A palavra que eu fingi esquecer

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A aranha estava com Paula nas mãos. Era tudo que eu precisava saber.

Assim que eu e Lavínia voltamos para o antiquário, demos com Daniel e Marcos na loja, em suas posições de sempre. Tomei a frente.

— A aranha pegou a Paula – eu disse. – Ela quer encontrar com a gente duas da manhã, na estação nova do metrô.

— Parece que ela quer logo por um fim na situação – Marcos disse. – E pelo seu olhar, acho que ela não é a única.

— Eu fiquei tempo demais escondida e fugindo – falei. – Não, dessa vez, não. Eu vou salvar a Paula.

Marcos ajeitou os óculos e me encarou sorrindo um pouco.

— E pensar que eu ia ouvir algo assim de novo depois de tão pouco tempo – ele disse.

Marcos se abaixou e pegou uma caixa de debaixo do balcão. De dentro da caixa, ele tirou um frasco pequeno, carregado de um líquido vermelho.

— O que é isso? – Daniel perguntou.

— Algo que foi muito difícil de conseguir – Marcos respondeu. – Eu pedi ajuda para alguns amigos para estudar um jeito de lidar com a maldição da Aalto. Infelizmente, não há nada que se possa desenvolver em tão pouco tempo para bloquear a magia em si, porém, em tese, outra infecção sanguínea pode impedir que o veneno se espalhe. Não há como testar, mas é a melhor das alternativas. Então eu pedi que me conseguissem um pouco de sangue de vampiro e trabalhei em neutralizar o agente ativo sem perder as características infecciosas. Em tese, isso vai fazer com que o corpo de vocês possa lutar contra infecções sanguíneas futuras. Em tese.

— Tem um monte de “em tese” nisso que você falou – Lavínia disse.

— Como eu disse, não tive tempo de testar, então tudo não passa de uma hipótese. Ainda assim, estou confiante quanto à eficácia desse método.

Daniel se aproximou do balcão, cabeça para o alto, olhar para a frente.          

— Isso é o suficiente para quantas pessoas? – ele perguntou.

— Eu tenho duas doses – Marcos disse. – Ela não vai atacar Emile, então vai ser o suficiente.

Lavínia estralou o pescoço e sorriu mostrando os dentes.

— Dessa vez a cachorra não escapa – ela disse.

— Não pensem que só porque estão imunes à maldição a Aalto não vai ser perigosa – Marcos falou. – Ela ainda é uma das melhores combatentes de que se tem relatos.

— Não se preocupa – Daniel falou. – Eu já vi como ela luta. Dessa vez isso vai até o fim.

“Até o fim”.

Ele quer dizer… matar?

O sangue. Os corpos. O monstro.

Uma batida.

Marcos olhou para mim por um momento, como se soubesse o que eu estava pensando, e então se voltou para Daniel e Lavínia.

— Nesse caso, vocês dois vão para os fundos – ele falou. – Eu vou preparar as injeções e já vou aplicar em vocês.

Assim que Daniel e Lavínia saíram, Marcos pegou um dos frascos de dentro da caixa, veio até mim e me entregou o vidro junto a uma seringa.

— Achei que só tivessem dois – eu falei.

— Eles só precisavam saber que havia dois – Marcos falou. – Mas eu tenho certeza de que isso vai ser útil para você.

O que ele está tentando dizer?

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