Eu realmente não entendo...

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Depois de todos os problemas no hospital, eu estava de volta ao antiquário. No fim, não tinha descoberto nada. Tanto esforço e o único resultado fora levar uma surra da Aranha.

Droga de dor.

Quando eu e Lavínia estávamos voltando para a loja, eu notei que meu tornozelo estava machucado. Provavelmente aconteceu na queda. Não tive coragem de reclamar depois que chegamos. Não com a Lavínia naquele estado.

Me sinto estranha.

Eu estava esperando sentada em cima do balcão. O pai do Daniel tinha levado a Lavínia para o quarto dos fundos para tentar exorcizar a maldição dela. De vez em quando, eu ouvia um grito abafado vindo de lá de trás. Era terrível. Daniel chegou enquanto eles ainda estavam lá. Ele entrou correndo, todo preocupado.

— Cadê a Lavínia? – foi a primeira coisa que ele disse.

Acho que eu sorri de leve.

É só o natural.

Então… por quê?

— Ela está com o seu pai – eu disse. – Ele está tentando tirar a maldição dela ou algo assim. Eu realmente não entendo…

Uma pancada. Daniel socou a parede forte o bastante para ela tremer.

Por quê?

Eu nunca tinha visto ele com tanta raiva. O próprio corpo dele parecia diferente, mais compacto, mais… agressivo. Não tinha nada ali do Daniel que eu conhecia.

Ou talvez…

Não!

— Por que ela não me chamou? – Daniel exclamou. – E por que diabos ela te levou para dentro daquele lugar?

— Eu quis ir!

O que você está fazendo, Emile?

Eu não sei, Emile.

Daniel ficou me encarando. Uma parte da raiva parecia ter desaparecido dele. Mas tinha outra coisa no lugar. Uma coisa muito fria e muito assustadora. Ele foi em direção ao quarto dos fundos. Antes que ele chegasse lá, me levantei e segurei-o pelo braço.

— Seu pai disse para não entrar lá – eu falei. – Que era um processo complicado e precisava de concentração.

Por um momento, achei que Daniel fosse tentar se soltar. Mas não, ele simplesmente acedeu e foi para cima. Corri atrás, mas vendo as costas dele se afastando, senti um aperto no peito. Não consegui continuar subindo.

Estava sozinha de novo.

Um pouco depois disso, meu celular tocou. Era a Paula. Não me sentia dispostas a atender, mas ela ia se sentir mal se eu não respondesse. Pela hora que era, ela já devia estar de volta da faculdade. Podia ser alguma coisa importante. Acabei atendendo.

— Ei, Emile, tudo bem com você? – Paula disse.

Ela parecia preocupada.

— Eu estou bem – eu disse. – Aconteceu alguma coisa?

— Mais ou menos – Paula disse.

Definitivamente, ela parecia preocupada. Eu reconheceria aquela nota de enrolação na voz dela em qualquer lugar.

— Tudo bem com você? – eu perguntei. – Sua voz está estranha.

— Bom… é que tem uma pessoa aqui em casa atrás de você.

— Uma pessoa?

— É uma mulher. Espera, deixa eu perguntar o nome dela.

Não…

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