Capítulo 9: Klaus

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Eu deveria saber que nada do que faço fica sem uma reação. Eu sou o mestre das ações impensadas e um completo desastre com o resultado delas. E porque estou me lamentando? Por que passei a porcaria do final de semana inteiro com remorso por ter dito a Lorena que ela era uma fracassada solitária. Nada no mundo me dava o direito de agredir alguém verbalmente daquele jeito, por mais que ela tivesse me dado uma surra de fazer meus ossos doerem e eu achasse que ela realmente fosse uma fracassada solitária. Nunca poderia revidar fisicamente, então eu tinha agredido ela moralmente.

Mas poxa, ela tinha me acusado e batido em mim na frente da minha namorada e dos meus amigos por uma coisa que eu não tive culpa. A garota era a maior chave de cadeia e toda vez que alguma coisa acontecesse a ela, iria me culpar? Eu estava no mínimo ferrado se assim fosse!

Agradeci aos céus meu pai não ter descoberto essa história, se não ele teria confiscado minha moto e meu carro por um mês inteiro. Mas não tive tanta sorte quanto a me livrar da lição de moral, pois Adônis tratou de me dar uma daquelas.

Meu melhor amigo tinha um senso de humor estranho e um tanto cruel, mas era a pessoa mais certa que já conheci. Uma vez colocamos na cabeça que queríamos roubar alguma coisa, acho que foi crise do começo da adolescência. Então ensaiamos todo um plano para entrar num mercadinho qualquer e resolvemos roubar maças. Acredita nisso? Maças! E o pior foi que depois do nosso roubo ridículo vi Adônis voltar lá, explicar a situação e pagar por tudo o que pegamos, ou seja, uns dois reais.

Claro que Adônis foi ovacionado pelo dono do mercadinho, como até hoje é, mas meu pai me deu uma surra lendária naquele dia. Fiquei com raiva de Adônis por uma semana, mas depois caímos na gargalhada quando lembramos. O bom das nossas brigas era isso: Sempre ríamos delas depois.

Então ali estava eu, segunda feira pela manhã e indo de um lado para o outro da porta da sala onde ficava o jornal da escola. Queria pedir desculpa a Lorena pelo o que tinha feito, e não tinha noção de como faria aquilo. Odiava a garota com todas as minhas forças, mas ela tinha esse magnetismo que sempre me fazia pensar que toda aquela força e intensidade eram mais um modo de se defender do mundo. Além de que não gostava de me sentir culpado.

Meu telefone tocou dentro do bolso e encostei-me a uma parede para atender.

— Diz, Sam!

— Onde você se meteu? Gustavo está perguntando por você faz o maior tempo.

Olhei o relógio e praguejei fechando o celular. Gustavo detestava atraso e certamente que eu estava atrasado para a aula dele. Maldita Lorena! Queria ser o primeiro a me apresentar hoje, mas pelo visto não seria nem o quarto.

Cheguei à porta do auditório ofegante. Abaixei-me recuperando o fôlego e levantei para dar de cara com Adônis, que vinha do outro lado do corredor de uma forma tão despreocupada que me deu agonia. Esse cara tinha problemas em seguir regras básicas, como andar na velocidade normal, por exemplo.

— Bom dia, flor do dia! – Ele falou me entregando uma rosa branca.

Ele sempre me dava uma flor branca quando a gente brigava por algum motivo. Era a forma poética e italiana dele de levantar uma bandeira de paz, e eu achava engraçado, por mais que fosse motivo de piada durante os treinos de natação. Nunca duvidei da minha masculinidade, e Adônis muito menos, então nunca ligamos.

Estendi a mão pegando a rosa e sorri para ele. Ele estava desculpado por ter me dado um sermão, como ele também tinha me desculpado por ter surtado com Lorena.

— Porque chegou atrasado? Encontrei seu pai e ele disse que você saiu de casa muito cedo. – Ele abriu a porta e entramos no ambiente silencioso e escuro do auditório em dia de apresentação. – Marion?

A Mais Bela MelodiaWhere stories live. Discover now