Uma única batida

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Depois de ir ao shopping com Daniel, Lavínia e o pessoal da faculdade, enquanto estávamos no banheiro, Paula se confessou para mim. Sem saber o que fazer, eu corri. Foi quando me deparei com a veterana de cabelos coloridos. Mas antes que eu pudesse ter tempo para tentar explicar o que estava acontecendo, a Serpente apareceu de novo.

A neblina, as luzes difusas, a forma da Serpente… tudo parecia um filme de terror mudo, preto e branco.

Como Nosferatu.

Minha voz não saía. Meu corpo não se mexia. Eu só conseguia encarar a Serpente, ali parada, sempre pronta para o bote.

Um pesadelo. É só um pesadelo.

Calor.

Olhei para o lado. Minha veterana estava segurando minha mão. Ela parecia…

Assustada? Não, não é isso.

— Corre! – ela gritou.

Não deu tempo de questionar. Não. Mesmo que desse, não teria sido diferente. Minha reação seria a mesma dela. Correr.

Como sempre…

Ela começou a correr me puxando pela mão. Eu não olhei para trás. Eu não queria olhar para trás. Mas conseguia ouvir a Serpente se aproximando, sibilando, perguntando…

“Qual o meu nome?”.

— Eu não sei! – eu gritei. – Eu não sei, droga!

— Do que você está falando? – a minha veterana perguntou.

Ela não conseguia ouvir a Serpente.

Talvez…

Não!

Acelerei a corrida. Agora era eu quem puxava minha veterana pela mão. A cada rua pela qual eu passava, a cada vez que virava uma esquina, a cada loja que encontrava, torcia para ter alguém ali. Mas não tinha. Nunca tinha. Me atirei contra a porta de uma loja. Estava trancada. Tentei chutar, mas não abria.

“Qual o meu nome?”.

A Serpente estava perto e chegando mais perto muito rápido. Olhei para trás. Os olhos dela estavam ali, brilhando na névoa, atravessando tudo para me encontrar.

Tem que ter um jeito…

Me virei para o lado.

Isso!

Os trilhos do trem ficavam do outro lado da rua. Pela estação, dava para alcançar a passarela, de lá o campus da faculdade e de lá dava para sumir. Tinha que dar para sumir. Tinha que ter alguém lá.

Por favor…

— Vem! – gritei para minha veterana.

Corri com ela até as grades de segurança, comecei a escalar correndo, ela também, ao menos até a blusa dela prender nas grades. A Serpente estava quase chegando. Eu comecei a puxar, gritar, até a blusa rasgar e ela cair da grade direto para cima de mim. Só deu tempo de me levantar, puxar ela e correr, antes da Serpente arrebentar as grades gritando.

“Qual o meu nome?”.

Me atirei para as escadas, puxando a veterana junto de mim. Por sorte, ali as escadas eram cerceadas por paredes e a Serpente era grande demais para passar por ali.

Obrigado, Senhora Sorte.

Eu só parei de correr quando já eu estava na passagem elevada entre os dois lados da estação, perto o bastante da faculdade para me permitir achar que estava segura. Eu despenquei no chão, abaixei a cabeça no meio dos joelhos…

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