A Filha Do Caos - saga A Capa...

Bởi HeyFernandaF

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Livro 1 - Saga A Capa Na pacata cidade de Santa Mariana, onde absolutamente nada de extraordinário acontece... Xem Thêm

Nota da Autora
Dedicatoria
| Prólogo |
Parte I: Filha do caos
|Cap I: Nova Escola, novos problemas|
| Capítulo II: Estranhos Acontecimentos |
| Capítulo III: Queenie Harper |
| Capítulo IV: Segredos e Mistérios |
|Capítulo V: Inferno: Bar, restaurante, hotel, loja de artigos para magia e... |
| Capítulo VI: Feliz Aniversário, Luzianna. |
Parte II: A Bruxa Rebelde
|Capítulo VII: A Garota Harper|
| Capítulo IX: Hora de contar uma história |
|Capítulo X: Uma ajuda as vezes é boa|
Parte III: A aventura começa
|Capítulo XI: De volta ao lar|
|Capítulo XII: Miguel Skyson|
|Capitulo XIII:A verdade deve ser dita|
|Capítulo XIV: Primos Skyson|
|Capítulo XV: Os problemas da Corte|
|Capítulo XVI: Lilith|
|Capítulo XVII: Histórias de bruxas|
|Capítulo XVIII: Os traumas de Jasmim|
| Capítulo XIX: A casa da família Harper |
| Capítulo XX: Ferimentos que doem |
| Capítulo XXI: Treinamento |
| Capítulo XXII: Trabalho das Sombras |
|Capítulo XVIII: Conversa com um morto.|
| Capítulo XXV: Planos para dizer e esconder |
| Capítulo XXVI: Estrada para o Inferno |
Capítulo XXVII: A Filha do Caos
|Epílogo: Jantar nocivo|

|Capítulo VII: Má eu, boa eu|

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Bởi HeyFernandaF

Preparado para desvendar o mundo que existe bem debaixo de nossos olhos?

Má Jasmim, Boa Jasmim. Lá vamos nós de novo.

Má Jasmim, Boa Jasmim. Perfure mais um pouco.

Má Jasmim, boa Jasmim. Quase nos pegou.

Má Jasmim, boa Jasmim. A onde está seu salvador?

A música mórbida era cantada pela alma de quinhentas crianças que o demônio havia matado e comido nos últimos vinte anos.

O demônio era como um bicho papão, se transformava em velhinhas bondosas que davam doces para atrair crianças de no máximo oito anos. As levava até o seu covil e as cozinhava vivas como ensopado.

Os espíritos das crianças, assombrados com a forma horrenda com que haviam sido mortos, serviam como escravos para o demônio, impedindo que visitantes indesejados invadissem o seu parque de diversões.

Bem, eu era uma visita indesejável.

Boa Jasmim, má Jasmim
Lá vamos nós de novo.

Boa Jasmim, má Jasmim
Irritante, matando e roubando.

Boa Jasmim, má Jasmim
Porque não enfiou a navalha em seu pescoço quando teve a oportunidade?

– Desculpe corrigir a cantoria de vocês... – Disse enquanto andava pelo parque de diversões abandonado. Com uma lanterna em uma mão e minha velha Hillstrong 1969 na outra. Uma espécie de nevoeiro se formava perto de meus lábios sempre que eu respirava, a razão era o frio que ficava cada vez mais forte, sinalizando que o monstro devia estar por perto. – mas eu sinto que a última parte não rimou.

– Eu conheço você, Jasmim Rivera. – A voz do demônio se fez presente. Ela obviamente era mais grossa e mais ameaçadora que as das crianças, mas para mim, ela não passava de uma espécie de bicho papão maldito e que logo estaria na minha coleção de cabeças.

– Conhece? Pois eu não lembro de você.

– Claro. – Sorriu o monstro chegando finalmente ao meu campo de visão. Um palhaço. Era isso que ele era? A merda de um palhaço? Sua pele era branca, seus lábios vermelhos com azul. Havia um desenho de lágrima abaixo de seu olho direito, seu sorriso era macabro com seus dentes quebrados ensanguentados. Sua roupa era a digna circense vintage branca com uma gola cheia de frufrus. Suas mãos finas e unhas longas afiadas. Era um monstro assustador para caralho. Menos para mim, é claro. – Eu lembro-me de você antes mesmo de sua cabeça infantil ter a capacidade de guardar memórias. Lembra do monstro do armário? Aquele que fazia você mijar toda maldita noite na cama, logo depois de todas as chicotadas que Constantine te dava, para você parar de ser uma criança chorona? Bem, pelo que eu vejo, você não mudou nada. Garota assombrada.

Franzi o cenho enquanto olhava para a mutação que ocorria na aparência do monstro. Agora ele parecia mais humano, cabelos negros na altura do ombro, penteados para trás e extremamente bem hidratados, pele branca, um nariz um pouco avantajado e olhos azuis. A roupa vitoriana azul escuro com detalhes em prata.

Eu reconheceria essa voz em qualquer lugar. Aquela postura que me causava pesadelos.

Constantine Skyson. Em uma semana, era a segunda vez que o vi. Claro que não eram a mesma pessoa, o verdadeiro Constantine estava desaparecido a anos. Mas só sua aparência já era o suficiente para mim.

Maldito seja Constantine Skyson!

– Eu me lembro quando vim te assombrar pela primeira vez. Você é igualzinha sua mãe, mas tem a mesma rebeldia de seu pai. – Pai. Isso era estranho. Eu ouvi falar muito de minha mãe, seja em sonhos ou demônios que me assombraram. Mas nunca lembrei de meu pai. Às vezes era estranho lembrar que eu tinha um pai. Mas é claro que eu tinha algum. Eu não nasci do espírito santo ou algo assim. Eu vim de uma boa e velha dose de sexo. – Mas ainda é fraca. Fraca e depressiva.

– Você fala demais, Pennywise. – Falei dando um tiro no demônio. Não que isso tenha feito muita diferença. Já que a bala passou por ele como cosquinha.

O monstro encarou o buraco com ódio enquanto ele se transformava em sua verdadeira forma. Com suas garras prontas para me atacar. Foi por pouco. Mas consegui me esconder entre uma barraquinha de pipoca e uma de algodão doce. Assim sentindo apenas o vento causado pelo movimento das garras do ser. Sabendo que uma simples arma ultrapassada não daria certo, decidi pegar minha espada Skyson pura e se preparar para luta.

A lâmina prateada parecia iluminar a escuridão daquele parque. A bainha da espada era também prata com detalhes de jasmins e algumas ilustrações de pequenos corvos, – respectivamente os principais símbolos da família Skyson – bem no fim da bainha estava escrito J.R, minhas inciais. Esse era um dos presentes que eu havia ganhado na noite que fui embora da Capa. Haviam apenas duas dessas espadas no mundo, uma, a original, pertenceu a Corvus Skyson, o primeiro Caçador a carregar esse nome, passou de pai para filho e se tudo ocorreu bem, deve ser de Miguel agora. A segunda, a imitação, era a minha, que podia ser uma cópia exata se não fosse as minhas inciais. O porquê de eu ter recebido um presente tão importante? Bem, nem Angelic sabia o motivo de Constantine ter mandado fazer essa espada para mim, e nem o porquê de seu plano fosse de dar ela a mim aos meus dezoito anos, mas era algo bonito. Talvez uma espécie de pedido de desculpas por ser um monstro comigo por todos esses anos.

Sem mais tempo para pensar, ataquei as pernas finas do monstro sem piedade. O bicho urrou, agora ele não tinha mais forma de nada, apenas uma escuridão enorme com quatro membros e olhos brancos assustadores. Ele se virou tentando encontrar quem havia o atacado. Porém, consegui me esconder em baixo de uma xícara gigante que suponho eu ter sido de um brinquedo de xícara maluca, mas agora estava bem longe de sua outra metade.

– Apareça caçadora. – O monstro me chamou com sua voz grossa. Pegando um palhaço gigante que ficava na entrada do parque e jogando em direção a onde eu devia estar. Segurei a respiração ao sentir o nariz do palhaço gigante bater de encontro com a xícara, fazendo todo o interior dela tremer em consequentemente eu também. – Eu te conheço garota. Sua vadia demoníaca.

Vadia demoníaca? Essa é nova. Gostei.

– Seus pensamentos malditos são o medo de todo o inferno. – O demônio riu com desdém. Como se lembrasse de alguma história vergonhosa na qual ele não queria se lembrar. – Eu tive uma ótima ideia.

De repente senti a xícara começar a se mexer. Seus passos altos começaram a fazer um barulho extremamente assustador e alto. Olhei para cima. A sombra da mão da criatura se formava por cima de mim. Como se fosse uma pena, o monstro pegou a xícara. Se surpreendendo com o fato de não ter ninguém ali.

– O quê?

– O grandão! – Chamei a atenção me jogando de dentro da xícara e atingindo seu pescoço com a espada. – Nunca assistiu a um filme de ação? Sempre olhe para dentro do compartimento! O que você tem de feio você tem de burro.

– Maldita!

Escorreguei por suas costas enquanto tentava me esquivar de suas enormes mãos. Pegando impulso a partir de seu cóccix, consegui tirar a arma do bolso de meu sobretudo e atirar na parte de trás da cabeça dele. Fazendo com que seu "sangue" demoníaco respingasse por todo o parque e até em minha roupa.

– Merda, eu tinha acabado de limpar isso. – Zombei enquanto observava a vista do porto. Eu agora estava em cima de uma barraca de tiro ao alvo. O vento estava mais forte e o barulho do mar agitado servia como uma espécie de trilha sonora para nossa batalha. Respirei fundo. Sentindo o sal do mar com o ar cortante de um frio muito raro para a primavera machucar minhas narinas. Notando que o monstro já estava pronto para mais uma, pulei em direção a ele, enfincando a espada em seu olho direito e depois o soltando.

A queda era enorme. Pelo menos uns dez metros da cabeça do monstro até o chão de madeira do cais do parque. Se não fosse a tenda azul da barraca de ingressos – que era mais resistente do que o imaginado – eu possivelmente estaria com as minhas costas completamente ferradas.

Me esquivando de seus socos e chutes, corri pelas barracas e brinquedos enquanto observava o rastro de destruição que ele causava.

– Como os humanos não conseguem enxergar isso? – Comentei enquanto passava da roda gigante para a estátua de cavalo do centro do parque em um pulo.

Ele elevou sua mão gigante, porém não me atacou como eu esperava. Ao invés, começou a se transformar em Constantine Skyson novamente.

– Terror psicológico? Tenho que assumir, uma ótima ideia. – Suspirei tentando ignorar o olhar macabro do falso Constantine em mim e levantando a espada até seu pescoço.

– Eu sei de todos os seus pecados, Jasmim Rivera. – Seu timbre ia lentamente se adequando ao de Constantine, finalizando assim a frase com a mesma entonação de voz. Ameaçadora.

– Claro que sabe. – Dei de ombros pressionando a espada mais um pouco. Já sentindo sua pele se comprimir na lâmina.

Um movimento, apenas um movimento e eu mataria Constantine Skyson – pelo menos a imagem que o monstro criou para me amedrontar. – e então poderia ir para casa. Continuar minha vida maldita. E é claro, continuar ser a stalker fodida de Luzianna Harper.

Sim, eu havia aceitado cuidar da garota.

– Vamos, Jasmim. – Ele sorriu malicioso enquanto seus olhos se mantinham nos meus. – Me mate. É isso que você quer, não é? Minha cabeça em sua coleção. Eu, o responsável por todos os seus pesadelos. Você me mataria e tudo isso acabaria.

Os trinta segundos seguintes soaram como trinta horas. Nenhum movimento podia ser feito. Eu estava paralisada. Uma parte de mim, mandava mata– lo, outra queria correr daquele lugar e chorar como um bebê recém-nascido.

Morcegos sobrevoavam o local. A luz do farol era a única fonte de luz que tínhamos.

Faça alguma coisa, sua inútil!

Meu cérebro gritava para mim enquanto minha visão começava a ficar desfocada. Eu chamava Gerald incansavelmente, mas já percebi que o gênio não conseguiria me responder de modo algum.

Então, com o sentimento de que minha garganta estava fechando, uma enorme dor no peito como se meu coração maldito estivesse perto a explodir. Eu enfiei a espada até que o meio de sua lâmina estivesse sujo do sangue verde de demônio. Ele caiu morto, seu corpo voltando a forma normal, soltei um sorriso vitorioso ao ver isso, mas o fechei quando também cai.

A dor de cabeça aumentava. Meu coração batia tão forte que eu podia dizer que ele estava saindo de meu peito. Meu corpo tremia e eu lacrimejava.

Fiz o que fazia de melhor. Gritei tão alto que até me surpreendi. Acreditando que até os mundanos ouviriam isso e que o feitiço ilusório que coloquei ao redor do parque logo que cheguei não iria valer de nada agora.

– Merda. Merda. Merda. – Repeti a palavra umas quinze vezes enquanto observava meus braços ficarem vermelho vivo. Meus cabelos estavam brancos e pelo reflexo do metal de uma das barracas destruídas eu também via meus olhos ficarem completamente pretos. – De novo não.

Má eu, boa eu.
Porra, o que fiz?
Má eu, boa eu.
Fazer aquilo, eu nunca quis.
Má eu, boa eu.
Por favor, se a um Deus lá fora, me escute.

O monstro que eu me tornei. O mesmo que atacou Miguel algumas semanas antes de eu ir embora da Capa.

Eu ataquei Miguel, se não tivesse conseguido me controlar talvez tivesse o matado. Porque era isso que eu fazia com as pessoas que eu amava. Eu as destruía pouco a pouco.

Má eu, boa eu.

Jasmim Rivera, a vadia de dois polos.

E nenhum deles é alguém que você deve se aproximar.

Engolindo meu orgulho, olhei para o céu, pensando Nele. O homem barbudo que mandava em todos nós. Desde humanos comuns até, principalmente, os caçadores.

Nós não tínhamos uma boa relação. Na verdade, eu sentia que ele não gostava de mim. Eu não o julgo, eu adorava quebrar e questionar suas regras.

Bem, seja o que Ele quiser.

– Querido Deus, acho que posso te chamar assim. Eu sei, nós não nos damos nada bem, na verdade, eu sinto que você não gosta de mim. Mas por favor, o senhor poderia dar uma ajudinha aqui? – Suspirei sentindo o demônio começar a se mexer ao meu lado. Pelo jeito uma espada no pescoço não era o bastante para ele. Comecei a rezar um pai nosso mal feito enquanto tentava lembrar de feitiços que pudessem ajudar. Quando eu estava chegando no amém, um miado de gato invadiu meus ouvidos.

– Miaw! – O gato "gritou" alto. Abri os olhos com um sorriso no rosto. Minha forma normal havia voltado e a minha direita um gato preto com olhos roxos atacava o monstro de mais de três metros.

Voltei a me mexer, pguei minha espada e comecei a ajudar– lo. Para um simples gatinho ele era bem forte, mas ele não era um simples gatinho.

Minha espada atravessou o pescoço do ser, o decapitando. Um rugido de dor foi ouvido antes de seu corpo diminuir e desaparecer na brisa do cais. Soltei um suspiro profundo de alívio e olhei para o animal, qual agora era uma menina de um metro e meio e cabelos roxos.

– Valeu, Mitzy. Mas eu não precisava de sua ajuda. – Falei recolhendo um medalhão que estava no pescoço do demônio. O símbolo de chifres parecido com o do signo de Áries. O símbolo do demônio da ira. Curioso. Extremamente curioso. O guardei em meu bolso para analisá-lo depois.

– Claro, você só estava tendo um ataque demoníaco enquanto lutava com um monstro capaz de matar você com um sopro. – A menina ronronou enquanto junto a mim, caminhava até meu carro. – Obrigada e de nada.

Revirei os olhos enquanto observava a noite estrelada da cidade. Esse era o bom de não viver mais no subsolo com a Capa. Você podia ver mais. Ver o mundo como ele realmente é.

Sujo, injusto e, mesmo assim, lindo.

– E então, chefia. A onde é a próxima parada? – A garota perguntou logo depois que entramos no carro.

– Parada? Você vai para sua casa, sua mãe deve estar pirando agora. – Respondi enquanto observava a estrada movimentada da cidade. Estávamos passando pela parte das boates, ou seja, vários jovens dos dezesseis aos vinte e cinco anos estavam passando pela rua. Com roupas curtas e chamativas.

– Éden. – Mitzy apontou para uma boate em tons roxos espelhados e com a palavra Éden brilhando em dourado. A fila era enorme e chegava até o fim do quarteirão. – Uma boate para demônios. Carmille trabalha ai de fim de semana. Dizem que Lilith é a dona.

– Lilith? – Bufei com escárnio. – Desistiu do inferno e abriu uma boate? Eu já vi essa história antes.

Continuei meu caminho silenciosamente. Mitzy já percebendo que não haveria mais conversas, ligou o rádio em uma altura mediana e ficou cantarolando a música de Aerosmith que tocava.

Aos poucos a paisagem urbana do centro se transformava em casas grandes e jardins floridos. Estávamos no subúrbio da cidade. A rua das rosas.

– O que estamos fazendo na parte de gente quase rica? – Mitzy perguntou curiosa. Chegava a ser fofo o jeito infantil que sua voz saiu.

– Viemos ver Luzianna Harper. – Respondi estacionando meu carro na esquina da rua e desligando o motor. Essa ação fez um barulho mais alto do que eu imaginava. Porém, o máximo que ele conseguiu chamar a atenção foi de um gatinho que saiu correndo rua afora.

– Como assim? Eu achei que você odiasse ela. – Perguntou Mitzy tirando o sinto de segurança e saindo do carro. A menina de cabelos roxos olhava para o seu, deixando que seus olhos castanhos esverdeados refletissem a luz da lua e das estrelas.

– Eu não odeio, apenas não vou com a cara dela. – Expliquei fechando com força a porta do motorista. – E também, a loirinha é talvez minha única chance contra a Corte.

– Corte? – Mitzy franziu o cenho. – Os homens barbudos qual você trabalha? O que ela tem a ver com eles?

– A menina é uma caçadora, e ainda pior, sobrinha de uma podiatrix. – A face confusa de Mitzy ao ouvir a palavra podiatrix foi tão ridícula que eu tive que me segurar para não rir na sua cara. – Podiatrix são os traidores, eles têm suas marcas arrancadas e, se tiverem o azar de sobreviver, vão viver na prisão pelo resto de suas vidas.

– Eles são bem radicais na Corte. – A menina piscou algumas vezes e tornou a andar. Já estávamos á duas casas de Luzia e Mitzy tornou a falar. – Então quer dizer que você tem que impedir que a tia de Luzia chegue até ela. É só isso?

– Exatamente. – Respondi sarcástica. Me abaixando até ficar a sua altura, como se eu estivesse falando com uma criança. Passei minha mão pelos seus cabelos roxos, os deixando levemente bagunçados. – Que garota inteligente. Quer um biscoito?

– Vai se foder, Rivera. – A menina bateu em minha mão, fazendo com que eu tivesse que tirar a mão de seu couro cabeludo. – Qual é seu plano?

– Você vai entrar na casa transmutada de gato. – Respondi com indiferença. Dando um mínimo sorriso ao perceber o olhar esbugalhado que Mitzy deu em minha direção.

– Você perdeu o juízo? O que te faz pensar que eu faria isso?

– Bem, ou você faz o que eu mando ou eu conto para sua mãe sobre as poções que você roubou.

Mitzy demorou alguns segundos para responder. Logo um miado longo foi ouvido. Olhei para o lado. Onde Mitzy em sua versão animal me olhava com tédio.

Miaw! – A gatinha miou andando até a cerca da casa de madeira azul e subindo em cima de uma árvore.

– A onde deve ser o quarto dela?

Procurei pela fachada da casa. Haviam duas janelas no andar de cima. Uma grande ficava no lado direito da casa. Estava fechada. No meio, haviam duas pequenas e redondas. Deviam ser do banheiro, talvez uma daquelas suítes de gente rica. Já na esquerda, uma janela aberta fazia com que as cortinas cor de rosa se mexessem com o vento.

– Acho que já achei. Mitzy! A sua esquerda!

– Meow!

Mitzy começou a miar na frente da janela. Logo uma pessoa apareceu. Os cabelos longos e loiros não mentiram para mim. Era Luzianna Harper.

– Perfeito.

Demorou pelo menos quinze minutos. A luz da cozinha acendeu e logo percebi a silhueta de Mitzy lá.

A vagabunda estava comendo na casa da patricinha?

Pela alma das bruxas de Salém, Mitzy iria se ver comigo.

De repente a energia na casa Harper começa a mudar. Uma ventania me atinge, fazendo com que eu feche meus olhos com força. Já que a terra e areia de todos os quintais da quadra pareciam querer me atacar. E então uma voz:

Filha...

– Pai?! – A palavra saiu entre suspiros como uma respiração. Balancei a cabeça quando percebi o que eu tinha falado.

– Que se foda. – Corri até a árvore perto da janela de Luzianna Harper. Subindo nela e tomando impulso. Já sentindo minha energia vital se esvair logo que entrei no cômodo cor de rosa.

A visão seria extremamente assustadora para um humano normal, até mesmo para uma caçadora era assustador pra cacete.

Luzianna Harper estava entre uma aparência demoníaca e uma aparência de humana comum. Ela gritava e se contorcia deitada na cama de solteiro branca. Vultos passavam por ela e me impediam de chegar mais perto, porém, com muita força, consegui quebrar aquela barreira invisível.

O nervosismo começou a tomar conta do meu ser. Aquilo era caso de exorcismo e eu nunca havia feito um. Eu já havia lido sobre, livros e ensaios. Porém, era diferente a prática da teoria.

Não me julgue, eu não era um John Constantine ou um Winchester.

– Seja o que Deus quiser. – Falei suspirando fundo e passando minhas mãos a cima do corpo da jovem. Sentindo toda a energia que emanava dela.

Luzianna Harper tinha uma péssima energia, inclusive era por isso que eu não gostava dela. Agora ela era uma bomba demoníaca. Exorcizar ela não seria uma tarefa fácil.

Lembrando das instruções do livro de Demonologia que eu li quando tinha nove anos, peguei um pequeno frasco de água benta que eu guardava no bolso do sobre-tudo e o abri, jogando algumas gotas em Luzianna Harper.

A parte demoníaca de Luzianna, com cabelos brancos arroxeados e pele lilás, começou a queimar. Gritando com uma voz grossa e assustadora.

Mitzy – agora de volta a sua forma humana – estremeceu. Seus olhos castanhos esverdeados encaravam a cena com temor, e seu corpo pequeno se comprimia contra o armário embutido.

Eu sabia que fazer um exorcismo sozinha não era boa ideia. Se até caçadores mais experientes precisavam de ajuda para fazer, claro que eu, uma nascida– moroi que nem na Academia Hillstrong se formou, não conseguiria realizar.

– Pai nosso que está no Céu. – Comecei a oração de praste. Passando a mãos em volta do corpo de Luzianna, sentido cada fragmento de energia demoníaca e sentindo essa mesma energia ir se adquirindo da minha pouco a pouco. Suspirei, tentando me concentrar. – Santificado seja o vosso nome, venha a vós o vosso reino, seja feita vossa vontade, tanto na terra como no Céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai–nos as vossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos ofendido, e não deixeis cair em tentação, mas livrai– nos do Mal.

Suspirei fundo.

– Amém.

O grito de Luzianna Harper se deu início assim quando a oração parou. O lado de seu corpo que estava se transformando em demônio começava a fraquejar, mudando de um tom pêssego para um tom de lilas várias vezes no mesmo segundo.

– Você vai demorar muito? – Mitzy estava quase desmaiada entre o armário e a penteadeira de Luzianna Harper. Sua voz era grogue, simbolizando que a oração estava fazendo efeito nela também.

– Mitzy vá para casa. Sua mãe está preocupada. – Aconselhei, porém a menina pareceu não se importar, dando de ombros logo em seguida.

– Que se foda, minha mãe. Se eu morrer ajudando minha melhor amiga a exorcizar a crush dela. Eu vou morrer da forma mais foda do mundo. – Ela soltou uma risada nasal e eu a acompanhei. Quase esquecendo do que estava deitado na cama. – E também, demônios nunca morrem.

– Demônios nunca morrem. – Repeti com um sorriso. Voltando minha atenção para Luzianna, que voltara a gritar. Seguindo o segundo passo, dei início a mesma oração, agora em Latim. – Pater Noster, qui es in caelis Sanctificétur nomen tuum,Fiat voluntas tua, sicut in caelo, et in terra. Panem nostrum quotidiánum da nobis hódie, et dimítte nobis débita nostra,sicut et nos dimíttimus debitóribus nostris. Et ne nos indúcas in tentatiónem. Sed líbera nos a malo. Amen. Pelo nome do Pai eu ordeno! Saia demônio!

Repeti a oração e a frase três vezes. Os gritos de Luzianna Harper talvez poderiam ser ouvidos pela vizinhança inteira. Quando já estava no quarto "Saia demônio" percebi um movimento na energia de Luzianna.

Olhei para a garota de cabelos loiros, ela vestia uma camisa regata justa branca e um shorts de malha vermelho. Sua respiração estava descompensada e o movimento de seu peito demonstrava isso. Havia sinais de machucados em seu pescoço e onde a água benta caiu, como pequenas queimaduras.

Ela parecia normal, mas havia algo mais em sua aura que me assustava. O demônio não estava possuindo ela, todas as orações e água benta não estava machucando o demônio, mas sim a própria Luzianna Harper.

Naquele momento eu tive a total certeza de algo.

– Mitzy.

A gatuna estava desmaiada no chão, puxei a menina para o meu colo. Encarei o quarto de Luzianna Harper mais uma vez, aquele local, junto a tudo que era relacionado a menina, era um poço de energia negativa para mim. Eu não sabia o porquê, não antes, pois agora eu tinha a total certeza da razão.

– Abeamus. – Gritei o feitiço em plenos pulmões e senti meu corpo e alma sendo levados para outro lugar.

Quando abri meus olhos novamente, eu me encontrava na sala de meu apartamento. Minha visão estava embaçada e eu sentia que não conseguiria aguentar Mitzy – ou me aguentar – por muito tempo. Repouso o corpo da demônio defeituosa com cuidado em meu sofá, ouvindo seus grunhidos de protesto corri até o banheiro. Já sentindo o vômito subir pela minha garganta.

Logo que abri a porta, deixei que os restos de minhas últimas refeições escapassem em direção a minha privada. Minha cabeça doía e parecia ter um peso sobre ela, quando estava prestes a me levantar senti um líquido quente escorrer do meu nariz e cair em direção ao chão, pintando o amarelo com vermelho.

– Merda. – Bradei enquanto limpava o meu nariz. – Luzianna Harper, você acabou com as minhas energias.

Ri enquanto encarava minha situação no espelho. Meus cabelos castanhos estavam bem bagunçados, minha pele brilhava graças ao suor e de meu nariz sangue vermelho vivo escorria.

Eu estava horrível.

– Senhora. – Gerald apareceu na porta do banheiro. Me fazendo revirar os olhos. Onde aquele maldito estava quando eu precisei dele. – O que a senhorita Wale faz aqui?

Me virei para ele com um semblante de raiva. Fechei minhas mãos em formato de punho. Passando diretamente por ele e saindo do banheiro em direção a sala.

– Senhorita, a senhorita está brava?

– Não me chame de senhorita, Geraldino. Já te disse isso mil vezes, custa você me obedecer?

– Desculpe. – Ele abaixou a cabeça. Me fazendo revirar os olhos.

Levantei e fui até a cozinha. O bolo envenenado de Camille ainda se encontrava ali. Abri a geladeira e de lá peguei uma garrafa de água, bebi todo o líquido da mesma em um gole só, a amassando e jogando na pia.

– Porque não me respondeu quando te chamei? – Perguntei me apoiando no balcão marrom da cozinha. Suspirei e expirei diversas vezes. Tentando me acalmar com o pensamento que tomava minha mente desde o acontecimento no quarto de Luzianna Harper.

– Senhora, que dizer, Jasmim... Desculpe, mas eu não ouvi você me chamar.

Levantei a cabeça e olhei em direção do gênio. Suas, orbes âmbar não tinham um risco de mentira, e de qualquer maneira ele não poderia, porém ainda era estranho demais.

– Como assim? Você sempre está conectado comigo, sempre ouve minha mente, inclusive quando eu não quero. Como não ouviu?

– Eu não faço ideia, Jasmim. – Ele abaixou a cabeça.

Sorri de lado com a submissão de Gerald. Era incrível como os gênios eram submissos a seus mestres. Gerald, um gênio de quase cinco mil anos, de cabeça baixa para mim, uma bruxa de nem dezesseis anos.

– Depois iremos cuidar disso, por enquanto prepare um chá para Mitzy e para mim. Um daqueles que recupera energia, por favor. – Sai da cozinha em direção ao meu quarto e peguei meu celular, onde mensagens de Carmille e Roza brilhavam.

{Vadia vampírica}

Jasmim Rivera, o que você fez com minha cunhada, sua vadia? Se ela não voltar para casa nos próximos cinquenta minutos, eu vou arrancar sua cabeça.

{Roza}

Jasmim, você sabe onde Mitzy esta? Ela saiu de casa procurando você. Normalmente não ligamos quando ela sai, mas Aliah teve um mau pressentimento e está prestes a invocar demônios aqui. Por favor, fale logo.

P.s: Eu finalmente aprendi a mexer nas mensagens do celular. Eu me sinto tão descolada.

Sorri com o último parágrafo de Roza. Encarei a tela, pensando como mandar a mensagem sem que Aliah ou Carmille tentem me matar. Com um sorriso vitorioso, escrevi as mensagens.

{Encaminhar para Vadia vampírica e Roza}

Ela está bem, não há nada que se preocupar. Apenas me ajudou com um demônio e logo viemos para casa. Ela está um pouco cansada, você sabe, muita energia gasta. Gerald fez um chá para ela.

Uma boa noite.

Sorri relendo a mensagem até tem certeza que ela era convincente o suficiente para enganar a vampira e a bruxa. Claro que eu tive que omitir o acontecimento na casa Harper, já que algo em minha mente dizia que quanto menos pessoas soubessem sobre Luzianna melhor seria.

Cliquei em enviar e desliguei a tela.

– O que caralhos foi aquilo?! – A voz de Mitzy ecoou em cada parede daquele quarto quadrado. Me virei para ela, encarando mais um visual, ainda eram roxos, porém mais longos, chegando um pouco acima da cintura.

– Belo cabelo. – Elogiei tentando contornar aquele assunto. Eu não queria que aquelas palavras em minha mente saíssem de minha boca. Eu podia não gostar daquela garota, mas dizer que ela é uma criatura demoníaca é amedrontador demais.

– Não mude de assunto. Você acha que eu não percebi o que está rolando? Jasmim, um demônio reconhece o outro.

– Mitzy, não fale do que você não tem certeza.

– Por favor, não minta para mim. Olhe nos meus olhos e me responda o que Luzianna Harper é?

– Mitzy... Nós não podemos ter certeza de nada...

– Diga! – Ela gritou. Sua voz grossa e seu corpo se transformando. Sua forma demoníaca.

– Luzianna Harper é um demônio.

As palavras saiam de minha boca com rapidez. Fechei e abri os olhos. Odiando o estado de medo que eu me encontrava.

– Sim, e é um dos grandes. Uma princesa do inferno talvez. – Mitzy respondeu com um tom de menosprezo enorme. Ela parecia odiar mais ainda Luzianna Harper, ou pelo menos, a sua parte demoníaca. – E é por isso que eu estou indo embora. Eu não quero me meter com um demônio que, ao mesmo tempo, é caçador.

– Mitzy.

– Vai se foder, Rivera!

A garota correu até a janela e lá pulou. Eu não precisei ir até o parapeito para ver se ela havia caído bem. Ela era um gato, não é mesmo? E gatos sempre caem em pé.

Me joguei em minha cama soltando um longo suspiro. Eu estava cansada. Cansada fisicamente, psicologicamente e, principalmente, espiritualmente.

Eu queria morrer, ou dormir até que toda essa bagunça acabasse. Eu queria acordar em um dia ensolarado, descer as escadas de casa e me deparar com minha mãe. Ela iria me abraçar, dar um beijo na minha testa e dizer que tudo, todas as palavras ruins, os abusos e os cortes, eram só parte de um pesadelo. Que agora eu estava com ela, eu estava segura.

Quando percebi, lágrimas já saiam de meus olhos.

– Pare de chorar, sua idiota! – Me corrigi limpando as lágrimas a cair pelos meus olhos e que desciam pela bochecha até cair no chão, no caso agora, na colcha de cama preta e cinza. Eu me arranhava e gritava. Não queria isso. Eu simplesmente não poderia aceitar. – Sentimentos te fazem frágil. Você não se importa com sua mãe, ou com Luzianna Harper, ou com Mitzy Wale. Você é o centro do universo, elas devem desculpas a você. Não o ao contrário.

Sorri entre as últimas lágrimas, respirando fundo enquanto pegava meu celular.

Mais uma vez, o número de Angelic Skyson era o que eu digitava.

– Alô? – A voz sonolenta, porém séria da mulher se fez presente. Eram duas da manhã, é claro que ela estaria dormindo. Por mais que agisse como um robô, Angelic Skyson ainda era um ser humano "normal".

– Angelic, eu preciso falar com você.

– Não poderia ser amanhã pela tarde? Eu sinto que seria menos suspeito do que eu sair às duas da madrugada de casa.

– Eu não quero nem saber. Você achava que podia me enganar por quanto tempo? Eu sei, Angelic. Eu sei que Luzianna Harper é um demônio.

A única resposta que obtive foi o barulho da linha telefônica. Sorri de lado. Não demorou nem vinte minutos para Angelic chegar até em casa. Sua roupa poderia ser um pijama, mas era chique demais.

Angelic estava com os cabelos loiros soltos, eles formavam ondas tão bem feitas que pareciam de modelo. Não havia nenhum frizz, o que era estranho para alguém que havia acabado de acordar. Ela trajava um vestido branco de renda por baixo de um hobby de seda marfim aberto. E mesmo sem maquiagem, ela era extremamente bonita. Como eu disse, chique demais para um pijama.

– Jasmim, eu não faço ideia do que você viu ou ouviu. Mas saiba que temos tudo em controle. A única coisa que você precisa fazer é continuar sua missão.

– Minha missão? Vai se foder! – Gritei batendo a porta com força atrás de mim. – Você acha que eu sou maluca? Eu sei o que eu vi, Angelic! Luzianna Harper não é um caçador comum. Ela é a porra de um demônio! Um dos poderosos! E é melhor você me contar o que está rolando.

– Jasmim... Eu realmente quero te contar o que está acontecendo, mas isso é assunto da Corte. Eu simplesmente não posso.

– Que se foda a Corte! Você sabe que nenhuma de nós liga para o que aqueles velhos misóginos pensam de nós. Mas é sério, a menos que você queira me ver morta pela Corte. Me conte o que está acontecendo?

Eu me aproximei mais da mulher. Estávamos apenas nós duas na sala escura. O vento que entrava pela janela era o suficiente para me deixar arrepiada. O cheiro de hidratante de baunilha que exalava de Angelic cada vez que o vento batia contra seu rosto branco e sério era o suficiente para me deixar mais nervosa ainda. Após uma boa engolida de seco falei mais uma palavra.

– Por favor.

Angelic demorou algum tempo para responder. Ela não tinha seu semblante pensativo, na verdade, ela olhava em meus olhos com nenhuma expressão. Parecendo uma estátua.

Quase me assustando com suas palavras, Angelic suspirou se sentando.

– Está bem, sente-se, pois é uma longa e confusa história.

Eu sorri de lado. Me jogando na poltrona a frente. A mesma posição que hoje a tarde.

– Vamos começar...


E assim acaba mais um capítulo de Filha do Caos.  Estão prontos para ouvir a história de Luzia em uma ótica caçadora?

Na minha opinião esse capítulo foi bem bleh, mas acho que a opinião de vocês é a que conta. Então, o que acharam? Tem teorias? Shipps?

Lembrem-se de votar, comentar e compartilhar.

Lembrem-se crianças, comam legumes, bebam água e espanquem machistas.

Amo vocês ❤️🥰

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