Sign of the times

By DinahMinhaCara

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A misteriosa casa no final da rua abrigava uma misteriosa mulher. A arquiteta Camila chamava atenção pelo sil... More

Autem
Duo
Tribus
Quattuor
Facies
Quinque
Sex
Septem
Octo
Novem
Decem
Undecim
Duodecim
Tredecim
Quattuordecim
Quindecim
Sedecim
Septendecim
Decem et octo
Undeviginti
Viginti
Viginti unum
Viginti duo
Et viginti tres
Et viginti quattuor
Viginti sex
Viginti septem
Viginti et octo
viginti et novem
Triginta
Triginta unum
Triginta duo
Triginta tres
Triginta quattuor
Triginta quinque
Triginta sex
Triginta...
Triginta septem
Triginta et octo
Triginta et novem
Quadraginta
Quadraginta unum
Quadraginta duo

Et viginti quinque

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By DinahMinhaCara

Oi, meus bebês!! Como vocês estão nesse domingo maravilhoso?

Eu tô ótimo e tô aqui no colinho da minha mamãe que tá cuidando do meu pé (sim, eu fui inventar de jogar bola e quase rompi o tendão). Sabem que isso sempre acontece comigo, né. Esse serzinho hiperativo que vocês conhecem.

Amores eu fiz a introdução de alguns personagens que vão ser muito importante. Inclusive, no final do capítulo, há um mistério sobre uma personagem nova. Vou fazer vocês brincarem de caça ao tesouro. Hahahahaha

Inclusive a primeira dica sobre ela é que é de uma série. As próximas vem em breve.

Esse capítulo tá muito, muito precioso e preciso que vocês absorvam tudo o que acharem importante pra poder se lembrarem depois o motivo do acontecimento, ok?

__________________🌷🌷________________

Nada melhor que o ar geladinho da manhã para acordar os pulmões da arquiteta. Camila andava tranquilamente a caminho de sua padaria preferida ― a única aberta em pleno feriado de Natal. Observava Amsterdam com um gigante sorriso em seu rosto. Era inacreditável que ainda houvesse espaço para mais beleza naquele lugar. A neve predominava as ruas, e mesmo que tudo estivesse branco, não era capaz de descolorir a magia impregnada naquele país.

Levantou-se a todo vapor e deixou a casa de Lauren bem cedo, depois de uma despedida carinhosa e difícil, é claro. Passava um pouco das 9h e já havia feito um montante de coisas, como quebrar o seu relógio ao esbarrar em um alicerce da obra. Sim, ela esteve lá.

Para Camila não existia isso de feriado quando se estava bastante focada. Dirigiu até a construção somente para checar se tudo estava indo de acordo e fazer o levantamento dos materiais que faltavam. Logicamente possuía funcionários para isso, mas era o dia de folga deles e fazer aquilo não a mataria.

Sorriu enquanto meneava em negativo sua cabeça. Às vezes era bom saber que era imortal. Riu ainda mais ao concluir que mesmo com todos esses anos vividos seu senso de humor continuava péssimo. Camila voltou a si quando atravessou a porta do estabelecimento e ouviu o pequeno sino soar sobre sua cabeça.

Ah, como gostava daquele lugar! Entrar lá era como receber colo de mãe: tanto aconchego que te fazia sentir-se seguro. Com paredes amarelas, móveis rústicos e uma infinidade de doces, aquela padaria conseguia fazer a arquiteta sentir coisas inexplicáveis. Talvez fosse pelo belo desenho da Torre Eiffel na parede esquerda, trazendo-a as boas lembranças do tempo em que vivera feliz na França, ou talvez fosse só a energia dos proprietários e ambiente. Alice e seu marido eram pessoas especiais.

― Olá, querida! Feliz Natal! ― Ofereceu a dona que já conhecia a arquiteta. Camila fora até o balcão e preferiu sentar-se num banco por lá.  ― Como vai?

Alice não tinha mais que trinta e cinco anos. Uma mulher de expressão angelical, cabelos ruivos e olhos tão azuis quanto o céu de Amsterdam em dias de verão.

― Muito bem, obrigada! Feliz Natal para você também. ― Camila varreu os olhos pelo local.

― Onde está Reiki?

― Ficou com Gusman para abrir os presentes de Natal. Como não temos um grande fluxo de clientes estamos apenas eu e meus dois cozinheiros.

― Mande um Feliz Natal para os dois. E diga ao pequeno Gusman que trarei um presente para ele em breve.

― Não se incomode, Camila.

― Não é incomodo algum. ― Ela ofereceu um terno sorriso, segurando a mão de Alice para um aperto respeitoso. ― Pode me trazer o de sempre?

― Pão doce vegano com recheio de creme de leite de côco?

― E um chá verde, por favor! ― Puxou a manga de seu sobretudo para ver a hora e então enxergou o relógio rachado. ― Ah, Alice!

― Sim.

― Coloque uns cupcakes para a viagem também. Ficarei grata.

― Pode deixar.

Alice sorriu e acenou, retirando-se para preparar o pedido de Camila. Aquela fora a primeira conhecida da arquiteta quando pôs os pés em Amsterdam, há três anos. Camila retirou seu celular do sobretudo e percebeu que havia uma mensagem notificada. Ela não pode conter o sorriso ao ver de quem era.

[12/25 9:06 AM] Minha falsa holandesa: tô com saudade. Por que foi embora tão cedo? :((

[12/25 9:09 AM] Camila Cabello: Também estou, meu amor. Prometo que voltarei rápido. Só precisei checar algumas coisas na obra.

[12/25 9:09 AM] Minha falsa holandesa: essa obra é tudo pra você, né?

[12/25 9:09 AM] Camila Cabello: Assim como você. Posso almoçar em sua casa, hoje?

[12/25 9:10 AM] Minha falsa holandesa: como você me pergunta uma coisa dessa? É claro!!!!

A movimentação de Alice fez Camila desviar a atenção por um momento. Quando pegou seu prato e seu chá, tornou a olhar para o aparelho.

[12/25 9:11 AM] Camila Cabello: Magnífico!! Eu irei cozinhar.

[12/25 9:11 AM] Minha falsa holandesa: mas é claro que não. Eu vou cozinhar pra poder estrear o dólmã que você me deu.

[12/25 9:12 AM] Camila Cabello: jura?

[12/25 9:12 AM] Minha falsa holandesa: simmmm! Inclusive eu ameeeeeei. Obrigada, obrigada, obrigada demais. Foi o melhor presente de Natal que já ganhei.

[12/25 9:12 AM] Camila Cabello: Não foi muita coisa. Você está falando sério?

[12/25 9:13 AM] Minha falsa holandesa: com toda seriedade do universo. Só por você ter tido o trabalho de fazer a mão já triplica o tamanho da importância. Obrigadaaaaa.

[12/25 9:13 AM] Camila Cabello: Não foi nada mesmo.

[12/25 9:13 AM] Minha falsa holandesa: eu preciso ir agora, vou ajudar Lily com algumas coisas e comprar os ingredientes para o almoço. Que horas você chega?

[12/25 9:13 AM] Camila Cabello: Não posso ser exata, pois ainda vou passar em um velho amigo para consertar o meu relógio, que eu quebrei esbarrando em um enorme alicerce, que por falta de atenção não enxerguei.

[12/25 9:14 AM] Minha falsa holandesa: por que você é sempre tão desatenta e desastrada?

[12/25 9:14 AM] Camila Cabello: Nem sequer sei. Até daqui a pouco, falsa holandesa. Um beijo no coração.

[12/25 9:15 AM] Minha falsa holandesa: outro, mas só vale se for no sorriso ;)

Suspirando e com uma enorme expressão de felicidade a arquiteta tratou de guardar novamente o celular. Tirou as luvas de frio de suas mãos e as enfiou nos bolsos do sobretudo, somente então pegou o pão para aplicar a primeira mordida. Alice a observava com a maior satisfação.

― É bom, não é? ― Camila apenas assentiu, terminando de mastigar a comida.

― Suas receitas são extraordinárias.

― Não estou falando disso.

A arquiteta franziu o cenho. Alice alargou seu sorriso.

― O quê, então?

― Amar alguém.

Camila sentiu a aceleração do seu coração e o calor em suas bochechas. Sentiu também as borboletas voarem para um lado e outro em seu estômago apenas por lembrar da Tournant. Não podia negar. Nem se quisesse conseguiria. Ela amava Lauren e cada pequeno detalhe que a tornava tão especial quanto era.

Amar.

― É maravilhoso ― respondeu fiel e de maneira absoluta.

O sino anunciou a chegada de mais clientes e Alice pediu licença para ir atendê-los. A arquiteta concedeu e passou toda sua atenção para a comida. Seus olhos estavam presos em seu chá de maneira fixa, mas seus pensamentos nem sequer estavam por ali. A mente de Camila vagava por outro bairro, não tão longe de lá, em um apartamento onde viviam duas mulheres e meio, sendo uma delas o amor de toda sua extensa vida.

A arquiteta sentiu um leve puxão em seu sobretudo o que a tirou de seus devaneios apaixonados. Levou sua atenção para baixo somente para enxergar uma das coisinhas mais preciosas que já pudera ver por aquela cidade.

Uma menina.

Estava de calça, casaco, luvas, toca e cachecol, completamente protegida do frio. Seus cabelos eram castanhos e lisos, os olhos em formatos de amêndoas e um sorriso travesso brincava em seus lábios. A coisa mais fofa do mundo.

― Oi, pequena menina! Tudo bem?

― O-oi, moça dos o-olhos de avelããã… Estou b-beeem e você?

― Melhor agora que pude ver o seu sorriso encantador. ― A arquiteta fez um leve carinho nas bochechas rosadas da garotinha. Ela sorriu. ― Como se chama?

― Heaven, co-como o céu.

― Que nome maravilhoso. Me chamo Camila e é uma honra conhecer uma linda princesa como você.

Heaven segurou nas pontas do casaco e abaixou sua cabeça como se fizesse uma reverência. A arquiteta não conseguiu deixar de sorrir.

― Pre-prefiro moça dos o-olhos de avelããã.

― Heaven, meu amor, aí está você! ― Uma senhora de cabelos grisalhos e aparência simpática aproximou-se. ― A vovó não pode virar as costas por um segundo que você já dá um susto. ― beijou o topo da cabeça da criança. ― Me desculpe o incômodo. Heaven é muito esperta e espontânea.

― Não foi nada. Ela é uma criança contagiante. Quantos anos tem?

― Se-sete. ―Tratou de responder a pergunta ela mesma, fazendo o número com os dedos. ― Logo terei oito e vou pa-para a escola.

Camila levou seu olhar para a mais velha como se questionasse o motivo da criança ainda não ir.

― Eu a educo em casa. Você sabe, não tem muitas escolas por aqui.

E era verdade.

― Posso imaginar. Já tentou levá-la para alguma no centro? Acredito que não exista motivos para que Heaven estude em uma escola especial.

― Sim. Foi a terceira antes do Natal, mas algumas crianças maldosas não aceitam muito bem sua diferença. É um pouco difícil fazê-la se enturmar.

― Bom, azar os daqueles que não a tem em sua vida. Heaven é como uma antena de alegria, transmitiu para minha pessoa no segundo em que me tocou.

― É por isso que ainda estou sã. ― Camila sentiu seu coração apertar. ― Minha filha morreu em seu parto e seu pai não a quis somente por… por ela ser diferente.

― Como se a Síndrome de Down a fizesse inferior. Ele é um monstro. ― A arquiteta segurou a mão da senhora. ― Acredito que existe alguém de extrema bondade lá em cima que não deixa ninguém desamparado. Heaven tem a senhora e vice versa. Uma é a âncora da outra, sim?

― Completamente.

― Então nunca deixe, nem por um pequeno momento, que ela se sinta menor que os outros. Heaven, assim como o céu, é uma benção. E sei que há boas pessoas no mundo que ainda consigam enxergar isso.

― Oh, sim, claro que há. Isso me dá esperanças. ― A senhora guiou a neta até a mesa mais próxima a Camila e a sentou, fazendo o mesmo em seguida. Não estavam a mais de 2 metros de distância e o vazio da padaria as deixava conversar tranquilamente. ― Não ouviu sobre o centro esportivo que estão construindo?

Camila poderia gabar-se, poderia levantar o queixo e encher os pulmões de ar somente para dizer que a grande e bondosa pessoa que estava fazendo aquilo era ela, mas não, preferiu apenas ouvi-la.

― É mesmo?

Bebeu um gole de seu chá. Estava virada para a mesa da criança agora.

― Sim. Um centro de inclusão social para iniciar crianças e adolescentes com a síndrome ao esporte. Não é uma grande ação? Isso vai melhorar a vida de dezenas de famílias.

― Espero que melhore.

― Tenho certeza que vai! ― A mulher acariciou os cabelos da neta. ― Eu só tenho que desejar ao dono ou dona dessa ideia tudo o que há de melhor no mundo. O universo nunca terá nada de ruim para um ser como essa pessoa.

― Que os anjos a escutem. ― Respondeu mais como uma prece.

― Camila? ― A voz de Alice soou por trás da arquiteta.

― Pois não? ― Girou o assento enquanto enxugava uma lágrima que quase caiu.

― Seus cupcakes para a viagem.

― Muito obrigada.

A arquiteta pegou de seu bolso algumas notas e deixou em cima do balcão, agarrou o pacote e despediu-se de Heaven e sua avó, assim como da proprietária da padaria. Camila deixou o local sentindo-se ainda melhor do que quando entrara, se assim fosse possível.

Caminhava agora em direção a loja de Rutger, seu velho amigo que consertava e vendia relógios. Enquanto andava sua mente lhe trazia os detalhes da pequena e tão especial menina e sua avó. Os cabelos brancos e rugas daquela mulher denunciavam a preocupação de ter que lidar com as pessoas negativas, mas o sorriso escancarava a felicidade que sentia em viver e cuidar da sua neta.

Era incrível como ficava mais complexo a cada dia viver em sociedade. A cada ano, novos conceitos, estilos de vida e correntes filosóficas de diversas origens tomam evidência nos meios de se comunicar. Essa é a única parte boa, pois ainda há aqueles de raciocínio lento onde acreditam que pessoas diferentes não merecem respeito.

Infelizmente o ser humano ainda não aprendeu como outras pessoas podem agregar em suas vidas e o quanto pessoas verdadeiramente especiais podem ensinar. Estranho é todo e qualquer tipo de preconceito, não as diferenças. Deveríamos disseminar isso. Era assim que a arquiteta pensava.

Rebobinou tanto em sua cabeça as lembranças dos minutos anteriores que andou os três quarteirões rapidinho. Atravessou a rua somente para chegar a loja de Rutger e entrou sem nem pestanejar. A loja não tinha mais que 15 metros quadrados. As paredes eram de cor bege, o piso amadeirado, havia um lustre no centro do teto e uma infinidade de relógios de todos os tipos e tamanhos pendurados nas paredes, algumas estantes de vidro formavam um mostruário diversificado, havia também duas poltronas de couro e uma mesa bem ao fundo do lugar onde o homem consertava e trocava as peças dos relógios.

Era engraçado como sempre parecia haver algo diferente ali.

―  Muito bom dia, meu querido amigo! ― Ofereceu ao senhor que logo levantou-se para abraçá-la. Ele aplicou três beijos nas bochechas da arquiteta e sorriu. ― Como vai nesta manhã de Natal?

― Para ser sincero estava entediante até o momento em que você atravessou a porta.

― Fico feliz por isso. Lhe trouxe algo gostoso. ― Ela entregou a caixa de cupcakes. ― Sei que são seus favoritos.

― Estou grato, minha querida. Eu estava mesmo precisando adocicar minha vida. Obrigado! ― Rutger repousou a caixa em sua mesa e apontou para as poltronas, indicando que deveriam sentar-se. ― Mas me diga, o que a trouxe aqui tão cedo?

― Oh sim! ― Puxou a manga de seu sobretudo para cima e soltou a pequena fivela da pulseira de seu relógio. ― Estive na obra mais cedo e terminei por esbarrar em uma coluna, bati com o  braço e consegui a proeza de quebrá-lo. Meu favorito.

― Deixe-me ver.

Ele pegou de bom grado, segurando uma das pernas de seus óculos para analisar melhor o estrago.

― Acha que tem jeito?

― Há um jeito para tudo na vida, minha menina, só não para a morte. ― Ele sorriu de maneira terna. ― Apenas preciso trocar o cristal e me certificar de que estará funcionando tão bem quanto antes.

― Perfeito. ― Camila viu o homem levantar-se e seguir para sua mesa, sua pequena oficina. Aproveitou o momento para observar os detalhes da loja.

O lustre era o mesmo, as estantes estavam no mesmo lugar de sempre, tudo estava perfeitamente alinhado e limpo, as poltronas paradas onde sempre estão. Por que ela sentia que havia algo diferente?

― Rutger, há algo de novo por aqui?

― Acredito que não, querida. Está tudo como sempre.

― Hum.

― O que houve?

― Acho que havia coisas que eu não tinha prestado atenção antes e agora estou percebendo melhor. ― Rutger a olhou por cima das lentes. ― Esses relógios nas paredes já funcionavam?

― Todos eles.

― Então eram às horas que estavam iguais, sim?

― Acha que todos os continentes do mundo funcionam no mesmo horário?

Camila deixou seu queixo cair quando entendeu.

― Então quer dizer que…

― Sim, querida, cada relógio em minha parede marca a hora de um país diferente e especial para mim. Se minha loja não fosse tão pequena eu poderia ter o mundo inteiro.

― Isso é… Uau! É completamente incrível.

― Não é? Me faz ter a sensação de que posso controlar todo o tempo. Quando entro em minha loja e vejo esses relógios se movimentando eu penso automaticamente no lugar, nas pessoas, no que elas estão fazendo. Se estão levando crianças para a escola, indo para a faculdade, algum treino, se ainda dormem ou se passeiam, se estão usando o seu tempo da maneira correta.

― Como para fazer coisas proveitosas?

― Como para fazer coisas que os fazem felizes. Se você faz algo que a deixa feliz, então o seu tempo foi muito bem investido e aproveitado.

― Mas, seguindo um exemplo bem simples... Às vezes, por necessidade, as pessoas precisam fazer o que não as deixam felizes. Isso não é ruim?

― Por uma parte, sim, mas se essas pessoas entenderem que há um momento certo para cada coisa, tudo descomplica. Sei que há milhares de pessoas que trabalham com coisas que não gostam para se ter uma pequena renda. Sei que há pessoas que trabalham com coisas que não gostam e têm uma renda grandiosa. Mas há também pessoas que fazem o que gostam e têm uma renda pequena, como há pessoas que trabalham com o que gostam e têm uma grandiosa. Essas são as sortudas.

― Mas é tudo questão de tempo. ― Seguiu a linha de raciocínio do amigo.

― Exatamente. Há um tempo para cada coisa, basta não perder a fé.

― E nem a compostura.

― Isso aí. Às vezes apressar as coisas tira todas as outras dos seus devidos lugares e causa uma tremenda confusão.

― Não posso discordar. Em alguns momentos cheguei a questionar-me se agi com pressa em relação a Lauren.

― Lauren é a grande sortuda, hum?

― Não, a grande sortuda sou eu. ― Ela agigantou o sorriso antes de voltar ao assunto. ― Tudo o que nos aconteceu anteriormente, que me fez passar meses longe dela, me questiono se foi por culpa minha.

― Tem algo a ver com a nossa conversa do bosque?

― Sim.

― Então você havia se afastado por escolha, estou certo?

― Achei que estava fazendo mal a ela.

Rutger parou de mexer com o relógio e a olhou diretamente nos olhos, respirou fundo e tirou sua boina para alisar os cabelos. A recolocou em seguida.

― E acabou ferindo a si mesma também.

― Amar dói, algumas vezes, meu amigo.

― Não, Camila, amar não dói, mas as coisas que fazemos por amor ou pela falta dele, sim. Isso machuca.

― Mas é tudo o que eu sei fazer. Amar.

O homem tentava entender como alguém tão doce como Camila havia sido machucada antes. Tentava entender como alguém tão honesta e genuína estava fazendo num mundo tão mau quanto aquele. Ela devia ser protegida e ele o faria enquanto vivesse.

― Você será recompensada grandemente por ter tanto amor.

― Não sei se os deuses gostam tanto de mim assim.

― Mas é claro que gostam. Gostam tanto que estão preparando o melhor pra você. Mas lembre-se: sem pressa ou tudo pode sair do lugar.

Rutger piscou para ela antes de dar o toque final no relógio e levantar-se da mesa. Caminhou até Camila e a entregou em perfeito estado. A arquiteta o ofereceu o pagamento mas ele recusou firmemente deixando claro que era um enorme prazer ajudá-la. A mulher deixou a loja de relógios ainda mais radiante.

Enquanto andava, procurando por uma estação de bicicletas, pensava. Como eram proveitosas as conversas com Rutger. Camila tentava entender como ele conseguia ser tão sábio e experiente sendo que era apenas uma criança perto de toda a sua vivência. A arquiteta tinha idade de ser uma ancestral daquele senhor.

E falando sobre o tempo… Ele avançou bastante depois que o Natal passou. Trouxe rapidamente as comemorações de réveillon e, por conseguinte, o Ano Novo. Mais um degrau conquistado na vida daquela criatura secular.

Esperava que esse ano que chegara fosse mais piedoso, que não trouxesse travessuras anormais, pois Camila já estava se acostumando com a sua nova e tão boa vida. Se tivesse parado para pensar há um ano atrás e imaginar como sua vida estaria, a resposta nunca seria "superapaixonada e rodeada de boas pessoas". Estava sendo abençoada e não deixaria isso escapar por suas mãos.

Era o oitavo dia de janeiro e a arquiteta estava em seu quarto com Allyson, arrumando uma grande mala. Camila iria viajar com Lauren. Havia convidado a Tournant para passarem um final de semana em uma exorbitante cidade longe da capital. Empolgada e ansiosa como estava, falava pelos cotovelos tentando acalmar-se. O problema é que fazia bastante tempo ― lê-se centenas de anos ― que não arriscava algo tão ousado assim.

― Allyson, estou com tanto receio de que algo possa sair dos planos e terminar de maneira ruim. Não sei se me entende ou se já sentiu-se assim, mas… ― Sua prima parecia não a escutar, dobrava algumas blusas de Camila sem nem prestar atenção no que fazia. ― Também estou me sentindo tola por isso. Não sei o que pensar e… ― olhou para a pesquisadora ― Allyson?

Ela nada respondeu.

― Allyson! ― fora mais firme dessa vez, fazendo-a saltar levemente na ponta do colchão e a olhá-la. ― Não ouviu nada do que eu disse, não é?

― Acho que não.

― Aconteceu alguma coisa? Alguém lhe fez mal?

Ela meneou em negativo com os olhos arregalados. Estava pálida, quase a ponto de desmaiar.

― Pelo contrário, Camila.

― Então, o quê?

― Eu acho que me apaixonei. Pra valer. De verdade.

― Hã? ― a arquiteta encostou as costas da destra na testa de sua prima ― Está doente?

― Ela é tão linda. Tão incrível. Tão inteligente. É cheirosa também e...

A gargalhada de Camila soou.

― Pensei que não viveria o bastante para ver isso. Allyson, não é uma piada, hum?

― Quem me dera se fosse.

― Onde ela mora?

― Não sei.

― Onde trabalha?

― No museu de Anne Frank. Fui lá dias atrás com as intercambistas.

― Descobriu ao menos seu nome?

― Também não. ― a arquiteta franziu o cenho.

― Como assim? Allyson você é a pessoa mais galante que já conheci.

― Eu só não… Camila, eu tô ferrada. O amor me pegou pelas pernas e eu não tenho como correr.


A bichinha da Ally kkkkkkkkkkkkkkkk chicoteada

O que vcs acham disso?

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