Meu Imortal - A Maldição De V...

By LarissaWalters

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HISTÓRIA CONCLUÍDA ✔ 2° lugar em Fantasia no Concurso Atlantis 1° Edição 3° Lugar em Fantasia no Concurso A.E... More

Prólogo
Capítulo I - Rosa Negra
Capítulo II - Pequena confusão
Capítulo III- Misterioso Herói
Capítulo IV- Homem de capuz
Capítulo V- Misterioso V.G
Capítulo VI- Outra vez não!
Capítulo VII - Em apuros
Capítulo VIII- Socorro
Capítulo IX- A Aberração
Capítulo X- Não é ela, Viktor!
Capítulo XI - Fuga
Capítulo XII - Alcateia
BOOK TRAILER OFICIAL (TEMPORÁRIO OU NÃO)
Capítulo XIII - Não há esperanças
Capítulo XIV - Quem sabe um começo.
Papo sério...
Capítulo XV - Lembranças
BOAS NOTÍCIAS!!!
Capítulo XVI - Fio de cabelo
Capítulo XVII - Tentando um recomeço
Capítulo XVIII - Pedido de partida
Capítulo XIX - Lar doce lar
Capítulo XX - A adaga
Capítulo XXI - Misterioso V.G. desvendado
Capítulo XXII - Pedido inesperado
Capítulo XXIII - O salão de dança
Capítulo XXIV - A Magia de uma valsa
Capítulo XXV - Visita de uma velha inimiga
Capítulo XXVI - Sonhos disformes
SOCORRO!!
Capítulo XVII - Um pouco sobre a maldição
Capítulo XXVIII - Grande confusão
Capítulo XXIX - A voz em sua cabeça
Capítulo XXX - O livro
Capítulo XXXI - As letras se revelam
Capítulo XXXII - A Maldição de Viktor
Capítulo XXXIII - Fuja!
Capítulo XXXIV ­­­- O início da tempestade
Vocês decidem!
Capítulo XXXV - O retorno de Elizabeth (parte I)
Betas
Capítulo XXXV - O retorno de Elizabeth (parte II)
Alguns pontos..
Capítulo XXXVI - A voz no corredor
Capítulo XXXVII - Uma vida por uma vida (Parte I)
Capítulo XXXVII - Uma Vida por uma Vida (Parte II)
Epílogo - Somente aquela que o amaldiçoou, o libertará (Parte Inicial)
Epílogo - Somente aquela que o amaldiçoou, o libertará (Parte final)
COMUNICADO IMPORTANTE

Capítulo XXXVII - Uma Vida por uma Vida (PARTE III)

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By LarissaWalters

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PS: me avisem se a mídia no capítulo dá pra ver ❤
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  I -

     Eles continuavam, Kristen sentia seus olhos marejarem em medo e desespero, mas as lágrimas que ousavam escorrer por sua face eram rapidamente varridas pela sua face carregadas pelo vento que sua corrida insana e sem pausa gerava.

— Ahh! — ela gritara quando ainda embalada pelo ritmo constante, Kristen sentira um galho mais grosso de uma das árvores em sua frente batera contra seus pés fazendo com que logo seu corpo se desequilibrasse e fosse lançado ao chão. Viktor sentira seu coração saltar em seu peito quando vira o corpo de Kristen caído ao chão, enquanto ela gemia de dor. Rapidamente ele correra ao seu encontro, amparando-a em seu corpo.

— Kristen, tu estás bem? — ele perguntara em tom urgente, pondo sua mão fria sobre o rosto dela procurando o olhar de íris azuis para si. Sobre a testa dela havia um pequeno corte, provavelmente causado por alguma pequena pedra, mas que ainda assim fazia com que uma fina linha de sangue descesse por sua face. Ele não pudera conter o sentimento de receio que nascera rapidamente em seu coração aflito — O que houvera, por favor, diga-me!

— Algo batera contra meus pés — ela dissera sentindo seu corpo dolorido protestar a cada mínimo movimento, enquanto passava sua mão sobe a testa logo sentindo o filete de sangue que escorria por sua testa — Um galho talvez.

     Os estalos se tornavam cada vez mais alto, estavam perto, muito perto. Ambos olharam na direção de onde os sons vinham. Kristen agitou-se, rapidamente apoiando-se contra o caule de uma das árvores próximas tentando se erguer o mais rápido possível. Viktor a apoiou de forma ligeira para que ela pudesse erguer-se.

— Temos que continuar — ela disse fazendo uma careta de dor ao se erguer. Ele a olhou preocupado, direcionando seus olhos para o corte em sua testa.

— Está ferida — ele disse deslizando os dedos sobre a face dela. Ela colocou a mão dela sobre a mão que lhe acariciava o rosto.

— E nada disso valerá a pena se não continuarmos agora, Sr. Greembell — rapidamente ela tomara a mão dele entre a sua, e novamente tomou a frente reiniciando sua corrida contra o tempo.

      Ela sentia seu corpo protestar a cada mínimo movimento, por menor que tenha sido sua queda, fora bem dolorosa. Mas não importava, só o que importava era Viktor e ela tinha de assegurar que ele beberia a água e atravessaria o portal a qualquer preço, fosse qual fosse o preço.

     Mas no momento seguinte um grande barulho soou dentro da floresta, como algo caindo ou mesmo algo muito grande sendo arrancado da terra. Kristen e Viktor pararam um breve instante olhando alarmado para trás sentindo o coração embalar em um ritmo ainda mais perigoso do que a corrida de ambos a poucos instantes atrás. Uma onda de poeira avançou em direção a ambos, fazendo com que eles tivessem de pôr seus braços em frente a seus olhos. O vento passou por eles fazendo suas vestes esvoaçarem junto dele, seguido de um tremor ao chão, que os obrigou a dobrar seus joelhos gentilmente na tentativa de se fincarem ao chão para não caírem com o tremor.

— Há algo vindo em nossa direção — Kristen dissera ofegante, com o peito arfante e o medo a envolvê-la em um abraço frio. Aos poucos os tremores vinha acompanhado de um grande estrondo, como um grande passo de algo a se aproximar perigosamente — Nós temos que sair daqui agora! — ela gritara desesperada. Viktor também tinha seu peito arfante e sentiu o coração quase explodir dentro de si quando uma das grandes árvores ao redor deles caiu em alguns metros a direta, causando um grande estrondo e uma nova onda de poeira avançou em suas direções. Por instinto, Kristen se encolheu ajoelhando-se ao chão cobrindo seu rosto. Viktor por sua vez abraçara o corpo dela, envolvendo-a em seu próprio corpo, como se ele fosse uma capa de proteção. Em seguida um urro gutural tão alto que poderia ser ouvido de toda a floresta sem qualquer esforço.

     A onda de poeira forte os cobriu como um manto, fazendo com que não pudessem ver mais nada. O coração de ambos embalados em um ritmo frenético, batidas absurdas capazes de romperem suas caixas torácicas como se fossem feitos de papel. Ele trancou os olhos com força, abraçando o corpo dela disposto a protegê-la de qualquer mal, disposto mesmo a doar sua vida pela dela. Ela também tinha os olhos fechados com força, mais pelo medo crescente do que pela poeira em si.

      Quando a poeira diminuiu, Kristen abrira os olhos lentamente, ainda recebendo pequenas partículas de poeira sobre seus olhos. Viktor afrouxou seu abraço devagar, certificando-se de que ela realmente estava bem. Ambas as respirações estavam ofegantes, olhos atentos e um medo quase palpável ao alcance de suas mãos. Kristen soltava o ar em lufadas rápidas pela boca, erguendo-se o mais rápido que poderia ciente de que a ampulheta de seu tempo encontrava-se em contagem regressiva.

     Bem a frente de seus olhos ambos viam as árvores movimentarem-se como se estivessem sendo arrancada ou afastadas por algo enquanto um novo urro ensurdecedor fora ouvido. Kristen estava ofegante.

— Nós temos que sair daqui — ela dissera em um tom urgente logo procurando mão dele atrás de si. No entanto, sob seu tato ela sentira a pele dele gelada. Rapidamente ela olhou para trás, encontrando-o trêmulo e pálido.

— Viktor? — ela o chamara, mas ele não lhe respondera — Viktor! — ela o chamara novamente, agregando ao seu tom ainda mais urgência. Ele estava frio, gelado demais para ser considerado algo normal. No momento seguinte ele caira de joelhos, soltando o ar pela boca em rápidas lufadas. Kristen se ajoelhara a sua frente, desesperada sem entender o que estava acontecendo com ele — Viktor, por favor, o que está acontecendo com você?

     Ele ainda trêmulo forçou sua voz a garganta, se obrigando a falar quando seu corpo relutava.

— Há algo de errado — ele engolira a saliva com dificuldade — Há algo errado comigo — ele disse por fim, erguendo suas mãos fitando-as em seguida. Kristen, levada pelo instinto olhara também para as mãos dele, encontrando ali pequenas e sorrateiras veias negras quebrando a barreira de magia rosada que havia sido posta por Marie.

— Não — ela soltou em meio um suspiro de medo, sentindo seu coração desabar — Não — ela repetira quando as lágrimas subiram ao seus olhos, enchendo-os como o próprio medo havia enchido seu coração, matando lentamente os finos fios de esperança que ainda tentava cultivar em si.

      Rapidamente o pranto tomara seus olhos, e as lágrimas pesadas inundaram seu rosto em seguida, escorrendo por sua face livremente. Movida pelo desespero que a tomou, ela segurou o rosto dele entre suas mãos o obrigando a olhar para si.

— Viktor, olha para mim, escute-me — ela disse em meio ao seu pranto, sentindo sua voz falhar ao que um soluço tomou sua garganta, Ele a olhou de forma trêmula, claramente ciente do que as veias negras podiam custar a ambos — Nós não podemos ficar aqui, não podemos parar, entendes?

— A maldição — ele dissera sem forças para falar mais. Ela contorceu seu rosto em lágrimas, e um lamento claro enquanto as lágrimas escorriam pela sua face logo precipitando-se sobre sua roupa.

— Viktor, por favor, temos de sair daqui agora. Não há tempo, nós temos de ir — ao fim de suas palavras novamente soluçou sem que pudesse conter o lamento que nascera de sua garganta — Eu não posso perdê-lo assim, não posso permitir que vá embora, não posso — então o pranto a tomara por completo, fazendo com que ela abaixasse sua cabeça sem forças para fitá-lo.

      Ele fitava-a vendo o caminho rápido e desesperado de suas lágrimas a tirarem a beleza gentil de seu rosto. Ele sentia suas mãos petrificarem, ficando tão geladas que doíam, como se ele estivesse virando uma estátua de gelo sem vida. Mas embora sentisse perder suas forças, o seu coração ainda pulsava dentro de si, implorando para que ele salvasse-a.

— Não importa — ele engoliu a saliva com dificuldade — o que acontecer comigo — com muita dificuldade ele forçara suas mãos gélidas a se erguerem. Seu movimento parecia pesado demais para si, mas ele insistiu finalmente alcançando o rosto dela. Ela sentira o toque frio como de um morto ao tomar seu rosto entre as mãos, forçando-a a olha-lo mesmo quando seus olhos relutavam em fazê-lo — eu não irei permitir que nada de mal possa acontecer a ti.

     Com as palavras dele ela sentira os olhos inundarem ainda mais seu rosto e um sorriso rápido, ainda tomado de desespero surgiu em seus lábios. Seu peito se enchera ainda mais de pranto, em um misto de emoção,mas sobretudo tristeza em vê-lo daquela forma. O coração de Kristen estava sendo destruído lentamente, mas depois daquelas palavras, ele pareceu relutar em desfazer-se em pedaços, dando forças para que ela pudesse se erguer.

— Eu prometi salvá-lo — ela o segurou disse ajeitando-se e baixo do braço dele, ainda com os olhos transbordantes. O urro se tornava ainda mais próximo — E eu darei minha vida para cumprir minha promessa. Nós vamos conseguir juntos — Viktor a fitou, vendo as lágrimas lavarem o rosto dela, mas viu nela também a força necessária para que junto ao impulso dela, ele mesmo impulsionasse suas pernas para finalmente se erguer.

— Isso, Viktor, nós vamos conseguir — ela disse em um misto de alegria de vê-lo se erguer e o constante medo de falhar. Com dificuldade ambos se ergueram, Viktor estava frio, gelado e parecia fraco, as ainda assim estava ali, de pé disposto a lutar junto a ela.

Então os tremores ao chão se tornaram ainda mais intensos, perto demais para serem subestimados. A saída deles se tornava ainda mais urgente.

— Nós temos de ir, Viktor, AGORA! — ela gritou dando impulso em seu corpo para avançarem o quanto antes.

                            

II -

      Elena conseguira levar o corpo de Viktor para um lugar seguro, longe dos olhos perversos de Elizabeth, onde também repousava o corpo ainda desacordado de Elliot. A mansão vibrava com os ataques de magia de Elizabeth e Marie, em um constante bombardeio de magia perigoso para todos ali. Muitas paredes possuíam rachaduras ou já haviam desabado. Ali se tornava um lugar perigoso para se ficar.

      Ela tinha o peito embalado em uma respiração ofegante, ainda temerosa por aqueles que agora se encontravam sob sua proteção. Viktor se tornava cada vez mais pálido e frio, em seu semblante ele trazia os olhos fechados com força, as veias negras que haviam recuado momentos antes agora voltavam a avançar sobre sua pele, quebrando lentamente a proteção que Marie havia posto sobre si, sendo isso talvez por Marie estar usando sua magia de forma demasiada para atacar e proteger-se de Elizabeth.

     A chuva estava contínua, os trovões ensurdecedores. Com mais um ataque de Elizabeth contra Marie, Elena sentira cair sobre si pequenos grãos de terra que caíam das rachaduras nas paredes, e não pudera deixar de temer pela segurança de Elliot e principalmente Viktor. Ela sabia que não poderia ficar escondida ali, que tinha de ajudar Marie uma vez que Alninaram havia sumido repentinamente sem que ela soubesse o que acontecera. Ela olhou então para Elliot, aproximando-se dele sobre seus joelhos, fitando a face molhada e pacífica envolta em um sono profundo e tranquilo. Ela acariciou sua face, sentindo a bochecha fria pela chuva que os banhava, e abaixando seu rosto rente ao dele, fechou os olhos e soprou sobre o seu nariz liberando um pó brilhante que adentraria os pulmões dele. Ela então recuou, dando espaço para que ele despertasse.

      Não levara muito tempo para que ele despertasse e saltasse tossindo apoiando seu corpo sobre os cotovelos como alguém que acaba de acordar totalmente inconsciente do que havia acontecido a si. Os fios de cabelo molhados que repousavam sobre sua testa foram afastados pelas mãos dele. Ele tossia ainda sentindo sua visão e sentidos turvos e sonolentos. Ele puxou o ar para seus pulmões logo engasgando ao respirar um pouco da chuva que caía sobre si. Elena apenas o observou em silêncio.

— Pelos Deuses! — ele exclamou apoiando seu corpo sobre suas mãos em um impulso para sentar-se. Aos poucos sua visão voltava a estabilizar assim como seus sentidos. Sua cabeça latejava. Finalmente respirando normalmente, ele assustou-se ao sentir farelos caírem sobre si, saltando em alerta, no fim encontrando o rosto de Elena a lhe fitar silenciosa.

— Elena? — ele disse confuso, deixando rapidamente seus olhos recaírem sobre o corpo inerte do homem ao chão, rapidamente reconhecendo sua figura permitindo que seu cenho franzisse em clara interrogação — O que está acontecendo? Por que este homem está aqui? O que há com o corpo dele?

— Eu fico imensamente feliz em vê-lo bem, meu irmão — ela disse com um sorriso singelo em seus lábios — Tanta coisa aconteceu desde que estivestes desacordado que não posso contar nem mesmo em um resumo vago.

     Elliot não entendia o que estava acontecendo ali sentindo uma enorme interrogação esmagar sua cabeça com muita força. Lentamente ele saira de onde estava, aproximando-se de Elena e do corpo do homem logo ao lado dela. Mas no fim fora sobre a roupa dela que os olhos dele recaíram. Mesmo que manchado pela chuva que claramente havia lavado suas vestes, ainda assim podia-se notar gotículas de sangue, fazendo com que ele rapidamente saltasse na direção dela, interrogando-a com preocupação.

— Por que tua vestes estão sujas de sangue, Elena? — ele perguntara procurando com rapidez qualquer sinal de cortes no corpo encharcado dela — Quem a machucou, o que acontecera aqui?!

    Elena notando a agitação dele logo tratara de tranquilizá-lo, segurando sua mão com afeto para que ele lhe fitasse. Ela falou com calma.

— Eu estou bem, Elliot, acredite — ela colocou sua mão sobre o rosto dele — Não há com o que se preocupar, meu irmão.

      No instante seguinte a mansão vibrara fortemente, como se o chão abaixo dos pés deles estivesse tremendo. Em seguida, um grande grito de raiva fora ouvido, e um corpo próximo a uma pilastra fora ao chão em uma grande queda. Elliot olhou assustado para o local assim como Elena, logo avistando o corpo de Kristen a erguer-se lentamente de sua queda. Elliot sentiu seu corpo agitar-se ao ver Kristen sendo machucada aquela forma, logo dando um impulso em seu corpo para correr até onde sua imagem estava. Mas Elena lhe detera.

— O que está fazendo, Elena, temos de ajudá-la! — dissera com agitação, olhando novamente para onde o corpo de Kristen estava. Em seguida, magia fora atirada contra o corpo dela, mas a mesmo rapidamente acendera em magia criando em suas mãos um escudo de proteção que desfizera rapidamente a magia que vinha em sua direção. Elliot franzira o cenho — O qu... — ele olhara atordoado para Elena sem entender o que havia acontecido com Kristen — Kristen é uma bruxa? Por que ela... — ele mal conseguia falar diante da grande confusão em que se encontrava.

— Elliot — Elena lhe dissera com suavidade, um tanto receosa uma vez que nunca conseguia prever a reação de seu irmão — ela não é Kristen.

Ele se mostrou ainda mais confuso.

— Como não? Não a vistes?.

— Claro que vi — ela disse se aproximando cautelosamente, tomando as mãos dele sobre a sua — Mas ela não é a Kristen agora.

— Está me deixando zonzo, Elena — ele disse sacudindo a cabeça rapidamente, sentindo sua cabeça dar um nó.

— Irá parecer ainda mais confuso, mas aquela mulher, embora ocupe o corpo de nossa irmã, não é ela.

— O que está dizendo Elena? Diz-me que aquela a quem acabei de ver não é minha Kristen? — ele disse sentindo seu corpo agitar-se novamente.

— Elliot — Ela se aproximara ainda mais — Aquela que vistes agora, embora pareça nossa irmã, na verdade é... — ela engoliu em seco receosa da reação dele — É na verdade tua mãe, Elliot.

Ele se sentiu ainda mais perdido, tão confuso que sentia sua cabeça girar o deixando tonto. Do que ela estava falando? Como uma mãe que mal soubera em toda sua vida de sua existência estava ali agora?

    Novamente a mansão vibrara sob o seus pés. Viktor por sua vez se mostrava ainda mais trêmulo, chegando a um estado perigoso enquanto as veias negras se alastravam ainda mais fortes e rápidas, destruindo a proteção ainda mais rapidamente. Elena de pronto fora de encontro ao corpo dele, passando sua mão espalmada por sobre o corpo dele fechando os olhos enquanto o analisava com o auxilio da magia.

— Eu não — a voz de Viktor saira trêmula, sem forças e em um tom desesperado — não irei conseguir.

— Elena? — Elliot chamara-a rapidamente ainda confuso com tudo que estava acontecendo. Elena abrira seus olhos rapidamente trazendo consigo um semblante preocupado.

— A magia não irá segurar a maldição por muito mais tempo. Estamos o perdendo.

— Não deixarei que a machuquem — novamente Viktor falara trêmulo, enquanto seu corpo se mostrava ainda mais inquieto.

— O que está acontecendo aqui, Elena? — Elliot estava perdido — Com quem ele está falando?

Elena olhara rapidamente para seu irmão, falando rapidamente.

— Elliot, escute-me — ela dissera prendendo a atenção dele para si — Kristen está presa em uma ilusão criada por Elizabeth.... — Elliot a interrompeu agitado

— O que? Como permitiu que isso acontecesse, Elena? Como permitiu que o corpo de nossa irmã fosse tomado por uma desconhecida enquanto ela está presa onde nem mesmo você deve saber?!!!

— Ela é a tua mãe, Elliot, não é uma desconhecida — ela rebateu.

— Uma mãe que eu nunca soube de sua existência, Elena! Uma desconhecida! Como pôde deixar que isso acontecesse?

— Fora uma escolha dela! — ela dissera aproximando-se de seu irmão, que recuara e rejeitara sua aproximação. Elena respirara fundo e continuara com tom urgente — Elliot, eu quero o bem Kristen tanto quanto você, passei minha vida inteira assegurando que ela estivesse segura, tu bem sabes disso! Viktor está morrendo, meu irmão, e ela optou por salvá-lo ciente de todos os perigos que estava correndo. Eu não podia detê-la. Ou eu a ajudava, ou ela faria de outra forma, talvez fosse ainda pior!

— E como a trará de volta, Elena? Diga-me!

Ela hesitara em responder, sentindo a saliva faltar a sua boca.

— Diga-me! — ele exclamara agitado, enquanto seu peito subia e descia enquanto o ar saía de suas narinas em lufadas fortes.

— Não posso trazê-la — ela disse em um tom contido, logo recebendo a reação de seu irmão.

— COMO NÃO PODE, ELENA???!! — ele levantou-se em um salto, agitado passando a mão de forma impaciente sobre sua testa, andando de um lado a outro, parando olhando para Elena sentindo seu sangue ferver em suas veias — PRIMEIRO ME DIZ QUE AQUELA MULHER QUE ESTAVA ALI NÃO É MINHA IRMÃ MESMO QUE O CORPO SEJA DELA. DIZ-ME QUE UMA MULHER QUE NUNCA SOUBE DA EXISTÊNCIA EM MINHA VIDA É A MINHA MÃE E QUE OCUPA O CORPO DE KRISTEN. AGORA ME DIZ QUE ENVIOU-NA PARA UM MUNDO DESCONHECIDO CRIADO POR UMA BRUXA MALIGNA E QUE NÃO PODE TRAZÊ-LA?!! ESTÁS A BRINCAR COMIGO, É ISSO?!!

— Elliot, escute-me — ela disse na defensiva, erguendo-se como ele.

— Me dirá o que agora? — ele disse de forma agressiva — Que ela morrerá lá, é isso?!

Ela ficara em silêncio, sentindo que um grande peso recaira sobre suas costas naquele momento. Elliot a fitou com os olhos incrédulo.

— É isso mesmo? — ele perguntou sem acreditar no que estava acontecendo — ENVIASTE-A PARA A MORTE, ELENA?!?! MATASTE-A?

— Não!! — ela dissera sentindo-se ofendida com as acusações que eram vomitadas sobre si — Eu não a matei, como ousa falar tais absurdos para mim depois de tudo que fiz para protege-la?!

— E não foi o que fizeste? — ele disse tomado de raiva — MATASTE-A?!

     No instante seguinte um ataque de magia fora lançado próximo a eles, destruindo o mármore que lançara estilhaços sobre ele. Elena conseguiu formar uma barreira de proteção sobre eles. Ela estava ofegante.

— Se ficarmos parados eu posso lhe garantir que a volta de Kristen se tornará ainda mais improvável — Elena fitara o rosto de Elliot tomado de raiva enquanto lágrimas desciam de seus olhos, embora ele se negasse a mostrar fraqueza e limpasse-as rapidamente, virando seu rosto para que Elena não as visse. Ela respirara fundo avançando em direção a seu irmão, colocando a mão sobre seu rosto pedindo silenciosamente que ele a olhasse. Elliot por sua vez esquivara seu rosto do gesto da outra, no entanto Elena tomara o rosto dele entre suas mãos a força, o obrigando a fitá-la.

— Olhe para mim, Elliot — Elliot se recusara em fazê-lo, virando seu rosto levemente, mas Elena novamente o puxara para que ele a fita-se, querendo ele ou não — OLHE PARA MIM, ELLIOT — ela falou pausadamente, uma lágrima desceu pelo rosto dele, que mesmo relutante, finalmente fitou-na — Eu amo nossa irmã tanto quanto tu a amas e não faria nada para machucá-la de alguma forma. Mas tem de entender que ela escolheu entrar na ilusão, mesmo sabendo que talvez não voltasse. Eu não poderia negar minha ajuda quando tão desesperadamente ela clamou por ela — ela deslizou seu polegar pela bochecha dele limpando uma lágrima que descia por ali — Tu mais do que ninguém sabe o quanto estamos dispostos a nos arriscarmos para salvarmos aqueles que amamos. Veja você, Elliot, é apenas um humano com uma espada em meio a bruxas e demônios, mas ainda assim não hesitou em vir para salvá-la. Meu irmão — uma lágrima escorrera dos olhos dela — Meu menino. Eu amo ti e Kristen mais do que poderia explicar, não duvide que não medirei qualquer esforço para que possa salvá-los. Mas preciso que acredite em mim. Eu preciso de ti, Elliot — ela fungou sentindo as lágrimas tomar o seu rosto livremente.

     Ele lutava contra suas lágrimas, mas falhava miseravelmente. Elena o encarava esperando qualquer resposta de sua parte, ansiando em seu íntimo para que ele pudesse entendê-la. Elliot a fitava em seus olhos, talvez procurando a verdade em suas palavras, e aos poucos, mesmo ainda triste com tudo aquilo, tomou a cabeça de sua irmã entre suas mãos e beijou o topo de sua cabeça logo a acolhendo em seu abraço. Elena sorriu em alívio com o rosto banhado pelas lágrimas que desciam por sua face junto a chuva, morrendo em sua boca.

— Diga-me o que fazer para salvá-la e eu não hesitarei em fazê-lo — ele disse por fim.

— Eu tentarei algo que jamais fiz antes. Mas preciso que proteja a todos nós.

                                


  III - 

   Os galhos batiam contra os seus rostos em uma frequência dolorosa. Kristen sentia suas pernas fraquejarem, mas as obrigava a ficarem de pé. Viktor que estava apoiado em seu ombro se mostrava cada vez mais fraco, mas ainda assim lutava tanto quanto ela própria para conseguirem chegar até a mansão. A cada instante que se passava ela sabia que estavam se aproximando de seu destino, mas os urros grotescos que ecoavam pela floresta tornava cada passo mais agonizante e desesperado. Ela estava ofegante, sentia seu peito arfar enquanto as lágrimas denunciavam seu desespero. As árvores que ficavam para trás eram movimentadas de forma agressiva, como se estivessem sendo arrancadas do chão. Havia algo muito grande indo em direção a eles e ambos lutavam contra o tempo para que chegassem na mansão antes que aquilo, fosse o que fosse que estava indo atrás deles os alcançasse.

— Eu não — a voz dele soara ao seu lado, falha e forçada, sem forças muito provavelmente — não irei conseguir.

Kristen recebera as palavras dele com desespero, sentindo em seguida o corpo dele fraquejar perigosamente. Ela se forçara a conseguir mantê-lo em pé, sentindo também as lágrimas subirem ao seus olhos.

— Sim, irá conseguir, Viktor — ela disse o encorajando mantendo o impulso para que não parassem. As árvores continuavam movendo-se cada vez mais perto — Eu não o deixarei cair, Sr. Greembell, não irei desistir até que esteja bem.

      Viktor sentia sua boca seca, com o avançar das veias negras sua pele se tornava fria como gelo, e a parte afetada se tornava pesada, como se estivesse morta. Ele sentia a vida novamente se esvair de si, abandonando-o rapidamente em uma cerimônia dolorosa. Mas ele ainda sentia um calor em seu peito, algo como uma pequena chama que ainda queimava viva e insistia para que ele se mantivesse de pé, esperança talvez.

— Não deixarei que a machuquem — ele disse novamente sentindo suas pernas fraquejarem, o obrigando a forçar ainda mais para se manter de pé.

— Ninguém irá me machucar, Sr. Greembell, ficaremos bem, eu e você — as palavras saíam da boca dela entre lufadas de ar. Em sua testa uma fina camada de suor se acumulava, e o ar e seus pulmões entrava seco e ardido, sua boca estava seca, suas vestes em fragalhos rasgada pelos galhos da floresta fechada. Kristen lutava contra si mesma para que conseguisse se manter de pé por mais tempo, uma vez que além do seu peso, agora tinha a maior parte do peso de Viktor sobre si.

    Mesmo que os galhos sob seus pés lhes ameaçasse de derrubá-los, eles continuavam, um era o apoio do outro, a pilastra de sua sustentação. Se um caísse, o outro cairia junto. Os barulhos das árvores sendo arrancadas do chão se tornava ainda mais alto, tão perto quanto a suas próprias sombras.

      Mas então finalmente esperança. Kristen não pudera acreditar quando conseguira ver que a floresta ficara para trás, e mais alguns passos e eles teriam o mármore da mansão sob seus pés. Mesmo ofegante e cansada, ela se permitiu sorrir pela primeira vez.

— Estamos perto — ela dissera com a voz carregada de emoção, deixando uma lágrima descer de seus olhos confundindo-se com o suor de seus rosto que escorrera juntamente. A mansão parecia estranha, tinha um aspecto sombrio, como se estivesse abandonada e destruída. Mas Kristen sabia que era apenas uma ilusão, e assim como o pôr do sol havia sido desfeito de sua cortina e se tornado um tenebroso céu em trevas, a mansão também havia sido vítima da imaginação destrutiva de Elizabeth.

       Mas então a ampulheta do tempo que escorria sobre eles pareceu derramar seu último grão de areia. O céu esbravejou em um trovão ensurdecedor, acendendo em si raios que rasgara a negritude do céu sobre eles, atingindo o solo em um estrondo aterrorizante. Kristen não pudera conter o impulso de encolher-se com o susto, sentindo uma tempestade se formar dentro de si, em uma agitação crescente. Viktor então deixara seus joelhos cederem, despencando sem força ao lado de Kristen.

— Viktor... — ela tentara dizer, mas o susto calara a voz em sua garganta, e um grosso galho de árvore caira a alguns metros de onde estava, sendo arremessado por algo.

      O céu rugira novamente, trazendo consigo um urro gutural. O céu novamente acendeu em relâmpagos e raios, quando então Kristen finalmente pudera ver o monstro que os perseguia. Ele era enorme, um monstro como uma grande árvore com os olhos ardentes em chamas, marcado por linhas acesas em seu corpo como se dentro de si fluísse as lavas de um vulcão. Em suas costas estavam galhos de árvores mortas queimando em chamas que pareciam serem eternas, e mesmo que as chamas cobrissem os galhos, eles não estavam sendo queimados ou destruídos. E finalmente sobre a cabeça do monstro estava a imagem de Elizabeth ardendo em magia, controlando sua criação como um fantoche.

— Deuses — o sussurro saira dos lábios de Kristen atônita pelo que seus olhos lhe mostraram. Naquele momento ela sentiu o medo pisar em si, deixando-a sufocada sem que pudesse mover-se sob os seus pés. Naquele instante o desespero puro e simples correra por suas veias, tomando o lugar de seu próprio sangue. Eles estavam perdidos.

     Uma forte ventania se iniciou, balançando os galhos das árvores em uma dança macabra, formando pequenos redemoinhos onde as folhas secas e mortas repousavam ao chão. O caos havia começado.

   Viktor então se mostrou agitado, pendendo seu corpo para a frente, colocando sua mão sobre sua barriga soltando curtos gemidos de dor. Kristen de pronto amparara o corpo dele com o seu, olhando preocupada para ele, alternando seu olhar desesperado entre ele e o monstro que parecia os procurar com seus olhos em chamas.

— Viktor — ela disse baixo, tentando não chamar a atenção da aberração a alguns metros deles — Viktor, por favor, não podemos ficar aqui, nós temos de ir.

  Ele parecia engasgado, como se sua garganta estivesse sendo sufocada por uma mão invisível, e com o olhar injetado de um brilho fosco, ele a olhou, tentando dizer-lhe algo, mas sem forças para tal. As lágrimas subiram aos olhos dela, que não conteve o soluço que saltou de sua garganta ao vê-lo tão fraco, e ao ver tudo caminhar para o fim.

    Novamente o corpo dele pendeu para frente, e as forças dele pareciam já estarem longe, sem vontade alguma para voltar. Kristen não resistira. Novamente o soluço saltou da garganta dela, escapando de seus lábios em um lamúrio sôfrego, o puro som do desespero e frustração.

    Era o fim. No instante seguinte Kristen sentira os olhos do monstro recaíram sobre si, queimando sua pele. Com os olhos mergulhados em lágrimas ela ergueu sua cabeça somente o suficiente para olhar em direção a aquele que traria sua morte, e novamente as lágrimas saltaram de seus olhos escorrendo por sua face enquanto o soluço saltou de seus lábios e ela contorceu seu rosto em lamento. O mostro dera um passo em suas direções, e já não haviam modos para fugir.

    Sentindo o coração ser tomado pelas trevas do medo que a acolheu em seus braços frios, o vento esvoaçou seus cabelos em brasa, enquanto ela sentiu sua alma render-se a derrota. Sem opções, ela acolhera o corpo dele contra seu corpo, colocando a cabeça dele sobre seu colo, deixando seus finos dedos entre os fios cor areia do cabelo dele.

Novamente o estrondo de mais um passo.

    As lágrimas escorreram pelo rosto dela livremente, embaçando sua visão. Ela fungava com o rosto contorcido em pranto, e então deixou que seu corpo iniciasse um movimento de balanço para frente e para trás, tendo a cabeça dele sobre si, deixando seus dedos dançarem nos fios macios sobre seu tato.

Mais um passo.

    Ela então o abraçou com força, deixando suas lágrimas banharem os cabelos dele como se fossem as próprias gotas da chuva, e entre soluços deixou que as palavras saíssem roucas de sua garganta, em um lamento doloroso.

— Eu falhei — ela disse sentindo a ventania lhe envolver como se sussurrasse em seus ouvidos que ela havia fracassado — Viktor, me perdoe, eu falhei — o apertou com mais força, afundando seu rosto entre os cabelos dele derramando suas lágrimas como se as mesmas rasgassem seus olhos — Eu tentei, mas eu não consegui, Viktor — ela apertou os olhos espremendo as lágrimas.

Mais um passo.

    Viktor tinha seu rosto cansado, sem expressões. Sua garganta parecia ter perdido sua voz, seu corpo pesava demasiado, como se estivesse petrificado, pesado demais para que ele pudesse fazer algo. Sobre si ele sentia o caminho molhado das lágrimas de Kristen, enquanto os soluços que escapavam de seus lábios pálidos rasgavam o coração dele. Em volta de si ele sentia a pele dela, o envolvendo em um aperto de desespero, enquanto entre seus cabelos os dedos dela deslizavam em um carinho fúnebre.

     Ele queria falar, lutava contra si mesmo, mas falhava de forma frustrante. Ele já não tinha voz, sua vida escorria entre seus dedos pálidos, e tudo que ele queria era apenas acolhe-la em seus braços, senti-la sobre sua pele e dizer que estava tudo bem, que ela não havia falhado em nada, que havia sido tudo perfeito, como deveria ser. Mas seu corpo estava inerte, seus olhos perdiam o brilho e a cada minuto que se passava ele sentia seu corpo deitar sobre a palma da morte, esperando apenas o momento em que sua figura seria esmagada brutalmente.

Um último passo.

     Finalmente Kristen sentiu o calor emanado do corpo do mostro tocar a sua pele, e com os olhos injetados de lágrimas ela olhou devagar em direção ao ser a poucos metros de si. A criatura soltara de sua garganta um grande urro de fúria fazendo com que Kristen apertasse seus olhos precipitando suas lágrimas pela sua face. Ela apertou o corpo frio de Viktor contra si.

    Elizabeth que estava sobre a cabeça do monstro a olhou de lá se cima, com os olhos consumidos por uma luz verde. Sua face era pálida, as veias negras desciam pelos seus olhos. Em seus lábios um sorriso vitorioso nascera.

    Kristen se viu derrotada, e desde que havia entrado naquela ilusão ela não havia se sentido tão pequena quanto se sentia naquele momento. Sua coragem e fé havia saltado de mãos dadas daquele penhasco, abandonando-a apenas com seu medo e dor. Ela então abaixara sua cabeça, sem forças para lutar contra o destino tenebroso que se mostrava bem a frente de seus olhos, e colocando sua mão fria sobre a face de Viktor, ela o olhou, aproximando seus lábios dos lábios dele, depositando ali um rápido beijo mórbido enquanto espremia seus olhos deixando as lágrimas saltarem e cair sobre a face dele.

— Sempre estarás em meu coração, Viktor — ela sussurrara logo após recuar seus lábios frios e secos dos dele, ainda próxima o bastante para que seu hálito batesse contra o rosto dele — Eu prometo.

— Morra — Elizabeth disse fria, sentindo o ódio tomar seu coração com a cena que via. Então, a seu mando o seu monstro erguera o pé, em um estrondoso movimento que antecedia a morte. Kristen não fizeram nada, apenas acolhera sua cabeça ao corpo de Viktor, iniciando uma canção delicada que aprendera quando era apenas uma menina.

E agora vou embora,

este mundo irei deixar

Mas perdoo todo mal que fez

Simplesmente por te amar...

    Então silêncio e escuridão.

IV -

     Na mansão tudo se tornava trêmulo, como se a mansão vibrasse. Pedaços das paredes do grande salão caíam com estrondos contínuos. A chuva sempre contínua os envolvia em seu toque frio, os trovões urravam e os raios rasgavam o céu em sombras sobre suas cabeças.

    Elizabeth sentia suas veias injetadas de ódio. Seu peito arfante deixava que o sentimento saísse de suas narinas em lufadas pesadas. Em si ela sentia sua magia se agitar, consumindo-a como chamas. Ela fitava a imagem daquela mulher a sua frente, onde claramente não era a Duplicata. Não, embora ela estivesse no corpo dela, Elizabeth saberia reconhecê-la mesmo que mudasse mil vezes de imagem.

    Marie Livian, a mulher que havia destruido-a de todas as formas possíveis. Se hoje ela era julgada um monstro, aquela mulher era a única culpada. Ela mal conseguia fitá-la sem que sentisse seu coração ser tomado por um ódio crescente capaz de queimar a si própria.

    Marie a fitava, com os olhos em luz, tão ofegante quanto a própria Elizabeth. Elas se encaravam, uma analisando a outra, ambas ansiando suas mortes.

— Mal posso recordar que um dia fosses alguém a quem chamei de amiga — Marie deixara a frase nascer em seus lábios, realmente perguntando-se como um dia pudera fitar aquela mulher com os olhos em gratidão e amor.

— Já faz muito tempo, Marie. Sequer posso fitá-la e recordar-me disso.

— Talvez pelo fato de que sua inveja a tenha cegado demasiado — respondeu sendo verídica em suas palavras.

— Minha inveja? — a outra pergunta com o tom amargo, carregado de farpas que estava ansiosa para lançar sobre a outra — Não, não fora minha inveja que cegara alguém aqui. Pelo contrário, Marie, ao que me recordo as inúmeras mentiras que constate não saíram de minha boca. Eu nunca menti para Viktor. Fosse amor ou ódio, eu sempre disse a verdade como ela era. Nua. Crua. 

    Com as palavras de Elizabeth, Marie sentira o peito espremer-se dentro de si. Mesmo que ardilosas, ela sabia que as palavras da outra eram verdades. Cruéis e implacáveis verdades. Ela engoliu em seco, sentindo a saliva fugir de sua boca, recusando-se a falar qualquer coisa. Um sorriso vitorioso nascera nos lábios da outra.

— Que bom que vês a verdade agora — ela disse encarando a outra com notável prazer — No final das contas, Marie Livian, eu sempre fui a verdadeira mocinha dessa história toda.

     Mas não houveram qualquer tempo para que Marie ou qualquer outra pessoa dissesse algo. Em um rápido instante uma tecido de magia os envolveu, e sem que pudesse perceber o que havia acontecido, o corpo de Elizabeth fora envolvido pela mesma, logo sendo imobilizado. Ela sentiu seu corpo ser apertado pela magia que lhe envolvia, sentindo sua pele queimar como se houvesse sido lançada ao fogo.

— Ahh!! — ela gritara de dor ao sentir como se estivesse sendo consumida por chamas. Em sua frente a imagem de Alninaram estava consumida de sua magia branca a encará-la profundamente.

   Os cabelos grisalhos da mesma esvoaçam soltos em sua cabeça, imunes aos pingos da chuva que não conseguia molhá-la. Marie observou de longe a fúria de Alninaram.

— A dor é tudo que mereces, Filha das Trevas — a voz de Alninaram se fizera soar, como várias vozes em apenas uma boca.

Ela fizera a magia que envolvia Elizabeth queima-la novamente. A mais nova gritara de dor.

    Ao longe, Marie sentira algo estranho, um formigamento em seu corpo, logo olhando para seus braços vendo-os acender sem que fizesse algo para tal. Havia uma sensação estranha, como algo crescendo dentro de si. Ela não saberia dizer o que estava acontecendo. Instantaneamente ela procura Elena e Viktor, que haviam sumido sem que ela soubesse para onde. Havia algo acontecendo, ela tinha de encontrá-los.

    Elizabeth estava imobilizada pela magia da outra, ao mínimo movimento sentia uma dor enorme tomá-la, e ela não conseguia suportar. Então ela fechara os olhos, invocando sua magia para interceder por si, mas ao mínimo sinal a sensação de chamas a consumi-la aumentou insuportavelmente, fazendo-a berrar ao sentir sua pele derreter com a magia sobre si.

— Se tentar usar sua magia, vai doer ainda mais, Elizabeth, eu lhe asseguro — Alninaram disse frente a frente com a outra.

     Elizabeth respirara em lufadas fortes, e mesmo sentindo-se sufocada permitiu que um sorriso debochado oscilasse em seus lábios.

— Pegaste-me de jeito, Alninaram — ela disse em um tom dolorido, mas ainda assim zombeteiro.

— Eu já o deveria ter a muito tempo — ela disse sombria, recordando-se dos erros que cometera com aquela a sua frente.

— E agora irás destruir sua criação, devo imaginar — Elizabeth disse, contorcendo seu rosto em dor e incômodo se perder seu sarcasmo.

— Tu já a destruísse a muito tempo quando corrompeste a magia que tolamente confiei a ti. E eu sei que falhei ao perde-la de vista — ela encarava a outra de forma fria — Mas eu não falarei novamente, Elizabeth. Eu a colocarei em um lugar onde nunca mais poderás fazer mal a ninguém. Terás aquilo que buscaste. Destruição.

     Elizabeth nada dissera, apenas manteve sua cabeça baixa, sem fitar a outra.

    Marie saira de onde estava, andando sobre o mármore sujo a procura de Elena. A sensação de algo dentro de si se intensificava, e ela simplesmente esperava que Elena lhe explicasse o que estava acontecendo.

    Andando mais alguns passos e pudera sentir uma energia emanar de um dos pontos da mansão, fazendo com que ela andasse rapidamente até lá. Chegando mais perto, ela pudera notar que havia uma magia de proteção ativa, enquanto um homem parecia agitado, mas atento empunhando uma espada em mãos. Ao chão, próximo do corpo do homem estava o corpo de Elena, deitado de olhos fechados e com as mãos dadas a de Viktor que estava inerte ao seu lado.

    — Elena?  — Marie dissera chamando a atenção do homem agitado ali. Mas ao que ele lhe fitou, ela não souberam reagir.

    Ele a fitou, com os olhos tão atônitos quanto os dela, perdendo lentamente a força que empunhava na espada.

— Elliot — ela soltou em meio um suspiro de emoção. Ela não soubera mais o  que falar.

   Ele a olhou, com os olhos parecendo incrédulos e surpreso.

— Você...? — Ele soltou em uma expressão vaga, claramente sem qualquer reação.

     Ela estava em choque. Seu filho, o seu menino estava bem a frente de seus olhos e ela simplesmente não sabia como reagir. Contida, quase cambaleante mediante sua surpresa ela se aproximou, sentindo os passos pesados. Ele estava inquieto, mas parecia sem qualquer reação tanto quanto ela mesma.

— Elliot Nicolae — ela dissera já perto o bastante para se sentir ainda mais receosa em aproximar-se, já que ela sabia que ele poderia não lhe receber bem — Meu filho...

    Mas no instante seguinte ela sentiu a sensação dentro de si ficar intensa, e antes que pudesse perceber, seu espírito fora lançado para fora do corpo de Kristen, que caira ao chão. Elliot por sua vez saltou em direção ao corpo desacordado da outra, saindo de dentro da proteção que logo se desfizera quando o corpo de Elena despertara em um salto.

                             

V -

    Aos poucos uma risada nascera na garganta de Elizabeth, logo saltando de sua boca em puro tom de escárnio. Alninaram a olhara sem entender.

— Deves achar que sou uma tola, não é mesmo? — ela rira ainda mais alto lentamente erguendo sua cabeça para fitar a outra. Alninaram obrigara sua magia a queimá-la. A outra gemera  rapidamente de dor, mas novamente deixou a risada nascera em sua garganta.

— Não me provoque, Elizabeth.

— Pobre Alninaram — Elizabeth disse em um tom de deboche — Tão forte, mas ainda assim não aprendera a não me subestimar. Quando eu disse que o preço da minha morte é mais do que pode pagar, eu não estava brincando, querida.

— És uma bruxa forte, Filha das Trevas, mas não imortal — Alninaram dissera de forma calma, sem retirar sua ameaça.

A outra rira em sua cara.

— Imortal não, — Elizabeth dissera em um tom de escárnio — mas inteligente o suficiente para assegurar que a minha morte não virá de suas mãos.

    Alninaram estava de fato confusa com a confiança daquela mulher, uma vez que mesmo estando sob seu poder ela não parecia teme-la de qualquer forma. Talvez ela estivesse brincando consigo, mas tinha de admitir que Elizabeth era muitas coisas, mas não uma mentirosa. De fato haveria de ter algo errado.

— Pareces segura demais para alguém derrotada.

— Não estou derrotada, Alninaram. Nem mesmo perto disso.

— Já chega — Alninaram dissera sem paciência acendendo e magia para finalmente dar o fim merecido de Elizabeth. Mas não pudera prosseguir ao que as palavras venenos nasceram na garganta da outra, acertando seu coração como uma longa espada.

— Id est animam pro anima — então em um rápido instante enquanto uma profunda risada nascera da garganta de Elizabeth, fitando com vitória o rosto pálido de Alninaram.

— Como pôde? — Alninaram deixou sua voz sair atônita, buscando em si a força necessária, lutando para acreditar que aquela mulher estava blefando.

— Sim, eu fiz — a outra dissera em uma afirmação ardilosa deixando um sorriso macabro pintar seus lábios. Alninaram sentira que a derrota havia chegado para si. Em seus olhos a decepção nascera como uma praga invencível, algo que por mais que lutasse para matar, ela simplesmente não conseguia. Era o fim de tudo.

                             

VI -

     Elena saltara apoiando suas mãos sobre o mármore, respirando fundo para recuperar o ar. Ainda estava confusa, um tanto desnorteada uma vez que jamais havia tentado fazer uma viagem entre os mundos. Era uma sensação demasiada para si, algo novo. Mas não era consigo que se preocupava.

     Rapidamente ela olhara para Viktor, pálido ao chão, frio como pedra e sem qualquer reação. Aquilo não podia ter dado errado.

— Não — ela soltou em um suspiro frustrado, logo passando a mão de forma desesperada sobre seu rosto — Não, não, não — ela repetiu várias vezes, em um estado de negação aflitivo — Não posso ter falhado, não posso.

— Elena? — a voz de Elliot soou a alguns centímetros de distância, e e quando ela o fitou ele não pôde conter as perguntas — Por que ela não se move? — ele disse referindo-se ao corpo de Kristen amparado em seus braços, sendo banhado pela chuva, tão frio e quieto quanto um cadáver.

— Elliot, eu não... — ela tentou falar sentindo uma frustração crescente em si, mas fora interrompida quando o corpo de Viktor ao seu lado saltou, tossindo variadas vezes e rolando seu corpo pelo chão, despertando novamente de sua morte.

    Não mais que um breve instante, o corpo outrora inerte de Kristen puxou o ar profundamente, em seguida iniciando uma tosse semelhante a de Viktor, enquanto Elliot a amparava em seus braços.

— Kristen — Elliot dissera movido de emoção ao vê-la viva novamente, para si — Pelos Deuses, Elena, tu conseguiste! — ele comemorou olhando para Elena rapidamente como uma criança feliz, logo voltando sua atenção novamente para Kristen.

     Kristen sentira seus pulmões encherem de ar, que entrara como facas em seu corpo. Ela estava ofegante, como se a muito tempo não houvesse respirado. Sua visão estava turva, seus ouvidos ouviam sons e vozes longe, como se estivesse em uma enorme sala sem móveis, e alguém gritasse de um extremo do local, mas somente o eco chegasse ao seus ouvidos.

  Sua cabeça se encontrava confusa, mas rapidamente as lembranças tenebrosas envolveram sua mente como um turbilhão que passava tão rápido que ela não saberia dizer se estava sonhando ou não.

— E agora vou embora,

este mundo irei deixar

Mas perdoo todo mal que fez

Simplesmente por te amar...

     Ela até conseguia sentir o medo abraçando-a novamente ao que a cena passou por sua mente trazendo consigo Elizabeth e seu ódio mortal. Então ela saltara de susto, sentindo seu coração recomeçar seu ritmo frenético. O que havia acontecido consigo afinal?

     Um chiado agudo e entrou pelos ouvidos de Viktor fazendo com que ele abrisse seus olhos abruptamente, saltando em alerta em seguida tossindo sem que pudesse conter seu impulso. Tudo estava turvo para si, como se tentasse enxergar dentro dágua. Sobre sua pele sentia um líquido gelado, chuva talvez pelo modo contínuo que o envolvia. Borrões, era tudo que conseguia ver, enquanto a tosse lentamente morria em si.

Em sua mente um grande tornado trazia consigo flashes rápidos, tão velozes que ele mal conseguia distinguir aquelas imagens que parecia uma lembrança recente.

Eu falhei...

      A voz feminina dizia em sua cabeça, em um tom choroso e sôfrego. A lembrança vaga logo desaparecera como um flash, deixando que outras tão confusas quanto as anteriores entrassem uma sobre a outra, desordenadas e borradas. O que estava acontecendo, afinal? Ele não sabia, antes que pudesse buscar em si respostas em si, sua visão ia se adaptando ao local, revelando um rosto em frente a si, com semblante preocupado.

— Viktor — a voz semelhante a que havia ouvido em suas lembranças confusas entrara por seus ouvidos como um verdadeiro coral de anjos a lhe acordarem. Então quando finalmente sua visão revelara Kristen em sua frente, ele sentira algo em si, um solavanco que o impulsionou a abraça-la instantaneamente. Mas antes que pudesse pensar qualquer coisa, uma mão posta sobre seu peito o impediu de concretizar seu ao, fazendo com que ele logo olhasse para o feitor daquele gesto buscando respostas.

— Viktor, a maldição... — Elena dissera ainda com a mão sobre o peito dele que parecia perdido. De pronto os flashes rápidos novamente inundaram sua cabeça como um tornado em fúria, mostrando em frente a seus olhos a imagem de Elizabeth com seus olhos em trevas fitando-o enquanto seus lábios diziam morra devagar deixando parecer que seus lábios saboreavam cada letra.

     Ele sentira uma grande interrogação cair sobre sua cabeça, um grito silencioso de confusão. Mas não houvera tempo suficiente para que as perguntas saltassem de sua boca, uma vez que uma grande onda de energia invadira o lugar, vindo em suas direções como um muro de pedras pronto para esmagar seus corpos. Antes que pudessem ter uma reação, Elena acendeu rapidamente em magia, fazendo sinais com suas mãos até que gerassem rapidamente um grande escudo, tomando a frente de todos antes que a onda de energia pudesse atingi-los. Ao seu lado ajudando-a a manter o escudo que havia criado, estava um espírito em luz de uma mulher. Marie.

      Viktor teve a sensação de que o mármore sob seus pés havia sumido completamente, fazendo com que ele tivesse a impressão de que havia caído e um lugar distante,um precipício sem fundo, apenas despencando rapidamente em uma queda longa.. Em um instante ele sentira um grande baque em seu peito ao ver ali a mulher que tanto amara, que doara todas as horas de sua existência para cultivar sua memória e que fora, além do maior amor, a maior decepção de sua existência.

      Ao fitá-la ali ele congelara, sentira seu corpo petrificar com uma estátua sem vida, enquanto seus olhos ficaram estáticos sobre sua figura. Imediatamente as memórias inundaram sua cabeça em um turbilhão. Era como se a frente de seus olhos conseguisse ver todas as cenas vívidas e nítidas como se as vivesse novamente. Novamente ele conseguia vê-la correndo sobre o tecido verde da grama ao chão do jardim da Família Greembell, deixando que seus pés afundassem sobre a superfície fofa enquanto ela sorria abertamente, seu vestido ao vento, seus cabelos faiscando sob a luz do sol.

      Rapidamente outra cena tomara a frente, e ele podia vê-los sorrindo felizes, sentados a beira de um lago enquanto ela mordia um morango, e ele fitava totalmente embriagado com a beleza que emanava dela como o perfume de uma rosa. Suas brincadeiras, cada palavra dita em um sussurro apaixonado enquanto seus corpos se enlaçavam em uma carícia de amor, um grito silencioso do sentimento mais puro e ainda assim, venenoso.

     Então as imagens sumiam, consumidas por chamas vívidas e veias negras e somente restara desespero e ilusão. Novamente ele se via diante do altar, as nuvens negras no céu de trevas a molhá-los de sangue, o vestido branco manchado, as lágrimas dos olhos de ambos gritando no desespero, enquanto ela caía lentamente em seus braços. Ela desmoronava diante de si, enquanto ele lutava para que pudesse salvá-la de alguma forma. As veias negras sobre sua pele agora pálida, a morte a enlaçar ambos em um abraço frio, dor, tormento, temor, desespero... E então vazio e escuridão para sempre bem diante de seus olhos mortos e sem luz.

     Seu corpo agora era apenas um espectro, uma imagem transparente envolta em uma magia que ele desconhecia, um fantasma de seu passado bem ali, diante de seus olhos, a poucos centímetros de si depois de muito tempo. Uma lágrima descera por sua face com um toque gelado, ainda mais frio que a chuva contínua sobre sua pele, rasgando-o e dilacerando não sua pele, mas seu coração a muito morto em seu peito, tão fantasmagórico quanto a imagem daquele fantasma.

     Naquele momento, mesmo que o cenário diante de seus olhos desmoronasse e caos sobre si, ele sequer saberia se poderia reagir. Naquele instante Viktor se sentia mais amaldiçoado do que nunca, um escravo de um falso amor, uma joia falsa que agora se mostrava sem valor. Estava realmente morto.

     Quando a grande onda de energia que havia os atingido diminuiu sua intensidade, trazendo consigo em uma poeira que os envolveu como uma fina névoa, o que havia de fato ficado sobre eles fora uma enorme interrogação sobre o que estava acontecendo. O que havia dado errado? Elliot estava a postos com sua espada em mãos com os olhos atentos, mãos firmes sobre a empunhadura, disposto a reagir ao que fosse que estivesse vindo em suas direções.

     Kristen sentia o coração saltar em seu peito, alarmando-a de algo ruim, mas que ela estava disposta a lutar com o que pudesse. Mas sobretudo sua preocupação estava sobre Viktor. Ele estava estático, olhos distantes, punhos cerrados, mas sem qualquer outra reação. Seu rosto trazia um semblante vago, decepcionado talvez. Seu corpo estava ali, mas ele de fato não estava, ela podia ver. Havia algo de triste nele, e ela não saberia dizer o que de fato poderia ser.

     Até que seus olhos recaíram sobre o espírito de Marie, e então ela finalmente pudera entender. Naquela hora sua boca secara, e ela sentira uma grande tristeza por ele. Na verdade os olhos vagos dele estavam sobre ela, fitando-a como se encarasse sua própria morte, tão triste e vazio que ela poderia tocar com suas próprias mãos o grosso tecido de tristeza e desilusão que enlaçava o corpo pálido dele.

     Ela não saberia dizer o por quê, mas sentira um grande aperto em seu peito quando finalmente o olhar do espectro dela recaira sobre o olhar dele. Naquele instante era como se aquele encontro de olhares houvesse criado uma névoa sobre eles, um misto de melancolia e arrependimento, algo frio, sem vida, algo que nunca mais haveria de ser algo terno novamente. O encontro da própria morte em suas duas versões: um corpo vazio e sem vida, alguém que sofre todos os dias a mercê de sua própria maldição. E do outro lado um reflexo frio e pálido, um fantasma vagante sem destino em um mundo que não conseguira abandonar, uma imagem translúcida, mas ainda assim com pesos mortais sobre suas costas.

     Ela quis abraça-lo naquele instantes, segurá-lo em seus braços enquanto suas lágrimas banhariam as vestes dela, mas não houvera tempo para qualquer outra coisa que não fosse sentir um imenso medo abraçá-los. A mansão rapidamente fora tomada de chamas em um verde fluorescente que faiscara em suas direções e refletia suas sombrias chamas nos olhos de temor de cada um naquele local.

     Instantes depois o baque de um corpo batendo contra o mármore se fez ouvir, e bem diante de seus olhos o corpo de Alninaram estava deitado, pálido e frágil, enquanto a luz que a envolvia deixava sua claridade ir aos poucos enfraquecendo. Como se tudo estivesse acontecendo lentamente, Elena sentira seu coração chocar-se dentro de si, em um grito de desespero ao ver a única gota de esperança morrer bem em frente a seus olhos. Um suspiro d derrota escapou de seus lábios, tão pesado que parecia rasgar sua garganta.

Rapidamente ela correra de encontro com o corpo dela, sendo seguida por Kristen, Marie e mesmo Elliot. Exceto Viktor.

— Alninaram — Elena jogara-se sobre seus joelhos tomando a cabeça da mulher sobre seu corpo, analisando seu corpo com urgência. No peito ela havia um grande buraco por onde um líquido brilhante fluía rapidamente logo tomando o chão, transformando-se rapidamente em sangue. As lágrimas nasceram nos olhos em desespero de Elena — Não — ela lamentou tocando o rosto da mulher com urgência, buscando seu olhar para si — Pelos Deuses, Alninaram, lha para mim, por favor, mantenha seus olhos sobre mim — pediu com urgência em sua voz e gestos.

— Margareth... — Kristen disse em um suspiro enquanto seus olhos marejaram logo fazendo com que as lágrimas precipitassem sobre sua face.

— Eu... — Alninaram tentou falar com dificuldade retorcendo seu rosto em dor.

— Não fale, querida, apenas mantenha seus olhos sobre mim, apenas me olhe — Elena dissera com a voz embargada enquanto suas lágrimas caíam sobre a pele negra da outra.

— Não pude... — Alninaram dissera com a voz sufocada lutando contra a dor imensa que tomava seu corpo cada vez mais apagado — Não posso matá-la.

     Elena deixara o cenho franzir, enquanto o corpo de Alninaram convulsionara rapidamente em seus braços enquanto a mesma deixava que seu próprio sangue saltasse de sua boca. Sua luz estava cada vez mais fraca.

— Eu não posso... — a tosse novamente tomara sua garganta, e as pequenas gotículas de sangue que saltaram da boca dela respingaram sobre a face e as vestes de Elena — Ela não pode ser morta, Elena.

— Como não? — Kristen perguntara sem que tivesse controle sobe sua pergunta. Ela sabia que não era o momento para qualquer pergunta, mas não pôde conter o impulso de seu desespero ao ouvir as palavras de Alninaram.

     A luz no corpo dela se tornava fraca demais, oscilante enquanto seu sangue se tornava tão vermelho quanto o sangue de qualquer mortal. Seu olhar então se apagara, revelando íris castanhas e tão humanas quanto os de Elliot.

— Alninaram, por favor, não tire seus olhos de mim, eu lhe imploro — Elena dissera ignorando qualquer palavra que ela havia dito, focando apenas em mantê-la viva. Alninaram revirara seus olhos, contorcendo seu rosto em dor mais uma vez, deixando a luz em si apagar-se ainda mais. Seus suspiros se tornaram pesados e pausados, como se o ar faltassem em seus pulmões.

Em um último ato, ela reunira suas últimas forças, olhando bem nos olhos de Elena, falando em um tom baixo e rouco.

— Id est — ela puxara o ar com força — Id est animam pro animam.

— O que? — Elena dissera enquanto sua lágrima caira sobre a face de Alninaram.

— Elizabeth... — ela perdera a voz em sua garganta, lutando com o resto de suas forças para retomá-la — Se ela morrer, Elena... — o ar faltara e si, e seus olhos injetados de desespero fecharam-se por um pequeno instante — Tu... — novamente o ar lhe abandonara, seus suspiros estavam sufocados, a luz em torno de si ia diminuindo, apagando lentamente, até que com um último olhar para Kristen e Elena, seu corpo adormeceu, a luz em si apagou e seus olhos tornaram-se foscos.

— Alninaram — Elena chamara com urgência, passando suas mãos sobre a face gelada da outra sentindo o desespero alastrar-se por seu corpo como o próprio sangue em suas veias. As lágrimas tomavam seu rosto como se um rio houvesse feito morada em si, escorrendo e morrendo sobre a face de Alninaram. A face da outra permaneceu serena, olhos abertos, seu corpo frio um corpo já sem vida, apenas um corpo qualquer.

— Elena — Kristen tocou no ombro dela, ajoelhada ao seu lado olhando para sua irmã sentindo toda a tristeza daquela cena tocar a si mesma — Ela não está mais aqui.

     Elena lhe fitara com os olhos em lágrimas, voltando novamente seu olhar sobre o rosto de Alninaram. Kristen tinha razão, ela sabia. Ela então deslizara sua mão sobre a face da mais velha, deslizando a ponta de seus dedos sobre a pele negra.

— Eu agradeço tudo que fizeste por mim, querida — ela disse fitando a face dele com os olhos em lágrimas e voz embargada — Eu prometo que teu esforço não passará em vão — então ela lentamente abaixara sua cabeça logo depositando um ultimo beijo sobre sua face em seguida fechando os olhos dela com a palma de sua mão. Lentamente ela deixara que suas mãos deitassem lentamente o corpo dela sobre o mármore, instantes antes que o corpo da mesma novamente acendesse em luz, no entanto desfazendo-se em um pó brilhante que desaparecera no ar. Lentamente Elena deixou que seu corpo se reerguesse.

      Suas vestes sujas do sangue inocente daquela que dera sua vida na esperança e salvar a todos ali lhe lembrariam da promessa que fizera ali enquanto Alninaram deixava a sua vida esvair em seus braços. Os olhos dela estavam vermelhos, e seu coração carregava medo e tristeza, mas ela não poderia ser egoísta a ponto de render-se a seus medos.

Id est animam pro anima

       As palavras ditas na voz de Alninaram ainda soavam em sua cabeça dizendo-lhe o que tinha de fazer o quanto antes. Então ela deu meia volta encontrando sobre si o olhar de Kristen e de Elliot claramente preocupados consigo. A mansão estava vibrando, aos poucos partes das paredes tornavam-se ruínas, caindo coma forte energia que ainda emanava do corpo de Elizabeth. Mas Elena tinha o coração tranquilo. Ela então se aproximou de ambos, e alternando seu olhar entre seus rostos, ela depositou sobre a bochecha de cada um a suas mãos, puxando ambos logo para uma abraço fraterno. As lágrimas ainda saltavam de seus olhos.

— Eu os amo mais do que um dia poderia medir — sua voz saiu chorosa, mas suave — Prometi protegê-los com minha vida se necessário for, e espero que em nenhum momento de nossa existência eu tenha falhado com vocês.

— Não, minha irmã — Kristen disse baixo, logo sentindo suas próprias lágrimas nascerem em seus olhos — Foste a mãe que jamais tivemos.

     Nesse instante a vibração da mansão se tornara mais intensa, talvez um sinal da aproximação de Elizabeth. Elliot assim como Kristen ficaram agitados, mas Elena o manteve em seu abraço, fazendo movimentos leves de negação com a cabeça.

— Shh, não se assustem, meus irmãos — sua voz estava embargada, com uma emoção triste em seu tom — Minha promessa de protegê-los ainda não acabou — ela fungou e fechou os olhos com força tentando ser forte, como tinha de ser — Eu nunca irei deixá-los sozinhos, e não chorem em minha ausência, pois nunca estarão sós. Eu prometo protegê-los até mesmo quando minha memória for apagada de suas cabeças, e não haverá um só dia em que eu não estarei com vocês — as lágrimas em seu rosto marcavam a pele dela, sua voz quase falhava em sua garganta. Kristen e Elliot franzira o cenho. Por que ela estava falando daquele modo?

— Eu sei que estará conosco para sempre, Elena. Quando este caos tiver fim, voltaremos para a taverna juntos, sem esse pesadelo a nos atordoar novamente, verás — Elliot dissera abraçando-a ainda mais forte, sua voz falhava em sua garganta. Havia algo errado com aquela cena, um aperto em seu coração lhe gritava angustiado para avisá-lo. Mas ele queria estar errado. A vibração sobre eles estava ainda mais forte, podia sentir a magia intoxicante de Elizabeth no ar apenas respirando.

— Sim, o caos terá fim — ela disse abrindo seus olhos, fixando-os de modo vago sobre Viktor, ainda estático, perdido e se qualquer reação — Não esqueçam de minhas palavras, meus irmãos — ela finalmente desfizera o abraço, logo depositando sobre a face de ambos um beijo demorado de olhos fechados, logo pondo sobre o peito de ambos suas mãos — Eu os amo mais do que a imensidão do universo e todas as suas estrelas — Ela olhou para a face de ambos uma última vez, antes de que as mãos sobre seus peitos acendessem rapidamente e a magia repousasse sobre o coração de cada um, fazendo com que rapidamente seus corpos se tornassem pesados e sucumbissem ao chão, em um sono profundo.

                             

VII -

      As imagens de uma memória dolorosa ainda estava na cabeça de Viktor como um infinito álbum de feridas mal cicatrizadas. No entanto, embora naquele instante ele estivesse inerte em sua dor, rapidamente sua consciência voltara a si quando a alguns metros vira o corpo de Kristen, assim como o do homem a seu lado sucumbirem sobre suas pernas, caindo ambos ao chão, enquanto Elena os fitava abaixada, passando suas mãos sobre o cabelo de ambos.

     De forma ligeira e urgente, Viktor finalmente deixara seus pés pisarem de forma dura contra o mármore enquanto caminhava em direção aos dois corpos ao chão. Quando já estava perto, olhando para atrás de Elena lá estava o espectro de seu passado olhando-o com sua luz desconhecida, não falava nem mesmo movia-se, mas o olhava com um olhar profundo, enigmático. Por um instante seus pés queriam parar para não terem de se aproximar daquele fantasma, mas quando as íris amarelas recaíram sobre o corpo de Kristen inerte ao chão, tudo pareceu perder o valor, e sua dor, por mais dolorosa que fosse tinha de ser contida e morta.

— O que fizeste com ela — ele disse de forma rude, pegando com cuidado a cabeça de Kristen pondo-a sobre seu colo.

— Eu espero que um dia eles possam me perdoar — ela disse de forma melancólica, trazendo em seu olhar um peso que parecia que iria esmagá-la a qualquer instante. Viktor não entendera o que ela estava querendo dizer com aquelas palavras, mas sentia algo sombrio em Elena, uma sombra em seu olhar que parecia sufocá-la — Viktor, prometa para mim que nunca os desamparará, nenhum dos dois. Prometa que quando ouvir seus chamados os socorrerá sem medir esforços, e que jamais os deixará se acharem perdidos ou sozinhos.

— Por que tu estás a falar tais coisas como se estivesse se despedindo deles? — ele perguntou confuso, novamente vendo no olhar dela a sombra a abraçá-la.

— Prometa, Viktor, por favor — ela disse com a voz embargada, prestes a chorar em um pranto doloroso — Prometa que cuidará deles, prometa!

— Elena... — ele tentou falar, entender o que estava acontecendo, mas então as lágrimas inundara os olhos dela, e o soluço sôfrego saltara de sua boca.

— Eu prometo — ele disse tentando talvez acalentá-la de alguma forma, mas sem que suas palavras fossem falsas — Eu os protegerei com minha vida, Elena, tem minha palavra. — Ela deslizara sua mão sobre a face molhada dele, sorrindo em meio ao pranto, em um misto de dor e alegria. Estava finalmente pronta para cumprir sua promessa.

— Eu nunca os esquecerei, meus irmãos — ela disse fitando o rosto sereno de ambos, logo levando uma de suas mão sobre seu colo, logo sentindo a superfície do colar em seu pescoço logo arrancando-o dali com um movimento abrupto, em seguida pegando uma das mãos de Viktor, depositando o objeto ali.

— Diga a eles que enquanto este colar existir, eu estarei com eles — ela fechou a mão dele sobre o objeto, logo erguindo-se e lhe dando as costas. Viktor estava confuso com aquela cena, em seu íntimo sabia que aquilo na verdade se tratava de uma despedida. Então quando ela dera os primeiros passos afastando-se deles, Viktor a chamara, fazendo-a parar.

— Elena — ela abaixara a cabeça, lutando contra as lágrimas incapaz de fitá-los, pois sabia que se os visse novamente, talvez não fosse capaz de deixá-los — Obrigada — Viktor disse então, mesmo que não soubesse o que ela estava fazendo, mas independente do que pudesse ser, ele tinha de agradecer, talvez pelo que parecia ser a última vez — Obrigada por tudo que fizeste por todos nós.

      Ela soltara o ar em uma lufada, deixando que as últimas lágrimas escorressem por sua face, antes que novamente erguesse sua cabeça e andasse em direção ao fantasma de Marie. Suas palavras foram breves antes que a mansão vibrasse sob seus pés, e uma parede próxima desabasse. Estava na hora. Marie ao ouvir as palavras da outra, rapidamente acenara com a cabeça, em seguida subindo no ar e caindo sobre Viktor, Kristen e Elliot, formando ao redor deles uma barreira de proteção brilhante, deixando-os confinados em sua bolha de energia.

     Logo as vibrações ficaram ainda mais intensa, e pequeno filetes de magia verde começaram a infestar o ambiente, e logo se tornaram grande traços de magia pintando o ar com rabiscos intensos de energia que passava pelo ambiente como o som da lâmina de uma espada cortando o ar, envolvendo a todos. Os raios se tornaram mais ferozes, logo caindo um bem na entrada destruída da mansão, em um estrondoso barulhos.

     Viktor encolheu-se dentro da bolha, fitando tudo sem que pudesse fazer nada. O corpo do homem assim como o de Kristen estavam desacordados, e somente ele estava ali testemunhando tudo com seus próprios olhos atormentados. Então a imagem de Elizabeth logo surgira, queimando de magia enlaçava pelos laços de magia que pintavam o ar por todas as partes. Sobre todos, lá estava ela, pairando no alto imersa na própria magia como se a mesma fosse sua própria pele e vestes, com seus olhos perversos sobre sua irmã ao solo. Na mão dela, estava o coração brilhante agora inativo que havia arrancado do peito de Alninaram. O sangue escorria por sua mão, precipitando-se rapidamente no ar.

    Elena trincou seus dentes em repúdio, e levada pela dor de ver aquela cena, ela desviou o olhar, sentindo rapidamente as lágrimas descerem por sua face como pontas de adagas a rasgar sua pele.

— Olhe para mim, querida irmã. Veja em minhas mãos o destino daqueles que tentam me destruir.

    Elena sentiu a mandíbula travar, e apertou as unhas com força sobre sua palma, lutando contra as lágrimas que saltavam de seus olhos se sua permissão. Mas mesmo sentindo o peito doer dentro de si, Elena respirou fundo e permitiu que uma das suas mãos subisse até seu rosto enxugando as lágrimas sobre sua face, finalmente olhando com o olhar firme para o monstro que o sangue lhe dizia ser sua irmã.

— És um monstro Elizabeth, e monstros devem ser destruídos — ela disse firme, novamente fechando sua mão com força.

— Eu sou um monstro que você não pode matar, querida irmã — ela disse com um sorriso cínico em seus lábios, exibindo o coração em mãos como um troféu — Sua querida Alninaram tentou. Mas falhou miseravelmente, assim como todos aqueles que ousam tentar me destruir.

     Então Elizabeth apertara o órgão entre sua palma, e o mesmo logo acendera e uma luz branca que fora intensificada a medida que pressão da mão dela aumentava. Logo o órgão que parecia ser feito de uma pedra preciosa no tom branco quase cinza fora criando rachaduras a medida que a mulher em seu poder apertava-o ainda mais. A pressão aumentava, e rapidamente de uma pequena explosão, o coração se desfizera em pedaços, que caíram da mão de Elizabeth logo dissipando-se em uma poeira brilhante que sumira no ar assim como o próprio corpo de Alninaram havia feito. Elena engoliu em seco.

— Onde estão? — Elizabeth perguntara autoritária, referindo-se a Viktor e Kristen?

— Fora do seu alcance, maldita — a outra respondera azeda, sentindo o gosto amargo do repúdio inundar seu paladar.

Elizabeth rira sarcástica.

— Hora, brincando de esconde-esconde novamente? — ela sorriu vitoriosa — Não aprende mesmo não é, minha irmã?

Então Elizabeth dera as costas para Elena, ignorando-a totalmente indo em busca daqueles que realmente importara.

— Id est animam pro anima.

Elizabeth paralisara, engolindo em seco ainda sem fitar sua irmã. Ela então fechara seu punho com força ainda sem acreditar no que havia ouvido.

     Viktor conseguia ver e escutar tudo o que estava acontecendo mesmo estando naquela bolha de magia. O espectro de Marie estava a poucos metros de si, silenciosa fitando-o vez ou outra com seu olhar enigmático. Viktor se sentia incomodado e lutava para não ter olhá-la e sentir aquele gosto amargo de traição em seu paladar. Então tentava focar seus olhos apenas em Kristen e principalmente em Elena embora sentisse o peso do olhar de Marie sobre si.

— Id est animam pro anima — Elena dissera enquanto um longo e afiado punhal crescera em sua palma. Viktor deixou seus olhos arregalarem, receoso pelo que pudesse acontecer. Elizabeth estava de costas para ela, mas com as palavras dela Elizabeth parou bruscamente, ainda sem fitar sua irmã. Viktor sentia uma pesada tesão sobre eles, e ele então apertou o colar com a pedra branca que Elena havia posto em sua mão. Delicadamente ele depositou a cabeça de Kristen sobre o corpo de Elliot, em seguida levantando-se com um receio crescente em si.

— Elena, não... — ele dissera baixo para si, sentindo em si um receio tão latente que podia sentir seu corpo vibrar.

     Elena olhara para trás, talvez sequer pudesse vê-los, mas ainda assim ela os olhou enquanto o punhal em sua mão subia lentamente. Viktor apertou ainda mais o colar dela em sua mão, andando lentamente dentro a bolha, sem tirar seus olhos atordoados de Elena. Então, como se naquele instante uma grande parede de silêncio caísse sobre todos ali, ele vira e saltara em susto quando Elena levara o punhal até seu próprio peito, desviando seu olhar em lágrimas deles.

— Mãe, pai — ela dissera baixo enquanto as lágrimas faziam caminho em seu rosto. Ao seu redor ela contemplou o cenário destruído lembrando do seu próprio pesadelo ao contemplar a morte de seus pais.

     Com os olhos embaraçados, ela quase podia ver o rosto deles em sua frente, ambos de mãos dadas sorrindo e encorajando-a naquele terrível momento. Atrás deles, os olhos pálidos, mas ainda assim brilhantes de Alninaram, com uma das suas mãos sobre o ombro de seus pais, sorrindo de lábios fechados em um lamento doloroso, mas ainda assim necessário. Elena puxara o ar em seus pulmões, sorrindo de forma melancólica em meio a suas lágrimas quando finalmente a visão daqueles que amara e não pudera proteger se desfez, deixando apenas o cenário de destruição.

— Eu finalmente os vingarei — ela completou a frase suspirando por fim, em seu ato final. Elizabeth finalmente a olhara, e ainda queimando em magia reagiu, lançando sobre sua irmã seu protesto enquanto, como se tudo acontecesse lentamente seu grito de protesto se perdeu no ar.

     Em um mísero instante, o punhal em seu poder adentrou de forma abrupta seu peito, rompendo sua caixa torácica como se ela fosse feita de papel e a lâmina brilhante acertou seu coração em cheio, e seu sangue fluiu de si lavando suas vestes de vermelho. Instantaneamente, os olhos de Kristen e de Elliot abriram subitamente, como se houvessem também sidos golpeados no peito, e ambos saltaram de susto sentindo os primeiros fios de trevas mancharem seus corações. E estavam certos. Antes que Viktor pudesse ver o despertar de ambos, Kristen não soube segurar o profundo soluço que ecoara de sua garganta quando a alguns metros vira o corpo de Elena banhado em sangue enquanto um longo punhal estava dentro de seu peito e ela sucumbia sobre as pernas.

— Elena!!!!! — ela gritara desesperada, logo lançando-se sobre a bolha de magia, sendo impedida de prosseguir. Viktor viu toa aquela terrível cena se desenrolar lentamente em sua frente, logo reconhecendo o sofrimento que por tanto tempo sofrera.

    Elena sentia o sangue descer por sua pele e ouvira, mesmo que de forma distante, um grito desesperado a clamar por seu nome.

     Elizabeth, por sua vez, logo após o golpe de sua irmã sobre seu próprio corpo sentira um grave baque em seu peito, seguida por uma dor tremenda antecedida pela dissipação da magia que lhe rodeava. Quando finalmente sua magia falhara, ela caira ao chão agonizante a poucos metros de distância de sua própria irmã. Ela rolara pelo mármore, sentindo seu ser tomado de uma dor horrível que explodia dentro de si como se estivesse sendo dilacerada por dentro. Ela pusera a mão sobre seu próprio peito sentindo em si como se seu coração estivesse sendo rasgado por mãos de trevas dentro de si.

— Ah! — ela gemera de dor com a mão sobre seu peito, sentindo a dor se alastrar pelo seu corpo como um veneno letal a contaminá-la por inteiro. Então ela iniciara uma respiração ofegante, enquanto sem forças lutava para se por sobre seu joelhos e uma de suas mãos.

     Elena sentia o ar faltar em si, como se mãos invisíveis enlaçassem seu pescoço. Ainda com sua mão sobre o punhal ela procurou forças em si para então girá-lo dentro de seu peito. O grito de dor não pudera ser contido e ela então caiu ao chão, ofegante, sentindo suas vias aéreas serem tomadas pelo seu próprio sangue, afogando-a fazendo-a engasgar. De pronto o grito também de Elizabeth fora ouvido, e agonizando em dor ela caira sobre o mármore, tentando respirar em lufadas rápidas e pesadas, com tanta dificuldade que parecia que suas narinas estavam fechadas.

    Naquele instante, Marie desfizera a magia sobre eles, e Kristen e Elliot correram o mais rápido que puderam até Elena. Viktor, no entanto, ficara estático.

— Elena! — Elliot gritara de desespero, jogando-se sobre suas pernas, rapidamente pegando o corpo de sua irmã em seu colo. As lágrimas rapidamente inundaram sua face, em sua voz estava o desespero puro e simples. Ele segurara a cabeça de com a sua mão, e procurara com desespero o olhar dela. Kristen não conseguia controlar os soluços que invadiam sua garganta.

    Elena estava fraca, a adaga em seu peito havia se desfeito com o que os últimos fios de magia lhe abandonara. Sua roupa estava encharcada de seu sangue, sua pele pálida, seu olhar vago.

— Pelos Deuses, não! — Kristen gritara rouca em um lamento doloroso, escondendo seu rosto entre suas mãos, inclinando seu corpo sem forças para se manter sobre suas pernas. Elliot, porém, sequer conseguia falar sem que sua voz falhasse em sua garganta saindo em gemidos roucos.

— Ell... — Elena tentara falar, novamente se sentindo sufocada com seu próprio sangue, engasgando e lançando pequenas gotas vermelhas sobre Elliot.

— Minha irmã — ele choramingou, sua voz embargada e seus olhos inundados denunciavam o seu desespero, quase sem forças para falar — Não nos deixe, por favor. Eu não posso suportar — o soluço explodiu em sua garganta, e tudo parecia ficar negro ao redor deles, como se as trevas daquele instante os cercassem e os abraçassem.

    Kristen colocara sua palma sobre o rosto de sua irmã em prantos. Se sentia tão fraca quanto a própria Elena.

— Não vá Elena, não pode ir! — ela disse entre soluços. Em seu peito ela sentia seu próprio coração dilacerando lentamente, caindo pedaço por pedaço, parte por parte até não sobrar mais que ruínas. As lágrimas sobre a face dela caíam lentamente sobre sua roupa, em si ela sentia a maior dor de todas a tomá-la.

— Meus... irmãos — Elena dissera com a voz baixa enquanto do canto de seus lábios escorria um filete de seu sangue enquanto seu coração batia lento, finalmente lhe deixando anunciando sua despedida com fortes pancadas.

    Elliot. Seu eterno menino lavava seu próprio rosto com lágrimas, os lábios curvados em lamúrios, o rosto retorcido em choro. Mas ainda assim naquele instante ela conseguia ver os olhos deles. Os doces olhos de mel que gravara em sua memória para sempre. Os olhos da criança que brincava sentado sobre a terra, passando seus dedos entre os grãos desenhando uma figura qualquer. Elliot, seu doce e eterno Elliot. Ela sabia que mesmo que não o visse nunca mais, ela jamais poderia esquecer aquele rosto risonho de olhos de mel. Ele tinha uma grande parte de seu coração.

     Com dificuldade ela movimentou sua cabeça, olhando com grande esforço para as íris que carregavam o mar e toda a alegria do mundo. Kristen chorava copiosamente, lágrimas pesadas que marcavam sua pele, lamentos sôfregos. Mas ainda assim era sua Kristen, sua doce menina risonha e travessa. Os cabelos ruivos, embora agora cortados de forma irregular ainda irradiavam o brilho de um pôr do sol em toda sua beleza. Os olhos injetados em lágrimas ainda assim carregavam toda a pureza de um paraíso intocado, uma beleza angelical, indigna dos homens.

    Kristen, sua sempre irmã, confidente, e querida menina. Naquele instante triste, por mais doloroso que pudesse ser, Elena tivera sua recompensa ao ver em sua frente a mulher e o homem que havia ajudado a formar. Deuses, sua alma estava radiante de orgulho e amor, pois vira claramente que sua missão estava cumprida. Ela estava em paz.

— Prometeu nunca nos deixar — Elliot chorou encostando seu próprio rosto ao rosto frio e pálido dela, saltando em soluços que rasgavam sua garganta como adagas — Elena, não posso suportar, não posso!

— Minha irmã, por favor, eu imploro, não pode nos deixar, não posso deixar que faça isso! — Kristen sucumbira sobre o corpo da outra deixando que suas lágrimas morressem sobre as vestes manchadas em escarlate de sua irmã. Deuses, quanta dor a tomava ali!

    Elena, com a pele pálida e fria, os lábios secos e voz rouca a olhou debruçada sobre seu corpo naquele instante. Ela sempre, por toda a eternidade os amaria.

     Elizabeth rolava pelo mármore, sentindo a dor da morte a cercá-la com grande garras que rasgavam seu coração e sua pele impiedosamente. Os soluços de dor saíam de sua garganta como um monstro a rasgá-la por dentro. Ela fincou as pontas de seus dedos no chão, rastejando enquanto sua visão lhe mostrava seres horrendos, monstros que a cercavam com olhos famintos, rindo e deliciando-se de seu tormentos. As sombras estavam por toda parte, passando ao redor dela e rindo, quanto ela rastejava tentando fugir deles.

— Se afastem de mim — ela gritou em desespero, vendo as sombras de olhos em sangue aproximarem-se de si com sorrisos perversos de dentes afiados prontos para rasgarem sua pele entre suas presas — Vão embora!

     Ela estava sem forças, a dor se alastrava pelo seu corpo como garras a deslizar por sua pele, marcando-a com as veias negras que começara a surgir pelos seus braços. Lentamente e letalmente as veias se alastravam pelos seus braços, desenhando-os e alastrando-se por todo o seu corpo. As sombras riam perversas, passavam ao seu redor deliciando-se com seu sofrimento, alimentando-se de sua alma com prazer explicito em seus lábios perversos. Ela estava com medo, seu corpo tremia sem sua permissão e ela estava com muito medo. Quando a pontada em seu coração fora forte demais para que pudesse controlar ela saltara, deitando de barriga para cima, contemplando o lustre acima de si. Viktor, ainda parado finalmente conseguiu entender que aquilo era de fato fim de tudo. Tudo ainda parecia se desenrolar lentamente. Seus olhos atônitos percorreram uma pequena parte onde vira o corpo de Elena deitado sobre o colo de Elliot, e Kristen ao seu lado debruçada sobre o corpo ensanguentado de sua irmã. O sofrimento saltava de suas gargantas rasgando-a de forma feroz, lavando seu rostos de lágrimas e contorcendo suas feições caretas de dor.

     Mas fora sobre o corpo envolto em negro que rastejava a alguns metros que seu olhar recaíra com grande peso. Elizabeth estava ali, caída e sofrendo, gritando para algo que ele não podia ver, mas sobretudo ela estava derrotada. Ele sentiu seu coração, embora inativo em seu peito, saltar. Ali, sobre o mármore sujo e destruindo em sua boa parte, Elizabeth rastejava gemendo de dor enquanto veias negras subiam pelo seu braço.

    Viktor fechara seu punho com força, depositando dentro do bolso de suas vestes o colar que Elena havia posto em se poder. Então, com passos pesados e olhos estáticos ele caminhou sobre o mármore sob seus pés em direção aquele miserável corpo consumido de dor.

    Seus passos reverberavam como ecos em uma grande sala vazia, e a medida que se aproximava o som de seus sapatos sobre o mármore pareciam aumentar. Elizabeth fitava o lustre e o cenário cada vez mais parecia escuro e cheio de trevas, as sombras ao seu redor passavam como abutres esperando sua carcaça para o jantar. Mas então, quando um rosto pálido surgiu em seu campo de visão, as sombras pareceram sumir por um instante.

— Meu amor — ela disse em um suspiro, deixando então que um sorriso surgissem em seus lábios embora a dor fizesse morada em si, e o prato em sua garganta.

Viktor a fitara sem expressão, enquanto ela rastejara sua mão buscando alcançar as vestes dele. Ele recuara, negando seu toque em claro repúdio.

— Viktor, — ela continuou com a voz baixa — meu amor, me ajude.

Ele a fitara duro, engolindo em seco finalmente dobrando seus joelhos, abaixando-se ao lado dela.

— Se negaste ao direito de falar de amor quando me amaldiçoaste, Elizabeth — ele disse mórbido, sentindo seus olhos queimarem, mas lutando para conter as lágrimas que não mereciam serem derramadas.

— Não — ela disse em um suspiro, fazendo um movimento negativo com a cabeça, mas logo retorcendo seu rosto em uma careta de dor — Eu nunca deixei de amá-lo. Nem mesmo quando declaraste me odiar. Nem mesmo quando me destruíste, Viktor.

     Ele recebera as palavras dela com frieza, sem conseguir sentir nem mesmo o sentimento que talvez de fato estivesse por trás daquelas palavras.

— Eu não a destruí, Elizabeth. Pelo contrário, eu fui atrás de ti quando sumias na floresta. Eu tentei salvá-la da tua alma perversa quando cega de um ódio infundado tu buscaste tua destruição.

— Tu não podias me amar — ela disse com voz chorosa — tu destruísse a Elizabeth que amou você do modo mais simples e puro.

— Eu tentei salvar você, Beth! — ele gritou socando o chão enquanto as lágrimas romperam sua resistência e deslizaram por sua face — Eu lutei por você contra a sua escuridão! Eu chorei por você dias e noites quando a via se afastar de mim, quando eu via que estava perdendo essa luta, que estava perdendo você!!

— Eu não podia perdê-lo — ela disse entre lágrimas, fitando-o com o pranto a nascer e saltar de sua boca — Eu não suportava vê-lo com ela, amando ela e não a mim que dediquei minha vida a você!

— Eu amava você, Elizabeth

— Não como eu o amava — ela disse interrompendo-o.

— Mas eu a amava — Viktor tinha seu punho fechado contra o chão e escondia seu rosto do olhar dela mantendo sua face virada enquanto as lágrimas tomavam sua pele e morriam em seu lábios curvados — Eu amei você mais do que tudo. Eras tudo que eu tinha, foste meus pilares de sustentação por toda a minha vida, a irmã e confidente que nunca pude ter — a voz dele estava embargada, cada uma de suas palavras saíam sôfregas enquanto em seu peito era como se seu coração estivesse sendo arrancado de si de pedaço em pedaço, em uma sintonia eterna de dor e sofrimento.

     Ela, também com seu rosto em lágrimas, se forçara para que suas mãos pudessem se erguer, e lutando contra o peso de seu corpo cada vez mais consumido pelas veias negras alcançou o rosto dele, segurando o seu queixo o incentivando a olhá-la. Quando o rosto contorcido em pranto a fitou, ela o olhou nos olhos que transbordavam de lágrimas e deslizou a ponta de seus dedos sobre a finas gotas que desciam pela face pálida, sentindo a pele sob seu tato como ansiara por tanto tempo.

— Eu não podia amá-lo apenas como um irmão, meu amor — ela disse com a voz sufocada, logo sentindo a dor tomar novamente o seu corpo, fazendo com que saltasse rapidamente com o impacto da dor. As sombras estavam novamente se aproximando, mas ela lutara para falar tudo antes que não pudesse mais resistir — Eu o amo mais do que amei a mim mesma. E mesmo que eu tenha cometido atrocidades por esse amor, no fundo aquela menina que o viu pela primeira vez no jardim ainda estava aqui, sempre a cultivar um amor puro dentro do peito. Mas eu não pude evitar que o ódio me cegasse, e quando vi, aquela menina que o fazia sorrir se escondera em um lugar escuro em que eu não quis mais procurar — ela deslizara seus dedos sobre a face dele fitando-o com o mesmos olhos de quando o vira pela primeira vez — Meu amor por você, Viktor, sempre foi e sempre será imortal.

    Viktor então segurou a mão dela que estava sobre sua face, e abaixando-a junto a sua ele pôs a dele mesma sobre a dela, que lentamente também recebia as sorrateiras veias negras.

— Eu nunca irei me perdoar por tê-la perdido — ele disse enquanto uma de suas lágrimas precipitara-se no ar e repousara sobre os lábios pálidos e secos dela.

     A alguns poucos metros Elliot chorava junto ao corpo de Elena, cada vez mais pálido e frio. Kristen estava debruçada sobre as vestes sujas de sangue, e sentia sobre a metade de sua face o sangue de sua irmã marcá-la de vermelho. Seu coração estava destruído. Ela saltava ao que os soluços saltavam de sua garganta, e seu rosto já inchado de lágrimas retorcia-se na mais pura expressão do sofrimento.

     Elena, muito fraca, ainda assim lutou procurando os últimos resquícios de de forças em si e então, conseguindo depositar sua mão sobre os fios ruivos da cabeça deitada em seu abdômem, e olhando com esforço para o rosto que chorava banhando seus cabelos, disse pela última vez o que seu coração sentia.

— Eu os amo mais do que a imensidão do universos e todas suas estrelas — sua voz saira baixo e sufocada, de forma lenta e dolorosa.

     Sobre a pele de Elizabeth algo como cascas começaram a se formar, ela parecia a cada instante estar se desfazendo em pedaços, como se fosse uma boneca de porcelana oca, e houvesse quebrado. Ao ver aquilo Viktor entendera que seu tempo estava chegando ao fim, e desesperado pediu com urgência uma única e verdadeira prova de amor.

— Elizabeth — ele deslizou sua mão sobre a face dela que aos poucos fora se desfazendo sob seu toque, caindo dentro de seu corpo oco em pedaços pequenos. Ele recuou seu toque — Elizabeth, por favor, pela última vez, faça o certo. Eu imploro, por favor, me livre deste tormento, e livre de minha maldição. Não me deixe viver assim atormentado, eu não posso mais suportar esse infinito de dor e sofrimento.

   Ela estava pálida, sua pele cada vez mais desfazia-se em pequenos pedaços. Ela estava cada vez mais distante.

— Eu não posso — ela disse em um suspiro rápido, enquanto sentia cada vez mais as sombras a cercá-la.

— Como não? — ele perguntara atordoado — Tem de me livrar desta maldição, eu imploro! — ele disse com desespero.

— Eu não posso retirar a maldição, Viktor — sua voz saiu fraca enquanto o olhar dela o fitava vago e sôfrego — Somente aquela que o amaldiçoou poderá libertá-lo.

— Tu amaldiçoaste-me, Elizabeth — ele disse angustiando, com ainda mais urgência em sua voz — Somente tu podes me salvar!

     Ela então, deixando uma última lágrima escorrer pela sua face, forçou sua mão a se erguer. Com esforço ela deixou que sua mão deslizasse sobre o seu colo lentamente, e pousando sua mão sobre o seu coração ela forçou-a contra seu peito. De um pequeno estalo oco, Elizabeth rompera a sua caixa torácica que se desfazia rapidamente em pequenos fragmentos de si, e mesmo com dor, ela puxara de dentro de seu peito o seu coração cinza, logo levando sua mão em direção a Viktor, pondo sobre a palma da mão dele o seu órgão que pulsava devagar sobre a palma dele. Ele, por sua vez a olhara com espanto, sentindo sob seu tato o coração pulsando devagar, em um prefácio da morte. Então, em seu último suspiro de vida, ela o fitou e com a voz fraca disse:

— Não fora eu quem o amaldiçoara, Viktor — Naquele instante ela olhara para cima, as sombras lhe cobrindo rapidamente, sua pele se desfazendo reduzindo-se a pedaços que logo viravam pó. E com o fechar de seus olhos, uma última imagem de Viktor perpassou por sua mente, quando finalmente seu corpo inteiro desmoronara e desfizera-se em uma fina poeira negra, que o vento levara com sua brisa.

     Elena, por sua vez, antes de partir podia ver sua mãe e seu pai sorrindo a sua espera. Alninaram estava do seu lado e logo e espectro de Marie se juntara a eles, e com um último sorriso, seu corpo acendeu em luz e rapidamente se desfizera em delicadas partículas brancas brilhantes que fora carregada de forma suave pelo vento. Kristen acolhera-se nos braços de seu irmão em pranto, ambos mergulhados no mais tortuoso luto.

    Viktor, do outro lado fitava com os olhos pesados o coração morto em suas mãos, vendo o mesmo lentamente despedaçar-se assim como Elizabeth e se desfazer sob seu tato em apenas uma poeira negra que escapara por entre seus dedos. Ali, com as lágrimas presas em seus olhos, Viktor vira assim como Elizabeth sua esperança se desfazer em apenas uma poeira negra, e naquele instante ele entendera que a morte nunca mais deixaria de fazer morada em si e que ele, nem mesmo no melhor de seus sonhos, deixaria de ser uma aberração.

          

Elena na imagem:


_________________________________________________________________________________________________

15738 palavras

*Id est animam pro anima - Uma vida por uma vida

Olá, olá Jubinhas de meu ❤❤❤

Que capítulo foi esse? 😲Deuses, até agora estou triste com essas mortes

E como assim não fora Elizabeth que amaldiçoara Viktor? Deuses, e agora que Elizabeth está morta, o que vai acontecer?! 😲

SURTEM COMIGO POR FAVOR!! E NÃO ESQUEÇAM DE ME CONTAR AS CONSPIRAÇÕES QUE SEI QUE VOCÊS TEM DE MONTE! 🔊🔊😨

Aguardo manifestações 🎉🎉

Façam uma GUERRA nos comentários 📣📣

Que tal uma ⭐?

Até logo ❤❤

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