Minha vontade

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“A batalha final”. Eis algo que nunca imaginei que fosse usar para falar de qualquer coisa que aconteceu comigo, mas o mundo tem lá seus truques para fazer as coisas acontecerem à revelia do que se espera. Ou pelo menos é o que me parecia, considerando tudo que tinha me acontecido. Era tão esquisito pensar que eu ia invadir uma estação de metrô para lutar.

Acho que isso me torna uma Warrior.

Não só isso – ao invés da Dama em Perigo eu agora era parte do grupo de resgate. É uma inversão de papéis bem brusca para acontecer em tão pouco tempo. Vou me repetir dizendo isso, mas o mundo é cheio de mistérios.

Entrar na estação não foi o maior dos problemas. O acesso externo ainda estava em construção, mas não tinha praticamente segurança nenhuma ali. Na verdade, a obra parecia abandonada com todas aquelas colunas erguidas pela metade e paredes por fazer. Ao menos o acesso ao subterrâneo estava pronto, mesmo com escadas não exatamente seguras e iluminação praticamente nula. Conforme eu descia com Daniel e Lavínia, ficava cada vez mais difícil enxergar na verdade. Se não fossem as luzes de trabalho amareladas, o pouco de luar que entrava pelo acesso à superfície e as luzes do túnel do metrô, aquilo seria um breu completo. Não só isso, alguma coisa no ar estava estranha. Era um cheiro de ferro, uma textura áspera como se o ar daquele lugar estivesse tentando me machucar.

Eu não gosto disso.

Tentei ver alguma coisa no rosto de Daniel e estava bem claro que ele também sentia aquilo e não estava gostando. O alarme na expressão dele era quase uma placa de neon brilhante. Nem dez metros escada abaixo, Lavínia, que seguia à frente, levantou a mão direita mandando a gente parar.

— Tem alguém aqui – ela disse.

Eu não conseguia ver ninguém ao redor, estava simplesmente escuro demais para os meus olhos.

— Onde? – eu perguntei.

Lavínia ficou uns instantes parada, acho que com os olhos fechados, só ouvindo. E então, ela apontou para as colunas grossas próximas à futura plataforma.

— Lá – ela disse. – Luzes, Mago.

Daniel desenhou alguma coisa no ar, um brilho apareceu na mão dele e, como um flare ele a jogou para frente. A luz foi delineando um arco, revelando as partes da estação.

Vermelho.

Corpos.

Símbolos.

O flare explodiu perto das colunas, formando uma esfera maior de luz branca esfumaçada, jogando nas paredes as sombras de três pessoas.

A aranha.

A piranha.

Paula.

Daniel olhava ao redor irritado ou espantando, não dava para dizer com clareza, mas alguma coisa ali incomodava ele muito.

— Merda – ele disse. – Essa estação inteira virou um estúdio.

A teia estava fechada.

A aranha saiu de trás da coluna, aplaudindo e rindo. As roupas dela eram estranhas, não era como as jaquetas que ela sempre usava, mas algo mais pesado, um vestido preto sem mangas aberto no lado, como um qipao curto, o cabelo preso com algum tipo de adereço branco.

Espera…

Ossos.

Meu coração disparou. As luvas dela…

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