Meu Imortal - A Maldição De V...

By LarissaWalters

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HISTÓRIA CONCLUÍDA ✔ 2° lugar em Fantasia no Concurso Atlantis 1° Edição 3° Lugar em Fantasia no Concurso A.E... More

Prólogo
Capítulo I - Rosa Negra
Capítulo II - Pequena confusão
Capítulo III- Misterioso Herói
Capítulo IV- Homem de capuz
Capítulo V- Misterioso V.G
Capítulo VI- Outra vez não!
Capítulo VII - Em apuros
Capítulo VIII- Socorro
Capítulo IX- A Aberração
Capítulo X- Não é ela, Viktor!
Capítulo XI - Fuga
Capítulo XII - Alcateia
BOOK TRAILER OFICIAL (TEMPORÁRIO OU NÃO)
Capítulo XIII - Não há esperanças
Capítulo XIV - Quem sabe um começo.
Papo sério...
Capítulo XV - Lembranças
BOAS NOTÍCIAS!!!
Capítulo XVI - Fio de cabelo
Capítulo XVII - Tentando um recomeço
Capítulo XVIII - Pedido de partida
Capítulo XIX - Lar doce lar
Capítulo XX - A adaga
Capítulo XXI - Misterioso V.G. desvendado
Capítulo XXII - Pedido inesperado
Capítulo XXIII - O salão de dança
Capítulo XXIV - A Magia de uma valsa
Capítulo XXV - Visita de uma velha inimiga
Capítulo XXVI - Sonhos disformes
SOCORRO!!
Capítulo XVII - Um pouco sobre a maldição
Capítulo XXVIII - Grande confusão
Capítulo XXIX - A voz em sua cabeça
Capítulo XXX - O livro
Capítulo XXXI - As letras se revelam
Capítulo XXXIII - Fuja!
Capítulo XXXIV ­­­- O início da tempestade
Vocês decidem!
Capítulo XXXV - O retorno de Elizabeth (parte I)
Betas
Capítulo XXXV - O retorno de Elizabeth (parte II)
Alguns pontos..
Capítulo XXXVI - A voz no corredor
Capítulo XXXVII - Uma vida por uma vida (Parte I)
Capítulo XXXVII - Uma Vida por uma Vida (Parte II)
Capítulo XXXVII - Uma Vida por uma Vida (PARTE III)
Epílogo - Somente aquela que o amaldiçoou, o libertará (Parte Inicial)
Epílogo - Somente aquela que o amaldiçoou, o libertará (Parte final)
COMUNICADO IMPORTANTE

Capítulo XXXII - A Maldição de Viktor

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By LarissaWalters


      "Mansão da Família Greembell - 1664

     Viktor fitava o jardim pelas vidraças de uma das janelas distribuídas ao longo do corredor. O rosto juvenil era a mais pura expressão do tédio e os olhos transparecia certa solidão. Os funcionários passavam vez ou outra e ele virava-se fitando-os, todavia nenhum lhe dava sequer boa tarde. Ele saira dali, andando pelos corredores sendo sempre ignorado por todos e resolvera ignorar também. Ao parar na porta dos aposentos principais que pertencia a seus pais ele parou. Olhando para a madeira, ele fitou a maçaneta com certo receio, mas por fim, deixando um suspiro cansado escapar de seus lábios, ele tomou o metal dourado e frio em mãos e abriu a porta sem pedir licença. Sua mãe o olhou de soslaio antes de voltar a fitar-se no espelho envolta em um volumoso e luxuoso vestido de baile.

— O que faz aqui, Vik? — ela fitava-se virando-se levemente em diversas direções observando seus trajes de diferentes ângulos. Viktor aproximou-se da espaçosa e arrumada cama sentando-se olhando para as vidraças que davam para a sacada.

— Queria uma companhia, mãe — ele a fitou de costas a si — Todos ignoram-me nesta casa.

— Não tens de se misturar aos funcionários, Viktor, sabe disso — ela o olhou rapidamente — E não é casa. Trabalhamos muito duro para conseguir esta mansão, chamei-a assim.

— Isso não significa nada pra mim — ele disse em um murmúrio baixo e desdenhoso falando para si, todavia, pelo olhar incrédulo que sua mãe lhe lançou, ela havia escutado também.

— Não significa nada? — ela disse indignada virando-se totalmente para ele aproximando-se devagar — O seu pai trabalhou a vida inteira para construir um império, algo grandioso digno dos sonhos e do trabalho dele e agora você me diz nada disso significa algo para você?

— Esta mansão não é minha, — ele respondeu arisco fitando-a — eu não tenho de considerar nada aqui.

— Você vive aqui, Viktor, é nosso filho e herdará tudo que temos, não desdenhe de algo que está sendo construído por você.

— Não é pra mim, mãe — ele levantou-se encarando-a — Nada aqui está sendo feito por mim — ele gesticulou com os braços — Esta mansão, os móveis, os infinitos bailes tolos a fim de mostrar riqueza sobre os outros nada está sendo feito por mim.

— Como ousa falar isso? — aumentou o tom — Fazemos tudo por você, Viktor, damos tudo para você. Como te atreves a falar com tamanha ingratidão?!

— Fazem tudo por mim? — ele gritou alterado — Me dão tudo, tem certeza? Está tão cega pelo dinheiro que não vê que nada dessas coisas materiais que você insiste em falar em alto e bom som que eu tenho não é nada? Não vê que o que eu preciso não são roupas ou dinheiro e sim de pais? Você e o papai são tão cegos que mal vêem que eu não quero luxo, não quero coisas caras nem um Império para chamar de meu, eu quero uma mãe que acolha, que me aconselhe, que me trate como um filho e não me encha de coisas vazias! Quero o pai que não me ensinou a cavalgar, quero um pai presente e que saia para caçar comigo, eu quero ter os pais que nunca tive!

   Por um instante Amélia Greembell ficou parada no meio do cômodo. Viktor sentia os olhos arderem, sentia o sangue correr veloz por suas veias e havia deixado toda a sua dor transparecer. Amélia mantinha os olhos caramelos sobre ele. Diferente de todas as outras vezes, desta vez algum sentimento parecia brotar nela se não a passividade irritante e desdenhosa como sempre vira. Ela parecia de fato afetada pelas palavras dele. Pela primeira vez.

    Ela se aproximou cautelosa dele. Ele não recuou, tinha os punhos fechados ao lado do corpo e os olhos marejados de forma que logo lágrimas percorreriam seu rosto, ele sentia. Mas ele as limpou rápido. Não poderia demonstrar fraqueza quando o que mais queria era respeito e atenção. Ela se prostou a frente dele, passando a mão pelos seus cabelos os pondo atrás de orelha.

— Meu filho, eu sei que se sente sozinho aqui. Eu e seu pai sempre fomos muito ausentes na sua vida por conta da vinícola e dos negócios, mas tem de entender que tudo que corremos atrás foi para conseguir assegurar um futuro para você. Nós não queríamos ver o nosso primogênito e único filho sem um futuro por falta de dinheiro. Nós fomos ausentes no seu passado para sermos presentes no seu futuro.

— Mas eu não quero um futuro vazio como o meu passado. Eu não sou mais criança mãe, eu tenho problemas, dúvidas e eu não posso deixar de notar a ausência dos conselhos dos meus pais. Eu trocaria tudo isso que vocês dizem ser meu só para ter os meus pais.

   Ela contorceu o rosto em pena.

— Não podemos abrir mão de tudo isso, Viktor. Não podemos deixar todo o nosso trabalho para trás para nos dedicarmos em tempo integral a você. Nós o amamos, mas não podemos largar tudo por amor.

     Amélia virou-se para ele. Retornou lentamente ao longo espelho que fitava-se momentos antes e não o olhou mais. Viktor sentiu o peito desabar. Uma lágrima dolorosa passeou pela sua face e a decepção amargurou sua boca. Ele havia pedido uma coisa simples, o amor nunca desfrutado de seus pais e fora negado mais uma vez. Ele virou-se sentindo-se vazio e deixou o local".

   — Eu sempre fui um garoto solitário, Kristen — ele disse fitando vagamente as estantes repletas de livros enquanto Kristen estava sentada na cadeira o fitando de costas a si — Tive a atenção de meus pais renegada pelo dinheiro que os cegava. Minha infância foi quase toda solitária se não fosse pela minha única amiga e confidente — ele umedeceu os lábios sentido a sensação das lembranças a querer sugar-lhe da realidade — Elizabeth.

     "Mansão da Família Greembell - 1664

    Viktor caminhava solitário pelo jardim. Sentia o vento soprar seus cabelos enquanto ele fitava o chão e chutava a grama. O cheiro das fragrâncias das flores faziam seu nariz coçar, mas nem as cores alegres daquele jardim tinham o poder para alegrar seus olhos vazios e monótonos.

    Na mansão, os funcionários andavam para lá e para cá apressados, decorando, mudando, ajeitando, enfeitando tudo para um novo e vazio baile. Viktor detestava os bailes. Eram cheio que gente fútil e arrogante tentando mostrar o quanto eram ricos. Tolos. Viktor evitava o máximo que podia ficar naquele tipo de festa, escondia-se atrás das pilastras afastadas, passava pelo salão vez ou outra somente para que seus pais não notassem sua falta e o obrigasse a ficar do lado deles durante todo o vago baile. Mas eles nunca notavam. Nunca sequer notaram quando ele sumia, ia aos jardins, dava um volta aos arredores com Elizabeth. Nunca sequer notavam sua existência e isso o corroía lentamente.

    Ele sentia-se como um órfão de pais vivos. O pior tipo de órfão. Viktor afastava-se lentamente da mansão, as mãos cruzadas atrás do corpo, o olhar vago sobre a grama, o esbarrar proposital em seu ombro. Viktor desfez rapidamente sua pose procurando rapidamente o sorriso maldoso de Elizabeth. Ela tinha os braços cruzados, os cabelos loiros presos em um penteado, sombrancelha erguida e um longo vestido pomposo.

     — Deveria olhar por onde anda — ele sorriu triste de lado retomando sua caminhada passando ao lado dela a deixando para trás. Ela o seguiu — O que aconteceu? Falaste com ela?

— Falei — disse em um suspiro. — Nada. Exatamente o que resolvera esta minha atitude tola.

— Ela não quis ouvi-lo?

— Me ouviu, mas fora como se não o tivesse feito. Ela não se importa, está ocupada demais provando vestidos caros para mais um baile tolo.

    Elizabeth andava do lado dele. As mãos juntas na frente do corpo e o olhar vago na paisagem ao redor. Viktor tentava não pensar. Toda vez que pensava na infância vazia cuidado por babás chatas sempre sentia-se abandonado. Quando recordava quando sentia medo a noite depois de despertar de um pesadelo, quando ia ao quarto de seus pais temendo os monstros que poderiam estar nos corredores vazios e macabros e quando subia na cama deles para escapar do medo e então sua mãe o afagava, tomava sua mão e o levava de volta ao seu aterrorizante quarto. "Já é um rapaz – ela dizia – tem de aprender a enfrentar seus medos" e então o deixava sozinho em meio ao breu, chorando e criando monstros com a mente. Ele preferia ignorar. Esquecer nunca, não conseguia.

   — Tu irás ao baile? — Elizabeth o chamou de volta a monótona realidade. Ele a fitou rapidamente, depois sorriu de lado totalmente sem graça e voltou a fitar a grama chutando-a em seguida.

— Nem irão notar se eu for. Melhor não me notarem por verdadeira falta, é menos doloroso.

— Vik, — ela parou agarrando de leve o braço dele. Ele a fitou sem vontade — não pode se esconder deles por estar triste.

— Não estou me escondendo deles, Beth. Eu só não quero passar frente aos olhos deles e ser ignorado como se não o tivesse feito.

— E o que vai fazer durante o baile? Sabe que mesmo que não notem sua falta se tentar subir aos aposentos logo o verão e o obrigarão a valsar com qualquer uma somente para que não escapes.

— Eu não sei — olhou a paisagem de árvores e céu negro e limpo — Ficar aqui talvez.

Aqui? — Viktor não respondeu. Olhou para os pés e manteve-se quieto. Elizabeth começou a pensar em algo. Não queria passar a noite inteira no jardim e também não deixaria ele sozinho. Ela fitou ao redor, a muralha de árvores cercando a mansão ao longe, o céu limpo sem lua. Então, como um rápido flash ela teve uma idéia.

     Ela agarrou a mão dele e quando ele a olhou ela falou rápido já correndo o forçando a correr também.

— Vem, quero te mostrar um lugar.

     Ela correu, Viktor correu desengonçado sendo segurando por uma de suas mãos. Eles se embrenharam em meio as árvores da floresta, Elizabeth na frente, Viktor tentando acompanhar. O vento produzido pela corrida lançava seus cabelos para trás, vez ou outra em frente seus olhos âmbar. Elizabeth desviava rapidamente das árvores e Viktor quase batia nelas. Ele nunca fora muito bom em correr sendo segurado por alguém.

     Notando que estavam se distanciando da mansão e indo em uma direção a qual Viktor nunca houvera ido, ele parou forçando ela a parar brusca e desajeitada.

— Onde estamos indo? — ele perguntou ajeitando o cabelo atrás da orelha — Sabes que a noite há lobos por aqui. Não podemos nos distanciar da mansão.

— Você não queria fugir do baile? — ela bufou cruzando os braços — Então deixa de besteira ou vamos perder o espetáculo — ela agarrou novamente a mão dele antes que ele pudesse falar qualquer coisa que fosse e novamente correu na frente o forçando a ir também.

     Após minutos breves de corrida, ele já sentia o corpo suar por baixo das roupas fechadas e grossas. Todavia, antes que pudesse reclamar, ela parou e ele bateu nas costas dela a empurrando.

— Você é desajeitado — ela reclamou passando a mão pelo ombro. Viktor pensou em replicar, entretanto, quando as luzes verdes começaram a vagar, piscar e enfeitar diversos pontos em frente seus olhos ele preferiu não proferir nada que não fosse palavras de encanto.

    A alguns poucos metros deles estava um belo e transparente lago. A água tinha um certo brilho verde, parecia ter luz própria. Sobre as árvores e sobrevoando a água, vagalumes piscavam luzes verdes encantadoras. Parecia um cenário de magia.

    Elizabeth saiu de seu lado sem que ele mesmo percebesse e caminhou até a beirada da água agachando e passando a mão sobre a mesma.

— Sempre gostei de verde — ela comentou — então quando Marie me mostrou este lugar se tornou quase um santuário para mim.

— Quem é Marie? — ele perguntou fitando os vagalumes pequeninos aproximando-se dela que acabava de levantar-se.

— Uma amiga — respondeu simplesmente — Vende flores para ajudar na economia da casa dela. Você sabe, camponeses não tem fortunas então ela ajuda como pode. Mas isso não importa agora — ela pegou a mão dele o puxando até uma elevação em rocha próximas ao lago.

    Ela ajeitou o longo vestido e sentou sobre o rochedo batendo a mão no lugar ao seu lado convidando Viktor a fazer o mesmo. Ele sorriu levemente e sentando ao seu lado sentiu ela colocando a mão sobre seu peito o empurrando para que se deitasse. Ele o fez, colocou o braço embaixo da cabeça e ela repousou a cabeça em seu peito. O céu tinhas estrelas, brilhavam tímidas e confundiam-se com os vagalumes que passavam por ali.

    Ele sorriu. O que faria daquela noite se não fosse Elizabeth? Ele não poderia ter uma amiga melhor. Quase irmã.

— Eu amo você, Beth — ele falou beijando o topo da cabeça dela.

— Eu também amo você, Vik".

    Viktor passava os dedos sobre os livros em fila na estante cheia. Kristen tinha o Livro de Magia em mãos, fitando as palavras estrangeiras sem entender nada.

— Mas o que esta Elizabeth tem a ver com a tua história?

— Tudo. Ela foi o começo e o fim de tudo que tive. Foi uma irmã e depois a pior inimiga — ele fechou os olhos sentindo as lembranças quase a tocar-lhe a pele — Elizabeth foi a melhor pessoa que eu poderia ter para chamar de amiga. Era engraçada, as vezes tinha idéias malucas, mas sempre estava comigo e sempre dava um jeito de me animar quando meus pais me deixavam triste. Eu gostava da companhia dela, me deixava leve, me fazia esquecer a solidão e ausência dos meus pais. Ela fora a melhor pessoa que eu gostaria de ter até conhecer Marie.

— Marie? — Kristen perguntou saboreando o nome sentindo que já conhecia aquele nome de algum lugar.

— Marie Livian — ele voltou-se para ela — A moça do quadro.

    "Baile da Família Greembell - 1664

     Viktor não tinha vontade de retornar para a mansão, sabia que mais um baile tolo estava acontecendo por ali, mas também sabia que não poderia passar a noite inteira no lago com Elizabeth. Eles andavam calmos pela floresta, mãos dadas e olhos vagos em pontos aleatórios.

     A mansão já estava ao alcance de seus olhos, luzes saiam amarelas e fortes pelas janelas. A música clássica era audível e as pessoas ao longe a entrar no lugar eram apenas criaturas pequenas envoltas em vestidos caros e fraques luxuosos. Viktor parou.

— Vik, eu sei que não quer retornar para lá, mas não pode fugir para sempre — Elizabeth disse o fitando. Ele olhava para a grama no chão.

— Eu sei — ele respondeu vago.

— Então vamos, — ela o puxou levemente — quero que valse comigo.

    Ele sorriu de lado. Elizabeth puxou novamente seu braço o incentivando a andar. Ele não queria, sentia os pés pesados, mas ainda assim o fez.

    Eles andaram devagar até que chegaram perto da entrada da mansão. A grande porta dupla de carvalho estava fechada, protegida por seguranças altos e fortes envoltos em negro e sorrisos falsos. Elizabeth subiu a pequena sequência de degraus fazendo com que Viktor fizesse o mesmo embora se sentisse cada vez mais sufocado. Todavia, seguindo a fila de pessoas ricas que entregavam os convites aos seguranças, no alto da escada estava uma moça. Seus cabelos ruivos quase ardiam em brasa. Trazia uma cesta pendurada no braço cheio que rosas vermelhas e oferecia com voz doce e sorriso simples para os nobres que passavam por ali. Suas vestes eram simples o que causava um grande contraste visto os vestidos luxuosos caros dos nobres.

    Embora a moça fosse simpática e bela, ninguém parecia nota-la de verdade. As rosas que oferecia eram rejeitadas com um sorriso falso que parecia uma careta. Viktor, todavia, não conseguia não nota-la. Sua beleza parecia única, os olhos penetrantes, o jeito simples, era uma combinação doce. Eles subiram a escadaria e logo estavam frente aquela desconhecida moça.

— Como estão as vendas, Marie? — Elizabeth perguntou enquanto tinha o braço enlaçado ao de Viktor. Viktor lembrou-se do nome da moça, a que Beth havia comentado a  pouco. A moça sorriu sem graça guardando a rosa que tinha em mãos dentro da cesta junto a muitas outras intocadas.

— Muito mal, na verdade. Acho que ninguém está interessado em rosas por aqui. Creio que devo partir.

— Vou ajudá-la — Elizabeth disse lhe entregando uma moeda de prata pegando uma rosa em seguida. Ela colocou a rosa no bolso da roupa de Viktor sorrindo com satisfação.

— Obrigada, Beth — ela sorriu pondo uma mecha atrás da orelha — Eu acho que irei partir agora.

— Não — Viktor disse em um impulso. A moça o olhou alarmada. Viktor sorriu sem graça por tê-la assustado procurando desculpar-se — Perdoe, eu não quis assusta-la. Gostaria de todas as rosas.

   A moça pareceu surpresa e sorriu sem graça.

— Todas?

— Darão um belo buquê. São lindas.

    Mesmo um tanto tímida ela agarrou todas as rosas juntando-as em um buquê enrolando-as em um pano úmido para que não secassem e enlaçando-as com um laço vermelho de cetim. Ela entregou o buquê para ele, todavia ele as recusara com a mão. Ela franziu o cenho sem entender enquanto ele lhe entregava cinco moedas de ouro. Ela arregalou os olhos com a quantia alta até um pouco envergonhada.

— Eu não posso aceitar, é demais, eu não devo...

— Fique — ele apertou a mão dela com as moedas — Presumo também que são suas preferidas — ele disse referindo-se ao buquê — Considere um presente meu — Ela sorriu sem graça fitando-o e depois desviando o olhar corando em seguida.

— Por que não a convidou para o baile, Beth? — ele fitou Elizabeth que o olhou surpresa.

— Bem, eu não achei que tivesse o direito de convidá-la visto que o baile não é meu tampouco de minha família.

— Então eu a convido — ele olhou para a moça — Gostaria de me ceder a honra de uma valsa?

— Ah, não, eu não... — ficou envergonhada — eu não tenho roupas para ocasiões assim.

— Beth tem muitos vestidos, pode ceder-lhe um.

   Elizabeth o olhou surpresa. Todavia, sorriu um tanto sem graça.

— Ah, claro. Vamos, eu tenho um que ficará lindo em você.

    Elizabeth agarrou o pulso dela e a arrastou escadaria abaixo indo em direção a sua casa. A moça olhou para trás fitando-o curiosa e sorridente enquanto ele falava com os guardas sobre a entrada da moça. Ele não conseguia tirar os olhos dela".

         — Naquela mesma noite eu valsei com ela. A cada passo que dávamos eu sentia os pés flutuarem e meus olhos se perdiam nos dela como um mar a levar-me junto a correnteza — ele tinha os olhos fechados parecendo deliciar-se com a sensação. Kristen o fitava sorridente, era uma história doce e agradável de ouvir. Mas, mesmo achando algo belo de ver, se sentia também um tanto egoísta. Um aperto incomodava seu peito e ela não sabia o que era, mas não queria que ele notasse.

    Na tentativa de desfarçar o incômodo insistente, ela voltou a fitar o livro. Todavia logo arregalou os próprios olhos com o que vira. Algumas palavras que a pouco estavam em uma língua estrangeira agora estavam legíveis como se sempre estivessem daquele modo.

— Viktor, há algo... — ela não conseguiu falar apontando para as palavras no livro. Ele sorriu de lado.

— É um Livro de Magia. A cada fase em minha maldição as palavras se escrevem sozinhas para me lembrar do que sou e porquê sou. Presente de Elizabeth, claro. Já tentei joga-lo fora, mas ele sempre volta.

   Após a explicação simples, mas ainda assim um tanto surreal, Kristen fitou novamente a folha. Ainda havia palavras em uma língua desconhecida para si o que lhe levava a pensar que a história não havia acabado por ali.

Ainda há palavras estrangeiras — ela comentou crente que ele entenderia. Ele entendeu.

— Sim, ainda não acabou — ele fechou os olhos com força, parecia buscar coragem para continuar.

   Viktor sentia o peito pesar. A cada fase que falava para Kristen sentia o peso do seu passado e sobretudo o peso de sua culpa. Ele sentia receio, o peito e as palavras queriam recuar com o desenrolar da história e a cada vez que via-se perto do que seria sua maior dor, ele sentia que não suportaria se Kristen o repudiasse novamente. Mas, no entanto, já havia começado a contar-lhe sua história, era demasiado tarde para recuar de seu pesadelo. Ela merecia saber e se ainda continuasse ao seu lado, aí então ele saberia que ela tinha algo semelhante a sua Marie embora muito diferente em diversos aspectos. Ele umedeceu os lábios antes de continuar.

— Após aquele baile eu a encontrei variadas vezes. Nos tornamos amigos, confidentes e eu fui me apegando a ela, apaixonando-me. Todavia, a cada avançar do que seria um amor puro entre mim e a aquela moça de cabelos em brasa, avançava também o ódio de Elizabeth. Ela era apaixonada por mim desde a infância e não suportava a idéia de que eu só a visse como uma irmã que não tive, e quando o amor romântico que ela tanto ansiava lhe fora negado e direcionado a sua amiga, ela perdeu o controle. Quando contei para ela do amor que tinha em meu peito, ela mudou drasticamente. Ela se tornou tudo aquilo que eu jamais imaginei ver nela.

     "Arredores da Família Greembell - 1664

    Viktor estava no jardim por trás da mansão. Sozinho, fitava a lua prateada no alto do céu e sentia o peito aquecer com a lembrança doce de sua Marie. Ele tinha uma rosa vermelha em mãos, e deixava vez ou outra desfrutar do perfume doce que sempre lhe recordava sua amada. Ele estava apaixonado, não tinha quaisquer dúvidas quanto a isso e apreciava demasiado a sensação.

   Todavia, mesmo tendo seus pensamentos voltados para sua Marie, a reação de Elizabeth quando lhe contara do amor em seu peito ainda corroía-o por dentro como vermes repugnantes. Seu peito apertava, sentia-o como se estivesse confinado entre paredes claustrofóbicas que sufocavam-lhe e desesperavam-lhe.
Ele não entendia o que havia acontecido. Elizabeth se tornara longe desde então, o olhava de soslaio com olhos vazios e então sumia embrenhando-se na floresta. Ela estava irreconhecível.

    Os pensamentos de Viktor, todavia foram interrompidos quando ao longe uma silhueta envolta em negro lhe pareceu semelhante. Ele apertou os olhos a fim de enxergar melhor da distância que estava e então pôde ter certeza pelos cabelos loiros que era de fato Beth. Mas o que ela haveria de está fazendo indo em direção a floresta tão tarde e envolta em luto novamente?

    Viktor não controlou a curiosidade e rapidamente saiu de onde estava correndo em sua direção. Mesmo com o aproximar barulhento de seus sapatos, Elizabeth parecia não notar sua aproximação o que fez com que ele estranhasse já que a mesma sempre fora muito atenta. Quando estava perto e apenas alguns poucos metros os separavam, Viktor parou no caminho chamando-a pelo apelido.

    Ela não o olhou, sequer parou sua caminhada devagar e sombria. Ele a chamou novamente e novamente fora ignorado. Sendo assim, ele correu os últimos metros que os separavam e puxou-a pelo braço fazendo-a virar-se para si. No entanto, o que encontrou o fez recuar dois passos e arregalar os olhos.

— Beth — ele disse assustado sentindo um nó na garganta — O que... — ele não conseguiu falar diante da cena terrível em sua frente.

   Elizabeth tinha os olhos vazios, uma sombra negra estava nos seus olhos outrora belos e radiantes, a roupa negra e fechada lhe dava um ar sombrio impróprio de si, no pescoço carregava uma cruz de ponta cabeça e em suas mãos, sangue pingava devagar.

— Olá Viktor — ela falou extremamente sombria e oca.

— Pelos Deuses, Beth, o que aconteceu com você? — ele perguntou sentindo o estômago embrulhar fitando suas mãos sujas de vermelho — O que é isto em tuas mãos?

   Elizabeth o fitou rapidamente antes de erguer as mãos para olha-las. Como se não visse nada demais, ela levou o dedo molhado de sangue aos lábios sugando-o como se saboreasse um doce.

   Viktor sentiu repulsa da cena vendo logo a língua dela passear pelos próprios lábios limpando os resquícios de sangue que ficaram ali.

— Este sangue em minhas mãos nunca será tão saboroso quanto o sangue nas suas.

     Viktor não soube o que pensar com aquelas palavras. Levado por impulso, ele fitou as próprias mãos e sentiu o corpo vacilar com a cena. Suas mãos estavam encharcadas de sangue que escorria entre seus dedos e pingavam em seus sapatos. A rosa vermelha desmanchava-se em sangue o que fez Viktor larga-la sobre a grama agora manchada de vermelho. Ele estava horrorizado com a cena e procurou então o rosto de Elizabeth que tinha os olhos vazios e um sorriso sombrio no canto dos lábios. Novamente ele fitou as mãos desta vez encontrando-as limpas como havia chegado ali. A rosa no chão estava intacta.

    Ele não sabia o que pensar, sentia as palavras presas na garganta quase o sufocando. Ele lutou para poder emitir palavras coerentes, todavia, antes de conseguir emitir qualquer som, a voz vazia e sombria de Beth o fez calar-se.

— Então você a ama?

   Ele franziu o cenho sentindo as palavras ficarem embaralhadas em sua língua.

— Beth... — ela o cortou novamente.

— Responda! — usou de um tom mais autoritário tornando sua voz ainda mais sombria.

— Sim — disse com dificuldade fitando-a sentindo o peito arder com aquela Elizabeth a qual nunca havia visto — Eu a amo.

— Está consumado — ela falou vazia.

   Após aquelas palavras, ela lhe deu as costas caminhando lentamente e sombriamente em direção a floresta. Viktor não pôde conter o impulso do seu corpo e correu de encontro a ela.

— Beth, me deixe ajudá-la! — antes que conseguisse tocar seu braço, ela ergueu a mão em sua direção e Viktor sentiu seu corpo ser lançado para longe. Quando o baque surdo do seu corpo tocou o chão, Viktor fitou-a caído vendo os olhos dela totalmente negros. Ele sentiu um medo crescente, mas acima de tudo, sentiu uma imensa tristeza.

— Você me sentenciou a morte, Viktor — ela começou a falar enquanto o fitava de olhos negros e demoníacos — O meu sangue mancha suas mãos e o teu amor destruirá o que mais ama.

   Dito isso, ela virou-se e prosseguiu seu caminho embrenhando-se na floresta e sumindo entre as árvores. Viktor ainda manteve seu olhar sobre o lugar onde ela esteve a alguns instantes e visualizou um círculo de cinza. Magia negra. A rosa que a pouco repousava no chão intacta agora estava negra e o peito de Viktor desabava em um agonizante sentimento de pena e culpa".

    — Elizabeth fora capaz de envolver-se com magia negra somente para destruir-me. E ela conseguiu.

— Pelos Deuses — Kristen levou a mão a boca abismada com tudo aquilo. Como esperado, no livro frente a si novas palavras se revelavam e Kristen sentia um sentimento estranho. Ela fitou Viktor de costas a si e guiada por pena e compaixão levantou-se de onde estava tocando o ombro coberto dele para conforta-lo — Eu sinto muito pelo que passaste.

   Ele a olhou de soslaio. Um sorriso triste pintou seus lábios arroxeados.

— Ainda não acabou — ele sentenciou afastando-se dali fitando uma estante qualquer. Kristen não quis incomoda-lo, notava-se o quão pesado e triste era toda aquela história então ela limitou-se a voltar para a mesa junto ao livro e aguardou a continuação do relato em silêncio.

     O silêncio caiu sobre suas cabeças por alguns instantes até que ele conseguiu juntar coragem para continuar embora lhe doesse muito todas aquelas palavras.

— Após aquele dia eu não vi mais Elizabeth. Ela sumiu, tornou-se uma estranha memória de alguém que eu não conhecia mais. Eu prossegui minha vida ao lado de minha amada Marie. Noivamos e eu presentiei-a com um belo vestido branco e pedi que posasse para uma pintura destinada a ela como um presente meu. Meus pais foram contra. Eu era o filho do dono da maior e mais lucrativa vinícola de toda a região e ela apenas uma camponesa de família pobre que vendia flores para ajudar na economia e não tinha fortuna para oferecer. No entanto, eu prossegui com meu noivado. Eu a amava mais que a mim mesmo, não importava quantos desafios eu teria de enfrentar para tê-la por toda minha vida ao meu lado, eu enfrentaria sem pestanejar por ela. Eu daria minha vida sem pensar uma única vez se fosse necessário. Após algum tempo noivos, finalmente o nosso casamento estaria chegando e eu estava eufórico com tudo. Eu queria que tudo saísse perfeito, digno dos sonhos dela. A pedido dela nosso casamento seria realizado em nossos jardins. Ela gostava muito de rosas e por isso tudo fora decorado com rosas vermelhas e brancas. Estava tudo belíssimo, somente a beleza dela poderia superar a beleza da decoração. Convidei todos da cidade, pobres, nobres, qualquer um que quisesse presenciar a consumação do nosso amor. Minha mãe ficou furiosa, disse que eu estava acabando com a reputação de nossa família, mas mesmo desafiando-a, eu prossegui com tudo do jeito que minha amada queria que fosse — ele fitou um ponto qualquer sentindo as lembranças dolorosas afundarem seus pés no piso — Mas eu nunca poderia imaginar que o dia mais feliz de minha vida se tornaria o dia mais temeroso de toda a minha existência.

    "Jardins da Família Greembell - 1665

    Viktor fitava todo o cenário sentindo o peito inchar em seu peito. Mal conseguia manter as mãos quietas entrelaçando os dedos entre si freneticamente. Estava ansioso, não poderia permitir que nada desse errado ou jamais se perdoaria.

    As inúmeras filas de cadeiras decoradas lindamente com rosas brancas e vermelhas lhe deixavam orgulhoso. O cheiro agradável das flores eram trazidos ao olfato pela brisa leve e refrescante. Um luxuoso buffet aconteceria na mansão e os músicos mais caros estavam os esperando no salão de dança enquanto alguns violinistas aguardavam a chegada da noiva. O padre preparava tudo no altar e Viktor fitava a passarela em tapete vermelho ansiando o momento em que sua amada o atravessaria e tomaria sua mão. O coração mal cabia em seu peito.

   Aos poucos os convidados chegavam. Haviam nobres com suas vestes pomposas e elegantes e também pessoas humildes com vestidos belos, todavia, simples. Estava tudo do jeito que ele queria. Nobres e pobres juntos como demonstração de que o dinheiro não os dintinguia. Eram todos importantes naquele momento. Todos eram nobres, ricos e respeitados não importando sua classe social.

     Ao altar, próximo ao padre, estava sua mãe e seu pai como padrinhos e do outro lado estava duas outras pessoas que sua amada havia escolhido. Olhando novamente para seus pais, Viktor sentiu uma leve tristeza em seu peito. Era para ser Elizabeth ali como sempre sonhara. Era pra ser.

    Todavia, sua tristeza fora logo consumida pelo nervosismo que o tomou quando os violinos começaram a tocar a Marcha Nupcial. Viktor olhou alarmado para frente encontrando no fim do tapete sua amada. Com o avançar delicado da canção ela começou a deslizar sobre o tapete. Seu braço estava enlaçado ao de seu pai, um senhor de baixa estatura e bigode sobre a boca enquanto entre as mãos trazia um buquê de rosas vermelhas. Na frente deles, uma bela menina envolta em branco assemelhava-se a um anjo doce jogando pétalas brancas sobre a tapeçaria vermelha.

   Viktor sentiu o peito pular, o coração batia com tanta força contra sua caixa torácica que ele sentia que seu peito romperia e seu órgão saltaria no chão. Era algo estranho e estranhamente prazeroso. Em seu estômago não havia borboletas, mas sim uma tempestade furiosa.

     Com o aproximar de sua amada, cada sensação e sentimento só se intensificava incontrolavelmente e suas mãos suavam rios. Quando sua bela e amada futura e próxima esposa fora entregue a si por seu pai, Viktor fitou o rosto coberto pelo véu. O vestido era belíssimo, feito por costureiros caros e bordado a mão aumentando ainda mais sua beleza. A saia cheia parecia que estava entre nuvens e o decote sútil deixava seu busto pérola a mostra em algo sensual e delicado.

    Viktor retirou suas mãos da dela a fim de erguer o véu, todavia, antes de completar seu ato uma ventania forte os atingiu violentamente. O céu a pouco aberto e belo, fechava-se em nuvens pesadas e escuras trazendo riscos de luz no céu e relâmpagos violentos. Os convidados ficaram assustados e agitados levantando-se e murmurando entre si o que haveria de estar acontecendo. Viktor perguntava-se o mesmo olhando para sua noiva agitado enquanto a mesma não fazia qualquer movimento que fosse.

    Sua mãe olhava tudo aterrorizada  sendo acalmada por seu pai também agitado, mas ainda assim sob controle.


A ventania cada vez aumentava trazendo consigo folhas em um redemoinho violento balançando os galhos das árvores ao redor violentamente a ponto de fazer Viktor sentir receio de que os galhos quebrassem e fosse jogados contra eles.

    Antes de tentar entender o que diabos estava acontecendo e tomar qualquer atitude que fosse, no fim do tapete onde sua amada a pouco houvera deslizado, lá estava Elizabeth. Ela trajava um sombrio vestido vermelho que esvoaçava violentamente sob a ventania. Um colar verde pendia em seu pescoço. As mãos dela estavam abertas ao lado do corpo enquanto seus olhos estavam tomados de trevas e um brilho verde emanava de seu corpo.

— Elizabeth — ele disse aterrorizado vendo ela aproximar-se sombriamente sobre o tapete.

— Esqueceu de convidar-me para teu casório, Vik? — onde ela passava, as pétalas de rosas brancas que haviam sido jogadas ao chão ficavam negras. Os buquês na decoração das cadeiras caíam ao chão desmanchando-se em sangue e trevas. Os convidados encolhiam-se com a passagem de Elizabeth enquanto os raios e relâmpagos riscavam os céus e iluminavam o local. Aos poucos, uma chuva forte caiu sobre todos lavando o sangue que havia sobre a tapeçaria derramando o líquido vermelho sobre a grama a qual imediatamente morria.

    Viktor estava aterrorizado, o padre atrás no altar olhava tudo horrorizado e temeroso, segurando uma cruz nas mãos enquanto rezava apavorado. Viktor recuou com a aproximação segurando Marie estática pelos ombros levando-a junto a si.

— Não tema, meu amor, eu apenas vim desejar-te felicidades — ela sorriu sadicamente cada vez mais perto. Os funcionários na mansão saiam para ver o que acontecia.

     Não tendo mais para onde recuar, Viktor colocou-se a frente de sua amada que não reagia. Ele estava ficando desesperado. Finalmente frente a si, Elizabeth fitou com os olhos medonhos o semblante apavorado de Viktor.

   — Beth, — ele engoliu em seco sentindo o peito bater violentamente — Por que faz isso?

— Tu me sentenciaste a morte — ela começou — O meu sangue mancha suas mãos e teu amor destruirá o que mais ama.

    De pronto Viktor recordou-se daquelas palavras. Eram as mesmas que ela dissera a última vez em que que a viu e agora tudo parecia muito mais macabro que antes. O padre rezava fervorosamente atrás do altar, erguendo a cruz exclamando em latim palavras de expulsão. Sobre o ombro de Viktor, Elizabeth fitou a figura do senhor envolto na batina branca agora encharcada pela chuva. Ela sorriu de lado.

— Tuas orações não salvarão o que acontecerá aqui — Dito isso o padre encolheu-se ainda mais apavorado e com o erguer de sua mão, Elizabeth lançou o padre longe que bateu com a cabeça contra uma pedra e logo um rio de sangue banhou os arredores de seu corpo.

    Muitos gritaram apavorados, a mãe de Viktor chorava com a maquiagem borrada e encolhiam-se nos braços do marido diante de tanto horror. Viktor sentiu uma lágrima escapar de seus olhos.

     — Beth — ele falou em um fio de voz a qual conseguiu prosseguir.

— Quero que todos presenciem tudo — ela voltou-se para os convidados horrorizados que choravam e encolhiam-se — Quero que vejam que o amor e o ódio são amantes leais. Quero que presenciem e jamais esqueçam que o mesmo amor que liberta e dá vida, é o mesmo que aprisiona e destrói.

    Ela voltou-se novamente para Viktor. O rosto encharcado da chuva violenta que os banhava confundiam-se a suas lágrimas. Elizabeth o fitou com olhos de trevas. Aos poucos, como uma trégua, a magia verde que emanava dela sumiu e seus olhos tornaram-se novamente humanos na cor do caramelo.

— O teu amor o condena agora — devagar, Elizabeth aproximou o rosto do dele e depositou um beijo nos lábios frios e molhados de Viktor. Quando ela recuou, novamente os olhos tornaram-se de trevas e ela afastou-se lentamente abrindo as mãos e erguendo os braços enquanto proferia palavras de maldição. O brilho verde que emanava de si tornou-se mais intenso e as trevas que cobriam o céu se tornaram mais densas. A chuva que caía sobre eles tornou-se sangue e todos foram banhados de vermelho. A tempestade intensificou-se e as cadeiras começaram a voar em todas as direções.

Elizabeth gritava cada vez mais alto palavras de ódio e todos corriam desesperados, todavia ninguém conseguia fugir uma vez que sempre eram atingidos por galhos e mortos no mesmo instante. Viktor estava desesperado com o horror em sua frente. Ele virou-se para trás, sua noiva banhada no sangue dos céus, imóvel alheia a todo o cenário demoníaco. Ele olhou em todas as direções desesperado, tinha de sair dali e salvar Marie da qual nada tinha culpa. Todavia, antes de conseguir fazer qualquer coisa, uma dor excruciante tomou seus lábios onde a pouco um beijo havia sido depositado por Elizabeth. Ele recuou encolhendo-se e contorcendo-se de dor enquanto a mesma tomava seu corpo e alastrava-se como um veneno. Ele gritou de dor enquanto sua pele empalidecia diante de seus olhos e veias negras alastravam-se por seu corpo. A dor era imensa, ele não controlava-se, contorcia-se e gritava mediante uma dor que jamais sentira em toda sua vida. Marie estava banhada no sangue que descia furioso do céu, Elizabeth gritava enquanto o brilho verde expandia-se ao redor de si. Os convidados que não morreram encolhiam-se apavorados, gritando e chorando enquanto as cadeiras voavam.

      Viktor caiu de joelhos e desabou no chão ensanguentado gritando de dor, sofrendo e sentindo cada músculo e órgão queimar e explodir de dor a medida que as veias negras tomavam seu corpo. Marie não reagia, era apenas uma estátua banhada em vermelho totalmente fora da realidade macabra e demoníaca do cenário".

[...]

     Viktor chorava sobre a mesa da biblioteca apoiado nos braços sentido o corpo fraco. Kristen estava do seu lado tentando consola-lo, tentava acalma-lo, mas ele chorava compulsivamente totalmente sem controle. Suas lágrimas banhavam as palavras no livro e seus gemidos e fungados violentos faziam seu corpo terem espasmos fora de controle. Kristen sentia os olhos marejados enquanto lágrimas tomavam seu rosto livremente tão triste quanto ele.

— Viktor, — ela falou esforçando-se para controlar as lágrimas que saiam sem sua permissão — calma, Viktor, precisa ser forte.

— Não — ele gritou soluçando e chorando freneticamente — eu não consigo ser forte!

— Claro que consegue — ela tentou incentiva-lo — Tu és forte, tente manter-se assim.

— Eu não sou forte — ele disse rouco virando-se para ela com o rosto encharcado de lágrimas e contorcido em dor — Se fosse não teria feito o que fiz.

— Do que está falando, tu não fizeste nada.

    Viktor novamente contorceu o rosto em dor pura e simples e lágrimas violentas novamente banharam seu rosto rosto enquanto ele virava-se novamente fitando o livro maldição em sua frente sentindo as forças a abandonar-lhe.

— Eu não sou forte — ele disse rouco soluçando em seguida.

— Claro que é, tu... — antes que Kristen terminasse sua frase Viktor voltou-se para ela desmoronando em lágrimas a cada palavra que proferia.

— Eu a matei! — ele gritou desesperado — Eu matei minha Marie!


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6901 palavras

Olá, Olá Jubinhas de meu ❤ Aceitam um lenço? 😪

Confesso que não sei bem o que falar, esse capítulo foi muito intenso e triste pra mim. 😔 Mas, me contem, sentiram o mesmo? O que acham? A história de Viktor é terrível. O que sentiram? Qual as teorias? Ele matou Marie!!

Podem pirar!!!!

Me encham se notificações 🎉🎉

Aguardo manifestações 🎉🎉

Que tal uma ⭐?

Até logo ❤❤

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