E, assim, amanheceu

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Paula estava a salvo. A piranha não era mais problema. Agora, só faltava a aranha. Eu sabia que Daniel e Lavínia eram experientes, eu sabia que eles eram melhores do que eu quando se tratava de lutar, mas ainda assim, aquela sensação que penetrava o meu peito…

Por favor, estejam bem.

O Gorila saltou nos trilhos do metrô e começou a correr. Ele era mais rápido que eu – muito, muito mais rápido.

Vai dar tempo!

De um momento para o outro, a atmosfera mudou e a sensação de navalhas me cortando voltou. Àquela altura já dava para ver a estação onde a aranha estava. Assim como dava para ouvir os estrondos da batalha.

Como explosões.

Cheguei à plataforma a tempo de ver Lavínia ser atirada de um lado da estação para o outro, de uma plataforma para a plataforma oposta e pousar se apoiando nos pés e na mão.

Sangue.

As roupas dela estavam rasgadas em vários pontos e ela estava ferida por toda parte. Na plataforma da qual ela tinha sido atirada, Daniel e a aranha continuavam se atacando. Eles também estavam feridos, roupas aos trapos, se destruindo a cada golpe.

— Mais! – a aranha gritava. – Mais! Mais! Mais! Eu quero mais! Vamos, me acerta! Me deixa te acertar! Eu quero sentir mais!

Ela não estava mais apenas bloqueando os ataques e contra-atacando. O jeito que ela estava lutando, era insano, completamente insano. Ela não parava depois de ser acertada, ela não recuava quando um golpe ia na direção dela, ela só atacava, atacava e atacava, o tempo todo sorrindo, gritando como se ela sentisse prazer naquilo. Daniel não parava de golpear também. Não importava quantas vezes as patas da aranha cortassem ele, a raiva gelada nos olhos dele não desaparecia, o foco não escapava da aranha. Os golpes deles erravam e atingiam as paredes, os pés passavam por cima de tudo sem dar a menor importância.

Saltei das costas do Gorila e apontei para a aranha.

— Pega ela! – eu disse.

Enquanto o Gorila batia no peito e pulava para o meio do combate, eu corri até Lavínia.

— Você está bem? – eu gritei para ela.

Lavínia se levantou e limpou o sangue que estava escorrendo da boca dela.

— A cachorra é forte demais aqui – ela disse. – Ela está se curando o tempo todo e se enchendo de magia para absorver os golpes.

— Mas não tem um limite de energia ou sei lá, alguma coisa assim? – eu perguntei.

— Isso é o estúdio dela. Enquanto ela estiver aqui dentro é como se ela estivesse ligada numa bateria infinita. Isso está indo longe demais. Daqui a pouco o metrô volta a funcionar.

Ouvi o barulho de uma parede desabando. Do outro lado da estação, Daniel estava enfiado dentro de uma parede com a aranha correndo na direção dele. O Gorila tentou acertá-la, mas ela parou o golpe e…

Ah!

Perdi a força na perna. Era como se um peso olímpico tivesse me acertado no estômago.

Droga, droga!

Lavínia se levantou na hora e correu para o meio do campo de batalha.

— Espera! – eu gritei.

Tentei me levantar para ir atrás dela, mas não dava. Minhas pernas estavam fracas demais.

Tem que ter um jeito de vencer ela!

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