Capítulo 3: Klaus

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Estava tendo um sonho muito divertido com motos quando o celular me acordou no susto ao som de "Geração Coca-Cola". Adônis achou que seria bacana me levantar todos os dias com um clássico do rock, então pegava meu telefone e mudava o som do despertador na esperança de deixar o meu dia feliz. Claro que eu nunca acreditei nessa desculpa, conhecia Adônis bem demais para isso. E o otário que eu era sempre se esquecia de tirar a porra da música antes de dormir. Resultado? Cinco minutos depois e minha cabeça já estava explodindo.

Fiquei mais tempo no banho do que deveria, então tive que me vestir às pressas. Cai tentando colocar as calças e tinha vestido a blusa pelo avesso.

Meu dia não estava começando bem. Mas foi só sair do quarto para ele começar a ficar melhor, ou pelo menos mais divertido. Senti o cheiro de ovos queimados e um xingamento do meu pai derrubando uma panela na cozinha. Aquilo era algo bem comum. Ainda não sabia porque ele insistia em cozinhar, se raramente comíamos os resutados queimados ou crus da sua incursão ao mundo culinário.

— Queimou os ovos? — Perguntei roubando uma maça da fruteira e rindo dele, que apenas revirou os olhos para mim e focou atenciosamente em meu rosto.

— Tem certeza de que está pronto para voltar para a escola? — Perguntou com a preocupação nítida no rosto castigado. Foi minha vez de dar de ombros.

— Estou legal. A cabeça doendo um pouco, mas não é culpa do incêndio, e sim de Adônis.

Ele estreitou a sobrancelha, mas não perguntou. Voltou a sua tarefa de limpar a frigideira queimada. Comi minha maça lentamente, e quase pude ouvir o cérebro do meu pai trabalhando. Não demorei a saber no que ele estava pensando.

— Não sei como Heitor dorme tranquilo de noite, com a filha que tem.

Parei de comer e tentei lembrar de quem ele estava falando.

— Quem é Heitor?

— O pastor, Klaus! — Ele soltou num suspiro. — O pai da garota que estava com você naquele incêndio.

— Foi por isso que o senhor queimou os ovos? Estava pensando nos Sanchez? — Sorri e ele sentou na cadeira ao meu lado.

— Queimei os ovos porque sempre queimo. Queimar alguma coisa não é novidade aqui. — Ele passou a mão nos cabelos precocemente esbranquiçados e se jogou no encosto. — Heitor é um homem peculiar. Sério, fechado, bem visto na comunidade. A esposa é simples, um tanto sem vida e todos parecem gostar dela. Exatamente como era Lorena, antes de Diego ir embora.

— Quem é Diego? — Joguei o resto da maça no lixo, ainda querendo saber porque meu pai estava falando sobre a família da maluca.

— Jura que você mora nessa cidade? — Ele questionou antes de puxar a fruteira e também dar uma mordida em uma maça. Na falta de comida de gente, nos virámos com o que tinha. — Irmão de Lorena. Menino de ouro, bem comportado, educado e como você, tinha um fraco por música.

Foi minha vez de retrucar.

— Fraco por música? Jura que você é meu pai? Música é minha vida, Coroa! — Falei teatralmente.

— Tá bem, então. — Respondeu escondendo a careta com a mordida da maça. Meu pai não era muito adepto da minha paixão musical. — O fato é que ele foi embora da cidade alguns anos atrás. Desde então Lorena, que era uma menina pacata, virou a porra doida.

Porra doida? — Arregalei os olhos e quando vi seu rosto avermelhar, cai na gargalhada. Aquilo não era uma frase dele. Provavelmente de Adônis, mas nunca do meu pai.

— O fato é que a menina já tem uma ficha policial e nem fez dezessete anos ainda. — meu pai levantou resmungando. — O que farei com uma pessoa dessas quando chegar aos vinte?

A Mais Bela MelodiaWhere stories live. Discover now