Eu estou... chorando?

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Não importa quanto você cave, o poço sempre pode ser mais fundo… Esse aforisma é exatamente o que se passava na minha cabeça naquele momento. Alguns dias atrás eu nunca imaginaria que alguém me atrairia para um galpão cheio de terroristas armados e então se revelaria como um monstro membro de um grupo de criminosos internacionais.

Droga, soa tudo tão absurdo.

Como isso foi acontecer comigo?

Minha cabeça estava girando do mesmo jeito que estaria se eu tivesse acabado de sair de uma montanha-russa. Eu quase conseguia sentir minha sanidade escapando de dentro de mim. Mais um pouco e eu começaria a rir como uma louca.

Infelizmente, coisas que existem são reais.

Primeiro veio só um sorriso.

Hah…

A primeira risada escapou de leve.

Hahahahahaha!

E daí, como um estouro de animais famintos ou uma massa de pessoas tentando entrar no metrô, as gargalhadas arrebentaram tudo.

Tão absurdo!

Eu sentia que ia explodir, que meu peito ia inchar, inchar e crescer e então eu ia me desfazer em milhões de pedaços de Emile, voando pelos ares como confete em fim de Carnaval.

A qualquer momento.

Agora.

Não?

Minha garganta doía. Comecei a tossir, engasgar.

Meu rosto queima.

Tentei secar as lágrimas com um dedo, mas não foi suficiente. Nem o foi uma mão. Nem as duas mãos, nem os braços, nem os gritos, nem aquela sensação que me comia por dentro.

Não… eu não consigo lembrar.

Não. Não!

Esqueça! Não pense!

Qual a pal…

Não se pergunte! Qual a pa…ra. Para! Para! Para! Para! Para! Qual a para! Para! Eu não quero saber!  Para! Eu não quero saber qual é a palavra!

— Eu te odeio! – alguém gritou com a minha voz. – Eu te odeio! Eu quero que você morra! Morra!

Uma luz acendeu no escuro.

Eu não conseguia respirar. Eu não sentia nada. Eu via as mãos de alguém molhadas.

Água?

Vermelho. Tudo estava vermelho. O mundo inteiro estava pintado de vermelho.

Tinha uma garota parada ali.

Quem é você?

Teve um barulho, um rugido, um tufão varrendo uma cidade, um terremoto devastando vilas, uma tsunami destroçando navios, um inferno de fogo devorando a terra…

Quente.

Passei a mão no meu rosto.

Sangue.

O… o quê?

Minhas mãos tremiam. Sangue voava pelos ares. Tiros, gritos.

O que está acontecendo?

Metal partia, o chão tremia. Tinha neblina e dentro dela uma coisa. Olhei para onde a coisa estava.

Escuro, caveiras, sangue, fogo, corpos, gritos, explosões, tiros, queda. Um olho. Um olho se abre no alto e se volta para mim.

LimiarOnde as histórias ganham vida. Descobre agora