Depois daquele acontecimento catastrófico do sítio, as coisas ficaram um pouco estranhas, na verdade, eu me encarreguei de deixá-las estranhas.
O Alexandre deslocou o braço e teve que colocar uma tipoia, ele estava fazendo algumas travessuras no sítio junto com os primos e acabou machucando o braço. E eu tive que vir dirigindo o belo carro dos Beckham's, por pura invenção dele. O Charles iria nos trazer, porém eu não me toquei quando o senhor Beckham me perguntou se eu tinha carteira de habilitação.
Também não era justo com o Charles, ele teria que vir aqui e depois voltar para lá. Porque ele trabalharia no outro dia cedo. Talvez eu tenha julgado Charles mal, ele me pareceu um bom moço. É bem espontâneo e divertido, super carismático.
Enfim, sobrou para mim ser a motorista particular por um dia, do Senhor Ogro BeckHam.
Às crianças estavam terminando de jantar na mesa. Eu aproveitei o tempinho para arrumar a cama para eles dormirem, já que terão que levantar cedo, porque amanhã ainda é terça feira.
Eu Liguei para a Thaís e adivinha quem está feliz da vida por que conseguiu uma promoção no emprego? Ela mesma.
Segundo ela, o chefe gostou de uma proposta que ela fez para uma das modelos mais importantes da agência e assim aconteceu, ela caiu nas graças do chefe.
Ella decidiu realmente prosseguir com a faculdade de letras, ainda não entendi o porquê de a Ella ter largado a faculdade de medicina veterinária. Mas alguma coisa aconteceu e fez com que ela mudasse de ideia drasticamente e não foi somente porque ela gostou do professor lindo que dá aulas de letras e eu ainda vou descobrir o que de fato aconteceu para ela tomar essa decisão.
Mesmo com não muita experiência no começo sobre como cuidar de crianças, ainda estou pegando às práticas de como conciliar tudo. Realmente crianças não é apenas acordar, comer e dormir, como eu achava que era. Elas têm sim suas dificuldades e problemas que merecem toda atenção do mundo.
Às crianças são uns amores e bem divertidas. Estão sempre inovando nas travessuras, o que me faz triplicar a atenção para não ser pega de surpresa com alguma travessura nova.
Esses dias atrás, os gêmeos retiraram todo o lanche que eu coloquei na lancheira e enchera-a de doce, mas eles estavam meio desconfiados com a bolsa e eu pedi para dá uma olhada e me deparei com muitas guloseimas. Doces de todos os tipos. Claro, eu não tirei todas às guloseimas da bolsa, deixei algumas e com isso fiz com que os dois prometessem não fazer mais isso.
As gêmeas são tão lindas, mesmo com a pouca idade elas são super inteligentes, tanto a Alicia, quanto a Sophia. Às duas são mais ligadas a desenhos, filmes e séries. Elas amam de paixão assistir filmes da Disney e sempre que tenho um tempinho extra fazemos "sessão de cinema" no quarto e a bagunça é certa. Sempre que elas não querem dormir em seus quartos, eu tenho que ficar até tarde com às duas até elas pegarem no sono.
A Isa é uma cópia viva do pai quando se trata de mandar. Ela por ser a irmã mais velha se preocupa demais com os irmãos, se outorgando uma responsabilidade imensa e sempre que estou com ela, faço-a perceber que ela não precisa crescer antes do tempo e que ela é apenas uma criança.
Ela é um amor de pessoa, não costuma muito se apegar, mas, quando ela gosta de alguém é de verdade e eu fui favorecida desse carinho dela.
Depois de todos na cama, era minha vez de tomar um maravilhoso banho e vestir meu pijama pestilento e ir dormir. Hoje o dia foi extremamente corrido, não parei um se quer minuto. Mas eu precisava parar, meu corpo estava pedindo socorro.
Fechei a porta do quarto da Isabella e fui em direção ao meu.
O meu quarto fica do lado esquerdo da escada, os das crianças e do Alexandre do lado direito.
—Júlia?! Pode me ajudar um instante? _Alexandre abriu a porta do quarto. Faltava cinco passos para eu entrar no meu quarto e bancar a egípcia o resto da noite.
—Pois não, senhor BeckHam?
Na verdade, eu só queria um bom banho e um remédio para dor de cabeça. Não queria ajudar não.
—Me ajude tirar a minha blusa, a tipoia não ajuda!
—Pilantra, para vestir não me chamou._sussurrei.
— Não escutei, fale mais alto!
— Eu disse; ok, com licença! _entrei em seu quarto.
Eu já havia vindo aqui diversas outras vezes, para arrumar é claro. Quando a Marília está super atarefada e eu não estou fazendo nada, eu a ajudo no serviço da casa.
—Tire a tipoia com cuidado e depois desabotoe os botões. Por favor!
Assentir.
Retirei a tipoia.
—Ai! _o seu braço decaiu um pouco.
—Me desculpe, eu te machuquei?
—Não, continue por favor!
Dois "por favor", em uma única noite? Que recorde e que fresco também né? Quem mandou subir nas árvores? Bem feito!
Desabotoei sua camisa e coloquei a tipoia novamente.
—Mais alguma coisa, senhor Beckham?
—Sim, pode desabotoar a minha calça, por favor?
O olhei. Provavelmente eu devo estar com cara de tacho. Ele sorriu.
—Vai Júlia, eu juro que já tentei e não conseguir!
—Tudo bem!
Desabotoei sua calça.
—Quer que eu pegue um pijama ou algo do tipo? _Me afastei.
Afinal não é todo dia que seu patrão está apenas de cueca em sua frente.
—Eu acho que consigo arrumar a cama. Na terceira porta do guarda roupa do lado direito fica meus shorts de dormir, pode pegar pra mim?
Coloquei a sua roupa no cesto e peguei a carteira que estava no bolso da sua calça.
Lhe entreguei o short e coloquei a carteira em cima do criado mudo.
—Júlia, rápido antes de você ir, puxa aqui para mim, juro que é a última coisa que te peço hoje! _Sorriu.
Eu estou sem graça, por que ele está tão gentil? Ele tem que manter a pose de Ogro. Ele educado eu não sei como agir.
—Tá! _Ajeitei a cama.
Que constrangedor, eu mesmo fiz questão de distorcer a imagem desse ogro sem coração, o coloquei como um super Ogro. Aliás, ele é um super ogro.
Ainda não o perdoei por estragar a minha blusa branca que a Candinha me deu. Eu guardo rancor mesmo e daí?
—Obrigado Jú! _Sorriu.
—Ah não Senhor Beckham! Vamos voltar a nos tratar formalmente e com ignorância, como duas pessoas que se odeiam. Uma hora o senhor é fofo, outra você é ogro. Zero paciência para essas mudanças de personalidades. __Tampei a boca.
Demitida em 3..2..1.
—Relaxe Júlia, estou machucado e não dá para ser ogro e eu não odeio você, muito pelo contrário. Aliás, meu apelido nos corredores da casa é ogro?
NÃO ODEIA NÃO, É MEU CHAPA? ENCHE O MEU SACO TODO DIA E NÃO ODEIA?
—Eu não sei de nada, me desculpe. Vou me retirar.
—Espera!!_segurou meu braço.
—O que foi? Deu meu horário já.
—Quem inventou esse negócio de Ogro?
Lascou.
—Eu! _Abaixei a cabeça, mas não foi em sinal de arrependimento não.
—Por quê?
—Você estragou a minha blusa branca que tinha uma história, ela não limpou! Você é super mal educado, trata as pessoas como se fosse nada. Eu te chamo de ogro desde que sujou minha blusa na rua. Eu já estou demitida? Se sim, eu só vou embora amanhã. Está muito tarde, nem a pau que eu vou sair daqui essa hora.
Ele gargalhou.
—Não Júlia.
—Então boa noite, com licença!!
—Só vai ser boa se...
—Que?!_Abrir a porta.
—Só vai ser boa se você me der aquele beijo que quase rolou no sítio!
Minha boca fez um perfeito "O".
—Eu... Eu... Tá doido cara? Vai dormir, amanhã é um novo dia para a gente se odiar.
Viro as costas e saio correndo, finjo demência, forjo um desmaio, fico invisível? Ah é, eu não tenho esse super poder. Droga.
Ele segurou minha mão que até o momento estava na maçaneta.
—Não vai fazer isso né? Você é meu patrão! E a gente tem uma briga pendente.
—Só na sua cabecinha que temos uma briga pendente, aliás, esquece que sou seu patrão um instante e foque no momento.
Ele aproximou seu rosto do meu, eu ainda posso sair correndo, não é? Ou então, beijar esses maravilhosos lábios que estão na minha frente.
—Senhor Beckham..._me beijou.
Era diferente, novo e eu estava beijando o meu chefe.
—Ai, meu braço!
—Eu... Com licença!!
—Espera e o segundo round?
—Boa noite, Senhor Beckham!!