5 | Un alma sentenciada _ Thalia

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— Alô, bom dia! Fiquei de ligar marcando o horário para fazer a aplicação do botox. Passei aí na semana passada.

— Qual é o seu nome senhor?

— Solano García.

— Para que dia o senhor gostaria de agendar?

— Para mim seria perfeito na sexta, porque passaria o fim de semana descansando.

— Só um momento senhor — a moça consultava a agenda. — Temos um horário disponível às dezesseis horas, já que uma cliente desistiu.

— Perfeito, pode agendar.

— Peço ao senhor que avise se houver algum contratempo.

— Não se preocupe, estarei aí pontualmente. Estou muito empolgado para a realização desses tratamentos.

Esse seria apenas um dos procedimentos para os quais Solano se submeteria em busca da beleza roubada pelo passar das estações. Dedicaria todo o tempo possível para cuidar de si e dar um up em sua vida. Pensava na possibilidade de comprar outro carro, já que tinha dado o seu para Piro, afinal precisaria se locomover com mais rapidez e queria um carro mais imponente do que o da empresa.

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— Olá, Amaya, bom dia. Sente-se e tome café comigo — já passava das nove horas da manhã quando Amaya chegou à casa de Paloma.

— Desculpe-me pela demora, tive que passar em uma oficina, meu pneu ficou vazio... Mas, enfim... — puxou uma cadeira e acomodou-se àquele banquete matinal.

— Não se preocupe, a partir de hoje você seguirá seu rumo sozinha. Está na hora de colocar em prática seu aprendizado. Não teremos mais contato pessoalmente, nos falaremos apenas por telefone. Tenho muito trabalho acumulado e preciso correr em busca de novos negócios. Então você assumirá plenamente seu posto daqui para frente. Você mesma fará seus horários — Amaya ouvia atentamente (isso ela sabia fazer muito bem), enquanto beliscava algo que lhe chamava a atenção na mesa. — Seria bom você alugar uma sala para atender melhor aos clientes, vai ficar mais formal, pois se por acaso precisar apresentar alguns dados, ou até mesmo fechar um contrato, você terá um local adequado e fixo. Queremos passar a imagem de confiabilidade. Não se esqueça desse detalhe.

— Sim, claro, verei isso hoje mesmo.

— Já olhei algumas salas mobiliadas no centro, me lembre de te informar os números e você passa lá e vê qual te agrada mais.

— Excelente! Mas e agora, o que farei em relação a praticar minha função?

— Estamos com um lote de cadeiras de rodas automáticas e também com um maravilhoso lote de minivans, mas a princípio prefiro que cuide do lote das cadeiras. O interessante é que você consiga vender todo o montante para apenas um cliente, pois fragmentar dificulta e demora mais a venda. Então, recomendo ver algumas clínicas ou até mesmo lojas especializadas. Aliás, deixo você livre para tomar qualquer decisão e sendo a melhor, ficaremos felizes ao final.

— Tudo bem! — exclamou Amaya em meio aquela mesa de cores variadas. Com o ritmo de Paloma ela já não conseguia ser modesta frente a tantas novidades.

— Vamos terminar logo esse café, pois preciso te passar o relatório com os valores e quantidades. Tomei a liberdade de providenciar seus cartões de visitas.

— Hum... Estava pensando nisso pela manhã.

— Não sei se já comentei com você, mas há uma questão importante a ser tratada — disse enquanto tirava os olhos do computador e olhava fixamente para Amaya.

Amaya apenas esboçou um sorriso discreto incentivando-a a continuar, mas internamente estava tensa.

— Bem, é sobre o seu nome. Teremos que mudá-lo. Não é nada pessoal, mas é que faço questão de que tenhamos uma imagem ímpar. Esses nomes têm um valor para cativar os clientes e é algo como, digamos, um amuleto — Paloma voltou os olhos para o computador e prosseguiu. — O nome foi pensado por um numerólogo muito conceituado no Brasil. Sendo assim, você não se chama mais Amaya e sim Hortelã. Desculpe-me, lembrei de um chá, devo estar louca — caiu na gargalhada. — Seu nome será Ornella — disse Paloma se recompondo e limpando delicadamente os lábios com um pequeno lenço de cor rosa retrô.

— Um bonito nome — Amaya aceitou prontamente a ideia. Não caberia a ela discutir tais intenções já em tão avançado processo.

— E eu me chamo Bridget. Tudo certo? Nada de trocar os nomes, esqueça todo seu passado, pois você está indo para um novo patamar. Quem sabe, quando for oportuno, você irá conhecer as outras meninas.

Ornella ainda passou toda a manhã recebendo mais informações de Bridget.

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Com a pele renovada, semblante avivado, o tratamento conferiu a Solano um ar de jovialidade. Aquele procedimento lhe dera mais que ânimo, sentia-se novamente aquele rapaz de anos atrás. Mesmo ainda com o rosto levemente inchado, sentia-se muito bem e estava de volta ao consultório apenas para uma avaliação.

Acomodado em uma confortável poltrona, enquanto aguardava ser chamado, lia uma revista e, em dado momento, percebeu o olhar indiscreto da nova atendente. Ao ser chamado pelo médico para entrar na sala pôde perceber o olhar examinador o seguindo até a porta. Dias depois tiveram um rápido envolvimento e logo saiam juntos todas as noites. A atendente se mostrava muito agradável e o ganhava pouco a pouco. Solano não se limitou às diferenças, ela era apenas uma pequena assalariada e o que ganhava mal dava para se manter viva até o final do mês. Mas Solano não focaria nesse detalhe. Estava disposto a bancar todos os mimos àquela moça, mas ele só não esperava que depois de uma bela semana ela o dispensaria sem motivos evidentes. 

E o céu de Miramar?Where stories live. Discover now