Capítulo 14: Lorena

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— Você pode me dizer por que uma moça acabou de me ligar perguntando se eu compareceria a festa dela quando nem mesmo fiquei sabendo disso?

Fechei os olhos xingando Marion mentalmente por ter ligado para meu irmão. Ela era uma abusada. Eu tinha tido um trabalho enorme passando pelo triturador de papel o convite que ela tinha mandado com os nossos nomes estampados numa caligrafia delicada e cheia de corações asquerosos, e ela estragou todo o meu plano ligando para ele?

— Como diabos aquela vaca loira conseguiu o seu telefone? — Respondi pelo fone de ouvido, buzinando agressivamente para um motorista lerdo na minha frente.

— Está brincando, não é? Estamos em Esperança. Nada é segredo por muito tempo aqui.

Escutei um barulho do outro lado da linha e podia jurar que Diego estava mastigando.

— Bom — virei na esquina da igreja e meus pelos se eriçaram quase na mesma hora. Aquele prédio sempre me pareceu assustador — A gente não vai perder nada. Ela é ridícula, a casa dela parece uma casa de brinquedo e as festas são as coisas mais bregas que já vi na vida.

— Em quantas você já foi, querida irmã? — Ele perguntou com a voz enrolada.

— Nenhuma. — Respondi seca. — Mas sei que são chatas e cheias de gente fútil.

— O fato de você conhecer superficialmente essas pessoas não te faz especialista nelas.

— Mas o fato de eu ser uma jornalista da escola, faz.

Ele ficou em silêncio no telefone e só depois de um tempo falou:

— Acho que ir nessa festa seria legal para você.

Eu me senti ultrajada quando ele disse aquilo. Será que ele achava que esses anos todos tinham transformado a irmã dele numa espécie de amante de ponche de uva batizado?

— Você quer que eu tenha um ataque fulminante? Eu não iria nessa festa nem se você me dissesse que o próprio presidente do Green Peace compareceria. — Fiquei em silêncio pensando sobre isso e bufei de raiva em seguida. — Ok, se o presidente do Green Peace estivesse por lá eu até iria.

Sai do carro segurando as sacolas que minha mãe tinha pedido para eu levar até meu pai. Era dia de escola bíblica e o material das crianças estava em falta. Eu tinha me negado a ensinar qualquer coisa para eles, mas isso não me deixava tão doente a ponto de deixá-los sem aula por falta de material. Sem contar que ajudar na dispensa da igreja tinha sido meu castigo por ter posto fogo na escola. Menos mal. Achei que ele iria me colocar para ajudar nos cultos, e acho que isso eu não aguentaria.

— Ah, qual é, Lou! Comprei um vestido lindo para você e estou hospedando uma amiga por um dia. Ela acabou de ser formar numa escola de estética e está doida para mostrar os dotes dela para alguém. Deveríamos aproveitar agora que você tirou o curativo da perna e deixá-la escandalosa.

Eu fiquei parada no degrau da igreja digerindo o que ele tinha dito. Ele comprou um vestido para mim?

— Hospedando uma amiga? — Perguntei voltando a andar — Estive ai ontem e você não me falou nada. E que história é essa de vestido? Eu não uso mais vestido.

— Ela chegou hoje de manhã e vai embora em dois dias. Só precisava de um lugar nas redondezas até o congresso de esteticista em Burguesa. E nem me vem com essa de não usar vestidos, você ficava linda neles!

Lembrei-me do caimento perfeito que o vestido de Rany teve em mim e sorri, mesmo sem querer. Achava que o vestido era a imagem errada que as mulheres precisavam. Eles passavam a ideia de delicadeza e rendição, e eram duas coisas que jamais combinariam comigo. Mas sinceramente? Eu realmente ficava bem neles. E não podia mentir que estava curiosa sobre esse vestido que meu irmão tinha comprado para mim.

A Mais Bela MelodiaWhere stories live. Discover now