Capítulo 33: Klaus

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Estava concentrado na porta onde Lorena tinha entrado e pensando em como era terrível não saber lidar com o que não nos cabe resolver. No momento eu me sentia um idiota inútil.

Não tinha muito tempo que esperava, mas alguma coisa dentro de mim se partia cada minuto que se passava. Adônis estava lá, do meu lado. Comia as unhas e olhava para a porta quase na mesma intensidade que eu. Mas ele era a voz da razão, e quando levantei querendo emburacar no corredor branco e fedorento de cloro, ele me impediu dizendo que eles precisavam de um pouco mais de tempo. Adônis estava gelado e pálido. Provavelmente um espelho de mim mesmo.

Estava com ele quando percebi as mais de trinta ligações de Rany para o meu celular, e mais umas dez no telefone de Adônis. Tínhamos tirado a tarde para nadar no rio, e deixamos os aparelhos no carro. Desesperei-me quando vi, e retornei para ela ainda molhado. Rany me deu um grito antes de dizer que havia alguma coisa de errada entre Lorena e o pastor, e como eu nunca gostei daquele homem, fui o mais rápido que pude para a casa dela.

Claro que Rany tinha que também ligar para a polícia, e quando chegamos, a viatura do meu pai já estava parada do lado de fora com dois policiais à espreita, o que me impediu de invadir a casa de modo dramático, como tinha imaginado fazer.

O delegado disse que só poderíamos tocar a campainha e esperar alguém aparecer. Caso ninguém aparecesse, tentar uma ordem judicial para arrombar ou esperar gritos e pedidos de socorro. Quis enfolar meu pai vivo quando ele falou essa última parte, mas não precisei porque Adônis começou a gritar o quanto que aquilo era ridículo, e ele mesmo foi até a frente da casa, sob ameaças do meu pai, e arrombou a porta com o pé.

Nunca vou esquecer do barulho das chicotadas. Sabia o que era antes mesmo de ver. Crescer em Esperança fazia você entender de cavalos e qualquer coisa relacionada a eles, inclusive chicotes e o som que faziam contra uma superfície viva .

Meu sangue congelou e eu parei de respirar quando andei na direção da porta de onde vinha o barulho, e a abri sem bater. Lá estava ela, ensanguentada e amarrada, de costas para mim. Não sei o que foi que me deu naquele instante, mas eu simplesmente avancei em cima da criatura asquerosa, o jogando na parede. Toda a raiva que eu senti relacionada ao sofrimento de vida de Lorena, foi atirado naquele gesto. Ela não precisava daquilo. Ela não merecia daquilo.

Não lembro do que disse exatamente, mas eu faria valer qualquer ameaça que tivesse feito a ele. O pastor não chegaria nem perto de Lorena se dependesse de mim. E dependeria de mim, já que ela era de menor e eu sou o pai do filho que ela está carregando. Daria um jeito de conseguir a prisão perpétua daquele desgraçado.

Encontrei minha garota mais quebrada do que achava ser possível, e não poder abraçá-la porque o pai destruiu seu corpo seminu, foi a coisa mais apavorante eu já vivi na vida.

Ela estava muito machucada fisicamente, mas o meu medo maior era a sua cabeça e seu coração. Eu admirava o quanto de tombos Lorena era capaz de aguentar, mas eu não a queria mais levando nenhum. Eu também não podia mais suportar aquilo.

E quando ela disse que me amava, eu achei que explodiria. De angústia por ela estar me dizendo isso quando soube que o pai foi responsável pelo coma do irmão. De felicidade porque era bem difícil ela dizer alguma coisa boa que estava sentindo. De remorso por ter respeitado o tempo que prometi a ela para pensar.

Ela era minha, e nada nem ninguém poderia mudar isso.

O telefone vibrou no meu bolso e eu puxei automaticamente. O nome de Katarina apareceu na tela, piscando num envelope no canto superior. Fechei os olhos com força quando lembrei que ela havia mandado uma mensagem pela tarde, e eu tinha respondido que alguma coisa tinha acontecido com Lorena e que depois daria notícias. Não lembrei disso.

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