Pigarreei quando levantei a cabeça e o silêncio foi sepulcral.

Fitei o novato e ele sorriu de modo encorajador, e foi ai que abri a boca.

— Bom dia, pessoal, meu nome é Lorena Sanchez e vim aqui para dar uma palestra sobre gases poluentes e os efeitos nocivos na nossa atmosfera.

O público parecia entediado, a não ser o pequeno grupo de ambientalistas nerds que olhavam para mim com verdadeira adoração do lado esquerdo. Lia-se "Lorena é a maior" num cartaz e nas camisas que usavam, e eu quis morrer de vergonha. Uma bola de chiclete estourou alto e me tirou dos meus pensamentos vergonhosos.

Comecei falando sobre os tipos de gases poluentes e tentei soltar uma piada ou outra no meio para ver se eles se animavam, mas nada acontecia. Tirando o encorajamento do novato e os sorrisos metalizados dos loucos de verde, o resto do pessoal parecia tão disperso com seus telefones apitando mensagens, que me desanimei em menos de cinco minutos de palestra. Quis pular alguns slides, mas isso não seria legal para quem estava prestando atenção, então continuei.