Laço de cetim

By Margarethhale

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A história se passa na Inglaterra de 1875 e conta a história de duas famílias intimamente ligadas, os Woody e... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26

Capítulo 27

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By Margarethhale

            Nos últimos dias ela tinha certeza de que havia algo de muito errado, pois sentia mais dores do que o habitual, mas talvez fosse apenas normal, pois o médico imaginava e lhe dizia que provavelmente ela não conseguiria levar a gravidez adiante a aquele tempo que já havia levado, 7 meses e meio. A barriga parecia tão redondinha, grande e pontuda, em sua cintura e corpo magro que mais parecia uma coisa que não era sua, mas nos últimos dias apenas se permitia ter bons pensamentos a respeito, mas não muitos. O corpo permanecia fraco apesar da dieta especial que era obrigada a ingerir, cheio de frutas, carnes, leite, verduras e grãos. Apenas pensava o quanto seria maravilhoso quando tudo aquilo terminasse, quando pudesse tomar um banho sem ajuda, ou ir ao toalete como uma pessoa normal, quando poderia finalmente andar de verdade, acreditava inclusive que as pernas haviam esquecido como se fazia. Céus, como queria tocar o piano, isto tinha certeza que seus dedos jamais esqueceriam, estava impregnado em seu sangue, em sua alma, em todo o seu ser, e às vezes se pegava tamborilando em cima do lençol sem motivo aparente. Remexeu-se na cama pouco a vontade. Escutou a maçaneta girar e passos pesados.

— Não preciso de nada agora Nancy, obrigada. — Disse fazendo uma alusão a uma empregada que lhe cuidava. Tinha os olhos fechados com força, pois sentia-se cada vez mais sonolenta com o tempo. Uma figura moveu-se a passos vagarosos pelo quarto em direção à ampla cama com dossel muito peculiar, pois na parte da madeira erguiam-se flores de metal com seus cabinhos e folhas. Do restante o quarto parecia um exagero de branco, incluindo cobertores, lençóis, travesseiros, cortinas além do piso muito brilhante como se houvesse acabado de ser limpo. Pela janela escapava uma luz quase opaca por entre frestas atingindo o chão. Um par de vasos com tulipas parecia ser a única coisa com alguma cor no ambiente, pois de fato nem sua atual habitante tinha alguma coloração.

— Oh Nancy eu sei que está na hora de consumir minhas vitaminas, mas se eu tomar aquele seu suco verde de clorofila novamente vou vomitar. Deixe-me dormir mais um pouco, eu te peço. — Ela virou o rosto ainda com olhos fechados de modo bastante preguiçoso e o cabelo ruivo soltou-se mais em meio aos travesseiros causando contraste gritante. O visitante sentou-se em uma poltrona e pegou uma grande mecha ondulada entre os dedos. Margareth abriu os olhos tomada de surpresa, mas não maior do que a que teve com o que viu. Respirou de modo tão rápido e se encolheu de súbito que mais parecia haver acabado de ser atingida em cheio por um raio, um destes perdidos por Zeus. O movimento a fez sentir uma pontada terrível na coluna, o que a fez soltar um leve grito que teve de disfarçar. Puxou mais os lençóis sobre si. Os olhos que a encaravam não deveriam pertencer a nenhuma criatura humana, tão pouco o resto do rosto com seu queixo proeminente e barba descaradamente por fazer, e a mecha de cabelo ondulado caindo sobre a testa. Tinha aquela energia absurda exalando para fora dele, e não se tratava do seu cheiro de almíscar e hortelã fresca. Um gosto estranho brotou no fundo de sua garganta, podia-o sentir muito claro esganando-a, fazendo com que engasgasse. Reparou que ele não usava o casaco e pelo visto estava também sem colete e gravata, de um modo excessivamente despojado, e com isto com a camisa branca fina de linho podia ver muito bem o desenho de seus músculos tão sinuosos. Ele tinha uma expressão carregada quando a encarou e ela sentiu arrepios atravessarem todo seu corpo de modo quase sobrenatural.

— Aquelas traidoras! — Grunhiu entre dentes fazendo com que suas sobrancelhas quase se juntassem com uma ruga tendenciosa.

— Traidoras? Quem? — Questionou Diego com seus olhos verdes de um tom mais claro que o habitual e tinha uma curiosa ruguinha na testa. Havia alguma paz estranha em todo ele, mas talvez não fosse paz.

— Você não... Céus, o que faz aqui Diego? Não quero uma nova discussão, não apenas tudo novamente. — Ela soava claramente exausta, mas ele não podia deixar de encarar seu rosto pálido.

— O que há aqui? Deus, está doente! — Sua voz preocupada soou retumbante, enquanto ele tocava a testa dela envolta em transpiração. Os dedos dele tão quentes sobre sua pele fizeram todo seu corpo estremecer. Tinha a clara sensação de odiá-lo e de querer envolvê-lo com seus braços até que ele evaporasse de encontro a sua epiderme. Por todo o caos que causara em sua alma que antes pensava ser forte e que agora sabia o quão frágil era, como uma borboleta pequena e rara, tinha sérias mágoas que quase a impediam de respirar.

— Tolice, estou bem, é apenas um resfriado.

— Estranho, nada a faz se afastar daquelas malditas teclas pelas quais é obcecada. Não... não um resfriado. — Havia um leve sorriso em sua voz.

— Pensei... — Fechou os olhos com força. — Pensei que... Que fosse um adeus Diego, da última vez. Demônios, o que raios faz aqui? Pensei... pensei que estivesse raivoso comigo. Disseste...

— Eu costumo dizer muitas bobagens quando estou com raiva, deveria saber. — Tocou novamente sua testa com as sobrancelhas indo de encontro o que a fez tremer. — Margareth, está com febre!

— Diego, vá, eu preciso... — Moveu-se no colchão e instintivamente levou as mãos a frente arredondada e pontuda a fim de protege-la, embora não houvesse um perigo real. Não pode ver Diego tornar-se lívido como cera, e toda sua expressão se petrificar quando ele fez o mesmo gesto e depositou as mãos por sobre as dela. Margareth sentiu mais como um golpe em seu estomago quando percebeu que já não poderia mentir. Ele fez o mais impulsivo, afastou os lençóis observando a elevação absurda na barriga dela, por sobre a camisola fina de ceda branca. Levou as mãos a aquela bolinha, com toda a palma esticada.

— Isto, isto é... — Gaguejou ele incrédulo e seus dedos a acariciaram.

— Um erro. Um erro tremendo. — A voz embargou-se, e tinha lágrimas na garganta que começavam a querer transbordar também por seus olhos. — Por que retornou?

— Eu sinto muito. — Murmurou ele encarando-a, mas ela não pode evitar de virar o rosto, ou a vontade de querer estapeá-lo.

— Não sinta, não é seu. — Engoliu em seco quando o disse, e soltou um leve sorriso. Mr. Salles a olhou com grandes olhos verdes escuros tornando-se mais e mais próximos a coloração negra.

— Do Duque? — Soltou um sorriso impregnado de ódio e deboche, e alcançou com uma mão o rosto dela esfregando o dedão em seu maxilar. Margareth suspirou pesadamente desviando encarando-o, emergindo para dentro de suas profundezas verdes como esmeraldas corrompidas.

— Sim. — Sussurrou.

— Nunca foi uma boa mentirosa, talvez eu devesse lhe dar algumas aulas.

— Talvez... Talvez devesse voltar para a Espanha, para a sua atual tola mulherzinha, para o seu jogo. As coisas de que te mantem entretido, pois nós dois sabemos que uma esposa não o é.

— Margareth. — Ele levantou-se e logo se inclinou a ponto de seu rosto ficar muito próximo ao dela. — Continua sendo a mesma de sempre. Talvez se não houveste colocado terceiros nesta relação, talvez houvesse uma esposa, talvez houvesse um casamento, talvez houvesse eu e você. — Ele podia sentir o calor emergindo em sua alma o chamando para provar um pouco, seus lábios tocaram levemente aos dela, um roçar quente e perdido quando um estalo em sua cabeça o despertou finalmente, se afastou virando-se de costas.

— Foi um erro! Este casamento... — O tom de sua voz elevou-se e sentiu uma pontada entre as costelas que a fez reprimir um grito, gemeu de modo abafado.

— Finalmente concordamos em algo. — A boca dele era uma linha fina, mas quando se virou e a viu em sua mais completa expressão de dor todo o seu ser rancoroso tornou-se cinzas. Cinzas de dragão. Aproximou-se e lhe segurou a mão que ela apertou com força sentindo novamente a pontada mais forte se espalhando por todo o seu ventre. — Há algo que eu deveria saber sobre você e este bebê não é?

— Eu só preciso respirar. Preciso descansar. — Arfou em busca de ar.

— Tenho que novamente lhe dizer o quanto é ruim mentindo?

— Diego, por favor, apenas não é a hora.

— Há algo de errado com o bebê, o que? — Os olhos dele se encheram de uma preocupação incomum a ele.

— Diego, apenas, por favor.

— Ele não está bem?

— Céus Diego, eu nem sei se este bebê continua comigo, ele não chuta há dias, embora ele quase não se mova mesmo de modo que... — Ela engoliu em seco, fechando os olhos. Diego tocou sua testa e a acariciou com o dedão.

— Estou aqui agora não estou? Você sabe que a protegeria do mundo se fosse necessário. Vou cuidar de vocês dois. Eu nunca mais a deixarei. — Beijou delicadamente sua testa antes de ela soltar um grito forte. A porta se escancarou e por ela passou uma mulher pequena de braços fortes. Chamava-se Nancy.

— Miss Woody, o que está acontecendo? Céus, deve ter entrado em trabalho de parto, vou mandar avisarem ao médico. Não poderia ser pior. — Sussurrou a última frase e saiu correndo pela porta.

            O médico chegou logo e permaneceu dentro do quarto por mais tempo do que Diego gostaria. Enquanto esperava do lado de fora mil pensamentos turbulentos corriam em sua cabeça em um redemoinho. Havia passado muito tempo longe de Londres, longe do seu país. Na Espanha houve muito tempo para pensar sobre as coisas, mas não podia negar que sim em meio a raiva havia conhecido a outras mulheres, não podia negar que tudo isto era fruto de sua vingança hostil e que fora longe nela. O nome de uma delas era Joanne, uma linda mulher de cabelos intensamente escuros e olhos castanhos profundos e perigosos. Tratava-se da amiga da filha de um de seus tios de nome Augusto onde ficara hospedado por não mais que uma semana, até encontrar uma casa de seu agrado para morar. Tal casa antes pertencia ao pai de Joanne que morava a poucos metros dali de modo que tudo pareceu arquitetado. Ela o visitava teoricamente despropositadamente quase todos os dias sem uma dama de companhia, mas jamais a havia levado para a cama. Quando descobriram sobre eles, o pai dela o acusou de sedução, uma besteira, pois aquela mulher com seus 22 anos não era nenhuma inocente, e sabia ele, ela não era virgem e tivera até onde sabia alguns amantes, não que se incomodasse com uma mulher com mais experiência, não era o caso. O pai dela tentara forçar um casamento, e quando percebeu estava envolto em toda uma teia criada por esta família. Seu tio teve de interceder, com o mais que podia, e por pouco se livrara daquela constrangedora situação. Poderia ter levado adiante aquela situação e tornado ilegalmente Joanne sua esposa, gostaria muito de trazê-la ali no casamento de Amy e que Margareth os visse juntos, pois ela e o Duque muito lhe haviam roubado. Havia sido um tolo.

            No entanto agora a tendo tão perto de si e na situação que se encontrava, pensava que jamais, apesar de toda sua arrogância, de seu orgulho tosco, poderia perdê-la sem protestar, entrega-la a qualquer um, pois Margareth estivera em sua vida desde que havia inspirado pela primeira vez, se alguém tinha o direito de continuar tendo-a em sua vida era ele, e não um estúpido Duque. Deveria engolir seu ódio, pois ele não era parte de si, ou pelo menos não deveria ser. A culpa lhe arranhava as entranhas de um modo constrangedor, como poderia tê-la deixado? Como poderia ter estado com outras mulheres quando ela era absolutamente tudo que queria e desejava? Mas ter um bebê? Apesar de tudo, de tudo o que fizera isto o havia pego de surpresa. Nunca pensara realmente em ter um filho, não, nem no momento em que a tomara em seus braços e depois lhe dissera tolices.

             O médico abriu a porta e escapou para fora do quarto com uma pequena maletinha de aparatos, tinha o semblante demasiado cansado apesar de ser manhã ainda e respirou pesadamente antes de se dirigir a Diego e a Senhora Nancy que apertava as mãos.

— Não chegou a hora ainda, mas provavelmente isto ocorrera daqui uns dias. É preciso que estejam atentos e que evitem lhe causar fortes emoções. Qualquer coisa mande me chamar.

Quando Diego voltou a entrar no quarto, ela continuava na mesma posição, mas com olhos sonolentos quase se fechando. Caminhou até a cama, e sentou-se ao lado dela.

— Como está o filho do Duque? — Ele riu bobamente, e lhe beijou a testa sem notar a careta que ela fazia. Logo ela estava completamente entregue a um sono pesado, mas ele ainda segurava sua mão e não podia deixar de olha-la com o olhar mais doloroso que podia revelar ao mundo. — Se soubesse de tudo isto, eu teria voltado Margh, por Deus que teria voltado por você... Por vocês. Perdoe-me querida por ser um grande tolo.

            Os dias que se seguiram não foram mais fáceis ou cômodos, não havia no final como ser diferente deste retrato torto. Os céus não pareciam menos cinzentos ou desnuviados, o vento não parecia menos gelado sobre a pele e Margareth não parecia disposta a ceder, na realidade mal permanecia acordada, pois sentia-se indisposta com mais frequência do que o habitual. Diego tentava ficar ao seu lado a maior parte do tempo e por vezes dormia na cadeira estofada ao lado da cama, sem nunca protestar ou qualquer coisa do tipo. Era verdade também que ele vinha bebendo mais do que o habitual, mas era de conhecimento comum que ele sempre o fazia em situações estressantes algo que sua esposa consideraria indecoroso se estivesse em estado de lhe julgar. Como não estava, seu melhor amigo era um copo de whisky escocês amarelado como o ouro que costumava levar aos lábios sempre antes de dormir pois parecia a única forma de aliviar sua culpa tão devastadora e rude de modo que não pretendia abrir mão disto. Quando chegou a hora, Margareth gemia e gritava de dor, de modo que todos os empregados da casa acordaram de madrugada assustados e imediatamente o médico foi trazido para auxilia-la.

             Dr. Penn não aceitou que ninguém entrasse naquele quarto com exceção de Nancy que lhe serviria como auxiliar de enfermeira. O parto durou cerca de intermináveis 3 horas, e quando o sol tingiu com seus raios a escuridão da noite, um choro fraco pode ser escutado pelo corredor, mas isto durou curtos instantes os quais o coração de Salles batia de modo irregular e descompassado, até que também este ruído sessou e pareceu não restar nada. Diego não podia esperar por mais, pois não aguentaria de como que invadiu o quarto. Dr. Penn com seus grandes olhos castanhos cansados algo que parecia até certo ponto típico a ele estava ao lado de Margareth Anne que parecia desacordada e pálida como nunca antes a havia visto. A um canto Nancy segurava um bolinho envolto em cobertores brancos e de seus olhos escorriam lágrimas cristalinas.

— Mr. Salles! — Disse o médico um pouco assustado ao vê-lo se mover rapidamente para perto de Margareth.

— Isto não é possível, ela não está...

— Morta? Não senhor, ela perdeu muito sangue depois que o bebê veio ao mundo e desmaiou em sequencia. Cogitei uma transfusão, mas só faria em um caso um pouco mais extremo já que é muito arriscado por muitos motivos e nesta casa não há nenhum parente consanguíneo da paciente, o que torna tudo mais perigoso. Precisamos esperar para ver como ela estará. — Concluiu o doutor arrumando o óculo em seu rosto. Diego sentiu seus membros mais pesados do que o habitual quando se ajoelhou ao lado da cama segurando a mão dela. Toda a sua alma parecia estar se destruindo com uma pancada forte e sem som. Não pode perceber quando o golpe atingiu seu espirito, apenas pode sentir começar a esfarelar-se e se perder dentro de uma neblina densa. Céus como poderia ama-la mais, quando ela significava tudo o que gostaria de ter? Uma mascara era tudo o que agora era o seu rosto, olhava-a e não poderia acreditar. Deitou a cabeça em seu peito, o único lugar que gostaria de estar e emergiu de vez em sua própria tristeza, sendo atingido por ondas frias e lentas, uma atrás da outra.

             A um canto no quarto Nancy ainda segurava o bebê que não se movia em seus braços, por algum momento pensou que ele estivesse morto, afinal era difícil que ele tivesse um outro fim sendo um prematuro, sendo tão pequeno como era, afinal tinha de confessar que nunca virá uma coisa tão pequena.

— Ele é muito pequeno senhor, muito frágil, não sei se vai resistir. — Disse a Diego, mas este não pareceu se importar ou mesmo escuta-la, então ela levou o bebê mais próximo ao rosto para tentar sentir sua respiração, de fato era fraca, mas ele continuava ali.

— Dê-me o bebê aqui Nancy, veremos o que podemos fazer por ele. — E o médico estendeu os braços recebendo a pequena criatura e saiu do quarto sendo seguido pela empregada.

            Uma nova manhã se iniciou transbordando o céu de cores. Pássaros emergiam na imensidão azul claro e faziam das suas estripulias com cantos primorosos e repetitivos. Diego dormia em uma cadeira ao lado da cama de Margareth tendo sua mão ainda sobre a sua, quando ela se remexeu e abriu os olhos. No mesmo momento ele despertou tomado por um estralo forte. Um sorriso triste irrompeu em seus lábios enquanto a olhava.

— Diego. — Ela murmurou e voltou para seu sono pesado. As faces ainda não haviam recobrado a cor. Horas mais tarde apareceu Nancy a porta.

— Senhor, queria pedir a permissão para chamar uma ama de leite para o bebê, estávamos dando leite de vaca, mas isto não é bom para o bebê.

— Faça como bem entender. — Respondeu ele simplesmente de modo duro.

— E... Agora com esta criança eu ficarei sobrecarregada para cuidar do bebê e da senhora ao mesmo tempo.

— Chame outra empregada pessoal para cuidar de Margareth.

— Sim senhor. — E a mulher preparou-se para se retirar.

— Espere. — Ele mexeu nos bolsos e de lá tirou um saquinho de veludo vermelho que tilintava com uma boa quantia em moedas. — Tome. — E atirou-o a ela que apanhou no ar rapidamente.

               Margareth passou pelo menos mais 4 dias sem quase se mover em sua cama ou abrir os olhos, e quando voltou a faze-lo, era apenas um lamurio estranho.

— Diego, eu quero ir para nossa casa... Eu quero ir... — E assim ela retornou ao seu sono pesado. Diego não pode negar-lhe um pedido desses e organizou tudo para leva-la na carruagem mais cômoda que pode encontrar. Ela estava em seus braços, e quando estava mais parecia uma criança doce com seus cachos ruivos caindo pelo corpo frágil e pálido. Pode escutar bem os cascos do cavalo a porta. Nancy apareceu rápida a seu lado segurando o bebê.

— E o bebê senhor, ele ficará? — Diego não respondeu, apenas olhou para ela, e ela não pode dizer que não havia compreendido, e então ele partiu com seus ombros pesados e olhos infernalmente verdes.

           Houve o dia finalmente em que Margareth acordara e se sentia bem. Quando olhou ao seu redor levou algum tempo para se localizar e finalmente perceber onde estava. Seu quarto na casa de Salles parecia exatamente como havia deixado, nenhum móvel havia sido mudado e suspeitava que muitas das roupas que deixara para trás continuavam naquele armário alto de madeira com enfeites florais e com a maçaneta de uma pedra amarelo ouro. A sua escrivaninha também estava ali com um livro que lera meses atrás, o marcador permanecia marcando as páginas favoritas, e ele cheirava a papel e poeira. A penteadeira, a cadeira que gostava de se sentar, tudo que fizera seu mundo em alguns poucos dias, dias que não pode aproveitar completamente. Também lá estava a porta que interligava o seu quarto ao de Diego. Logo em seu campo de visão surgiu uma mulher magrinha, com avental na cabeça.

— Oh senhora Salles, finalmente despertou. Vou avisar ao seu marido ele...

— Quem é... Onde está o meu bebê? — Questionou confusa e seu coração pesou. A empregada arregalou os olhos e soltou um sorriso sem graça.

— Vou chamar seu marido. — Saiu apressada, e menos de um minuto depois apareceu a porta Diego. Seu aspectos não eram os mais elegantes, com uma barba que parecia não ser feita a dias, e seus olhos fundos, além da irregularidade de suas vestes. Ela sabia que provavelmente ele vinha bebendo demais, podia perceber em seu modo. Ele lhe sorriu de lado.

— Onde está o meu bebê? Onde? — Sua voz elevou-se quase histericamente e pode ver ele fechar o semblante.

— É melhor descansar. Ainda não está bem.

— Eu quero o meu bebê. — Chorou sentando-se na cama e levando as mãos ao rosto. — Ele não está... — Tirou as mãos do rosto e foi como se atingida por uma lâmina, tornou-se mais lívida e sem expressão e então gritou batendo as mãos no colchão e depois apertando o próprio corpo, chegando ao ponto de machucar-se.

— Margareth! Margareth pare, vai se machucar. — Gritou ele, voando sobre ela e segurando seus pulsos. Puxou-a para os seus braços fazendo-a encostar a cabeça em seu peito firme. Tinha cheiro de Whisky. O choro dela parecia tão auto que logo o deixaria surdo.

— Não, não.

— Ele não morreu Margareth acalme-se. — Segurou-a pelos ombros e olhou em seu rosto coberto de lágrimas, seus olhos vermelhos o assombraram, e então ela parou.

— Então onde ele está? Não está me escondendo nada está?

— Claro que não. Ele está na casa... Na casa de Alicia.

— O que ele está fazendo lá? Diego? — Questionou e ele levantou-se virando-se de costas e parando como uma estátua. — Traga-o agora ou não poderei perdoa-lo jamais, jamais escutou-me? — Ameaçou e ele se retirou. Poucas horas depois apareceu Nancy segurando um bolinho fofo completamente envolto em cobertores.

— Nancy, ele está vivo? Ele está bem? — Nancy sorriu e se aproximou lhe estendendo o pacotinho pequeno ao qual ela agarrou rapidamente. Olhou para o rostinho pequeno, com seu nariz pontudo, seus cílios escuros e sobrancelhas escuras em sua tez pálida. Suas bochechinhas eram grandes e estavam coradas. — Ele é perfeito Nancy? — Pegou a mãozinha pequena, mas a criança parecia perdida em algum sonho precioso.

— É totalmente perfeito. Só muito pequeno, mas tem ganhado peso como pode perceber.

— É um menino ou uma menina?

— É um menino senhora, e ele é precioso. Um verdadeiro guerreiro.

— Céus, ele é lindo. Ele parece com... Com Diego, menos no temperamento. Ele é tão calmo. Qual é o nome dele? Diego deu um? — Questionou e olhou para a mulher que apenas sorriu fracamente e balançou a cabeça negativamente como que pedindo desculpas. Margareth voltou à atenção para a sua pequena criaturinha que parecia pesar como uma pena. — Está bem. Eu preciso pensar sobre isto. Henry, acho que cai bem. Meu pequeno Henry Vitório. — Segurou a pequena mãozinha com amor. — Parece que terei que escrever a mamãe e ao papai contando sobre a novidade. — Riu.

            Um dia para o casamento, apenas um dia, tiveram de adiar a cerimonia por alguma infelicidade Amy pegara um resfriado e por uns dias teve febre. Agora estavam na cidade de Winchester, a cidade em que Nathan havia nascido a uns bons anos atrás, a cidade onde seus pais se casaram antes da vida tumultuada em Londres, e onde ele também pretendia faze-lo agora na grande catedral.

            Sophie sentava-se a um bando com Céu e Amy que agora parecia bem melhor de seu convalescimento, esta apoiava seu peso a uma árvore frondosa com um olhar distante. O céu claro e fresco da manhã espalhava o cheiro das plantas para todo o lado e de fato parecia um dia agradável.

— Estou tão preocupada com Margareth, algo me diz... algo me diz... — Disse Sophie parando o bordado que fazia.

— Não fique preocupada tia, como disse ela está apenas resfriada, como eu esses dias por isso não poderá vir. — Mentiu e sentia eu seu coração o quando aquilo era errado, e o quando também se preocupada com Margareth em seu estado. É claro que quis adiar aquela cerimonia, mas isto parecia impossível a Nathan, ao qual ela não havia revelado as circunstancias. Moveu-se indo dar uma caminhada, pode escutar ao longe a voz da mãe consolando a tia e sua preocupação apenas aumentou enquanto andava no meio de um vinhedo sem frutos. Seus pensamentos aos poucos se misturavam, surtindo novas preocupações e pensamentos pesados. Sentou-se ao chão, sem se importar com o vestido de cor amarelo que vestia. As fitas de cetim da vestimenta se arrastaram ao chão cheio de poeira. Retirou os sapatos apertados e os colocou ao seu lado, odiava aqueles sapatos, odiava na realidade sapatos como um todo, apesar de agora se vestir melhor como uma dama do que quando morava na casa dos pais, algumas coisas jamais mudariam. Os pés pequenos tocaram a terra e ela suspirou.

— Continua a mesma Amy. — Uma voz lhe exclamou e quando olhou para o lado viu se aproximar Heath, certamente que não o queria por perto, não ele.

— É aqui que se engana, pois eu não continuo de modo algum a mesma, mas não importa, eu devo ir. — Levantou-se de súbito dando as costas a ele. Heath tremeu os lábios tentando dizer algo, pois sentia que deveria, pois não haveria mais oportunidades para tal. A tinha tido perto de si por quase toda a vida e todas as oportunidades do mundo.

— Amy, você... Você cobrou-me o tempo todo que eu falasse, e eu... — Engasgou com as palavras e revirou os olhos. Ela se deteve sentindo algo pesado dentro da própria alma. — Eu... Eu sinto muito por como nossas histórias se desenrolaram, por não ter prestado atenção a você e aos vossos sentimentos. — Lamentou ele, e ela se virou.

— Provavelmente esta foi a melhor coisa que fizeste Heath, porque definitivamente eu não gostaria de estar no lugar de Aurora, pois um dia você me disse, e Deus sabe o quanto ruminei estas palavras em todo o meu ser, você disse: "Amy não chore. Algum dia entenderá o que sinto por Aurora, não se trata de amor, às vezes penso que ela é uma necessidade do meu organismo, como o oxigênio que inalo, os nutrientes que tenho que ingerir, outras vezes penso que ela é mais, que ela é parte do meu corpo, que está na minha pele, quando não posso toca-la, que está nos meus olhos quando não a posso ver, que é o meu próprio coração quando se distancia..."

— Amy... — Pediu ele e seus olhos azuis eram pesados como uma tempestade.

— Não. "Quando a afasto de mim... estou me afastando também de quem sou, e quem eu seria jamais será quem sou quando estou com ela." — Berrou as últimas palavras com os punhos cerrados e tinha toda a expressão carregada, estava atingida por uma vermelhidão raivosa e lágrimas tencionavam brotar do fundo de sua alma antes serena.

— Isso mudou. — Gritou ele, e suas mãos tremiam. — De fato quem eu sou jamais será quem eu sou quando estou com ela, porque crescemos juntos e nos influenciamos mutuamente, por vezes foi como se ela fosse o outro lado da minha alma, mas agora quando estou com ela não há nada, quando estou com ela sinto-me mais distante de quem eu gostaria de ser, eu sei disso desde o que ela fez com você. Amy... Eu sei que parece tarde demais...

— Apenas precisa perdoa-la, porque no fundo os dois se merecem, sempre se mereceram.

— Eu a amo, eu a amo Amy. Amo-te. — Brandiu ele, enquanto ela se virava para partir, seu corpo novamente se deteve e parecia empedrada, pois jamais imaginara ouvir aquelas palavras.

— Mas eu não o amo mais. — Disse simplesmente e foi como se uma porta de vidro ruísse espalhando milhões de cacos no chão.

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Tudo q tenho a dizer é que: Aguardem algumas reviravoltas! Tentarei postar no final de semana mais um cap. Está na reta final e rumo ao desfecho. Espero que apreciem.  

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