Em Busca de um Anjo

Por xm_Sora

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Ling Akimoto era uma jovem aparentemente normal, a começar a sua vida numa escola nova, quando tudo muda com... Más

Prólogo
Capítulo 1 - A Menina de Olhos Azuis
Capítulo 2 - Estranhos Encontros
Capítulo 3 - A Proposta
Capítulo 4 - O Novo Membro
Capítulo 5 - Confiança
Capítulo 6 - Preparações Finais, Parte 1
Capítulo 7 - Preparações Finais, Parte 2
Capítulo 8 - Conversas de Amigos
Capítulo 9 - Despedida
Capítulo 10 - Rússia
Capítulo 11 - Cerimónia de Abertura
Capítulo 12 - Demónios da Arena
Capítulo 13 - Mais que Amigos
Capítulo 14 - Asas de um Anjo
Capítulo 15 - O Segredo Dela
Capítulo 16 - Planos Abstractos
Capítulo 17 - Primeiro Passo
Capítulo 18 - Segunda Fase, New York City
Capítulo 20 - Seiryuu vs. Exuro
Capítulo 21 - Emoções Destroçadas
Capítulo 22 - Preocupações
Capítulo 23 - Traição ao Luar
Capítulo 24 - Au Revoir, Nova Iorque
Capítulo 25 - Hello, Paris
Capítulo 26 - A Verdade é Revelada, Parte 1
Capítulo 27 - A Verdade é Revelada, Parte 2
Capítulo 28 - Sombra
Capítulo 29 - O Plano
Capítulo 30 - O Impacto
Capítulo 31 - O Ataque dos Demónios
Capítulo 32 - Recordações
Capítulo 33 - Regresso a Casa
Capítulo 34 - Última Fase
Capítulo 35 - Reunião de Família
Capítulo 36 - Tsushihiro Akimoto
Capítulo 37 - Lágrimas de um Anjo
Capítulo 38 - Decisão Final
Capítulo 39 - Diz-me Porquê
Capítulo 40 - Confidências
Capítulo 41 - Gladiadores
Aviso - Hiatus

Capítulo 19 - Jantar a Dois

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Por xm_Sora

N/A: Yo!! E cá estamos nós para mais um capítulo! Obrigado a quem comentou no capítulo anterior, espero que gostem deste. Enjoy! o/

Advertências: Versão original da minha fanfic "Em busca de um anjo", criada no Fanfiction.net há quase dez anos atrás, sob o pseudónimo Xia M.. História original. Escrita em português de Portugal, utilizando as regras ortográficas anteriores ao acordo de 2012. Drama/Romance/Acção/Fantasia. Long-fic.

Disclaimer: Os meus OC's, tal como a minha história, são exclusivamente meus. Plágio é crime! Aprenda a ser original e a criar as suas próprias coisas.

- - - - - - - -

Capítulo 19

Jantar a Dois

-x-

"Mostra-me onde dói

E eu vou deixá-lo pior"

Crawl, por Breaking Benjamin

-x-

Dia 11 de Maio de 2004

Nova Iorque, E.U.A.

Ling estava deitada por cima das cobertas, o seu telemóvel ao ouvido e a sua mente, distante.

Fazia pouco mais de uma hora que as equipas tinham regressado ao hotel, após a segunda luta daquela fase. As Night Girls tinham enfrentado os Strangers e tinham derrotado os americanos numa reviravolta impressionante.

Segundo Ken, o nível de força demonstrado pelas inglesas não podia ser sequer comparado àquele que elas usaram contra os Seiryuu, as ilusões do Guardião de Miharu tendo destruído por completo qualquer hipótese que Alice pudesse ter. E Shiori, que lutou contra Grace, mostrou que o seu jeito tímido não contava quando estava dentro da arena.

Mesmo não conseguindo ainda perceber ao pormenor todos os detalhes que Ken analisara, assim que a equipa se reuniu no quarto dos rapazes, Ling pôde sentir a diferença que ele mencionara na pele.

A energia emanada pelos Guardiões das inglesas parecia ter duplicado e a sensação de perigo era bem mais notória que na sua luta contra Rika.

Porém, não era a luta que a preocupava no momento.

Na verdade, Ling nem conseguia ter a certeza do que a preocupava ao certo. Se era a indiferença contínua de Masao, o facto de não ter conseguido ainda falar com a mãe, desde que saíra da Rússia, ou... Alexander Ustinov.

Embora nunca mais tivesse falado com o rapaz desde o seu pequeno passeio, a jovem não era capaz de evitar a vontade que sentia em estar com ele outra vez. O russo era relaxado, divertido e o sorriso dele era bem mais amigável que a imagem que todos pintavam dos The Demons. Ling queria conhecê-lo melhor, bem como aos outros rapazes e, quem sabe, tornarem-se amigos no futuro.

Mas, mesmo assim, as memórias boas que partilhara com o rapaz, não eram capazes de apagar a tristeza que se colava ao seu peito. Masao... nem olhava para ela.

Desde o dia do anúncio das lutas, quando ela julgou que podiam conversar um pouco antes de os Seiryuu terem que enfrentar os Exuro, que o rapaz nunca mais olhara para ela e muito menos lhe dirigira a palavra.

Ling via-o todos os dias no hotel, ora a comer com a sua equipa, ora a praticarem, mas a barreira que Masao forçava entre si e os Seiryuu era tão pesada que a jovem nem se sentia com coragem o suficiente para tentar ultrapassá-la.

E não era só ela que sentia essa barreira. Todavia, só talvez, fosse ela a única que a sentisse com mais intensidade.

O som da chamada estava quase a chegar ao fim, a preocupação querendo começar a escalar na mente da jovem, quando ela ouviu a voz ofegante e carinhosa da sua mãe.

— Ling!

— Mãe! — a jovem exclamou de volta, lágrimas querendo cobrir-lhe os olhos azuis meia-noite ao ouvir a voz de Miya Akimoto.

As saudades já apertavam.

— Desculpa, mas tem sido um inferno no hospital! Não tenho conseguido chegar a horas decentes de me ligares.

— Não faz mal. — ela disse, sentando-se na cama e enxugando as lágrimas. — Estava só preocupada com a mãe, mais nada.

— Não tens que te preocupar comigo. — Miya assegurou, tentando esconder toda a aflição de saber onde a filha estava e porquê. — Eu estou óptima e estou à tua espera, ouviste?

— Eu sei, mãe. — Ling retorquiu, a nostalgia quase amarga ressentindo-se naquelas palavras. — Eu sei que sim.

— E então? Conta-me coisas! Como está a correr esse campeonato?

— Lutamos amanhã.

— E vais voltar a combater? Depois do Angelus ter-se portado tão bem, deves estar ansiosa por lutar mais.

No fundo, Miya queria ouvir o completo oposto do que dissera. E o seu alívio foi quase palpável quando a resposta da sua menina soou do seu lado da linha.

— Eu continuo a ser suplente, mãe. — ela respondeu, sorrindo. — Se tudo correr bem, o Keiichi e a Yoriko são bem capazes de dar conta do recado, sozinhos.

Miya sorriu, aliviada, e agradecida por a filha poder ficar de fora daquele desafio. Tudo valia a pena, desde que ela estivesse em segurança.

— E mais coisas? — a mulher perguntou, tentando mudar de assunto para algo mais alegre. — Já conheceste alguém... especial?

A pausa nas palavras da sua mãe fez o coração da jovem palpitar. E as memórias de Masao e de Alexander quiseram misturar-se de súbito dentro de si, o seu peito indeciso sobre o que poderia ser considerado... alguém especial.

— Eu já conheci várias pessoas... — Ling começou, ainda sem entender o núcleo da questão da sua mãe. — A equipa americana, a equipa francesa...

— Ling, eu não estou a falar disso. — replicou a mulher, sorrindo ao ver o quanto a sua filha continuava a mesma naquele aspecto. — Estava a referir-me a algo... diferente.

A jovem não pôde explicar o que mais lhe chamou atenção. Se o tom quase desafiante ou o sorriso subentendido, mas ela não precisou de outra explicação para perceber onde a mãe queria chegar.

— Mãe! — ela exclamou, envergonhada. — Eu não tenho nenhum namorado! Eu juro!

A gargalhada do outro lado só serviu para aumentar o rubor nas faces alvas da japonesa.

— Como se eu fosse brigar contigo por causa disso! — Miya retrucou, ainda em meio a uma risada. — Estás a caminho dos dezasseis anos, é natural.

— Mas eu não tenho... — a jovem disse, ainda incerta quanto ao que pensar sobre a pergunta da mãe.

— E tens alguém de quem gostes?

O silêncio que Ling deixou pairar entre a conversa foi mais que suficiente para Miya perceber que a resposta era positiva.

Sempre que podia, Miya gostava de brincar com a filha sobre aquele assunto. Desde pequena que Ling nunca tivera muitos amigos, então aquele tipo de brincadeiras eram uma forma de a filha se lembrar que aquela era uma realidade possível no seu futuro.

Porém, a mulher não esperava que, quando o dia finalmente chegasse, o que a atingisse fosse preocupação, mal disfarçada pela curiosidade em saber quem tinha roubado o coração da sua menina.

— Eu... tenho.

Miya assentiu, tentando manter-se calma e positiva. Ling precisava de tudo, menos ser julgada naquele momento.

— E ele gosta de ti?

— Eu não sei. — a jovem respondeu, sentindo as lágrimas beirarem os seus olhos mais uma vez.

— Mas vocês não se dão bem?

Ling ponderou sobre o que responder.

Não que se desse mal com Masao, mas... eles davam-se bem? Das poucas vezes que já tinham conversado, a jovem era sempre deixada com uma sensação de confusão e tristeza, mas não se davam mal... pois não?

— É complicado. — ela acabou por dizer, sem ter sequer a certeza se aquilo servia como resposta.

A sua mãe abafou uma risada do outro lado.

— É claro que é. — ela retorquiu, num tom carinhoso. — Mas, sabes uma coisa, se ele gostar de ti, com tempo, tudo se vai resolver.

As palavras da sua mãe quiseram reacender aquela migalha de esperança que ela ainda carregava.

— A mãe acha que sim?

— É claro! — Miya respondeu, mantendo o seu sorriso. — Cuida bem de ti, Ling, está bem?

— Está bem. — a jovem retrucou, no fundo não se querendo despedir ainda. — A mãe também.

Miya murmurou-lhe um "adoro-te" e a chamada terminou. Ling deixou-se cair novamente por cima das cobertas e deixou que aquela pequena esperança deixada pela sua mãe a tomasse por mais um pouco.

-x-

Quando Ling voltou a abrir os olhos, eram perto das cinco da tarde. O céu alaranjado reflectia o sol para dentro do quarto e a jovem semicerrou os olhos, devido à claridade súbita.

Deixou escapar um bocejo e espreguiçou-se na beira da cama, notando o seu telemóvel ainda ao seu lado. Após a conversa com a sua mãe, tinha acabado por adormecer.

Desde que chegara aos Estados Unidos que a jovem se levantava ainda mais cedo para a sua corrida matinal, de forma a melhorar o seu ritmo, bem como aumentar o seu tempo de corrida. Naquele momento, já conseguia fazer bem uma hora, mas o seu objectivo era sempre mais.

Como não praticava nenhum desporto, ao contrário dos colegas, considerava-se em desvantagem na sua capacidade física, pelo que sentia necessidade de continuar a melhorar. Mesmo que ficasse no banco até ao final do campeonato, Ling queria dar o melhor de si até ao último momento, para não voltar a sair exausta de um combate.

Olhando em volta, percebeu que ainda estava sozinha no quarto, pelo que Yoriko continuava com os rapazes. Espreguiçando-se uma última vez, a jovem levantou-se e seguiu para onde estava a sua equipa.

Abriu a porta sem bater e entrou sem ser muito notada. Yoriko sorriu para ela, mas os rapazes permaneciam focados numa conversa séria. Ling sentou-se ao lado da amiga e a sua expressão curiosa não lhe passou despercebida.

— Conseguiste falar com a tua mãe? — Yoriko perguntou, num tom baixo, não querendo interromper os amigos.

— Sim, consegui. Ela está bem.

Yoriko sorriu.

— Fui até ao quarto para almoçarmos, mas estavas a dormir. Não te quis acordar.

— Não faz mal. — Ling retorquiu, notando pela primeira vez o buraco no seu estômago. — E o que vocês estiveram a fazer?

A expressão de Yoriko pareceu perder um pouco do seu brilho com aquela pergunta.

— A discutir estratégias para amanhã.

— Estou a ver. — Ling devolveu, estranhando o jeito da amiga. — É disso que o Ken e o Keiichi estão a falar?

Mas antes que Yoriko pudesse responder, a voz de Ken elevou-se no quarto.

— E continuo a achar injusto para com os outros lutadores aquilo que disseste no outro dia!

A expressão do líder da equipa fechou-se, enquanto ele tentava manter a calma.

— Eu só disse a verdade! — o rapaz das madeixas azuis exclamou, recebendo olhares apreensivos das companheiras. — Os The Demons são sim os lutadores mais fortes do campeonato!

— Não são nada! — Ken rebateu, quase como se ele mesmo estivesse a ser insultado com aquele comentário. — O jogo deles é injusto e inadequado!

— E isso têm-lhes garantido a vitória!

— É claro que tem! Ninguém sabe lutar daquela forma!

E os dois continuaram.

Ling baixou o rosto, quase desiludida. Lá estava. Lá estava outra vez. A imagem cruel dos The Demons ressaltava em todas as conversas e acabava por virar no maior tópico discutido entre todas as equipas. O quanto eles faziam batota. O quanto o jogo deles era sujo. O quanto eles não mereciam estar no campeonato. O quanto eles... não prestavam.

Queria dizer-lhes que era mentira. Que os The Demons não eram más pessoas. Que o líder deles não andava com esquemas contra os adversários. Que eles tinham tanto direito em ganhar como qualquer outra equipa. Que o que era injusto era o quanto as outras equipas os repudiavam. Mas... não conseguia.

Não conseguia defendê-los sem contar a verdade à sua equipa. Sem lhes dizer o quão fria era a mão do líder dos The Demons e quão relaxado e divertido era o seu sorriso. Ling queria guardar essa memória, essa pequena e estúpida memória só para si.

Estarei... a ser egoísta?

Ling levantou-se de súbito, chamando a atenção dos amigos sem querer.

Não queria ouvir mais... não queria ouvir mais nada. Alexander... o Alexander que ela conhecera não merecia aquilo tudo.

— Eu... vou jantar mais cedo. — ela disse, tentando manter a firmeza e naturalidade no seu tom incerto. — Não como nada desde de manhã, então não vou conseguir aguentar até à hora do costume. Peço desculpa!

— Não faz mal... — Yoriko murmurou, ainda um pouco surpresa.

— Não te preocupes. — disse Keiichi, com um sorriso para a companheira. — Nós depois jantamos os três.

Ling sorriu para o seu líder e, numa reverência educada, despediu-se da sua equipa e abandonou o quarto dos rapazes. Se passasse mais um minuto ali dentro, aquela pequena recordação deixaria de ser apenas sua.

-x-

Quando a jovem desceu até à área do restaurante, não notou as mesas vazias e muito menos as que estavam ocupadas. Não notou quem andava à sua volta e não reparou nos olhares que passavam por si, alguns curiosos, outros nem tanto.

Indo até ao buffet, reparou que a comida para o jantar já estava a ser servida. Agarrando no prato, Ling começou a pensar no que ia escolher naquela noite.

A comida nos Estados Unidos era completamente diferente da comida no Japão. Para além das porções serem quase o triplo ao que estava habituada, carne era um dos elementos mais presentes na mesa, o peixe nem sequer fazendo parte da ementa.

Preparando-se para tirar um pouco de arroz branco para o seu prato, a jovem foi apanhada de surpresa pela voz quase conhecida que surgiu ao seu lado.

— Jantas comigo?

O seu olhar passou pelo sorriso interessante e parou naqueles olhos escuros. O seu coração quis começar a bater mais depressa, mas ela travou-o, incerta se era aquilo que deveria sentir quando encontrava Alexander Ustinov a sorrir para si.

— Como? — ela inqueriu, sem ter a certeza do que o rapaz lhe dissera.

A cabeça dele descaiu para o lado, um certo desânimo notando-se no seu rosto e Ling sentiu as bochechas corar.

— ...Estás sozinho? — ela perguntou, deixando o seu coração bater livremente no seu peito.

— Não, os outros estão ali. — ele respondeu, apontando para uma mesa onde o trio dos The Demons já comia, Dimitri fazendo questão de lhe acenar. — Mas queria roubar-te umas horas do teu dia. — ele continuou, com aquele sorriso. Ling tentou dizer alguma coisa, mas foi cortada por um certo desconforto no russo. — A não ser, claro, que estejas a fazer companhia ao Hamasaki.

Ao ouvir o sobrenome de Masao, Ling prestou atenção pela primeira vez aos seus arredores. Numa mesa quase na diagonal ao buffet, o japonês comia sozinho e olhava de relance para o líder dos The Demons. Mas não para ela.

"Mas, sabes uma coisa, se ele gostar de ti, com tempo, tudo se vai resolver."

Ling sentiu as lágrimas beirar os olhos. Sentiu o peito arder e sentiu um arrepio cortar-lhe pelo corpo. Como é que as coisas se iam resolver se Masao... Masao... nem olhava para ela?!

— Hmm, é melhor eu... — mas antes que o ruivo terminasse, a jovem virou-se para ele de repente, o sorriso vitorioso sendo-lhe difícil de esconder.

— Janta comigo! — ela exclamou, o seu rosto corando ao perceber a possível rudeza das suas palavras. — Isto é...

— É claro. — ele respondeu, aquele seu sorriso relaxado cruzando-lhe os lábios.

A japonesa sorriu de volta, tímida, e juntos começaram a escolher o que iam comer naquela noite.

Acabaram com pratos parecidos e sentaram-se numa mesa mais ao canto, longe dos restantes The Demons e, sobretudo, de Masao. Enquanto Ling se ajeitava na mesa, o russo voltava com as bebidas, um copo de sumo fresco para cada um.

Ling agradeceu o gesto cortês, agradeceu pela sua refeição em silêncio e comeu a primeira garfada do seu bife. Partindo para a segunda, notou o rapaz procurando algo pelos bolsos.

— Alexander? — ela chamou, curiosa.

— Antes que me esqueça... — ele disse, puxando algo do bolso interior do casaco. — Sei que dizem por aí que as patas de coelho é que dão sorte, mas se te trouxesse uma tenho a certeza que não ias achar muita graça.

A jovem não percebia onde o rapaz queria chegar até ver o porta-chaves com um coelho bege e adorável, pendurado na ponta dos dedos frios.

— Isto é...? — ela murmurou, aceitando o pequeno objecto na palma das mãos.

— Uma prenda de boa sorte. Para o teu combate de amanhã.

Mesmo sabendo que não ia lutar, Ling foi incapaz de corrigir Alexander. Encarava o olho brilhante do coelho de plástico, com carinho, e sentiu o rubor voltar à sua face, enquanto o seu coração saltitava de alegria.

— Obrigada. — ela disse, colocando o porta-chaves perto do seu prato. — Não era preciso.

— Estávamos a passar numas lojas e vi isso por acaso. — ele retorquiu, num tom de descaso. — Lembrei-me de ti.

As palavras leves e, talvez, sem grande significado fizeram o seu embaraço aumentar, mas o seu sorriso foi impossível de ser apagado. Era a primeira vez... a primeira vez que alguém, para além da sua mãe, lhe oferecia alguma coisa. De verdade.

Após o breve momento, ambos relaxaram e voltaram à sua refeição. Falavam de tudo o que se lembravam e partilhavam as coisas com grande interesse. Sempre que podia, o russo fazia alguma piada, arrancando-lhe um sorriso extra, quase conseguindo que ela se esquecesse dele.

Mas tudo voltou quando ela viu o japonês levantar-se, entregar o seu prato e ir-se embora do restaurante, sem nem ao menos lançar-lhe um único olhar. Ling baixou os talheres e fitou o coelho do porta-chaves por um momento, tentando alivar o que sentia com o carinho que Alexander partilhara consigo.

— Ele não fala contigo? — a voz do russo surgiu, intrometendo-se nos seus pensamentos. — Desde aquele dia?

Ling observou os olhos escuros e viu a preocupação passar por eles. Ela suspirou, sem saber o que pensar.

— É... — ela respondeu, deixando a tristeza que sentia transparecer na sua voz. — Eu queria poder dizer-lhe alguma coisa, mas... não consigo. Eu sinto que ele não me quer junto a ele.

— Hmm... Mas o que se passou entre vocês?

A risada tonta quis deixar cair uma lágrima, mas Ling enxugou-a, tentando disfarçar o seu jeito.

— Nem sei mais. — ela retorquiu, lembrando-se do quanto a rejeição fria dele tinha doído. — Foi algo sem sentido.

— E achas que é motivo para estares assim? — ele perguntou, encostando-se na cadeira e cruzando os braços.

Ela voltou a sorrir.

— Talvez... não sei... — Ling juntou as mãos no seu colo e o sorriso que ela tentava manter, perdeu-se.

— Ouve, não faço ideia do que se passou entre vocês, mas a verdade é que acho que não havia motivos para ele reagir assim contigo. Sabes o que eu acho? — a jovem fitou os olhos escuros, quase curiosa. — Eu acho que ele talvez não mereça a tua amizade.

Ling sentiu o seu corpo paralisar ao ouvir as palavras de Alexander, deixando-se ficar a olhá-lo, confusa. Será que... será que... ele tinha razão?

-x-

Continua...

- - - - - - - -

N/A: Coisas importantes a esclarecer antes das minhas notas finais.

- A Ling começa e terminará a história com quinze anos, mas em 2004 ela faz dezasseis anos, a 26 de Agosto, daí a fala da Miya.

- Sei que os hotéis dão o pequeno-almoço aos hóspedes de graça. Mas a minha experiência nestes locais luxuosos é mínima, então não faço a menor ideia como funcionam ao jantar. Porém, na história, os hotéis onde os lutadores estão a ficar pertencem à Associação e não estão a abrigar pessoas comuns, então todas as refeições são servidas de graça no hotel, para quem quiser.

- As porções de comida na América são grandes sim, já vi relatos de várias pessoas que foram de visita comentarem isso mesmo.

- Alguém se esqueceu que as minhas personagens são menores? Não? Sim? É, eles bebem sumo, não vinho e cerveja.

- A capa do capítulo é o porta-chaves que o Alexander ofereceu à Ling.

E chegam de notas!

O que acharam? Espero sinceramente que tenham gostado e que estejam tão confusos como a Ling, hehehehehe. Ninguém está, mas, vá, não importa! :v

Obrigado a todos que leram até aqui e não se esqueçam de votar, nem de comentar a dizer o que acharam, a vossa opinião é muito importante para mim. <3 Vemo-nos daqui a duas semanas!

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But she's never been the kind to be hollowed by the stares. 👌👌 (Mas ela nunca foi do tipo que fica intimidada por olhares)