Capítulo 34: Lorena

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— Lorena? — Uma pausa longa e um pigarro — Você me ouviu?

Virei meu rosto da janela para o policial que estava sentado na cadeira em minha frente. Charles tinha um rosto bondoso, e sempre parecia ficar sem jeito perto mulheres, mesmo da sua própria mulher. Ele era tão fofo que eu suspeitava que pedia desculpas antes de precisar algemar alguém. Seria a ele que eu entregaria meu bebê, caso já não estivesse apaixonada por aquela coisinha em minha barriga.

Puxei o canto dos meus lábios em um sorriso torto, mostrando que eu estava me esforçando para ouvi-lo.

— Continuando. — Ele voltou a fitar o caderno de anotações. — Precisamos que você vá depor assim que achar que pode fazer isso. — Será que um dia eu estaria pronta para isso? — E também precisamos falar com seu irmão. Abri uma exceção por agora a pedido de Klaus, mas você tem dezesseis anos e mais nenhum parente além dele. E em sua condição atual — Ele olhou para minha barriga e desviou os olhos rapidamente. — Precisa de alguém que se responsabilize por você. — Quase abri a boca para protestar, mas ele foi mais rápido que eu. — Alguém maior de idade.

Entortei a boca e ele me lançou um sorriso acolhedor.

— Tudo bem. — Respondi derrotada. — Posso pedir a vocês mais alguns dias antes de falarem com Diego?

— Não acho que seja conveniente esperarmos muito mais. Não tem para onde ir ou como se manter e esse bebê precisa ser bem cuidado.

É, eu estava grávida e sozinha. Ele tinha a mais completa razão, ainda assim eu não me achava preparada a dizer tudo isso ao meu irmão. Achava que Diego teria um colapso quando descobrisse.

— Eu sei disso. — Alisei minha barriga com carinho e suspirei — Meu irmão não sabe de minha mãe, nem do meu pai e muito menos da minha gravidez, Charles. — Ele ficou com a ponta da orelha vermelha, e baixou a cabeça mexendo na aba do boné. — Eu não quero ter que contar agora. Deixa eu me preparar para isso. — Supliquei.

Charles fez um longo silêncio, e eu voltei a olhar para os vinhedos dos Narcole do lado de fora da minha janela.

— E para onde você vai? Não posso deixa-la voltar para casa. — Ele resmungou. — Se você quiser, pode ir passar uns dias conosco, tenho certeza de que Neuza vai amar ficar com você lá em casa.

Seu sorriso era acolhedor, como sua proposta. Deitaria em seu sofá gostoso e comeria as maravilhas que Neuza cozinhava até explodir. Mas aquilo não era responsabilidade deles, e morar com Charles seria o mesmo que viver com alguém que me lembraria constantemente o quanto sou despreparada para ter um filho.

— Agradeço pelo convite, mas prometi a Rany que ficaria com ela uns dias. Quando eu me sentir melhor eu te procuro, e nós ligamos para Diego. Tudo bem assim?

Charles balançou a cabeça e apertou meu pé por cima do lençol verde do hospital. Caminhou para sair, mas eu o parei.

— Charles? – Ele virou para mim. — O delegado, ele... — Não sabia como perguntar, mas Charles previu o que eu diria

— Klaus conversou com ele. — Disse com o rosto caridoso, e eu retrai. — Não ficou exatamente feliz, mas ele vai ceder. Pode ser que demore, porque aquele cara é difícil, mas vai ceder. Esse bebê é sangue dele. Deus sabe o quanto isso pode ser incrível na vida de um homem.

— Você o criaria? — A pergunta saiu da minha boca como um jato quente. Percebi no mesmo minuto que aquela não era totalmente uma opção descartada. Que se visse que não teria como criar aquele bebê, eu não o deixaria morrer de fome ou frio. Eu o daria. — Você e Neuza criariam o bebê, se eu pedisse?

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