Ilusões

By Porzzinsk

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Amizades, romances, brigas e problemas. Todas essas coisas fazem parte da vida de Bruno. More

o quarto
Manhã
Surpresas
Café
Impulso
Amor e raiva
Conforto
Silêncio
A Festa
Escalada amorosa
A hora da verdade
Passado e Futuro
Descidas, comidas e brigas

Após a tormenta

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By Porzzinsk

O ônibus chegou mais ou menos umas cinco e meia da manhã. Bem cedo mesmo. Minha cidade era longe da faculdade. Quando percebi que estava dentro da cidade e indo para a rodoviária comecei a me mexer no assento. O corpo estava todo dolorido, com preguiça, sabe? Desci do ônibus e vi que estava tudo muito escuro, frio, um pouco de neblina. Mas o que mais me assustava era a escuridão. Não gosto de não conseguir ver as coisas. Isso me dá uma sensação de fraqueza, medo, insegurança e principalmente de solidão.

Peguei minhas malas e fui na direção de onde os táxis ficam. Por incrível que pareça não tinha nenhum. Merda. Minha internet do celular só renovava na próxima semana, então não dava para chamar um uber. Fiquei uns bons minutos esperando o que fazer. Estava literalmente perdendo tempo e não pensando em nada que poderia ser útil. Coisas ruins começaram a passar pela minha cabeça. "Você vai ser morto", "algum homofóbico vai passar ai e te matar", "alguém vai te roubar"- essas eram as coisas que eu ficava pensando. Minha sorte era que eu não estava sozinho, tinham mais pessoas ali comigo, que estavam no meu ônibus. Só que pouco a pouco eles foram indo embora, e eu ia ficando. Dessa forma, o desespero começou a bater e decidi ligar para o Junior.

" Não faz isso! Não acorda o pobre coitado agora"- foi o que passou na minha cabeça.

"Liga para outra pessoa, quem sabe a Lorena?"- outra voz falou.

Acabei por fim ligando para a Loren ( eu chamo a Lorena assim). A conversa no telefone foi rápida. Só falei que eu precisava de uma carona até em casa.

Os minutos iam passando. Um, dois, três, cinco, dez. Até que depois de quinze minutos a Lorena chegou. Não estava bravo pela demora. Eu sei que ela mora longe da rodoviária, e outra, ela está fazendo um favor para mim, tem nem por que eu dar uma da chato e querer procurar briga. Nem posso procurar briga. Sumi durante sete dias, e não falei nada para ninguém.

Ela entrou na rua da rodoviária, e parou o carro na minha frente. Abri a porta de trás e coloquei minhas coisas. Depois abri a porta da frente. Entrei. Sentei. Percebi que ela estava me encarando, mas eu não virei meu rosto. Continuava focando apenas no que estava na minha frente. Eu não estava preparado para uma conversa sobre o que aconteceu- Não que eu fosse contar a verdade do que realmente aconteceu- Até que ela virou meu rosto e disse:

- faz isso de novo sua "poczinha" que eu te capo.

Dei uma risadinha, e percebi que ela tinha pintado as pontas do cabelo do lado esquerdo ( o que não era raspado) de azul. Ela ficou mais bonita. Ela poderia tentar cagar na aparência que ela não ia conseguir. Existem pessoas que são bonitas de qualquer forma.

- Você está me devendo uma agora ta? Não é qualquer um que sai essas horas da madrugada não.

- pode me chamar a qualquer momento para qualquer coisa. Grave essas palavras- eu disse rindo.

Eu vou, pode deixar. Não vou esquecer mesmo, te garanto.- Loren disse.

Durante o resto do caminho até minha casa ficamos conversando de coisas bobas. Ela me atualizou de tudo que eu perdi sobre os nossos amigos. Foi naquele momento que eu percebi que eu estava fodido academicamente. Eu perdi uma semana de aula. Eu estava sem o conteúdo de uma semana. "Putz" foi a coisa que mais aparecia na minha cabeça. Eu precisava estudar muito essa semana. Aquele meme "sem tempo, irmão" era a minha realidade.

Cheguei no portão do meu prédio. Desci do carro. Peguei minhas malas, e marcela disse na hora que fui me despedir:

- Mor, a partir de hoje não vou poder te dar mais carona de manhã. Eu fechei o carro com as meninas da minha república. E elas vão me pagar, então isso me ajuda. Desculpa.

- Tranquilo, tem problema não.-eu disse, mas por dentro eu estava sofrendo, pois eu teria que recorrer ao Júnior. Tinha o Paulo que poderia me dar carona, mas eu preferi fingir que ele não existia naquele momento.

Entrei no prédio. Subi as escadas. Meu apartamento é no ultimo andar, ou seja o terceiro andar. Meu prédio não tem elevador, então tive que subir minhas malas tudo comigo de uma vez só, se não eu não teria coragem de descer e subir três lances de escada novamente.

Abri a porta bem devagar, para não fazer barulho e não acordar ninguém. Consegui. Nenhum barulho. O primeiro cômodo é a sala. E olha! Eu amo essa casa. Eu me sinto tão bem aqui. Eu tenho minha vida nesse lugar, minhas responsabilidades. Posso fazer o que eu quiser. Uma coisa pode parecer engraçada mas eu nunca trouxe ninguém para dormir aqui comigo. Nunca fiz sexo com ninguém desde que eu comecei a faculdade.

-Apesar de eu ter sido uma pessoa muito safada e dada no meu ultimo ano do ensino médio, depois daquilo eu nunca fiz mais nada. Eu só beijo as pessoas. Nada a mais do que isso. Eu me culpo e me julgo demais pelo que aconteceu naquela época. Fui um irresponsável.-

Percebi que  a sala estava um pouco suja. Esses meninos são todos uns porcos. Falando neles, eu já contei sobre o Junior, Paulo( ele me dá carona as vezes e namora o Renan), e falta o João Pedro, o único hétero da casa. João- como todo mundo chama ele- é um homem alto, bonito, cabelos loiros, olhos cor de mel. Ele está no terceiro semestre de Medicina Veterinária. Ele é o nosso "agroboy". Coitado, vive chamando todo mundo para ir nas festas das repúblicas dos amigos dele, mas só o Júnior que vai. Júnior se dá muito bem nas rodas de homens héteros, o contrário de mim. Tenho pavor.

Agora que vocês conhecem um pouco dos meninos que moram comigo, vale a pena falar que eu estou no meu segundo semestre de Direito. Até agora estou gostando do curso. Tem matérias que eu gosto e outros que eu odeio. Direito Penal eu te abomino.

Voltando ao que interessa, depois de ver a porquice da sala, fui pro meu quarto e deitei na minha cama. Como hoje é segunda-feira, minhas aulas são todas no período da tarde e da noite.

O sono me pegou de jeito. Mesmo tendo dormido na viagem até a cidade eu ainda estava cansado.

* *

Pela primeira vez em um bom tempo, não tive nenhum sonho. Acordei um pouco assustado, achando que eu tinha perdido a hora. Mas não, ainda eram dez horas. Decidi levantar. Tomei um banho, coloquei uma roupa confortável e fui direto para a cozinha tomar um copo de leite.-Sim, eu amo leite. Tenho que tomar um copo todo dia cedo. Se eu não tomar parece que meu dia não está completo.- A casa estava totalmente vazia, acho que todo mundo devia estar na faculdade. Depois de tomar, lavei minha louça( uma das regras da casa "Lavar o que sujar") e voltei pro meu quarto. Hoje é segunda, então tenho aula de Direito Civil 2 com a Fabíula, Estudos antropológicos das comunidades ameríndias e seus tratados sociais, e Italiano. É um dia bem gostoso para ser bem sincero. A parte que mais complica é a aula da Fabíula, ela é meio doida eu acho. Ela é muito legal, simpática e inteligente, mas quase nunca escreve na aula ou nos slides, então tenho que ficar copiando tudo que ela fala. E sério, isso é cansativo.

Sentei na minha mesa de estudos e comecei a colocar a matéria em dia. Ainda bem que depois de toda aula os professores disponibilizam o conteúdo dado, mas eu que lute para estudar tudo isso.

**

Devia ser uma onze e meia quando eu recebi uma mensagem no celular.

" quarta feira a noite é um dia ótimo para mim. Não vou te ver cedo. Vou ter que faltar da aula, mas a gente compensa isso a noite."

Senti nojo ao ler aquilo. Aquele tipo de nojo que faz o estômago revirar e você querer começar a chorar e nunca mais parar. O que me deixava mais puto é que se o Calizzoto me quisesse e me chamasse para sair eu toparia. Eu sempre achei ele bonito e  elegante. Mas agora só sinto nojo.

Respondi da seguinte forma:

" Ok! Pode ser por mim. Só me avisa o lugar e a hora"

Me sinto mais uma vez como  quando eu conheci Pierre. As mesmas mensagens. O mesmo tipo de pessoa que eu conversava, os clientes. A única diferença era a de que eu não sentia mais aquele nervosismo gostoso de antes, agora só sentia repulsa e vergonha de mim mesmo. Mas, vou respirar um pouco. Tomar um ar. Um dia de cada vez né.

**

Terminei meus estudos era meio dia e 20. Minha primeira aula começa as duas horas. Arrumei minhas coisas, e fui para a faculdade. Vou almoçar lá hoje. A comida do RU é muito boa, e o melhor de tudo: é barata.

Desci as escadas. Sai do prédio. Fui para o ponto de ônibus. Nisso, era quase meio dia e trinta e cinco. O ônibus chegou. Ele não estava lotado. Amém!  Odeio quando pego ele lotado, e não tem lugar para sentar ou até mesmo para ficar em pé de forma, minimamente, confortável. Consegui sentar do lado da janela. Coloquei meu fone e cliquei para ir aleatório as músicas. A primeira que começou a tocar é a Lights Up, do Harry Styles.

Apreciei meus 15 minutos dentro do ônibus.

Quando deu a hora de descer, eu estava de frente o RU. Esqueci de falar que eu tinha mandado mensagem para a Mariana, aquela minha amiga que faz História sabe? Então, entrei no pátio procurando por ela. Achei ela. Ela veio correndo até mim e me deu um abraço daqueles que deixa a gente quentinho e completo. Ela me levou até na mesa que o pessoal estava. Ela tinha chamado a Loren, Junior, Paulo e o João. Na hora que eu vi todo mundo fiquei um pouco sem graça. Só fui na direção deles e cumprimentei cada um.

O que me deixou mais feliz, foi que nenhum deles me perguntou nada sobre o que aconteceu, nem tocaram no assunto de semana passada. Só ficaram falando sobre coisas dessa semana. E que teria uma festa na República do amigo do João.

Fiquei muito feliz por eles terem me dado esse espaço. Sei que tenho amigos muito bons e que posso contar com eles. Entretanto algumas coisas nunca devem ser contadas, o que é o caso do meu segredo. Vou ter que inventar alguma coisa para eles. E foi o que eu fiz. A Loren estava falando quando do nada eu soltei:

" meu tio morreu, foi por isso que eu sumi. Ele era muito próximo de mim e eu fiquei mal. Foi isso que aconteceu. Desculpa ter preocupado vocês."

Todo mundo começou a falar aquelas velhas frases "meus sentimentos", "sei que deve ser bem dificil"... O João até deu uma apertadinha no meu ombro. Foi até um pouco engraçado. Não esperava por aquilo.

Terminamos o almoço e cada um foi para suas respectivas aulas. Eu tinha que ir a para o prédio 12, e o Júnior por incrível que pareça também. Não falamos um A durante o caminho. Eu até tentei puxar um assunto mas ele só respondia com um "Aham" ou nada.

Quando chegamos no corredor principal do prédio 12, Junior segurou nos meus ombros e disse:

"Eu não sei o que aconteceu com você. Eu quero muito saber. Sei que você mentiu, por que eu falei com sua mãe e ela não falou nada disso. Aliás você mente muito mal. Não quero te pressionar para me contar. Deve ser uma coisa muito pessoal e séria, mas não precisava ter mentido para mim. Para o resto do pessoal eu até entendo, mas para mim Bruno? Achei que a gente fosse um pouco mais sincero entre nós. Pelo menos eu sou"

Ele disse isso tudo e simplesmente saiu.

Eu estava sem resposta. Paralisei. Uma bomba caiu nas minhas mãos.

"como eu pude decepcionar a pessoa que eu mais gosto dessa forma?"- foi o que eu pensei.

Meus olhos lacrimejaram. Fui de cabeça baixa até minha sala. Hora de voltar para a vida né? Respirei bem fundo e disse para mim mesmo:

"um dia de cada vez Bruno, calma!"






Esse capítulo é em especial para a Camila Silvestrini que sempre me motiva a escrever essa fic. Para a Stela Calixto que sempre me pede mais, mesmo eu não dando isso para ela. E para a Bruna Bernardinelli, minha mais nova leitora e que me motivou a escrever mais.

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