O mundo é cheio de mistérios

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Após uma boa quantidade de acontecimentos que não devem ter parecido os mais interessantes para qualquer um que não seja eu, finalmente cheguei à aula. Imagino que comparando com uma aventura épica, esse parece um avanço bastante trivial e pouco excitante, mas fiquem tranquilos, as partes agitadas já chegam.

Como eu mencionei, aquele não era exatamente meu dia de sorte, portanto naturalmente meu professor já estava na sala quando cheguei, o que me garantiu um olhar bastante severo, que, eu já sabia, seria o mesmo com que ele olharia a minha monografia. Era tudo que eu precisava…

Tentei chamar o mínimo de atenção possível indo direto para uma cadeira. E enquanto vasculhava em busca de um lugar, vi um garoto sentado num canto perto da janela. Se tivesse que descrever ele, diria que era o exato oposto da minha veterana. Se ela era um elefante indiano no serrado, ele era um cameleão numa floresta densa, o tipo de pessoa que ninguém percebe a menos que esteja procurando por ele. A cadeira ao lado dele estava vaga, então achei que não fosse má ideia me sentar ali.

— Bom dia – murmurei para ele enquanto me sentava.

— Ah, oi – ele respondeu.

Ele parecia alguém que havia acabado de acordar quando disse isso, com um sorriso um pouco confuso e aquele jeito desconcertado de olhar.

— Considerando a sua resposta, vou supor que você não dormiu direito essa noite – falei. – Por acaso passou a noite inteira acordado procurando pornografia na internet? Ou quem sabe tenha saído por aí pulando de telhado em telhado tirando fotos de garotas dormindo.

— Eu não sou algum tipo de personagem pervertido de um anime dos anos 1990, sabia?

— Oh.

Não nos falamos muito mais pelo resto da aula. Não estava a fim de provocar o professor mais do que já havia provocado chegando atrasada. Não podia me dar ao luxo de arriscar uma reprovação e um semestre a mais. Ou talvez fosse mais correto dizer que eu não queria arriscar um semestre a mais. Na prática, era a mesma coisa, acho. Enfim. Como nada de relevante aconteceu nessa aula e em meus limitados conhecimentos de narrativa eu acredite que falar sobre lógica modal não seja algo muito apreciado em pleno segundo capítulo de um livro, vou adiantar isso e ir para o próximo evento razoavelmente interessante.

E esse aconteceu no restaurante da faculdade. Eu costumava almoçar lá todos os dias por que a variação de cardápio me agradava, além de ser uma ótima oportunidade de interação social e criação de laços que me ajudariam bastante caso tivesse que despertar a personificação do meu Ego. Obviamente, isso não vai acontecer. Sinto muito se você tinha alguma expectativa ligada a isso.

De todo modo, era costume daquele garoto almoçar lá também. E agora notei que ainda não dei o nome dele e é bastante problemático ficar chamando ele de “garoto”, já que mais alguém que poderia ser chamado assim está prestes a entrar na história e confusão é a última coisa que quero causar no momento. Portanto, saibam que o nome do garoto com que me encontrei na sala era Daniel. E para evitar problemas futuros, irei dizer o nome de todas as personagens que forem introduzidas daqui em diante, considerando que isso não seja um spoiler e que eu saiba qual é esse nome.

Adiante.

Como sempre almoçávamos juntos e aquele era um dia completamente normal, fomos andando juntos até o restaurante. Fazia Sol e havia pouco vento, deixando o dia ainda mais quente. Sentia como se eu fosse derreter dentro das minhas roupas.

— Como você aguenta ficar de casaco nesse calor? – perguntei a Daniel, que estava usando um casaco naquele calor.

— Costume, eu acho. Além disso, não está tão quente assim.

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