A Passageira

By ellabloomore

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Sobre uma cadeira de ônibus, é onde esta história começa. Talvez não faça sentido, mas tudo coopera. Qua... More

[Book Trailer]
Prólogo
Boa Viagem
Um dia "normal"
O estranho
Ele sumiu
Para onde for
O prédio
Ingratidão
O que é real?
Os sonhos viram realidade
Seu nome é Miguel?
Deserto
Tons de escarlate
Traidor
Feita de papel
Delírio excruciante
Imensurável
A caçadora
O Passado
O futuro
Chantagem vs Ilusões
Verdade Oculta
Em perigo
Aonde for
Enfim, nós
Fim da rivalidade
A Passageira
Epílogo

Monstro humano

384 44 11
By ellabloomore

        15h35 da tarde
(Local desconhecido)
26 de março

     " Oi, mãe! É... Normalmente, eu não estaria escrevendo pra você, mas acho que Mattew não poderia ler agora. Bom, eu vou morrer de qualquer geito. Decidi escrever, faz horas que estou sem comer, estou trancada em um quarto... Bom, não dá pra descrever bem este lugar. Quando tiver notícias de mim, se é que isso vai acontecer, fique tranquila. É isso."
       Amassei o papel e joguei no chão impecável de sabe-se lá o quê. Estava com fome, cansada de esperar que alguém aparecesse para me tirar dali. Me olhei no espelho de cristais, estava vestida em um outro vestido, um verde-esmeralda que eu havia encontrado em cima da cama acolchoada e macia. Estou parecendo uma daquelas princesinhas mimadas dos filmes medievais. Observei a janela, a cortina esvoaçante cor de vinho. Me aproximei com uma lâmpada acesa no cérebro. Amaciei a cortina de seda fina e subi nela, com um pouco de dificuldade por causa do vestido bufante. É, eu tenho razão em odiar vestidos, nada melhor que uma calça para uma fuga perfeita. E tênis! Algumas pedrinhas caíram, atingindo uma árvore enorme. Cair dali seria péssimo. Comecei a me imaginar com a cara do Frankstein e fiz careta enquanto escalava a parede tecida de galhos que mais pareciam raízes, enfeitadas de flores que se estendiam por toda a extensão do palácio que meus olhos alcançavam. Pôr os pés no chão depois de 15 minutos de escalada foi um alívio, quase me ajoelhei em agradecimento. Havia uma floresta densa e galhos com espinhos por onde eu passava. Meus braços estavam arranhados, mas não desisti. Quando encontrei uma porta de madeira. Abri-la não foi uma tarefa fácil, tive que usar bastante força, até sair suor pelos poros. Vi uma mulher, não era bem uma mulher, estava mais para estátua apodrecida de uma mulher semi-nua e acorrentada, em seu rosto que mirava o teto com grande temor, pude sentir aquela dor de cabeça, um medo correr pelas veias, flashs de memórias de outra pessoa me invadir. Um baile, vampiros dançando valsa, todos de preto e uma mulher entrava, vestida de vermelho, os cabelos pretos como a escuridão, os olhos azuis como safiras e a pele pálida, branca como a neve. Um sorriso lhe enche os lábios rosados, duas covinhas nas bochechas, Miguel a roda pelo salão e o cabelo dela liso e longo, escurece ainda mais a noite assombrosa. Posso ver os dois brigando, Miguel e Cadriel. As aves noturnas, um trovão, a escuridão e a luz do sol invadir a sala escura, a mulher acorrentada gritar de horror enquanto se petrifica. Suspiro. Meus sonhos... Eram visões! Inexplicavelmente. Estava assustada, não entendia por que ela havia sido... Morta em público. Nada nas visões explicava a causa de sua morte, exceto a briga de Cadriel e Miguel. Me aproximei para tocá-la, a estátua, mas antes que eu pudesse sentir a rigidez de sua pele enegrecida, alguém se pronuncia.
      - Não toque nela! Se triscar um dedo sequer, eu mato você! - Era a voz de Miguel. Recolhi minha mão, um tanto assustada, tentando não parecer medrosa.
      Me afastei à medida que ele se aproximava da estátua coberta por teias de aranha. Ele acariciava o rosto dela com cuidado, ela lhe olhava curiosa.
      - Eu amo você, Miguel. Quero me tornar uma de vocês, para que eu possa ficar com você. - Ela lhe implorava com o olhar.
     - Não quer o que eu tenho. - Ele sussurrou, num abraço lento e carinhoso.
     - Por você eu aceito qualquer coisa. - Ela lhe obrigou a olhá-la nos olhos. - Por favor...
     Tentado pelo cheiro do sangue que pulsava em seu pescoço, numa tentativa de eternizar seu sentimento, ele mordeu seu pescoço. Minha cabeça doía, estava tonta.
     - Francielle - ele murmurou, sem querer tocar a mulher petrificada. Eu podia sentir a dor em suas poucas palavras. - Eu a amava, como jamais amarei uma outra garota.
     - Você a transformou em uma vampira. - Falei, me arrependendo em seguida.
     Miguel me dirigiu um olhar rancoroso, cheio de ódio. Cheguei a pensar que ele me mataria ali mesmo e isso não me deu medo, por que talvez eu quisesse morrer tanto quanto ele queria me matar. Uma possibilidade distante.
      - E quase a matei na tentativa. - Ele disse, como que recordando das mesmas memórias que eu pude contemplar a poucos segundos. - Não foi suficiente para mantê-la comigo.
      - Porque ela teve que morrer? - Eu bem queria não ter perguntado nada, mas a curiosidade era maior, como sempre.
      Vi uma... Lágrima? Rolar pelo seu rosto e atingir o chão. Ele balançou a cabeça e mirou uma parede, como se tudo o que ele mais quisesse naquele momento era poder atravessá-la, ou esmurrá-la. E foi o que ele fez. Esmurrou a parede, com lágrimas nos olhos azuis assombrosos, mas não lhe bastava apenas aquilo, então ele começou a bater sua testa na parede, de maneira que o chão estremecia e o concreto se rachava, seus dentes afiados apareciam. Ele se sacudia, tremia, se transformava novamente no monstro que eu conhecia, deixando seu lado racional para lá. Ele se aproximava e eu ia de encontro com a parede espessa e rígida. Miguel estava próximo, assustador e incrivelmente forte, cortando a noite com seus olhos reluzentes. Eu podia sentir cheiro de sândalo emanar de seu corpo de forma inebriante. Quando mais pensei que aquele monstro iria me partir ao meio, ele apenas encostou sua cabeça na parede e suspirou. Seus olhos azuis reluzentes sumiram, dando passagem à olhos castanhos e perfeitamente humanos. Por mais que eu não estivesse afim de admitir, ele era de igual beleza escultural que Cadriel. Seus braços estavam tocando a parede e eu pela primeira vez, podia senti-lo menos perigoso, ali tão próximo de mim, sua cabeça a poucos centímetros da minha.
       - Eu queria muito matar você, Skyla! - Ele confessou como se fosse natural querer matar alguém. - Tentei uma vez e fui eu quem quase morreu... O que há de tão especial em você para ser imune ao nosso veneno? - Ele perguntou, estava sereno.
       - Eu não sei. - Falei, sem mais comentários. Me sentia em perigo ali, mas gostava de estar descobrindo que Miguel não era tão terrível como eu pensava.
       Ele me levou para o quarto depois, me conduzindo por um túnel pouco iluminado. Cadriel estava escorado na parede do quarto, com os braços cruzados e os olhos faiscantes. Havia uma bandeja com frutas em cima da cama. Tudo ali parecia delicioso e meu estômago roncava. Mal esperei que dissessem que era para mim, corri e comecei a retirar cachos de uva, enfiando tudo na boca, sem paciência nem para mastigar direito. Estava tão feliz por estar comendo algo, que só depois fui notar os gritos do lado de fora da porta trancada.
        - O que você quer, Miguel?! Você a odeia, tentou matá-la uma vez! - Cadriel gritou com raiva.
        - Eu só trouxe a garota para o quarto dela. - Miguel disse, calmamente.
       - Fique longe dela! Lembre-se do que aconteceu com Francielle, por sua causa ela está morta! Quer matar Skyla também?!
       - Cala a boca, Cadriel!
       - Se você ao menos tentar machucá-la outra vez, não me importarei que seja meu irmão! - Cadriel ameaçou e pude ouvir passos pesados, um para cada direção.

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