ALEXIA
Na manhã seguinte eu simplesmente acordo, o famoso despertador biológico. Não conversei mais com Harry durante a madrugada e quando eu desci pra cozinha a porta do quarto dele ainda estava fechada.
É difícil. Ontem foi um dia difícil e eu pensei que fosse explodir de chorar, felizmente nada disso aconteceu, ao menos na frente dele. Eu acho que se começasse a chorar na frente de Harry eu não iria parar. Entretanto, não é um choro por culpa dele. A verdade é que eu não entendo o que está doendo em mim, no meu peito. É uma angústia, mas eu também me sinto feliz. Ele está vivo.
Merda, eu deveria me sentir mais feliz, mas eu não consigo então simplesmente dói e sinto que vou me despedaçar mesmo tendo tudo que eu quis. Não deveria me sentir assim.
Eu não sei o que eu esperava para ser sincera, foi um ano sem ele. Pensei que nunca mais o teria, eu tive uma filha dele, eu o amo e esperei por ele, mesmo que dizendo que ele estava morto. Havia uma pequena fração de esperança em mim, porque nunca haviam encontrado o corpo dele. Entretanto, o tempo passou e eu sabia que tinha que me concentrar na minha filha. Só que ele voltou, quase o mesmo de quando se foi. Tudo isso, talvez seja o choque de tê-lo novamente tão perto de mim novamente, deve ser isso.
— Alexia? -Harry me chama e eu me assusto. Merda. Eu estava chorando. Limpo meu rosto rapidamente e me viro o olhando. Ele estava apenas com uma calça e eu suspiro baixinho.
— Oi?
— Precisa de ajuda? -Ele pergunta. O moreno realmente parece diferente do que eu conhecia, mas continua o mesmo ao mesmo tempo. Eu não sei, é simplesmente confuso. Só que dessa vez tem algo diferente nos seus olhos. No verde que irradia por sua íris, é um brilho diferente e intrigante. Eu simplesmente não sei.
— Na verdade eu não ia fazer muita coisa. -Confesso. — Mas você quer ovos fritos ou panquecas? -Pergunto e ele nega.
— Pão está bom para mim. -Ele diz eu eu concordo.
Escuto o choro de Aurora, ela acordou, óbvio que acordou. Harry olha em direção às escadas.
— Eu vou lá. -Falo e saio rapidamente da cozinha indo até minha filha.
Aurora só parou de chorar quando eu troquei a fralda dela. Então ela parecia de bom humor no meu colo, ela segurava o chocalho dela e balbuciava suas vogais e o que talvez ela pensasse ser frases. É uma garota inteligente e que quer aprender a falar logo. Assim que cheguei na cozinha, Harry estava comendo o pão, mas se virou apenas para olhar para Aurora. Eu ainda não respondi se ela é filha dele. Só que isso vai acontecer logo, eu apenas sei que vai porque é assim que tem ser.
Eu coloco Aurora na cadeirinha dela e ela fica olhando para Harry. O homem também fica olhando para ela, então ele se levanta e pega o chocalho dela. Eu poderia reparar mais naquela cena, mas eu escutei batidas na porta. Harry vira imediatamente para trás e parece estranhamente assustado. Eu, entretanto, não estava esperando por ninguém.
Toco o ombro de Harry e ele me olha, sorrio pequeno para ele e vou até a porta a abrindo. Vejo Jane, ela está com Kauã, ele é seis meses mais velho que minha pequena, então ele está perto de fazer um ano e ele está quase andando. É um menino lindo como Gibson e forte como o pai, mas os olhos castanhos brilham como os de Jane.
— Jane? -Falo surpresa, eu na verdade não estava esperando por ela e sim por Gibson.
— Oi Lexi, desculpe chegar sem avisar é que Kauã passou a noite com febre e agora ele está cheio de caroços. Eu não sei o que é e você é quem está mais perto. -Ela fala, eu sorrio pequeno e pego Kauã no colo.
Olhando para caroços na pele do pequeno eu sei que é catapora. Talvez eu devesse deixá-lo perto de Aurora para ela pegar também e eu não ter que me preocupar com isso depois, mas Aurora é muito pequena e ainda bebe apenas leite, então melhor não.
— É catapora. -Murmuro e coloco a mão na testa de Kauã. Ele parece estar com febre agora, mas não muito alta. A criança agarra uma mecha do meu cabelo e eu o olho. — Ei garotão, assustando a sua mãe uh?
Kauã apenas sorri para mim.
— Lex! -Ele sorri mais, o garoto se agita em meu colo e eu volto a olhar para Jane que parece aliviada por ver o seu filho mais animado.
— Eu tenho o que precisa lá em cima, pode entrar, mas por favor não deixe ele perto da Aurora, ela está na cozinha com... Com Harry. -Falo e Jane sorri.
— Vou subir com você. -Ela diz e eu concordo,. Subo até o quartinho onde eu faço as pomadas e alguns medicamentos.
— Ele ainda não se lembra de nada? -Jane pergunta e me viro olhando para ela. Eu suspiro e nego com a cabeça. Minha amiga sorri um pouco para mim. — Ele vai se lembrar é impossível te esquecer, Alexia.
— Ele se lembrou de Gibson, talvez fosse melhor eles se verem. -Murmuro mudando de assunto e entrego o medicamento para Jane . Minha amiga lê o rótulo. — Você vai fazer banho com isso, durante uma semana e esse aqui. -Eu entrego um hidrante para ela. — É para passar depois do banho. Se a febre aumentar é melhor ir para o hospital certo? Eu estou aqui também. -Falo e Jane fica me olhando. Eu não sei definir se ela estava triste por mim ou simplesmente sentiu pena.
— Vou falar com Gibson. -Jane sorri e coloca a mão em meu ombro. — Você e Harry vão dar um jeito, paciência uh? Aquele homem quase queimou uma ilha inteira para te salvar, Alexia. Ele vai se lembrar, -Fala e eu sorrio pequeno. É, ele queimou muitas coisas em Papilio na noite que fugi.
— Certo e você garoto. -Falo e aperto fraco a bochecha de Kauã, ele ri. — Trate de ficar forte logo viu?
Kauã apenas sorri e deixa a cabeça no ombro de Jane. Ele coça os olhos, talvez tenha voltado a sentir mal estar devido a febre baixa. Devido a isso, minha amiga vai embora, mais aliviada do que chegou. Jane foi embora dizendo que vai mesmo falar com Gibson, isso vai ser bom. Um encontro dos dois, talvez ajude Harry não em apenas a recuperar a memória, mas se a adaptar com esse lugar novo.
Eu me limpo antes de voltar para cozinha e quando eu chego lá, encontro Harry segurando Aurora no colo, ele estava dando mamadeira para ela.
— Não precisava. -Murmuro. Ele não me olha, estava apenas observando cada detalhe dela e a segurando com firmeza.
— Ela é minha filha. -Ele fala. Desta vez não era uma pergunta, ele levanta a cabeça e me olha.
— Ela é. -Murmuro. O moreno balança um pouco a cabeça e volta a olhar para Aurora. Eu solto um suspiro. Sinto minha barriga roncar, eu ainda não comi nada. Eu vou até a geladeira e a abro. Pego o suco e os ovos.
— Ela se parece com você. -Ele fala. Mordo meus lábios, não me viro para olhá-lo. — Aurora. Aquela que brilha como ouro.
Isso me surpreende, ele sabe o significado dela. Viro-me para olhá-lo, mas Harry não está me olhando, ele está observando a filha dele. Eu respiro fundo e vou até o fogão.
— Deve ser estranho acordar depois de um ano e descobrir que é pai. -Falo e quebro os ovos colocando na panela, eu me viro e olho para o Harry. Ele me olha e eu respiro fundo mais uma vez. — Não precisa se sentir pressionado sobre ela...
— Eu não estou me sentindo pressionado. -Fala me interrompendo. — Eu estou surpreso, tudo que eu me lembrava era como Anthony me levava a fazer coisas e eu sei que escolhi continuar a fazê-las. Também me lembrava do seu rosto, só o seu rosto e uma voz falando sobre entregar o anel a uma bruxa que tem seu rosto. Não me lembro de todos os homens que matei, mas eu tenho pesadelos com eles, rostos novos todos dias e muitas vezes não entendo porquê eu fiz isso, por não me lembrar. Isso não é uma coisa boa, mas você não me olha como um monstro e eu paro de me sentir como um monstro. Um assassino. -Ele fala e olha para Aurora. – E tem ela, eu criei ela, posso não me lembrar como, mas Aurora é uma parte de mim que brilha. Brilha como ouro.
Eu fico calada. Eu não sei o que dizer. É disso que ele se lembra? Das partes ruins? Por isso ele estava acordado quando nossa filha acordou. É assustador pensar que ele parece amaldiçoado pelos seus pecados e eu não posso me fazer de surpresa sobre a perversidade do passado dele, eu sabia, eu sei e não impedi o sentimento que tenho por ele crescer, porque como ele disse, eu não o olho como monstro, Harry jamais me olhou com a maldade que ele carregava e cometia seus pecados. É estranho imaginar como uma pessoa pode ser bondade e maldade, mas é isso que somos. Bondade e maldade, mas quando eu salvei a vida de Harry naquela praia, cinco anos atrás eu apenas vi bondade nos olhos dele, talvez antes disso, eu nunca vi maldade, sim, via luxúria nos olhos dele desde quando dançava, mas a ira? Eu não vi a ira em seu olhar para mim. Não sei dizer se já vi alguma vez.
Não mudei Harry, ele chegou assim para mim. O que significa que a parte boa dele sempre existiu.
Ele pode ter feito coisas horríveis no passado, eu sei, mas ele não é o vilão. Não na minha história, ele me salvou. Ele me amou. Espero que volte a me amar um dia porque eu estou aguardando com meu coração cheio de amor por ele.
— O ouro nunca enferruja. -Murmuro. — Parte sua, é sua. É você, então você também tem uma parte que brilha como ouro e ela não enferruja.
⚜⚜⚜
Durante a manhã, eu fiquei com Aurora e Harry, ele quis aprender como trocar fralda, colocar lenços no cabelo dela e como dar banho. Não sei se ele quis aprender mesmo ou se ele não tinha nada para fazer e queria fazer algo.
De qualquer forma, ele aprendeu rápido e Aurora gosta do colo dele. Eu deveria imaginar isso.
Durante a tarde eu fui até o hospital com Mary, poderia estudar com ela e me tornar médica, mas eu gosto de fazer pomadas, gosto de fazer medicamentos e extrair a babosa dos curén quando filhotes. Por mais que eu saiba costurar feridas abertas e como fazer curativos em pessoas queimadas, até mesmo tirar uma bala do corpo de alguém. Não foi fácil salvar a vida de Gibson e eu poderia tê-lo matado, sangue e pele era tudo que eu sentia em minhas mãos, foi assustador, por mais que tivesse valido a pena no final. Porém, me tornar médica não é uma ambição.
Além disso, por pensar em Gibson, ele foi visitar Harry quando eu estava saindo quando ele chegou e isso me deixou aliviada para ir ao hospital. Harry não estaria sozinho com Aurora. Isso é bom, até porque Gibsom também sabe cuidar de bebês.
É estranho como toda a nossa vida mudou, anos atrás estávamos em um bordel, bebendo, matando e se prostituindo. Hoje a vida soa quase como perfeição, mas eu sei muito bem que no início foi difícil.
Gibson e Jane. O homem da pele marrom como a minha, foi difícil para ele se adaptar nessa ilha. Anthony estava morto e ele não precisaria mais fazer coisas erradas, não que ele estivesse sendo obrigado antes, mas antes era a única saída que ele tinha. Quando ele se recuperou do tiro foi assustador para ele. Gibson iria ser pai e não tinha o que fazer. Jane também estava desesperada. Ela foi forçada a se prostituir pois o pai a vendeu para Anthony. No início foi difícil para ambos.
Contudo, Jane aprendeu a pegar pérolas negras das ostras e transformá-las em pulseiras, colares e anéis lindos. Porém, a sua paixão é por tecidos e ela se tornou costureira, no fundo eu sempre soube que o amor dela era por tecidos, ela amava falar com Mary sobre medidos sob medida e Gibson acabou se encontrando no Palácio da hoje rainha Elloah, ele ainda não é um professor, mas está aprendendo a fazer projetos de novas tecnologias, submarinos e naves que viajaram pelos céus explorando mais a ilha e satélites. Ele ainda é estudante do palácio, mas parece bem lá. Talvez conversando com Harry sobre tudo isso, ajude o moreno dos olhos verdes.
Além disso, Liam e Mary estão bem. Contudo, Liam raramente aparece, ele se tornou um navegador, explora novas ilhas e volta a cada quatro meses enquanto Mary estuda para se tornar médica e eu devo dizer que ela é uma aluna ótima e é sempre curiosa. Ela está disposta a aprender mais sobre tudo que ela pode. A menina que é mais nova que eu, mas ela tem uma força e persistência enormes.
Agora de noite, eu estou exausta, foi um dia longo. Algumas pessoas vêm para ilha refugiadas de uma guerra que começou em Papilio, muitos desses refugiados têm ferimentos e hoje foi um dia intenso de cuidados.
Quando entrei na minha casa estava tudo escuro e em silêncio. Em um primeiro momento eu me assustei, mas tentei imaginar que Harry me desobedeceu e dormiu com Aurora por bastante tempo. Se minha filha dormisse muito agora ficaria difícil colocá-la para dormir mais tarde.
— Harry? -Eu o chamo subindo as escadas, mas não encontro nenhum dos dois. Isso acaba me assustando mais. — Harry! -Chamo ele mais alto e acabo escutando risadas, elas vem da parte de trás da casa que leva até a praia. Eu corro até lá.
A porta de vidro da varanda está aberta. Ao longe vejo Harry e Gibson conversando de frente ao mar. Aurora estava no colo de Harry com os olhos bem abertos observando tudo à sua volta.
Eu acabo sorrindo aliviada, eles estão bem.
Volto a entrar para dentro da casa, decidi tomar um banho e depois eu irei começar a preparar algo para o jantar.
Entretanto, assim que eu termino de tomar banho e me vestir eu escuto batidas na porta. Desço rapidamente para atender. Assim que abro a porta eu vejo que são dois soldados da Rainha. Meu coração acelera. O que eles querem?
— Boa noite Alexia. -O mais alto fala e eu balanço minha cabeça devagar como resposta. — Temos um recado para Harry da Rainha, ele está?
— Estou. -Harry fala atrás de mim. Sua voz soa grave. — O que querem?
Continua...
Notas: Oi oi amoras tudo bem? Acho que agora eu consigo explicar isso um pouco melhor heheh
Então minhas amadas, eu vou escrever cinco capítulos bônus de golden, por que? Eu não sei para ser sincera mas eu vou fazer isso. Espero que gostem.
Bem, eu gostaria de postar um por dia mas não estão todos prontos quando estiverem eu solto aqui.
Agora uma perguntinha o Harry vai se lembrar ou não?
Espero que gostem e muito obrigada mesmo ♥
Love All. Anna. Xx