Em Busca de um Anjo

By xm_Sora

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Ling Akimoto era uma jovem aparentemente normal, a começar a sua vida numa escola nova, quando tudo muda com... More

Prólogo
Capítulo 1 - A Menina de Olhos Azuis
Capítulo 2 - Estranhos Encontros
Capítulo 3 - A Proposta
Capítulo 4 - O Novo Membro
Capítulo 6 - Preparações Finais, Parte 1
Capítulo 7 - Preparações Finais, Parte 2
Capítulo 8 - Conversas de Amigos
Capítulo 9 - Despedida
Capítulo 10 - Rússia
Capítulo 11 - Cerimónia de Abertura
Capítulo 12 - Demónios da Arena
Capítulo 13 - Mais que Amigos
Capítulo 14 - Asas de um Anjo
Capítulo 15 - O Segredo Dela
Capítulo 16 - Planos Abstractos
Capítulo 17 - Primeiro Passo
Capítulo 18 - Segunda Fase, New York City
Capítulo 19 - Jantar a Dois
Capítulo 20 - Seiryuu vs. Exuro
Capítulo 21 - Emoções Destroçadas
Capítulo 22 - Preocupações
Capítulo 23 - Traição ao Luar
Capítulo 24 - Au Revoir, Nova Iorque
Capítulo 25 - Hello, Paris
Capítulo 26 - A Verdade é Revelada, Parte 1
Capítulo 27 - A Verdade é Revelada, Parte 2
Capítulo 28 - Sombra
Capítulo 29 - O Plano
Capítulo 30 - O Impacto
Capítulo 31 - O Ataque dos Demónios
Capítulo 32 - Recordações
Capítulo 33 - Regresso a Casa
Capítulo 34 - Última Fase
Capítulo 35 - Reunião de Família
Capítulo 36 - Tsushihiro Akimoto
Capítulo 37 - Lágrimas de um Anjo
Capítulo 38 - Decisão Final
Capítulo 39 - Diz-me Porquê
Capítulo 40 - Confidências
Capítulo 41 - Gladiadores
Aviso - Hiatus

Capítulo 5 - Confiança

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By xm_Sora

N/A: Yo!! E cá estou eu finalmente com um capítulo novo (dentro do prazo!)! Este capítulo é dedicado a Somecallmemichelle, a minha mais recente leitora! Espero que continues a acompanhar a história e que gostes do que vem por aí. A todos vocês, espero que gostem do capítulo! Enjoy!~

Advertências: Versão original da minha fanfic "Em busca de um anjo", criada no Fanfiction.net há quase dez anos atrás, sob o pseudónimo Xia M.. História original. Escrita em português de Portugal, utilizando as regras ortográficas anteriores ao acordo de 2012. Drama/Romance/Acção/Fantasia. Long-fic.

Disclaimer: Os meus OC's, tal como a minha história, são exclusivamente meus. Plágio é crime! Aprenda a ser original e a criar as suas próprias coisas.

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Capítulo 5: Confiança

-x-

"Apenas continuar a acreditar não é a resposta

Exponha as suas fraquezas e os seus ferimentos

Se nós não continuarmos a lutar, nada irá acontecer

Então abra caminho, atravesse a porta"

Tobira no mukou e, por Yellow Generation

Fullmetal Alchemist OST

-x-

— Não pode ser... — disse Yoriko, a primeira a parecer perceber o verdadeiro motivo da presença da jovem de olhos azuis naquele local. — Ling?

— Yoriko... — murmurou Ling, sem saber ao certo o que fazer.

A última coisa que esperava era encontrar os seus novos colegas no escritório subterrâneo de Ethan Donovan.

— Eu vou-me embora. — declarou o rapaz que a tinha salvado, chamando a atenção dos demais. Agarrando na sua pasta, ele começou a dirigir-se a passos largos em direcção à porta.

— Espera! — pediu Yoriko, uma certa aflição escondida na sua voz.

Mas o rapaz de cabelos pretos não a ouviu. Saiu pela porta de forma tão agressiva e bruta que nem deu tempo a Ling para que esta se desviasse, batendo-lhe no ombro e empurrando-a contra a madeira.

O escritório ficou então em silêncio, nenhum dos presentes sabendo exactamente o que fazer. Ling olhou para os colegas e notou o quanto eles estavam confusos, talvez até mais que ela.

Sentindo que a decisão de visitar Donovan naquela tarde tinha sido um erro, a jovem percebeu que não podia ficar mais ali. Tinha, com toda a certeza, interrompido algo importante.

— Eu peço desculpa, não devia ter entrado assim. Eu... volto noutra altura. — ela disse, preparando-se para sair do escritório.

— Que disparate! — interveio Donovan, revelando, por fim, a sua presença.

O homem de cabelos de mel levantou-se da secretária, disfarçada pelo trio de adolescentes, e endireitou o casaco do fato bege com movimentos graciosos. Aproximou-se do grupo deixado pelo rapaz de cabelos pretos e sorriu para Ling.

— Não te deixes atingir pelo comportamento dos outros, Ling. Vieste na altura certa. — ele disse, o seu sorriso agradável preenchendo os seus lábios. — Como eu vos estava a dizer, escolhi pessoalmente um novo membro para a vossa equipa. — Donovan explicou, encarando os novos colegas de Ling. — Apresento-vos Ling Akimoto, o novo membro dos Seiryuu. — ele finalizou, apontando para a jovem de cabelos pretos.

— Mas eu ainda nem lhe dei a minha resposta. — Ling replicou, apanhada de surpresa pela repentina declaração de Donovan.

— Muito bem. — ele começou, com o seu sorriso. — E qual é a tua resposta?

Ter o olhar de quatro pessoas em si numa sala escura e silenciosa não era, de todo, confortável. Ling retraiu-se por um momento, um leve rubor colorindo-lhe as faces, e sentiu as palavras fugirem-lhe.

Porém, ao mesmo tempo, aquele calor único invadiu o seu corpo e as razões que a tinham levado até ali tornaram-se claras na sua mente. Não podia voltar atrás. Os Seiryuu, a equipa japonesa, ou melhor, os seus novos colegas, precisavam dela.

— Eu aceito participar no campeonato. — ela disse, admirando-se a si mesma com a firmeza das suas palavras.

— Fico feliz com a tua decisão. — disse Donovan, com o seu sorriso elegante.

— Não.

Uma voz vinda do meio do trio chamou a atenção dos presentes. Yoriko estava de cabeça baixa, as suas mãos cerradas em punhos e lágrimas pareciam querer formar-se nos seus olhos castanhos.

— Não. — ela voltou a repetir, desta vez num tom mais decidido.

Lançando um olhar confuso e triste a Ling, a jovem de cabelos pretos e curtos saiu a correr do escritório, deixando bem clara a sua opinião sobre o novo membro da equipa.

— Yoriko! — Ling tentou chamar, mas a colega já tinha desaparecido na escuridão das escadas.

Sentindo as suas muitas dúvidas, misturadas às lágrimas da mãe, atacarem-na novamente, Ling foi surpreendida pela mão que tocou no seu ombro. Ao seu lado, encarando a escuridão do corredor, estava Keiichi Matsu, o rapaz das madeixas azuis e dos olhos avermelhados.

— Não te preocupes com a Yoriko. — ele começou, com um olhar compreensivo. — Ela não se foi embora por causa de ti.

— Mas...

— O Keiichi tem razão. — disse Ken, sorrindo para a jovem de olhos azuis. — Amanhã ela já está melhor.

— Acham que sim? — Ling perguntou, ainda preocupada com a colega.

Keiichi piscou o olho e abriu um sorriso, fazendo o rubor voltar à face da jovem de cabelos compridos.

— Podes ficar descansada. E em nome da equipa, deixa-me dar-te as boas-vindas, Ling. Sê bem-vinda aos Seiryuu.

— Eu digo o mesmo! — Ken exclamou, sorridente. — Podes ter a certeza que tanto eu, como o Keiichi, e até mesmo a Yoriko, estamos felizes em que sejas tu o novo membro da equipa.

— Obrigado. — a jovem agradeceu, aceitando as palavras da dupla.

A culpa não era sua.

Se eles os dois o afirmavam, então iria acreditar. No entanto, era difícil esquecer o sentimento de repulsa emanado por Yoriko quando esta se foi embora. Até mesmo do rapaz que a salvara. As memórias do golpe no seu estômago eram recentes demais para isso.

— Ao menos alguém que tenha uma atitude decente. — veio o comentário de Donovan, notando-se o seu incómodo perante a situação. — Como líder da equipa, não esperava menos de ti, Keiichi. — ele disse, o seu olhar recaindo sobre o rapaz das madeixas. — É tua obrigação fazer com que a Ling, ou que qualquer outra pessoa, se sinta bem recebida na equipa. Espero que mantenhas isso em mente.

— Não se preocupe, Sr. Donovan. Eu não me vou esquecer disso. — Keiichi declarou, encarando o homem.

— E quanto à Yoriko? — Donovan retrucou, encarando o líder dos Seiryuu de forma grave.

— Eu falo com ela. — Keiichi respondeu, tomando total responsabilidade perante a situação.

— Óptimo. — disse Donovan, o seu tom regressando ao normal. — Eu parto amanhã para Nova Iorque e não terei tempo para cuidar da vossa equipa. É bom saber que posso ir descansado.

— Mas tão cedo? — inqueriu Ken.

— Ossos do ofício. — Donovan retorquiu, com o seu sorriso. — Não se esqueçam que o campeonato começa em menos de um mês. E que trabalho de equipa é o mais importante de tudo.

Keiichi assentiu, sendo acompanhado por Ken. Pelo tom da conversa, Ling percebeu que estava terminada, mas a jovem não estava preparada para se ir embora. Mil e uma perguntas atingiram-na e Ling não sabia o que fazer. Pertencer a uma equipa não parecia ser tão simples como tinha imaginado.

— Sr. Donovan... — ela chamou, começando a perder a confiança na sua decisão.

O homem sorriu. Não aquele seu sorriso agradável, usado para toda e qualquer situação, mas um sorriso compreensivo. Aproximou-se da jovem e colocou-lhe a mão sobre o ombro, o cuidado do toque dizendo muito mais do que ele algum dia seria capaz.

— Obrigado por teres aceitado a minha proposta, Ling. Não te esqueças daquilo que te disse. Podes fazer muito mais do que julgas.

As palavras de Donovan, aliadas às expressões esperançosas e confiantes dos seus colegas e companheiros de equipa, fizeram-na recuperar a coragem. Não os podia desiludir. Sobretudo, quando já estavam a contar com ela. Já tinha tomado a sua decisão.

Ling era oficialmente um membro dos Seiryuu.

-x-

Após saírem da livraria, Ling despediu-se dos colegas e seguiu em direcção à estação de comboio. Depois de uma tarde daquelas, o que a jovem de cabelos pretos mais queria era ir para casa e esquecer o que tinha acontecido.

Não que o pudesse fazer.

Ainda sentia a saída repentina do rapaz que a salvara no ombro e a de Yoriko, no peito. A colega que, horas antes, tinha a cumprimentado com tanto vigor e alegria, partilhando consigo o seu imenso sorriso, não a tinha aceitado como membro da equipa.

Tanto Keiichi como Ken afirmavam o contrário, mas era impossível não se sentir rejeitada. O olhar triste que Yoriko lhe lançara dizia muito mais do que qualquer um podia imaginar. Mas, mesmo que quisesse, já não podia voltar atrás. Ling já fazia parte dos Seiryuu.

Deixando escapar um suspiro cansado, a jovem olhou em volta da estação, enquanto esperava pelo comboio. Passeando com o olhar de pessoa em pessoa, os seus olhos azuis encontraram os castanhos que ela não conseguia esquecer.

Partilhando da sua surpresa, o rapaz que a salvara encarava-a com o seu ar aborrecido e com os seus lábios finos cerrados. Sem perceber como, o coração de Ling começou a bater mais depressa.

O que deveria fazer?

Há pouco mais de meia hora, ele tinha-a empurrado contra a porta, mas há um dia, ele tinha deixado dois estranhos inconscientes para a ajudar. Sentindo as bochechas aquecerem, Ling fez um leve meneio com a cabeça, mostrando que o tinha reconhecido com aquele breve cumprimento. Porém, naquela altura, era impossível não reconhecê-lo.

Os poucos segundos que o levaram a devolver o cumprimento pareceram horas a Ling. Com a sua expressão imutável, ele imitou o movimento da jovem e voltou o rosto para os carris. O facto de ele a reconhecer fez um sorriso desenhar-se nos lábios dela. Um sorriso que ela não sabia de onde vinha.

Ambos entraram no mesmo comboio, com destino directo a Otaru, e a jovem percebeu que moravam os dois na mesma cidade. Fazia sentido. Que outra razão o levaria a percorrer as ruas da parte residencial de Otaru, se não o facto de estar a caminho de casa? Então, ele morava perto de si? A possibilidade fez o seu coração voltar a bater mais depressa.

A situação só piorou quando saíram os dois na mesma estação e começaram a seguir o mesmo caminho, ele à frente e Ling uns quatro passos de distância atrás. O seu coração continuava a bater a um ritmo acelerado e um nervoso miudinho percorria todo o seu corpo. Estava sozinha com ele.

Na rua vazia, só se ouvia o barulho dos seus passos no asfalto. Cada baque deixava a jovem mais nervosa, preocupada se deveria, ou não, dizer alguma coisa. Já lhe tinha agradecido, pelo que não queria ser rude e dizer a mesma coisa duas vezes. Mas sentia que devia falar com ele. Ela queria falar com ele.

Para sua surpresa, o rapaz virou-se para trás de repente, os seus olhos castanhos recaindo na sua figura pequena e nervosa, obrigando-a a parar no mesmo instante.

— Tens a certeza que devias ir para casa sozinha? Tu sabes, por causa do que aconteceu.

O tom monótono, inexpressivo, não revelava se aquela simples questão escondia algum tipo de preocupação ou se ele apenas o perguntava por delicadeza. Todavia, qualquer que fosse o motivo, tinha sido o suficiente para o rubor voltar ao rosto da jovem.

— Não sei. — ela confessou, encarando o chão escuro. — Foi a primeira vez que aquilo aconteceu, por isso não sei se devo estar preocupada. — ela disse, com um sorriso doce, a mágoa do se passara escondida nele.

Ele encarou-a, talvez intrigado, ou talvez chateado com a sua resposta, mas não a questionou sobre a sua decisão. Em vez disso, perguntou algo diferente.

— E por que foi que aquilo aconteceu?

Ling olhou para ele e depois para o chão. Perguntando-se se deveria contar-lhe a verdade, sentiu aquele calor único invadi-la mais uma vez. Ele sabia sobre a Associação. Com a sua apresentação à equipa, tinha ficado claro que ele não pertencia aos Seiryuu, mas estava envolvido com eles de alguma forma. O que só podia significar que ele também sabia sobre a existência de Guardiões.

Respirando fundo para reunir a sua coragem, Ling levou a mão ao pescoço e puxou de dentro da blusa o fio dourado.

— Por causa disto. — ela respondeu, os seus olhos azuis meia-noite procurando os dele.

— Um Guardião? — ele inqueriu, não se mostrando surpreso pela revelação. A jovem assentiu, com um pequeno sorriso. — Estavam atrás dele?

— Não. Na verdade, estavam atrás de mim por causa de algo que se passou há muito tempo.

O rapaz não disse nada, pelo que se tornou impossível para a jovem perceber se ele queria saber da história. Ling, porém, queria contar-lhe. Queria que, ao menos alguém, soubesse da verdade.

— Quando eu comecei na escola, não conhecia ninguém. Durante a primeira semana, não tinha vontade de brincar, ou de estar com os outros. A professora até tentou juntar-me a alguns alunos no intervalo, mas eu fugi e sentei-me num canto da escola sozinha. Lá, eu decidi chamar a única pessoa que eu considerava minha amiga: o Angel.

— O teu Guardião? — ele perguntou, no fundo já sabendo a resposta.

— Sim. Invoquei-o e ele apareceu, na sua forma pequena. Comecei a falar com ele, como sempre fazia, só que não sabia que alguns dos alunos estavam à minha procura. Três deles encontraram-me e viram o Angel. Assustada, fi-lo desaparecer, mas já era tarde demais. Um deles correu a chamar a professora e os outros dois começaram a fazer perguntas que eu sabia que não devia responder. Então a professora chegou e eu menti-lhe, acabando por encerrar a situação.

O rapaz permaneceu em silêncio, os seus olhos fixos num canto aleatório e Ling percebeu que podia continuar. Por algum motivo, falar sobre aquele assunto não estava a ser tão complicado ou doloroso como ela julgava que seria.

— Só que não ficou por aí. No dia seguinte, os três alunos puxaram-me a um canto e obrigaram-me a mostrar-lhes o Angel, obrigaram-me a dizer a verdade à professora, mas eu recusei. A situação tornou-se numa briga descomunal entre quatro crianças, o que fez com que os nossos pais fossem chamados à escola. E depois disso, o assunto morreu. Desapareceu dos registos como se nunca tivesse acontecido. Até os professores, quando questionados, diziam que não sabiam do que se tratava.

— A Associação. — o rapaz concluiu, recebendo um pequeno sorriso em resposta.

— Sim. O problema é que os três alunos não gostaram de serem vistos como mentirosos e começaram a colocar toda a gente contra mim. Um deles era filho de uma família importante, pelo que influenciar os outros não foi difícil. Cresci com eles, fomos da mesma escola até ao ano passado, pelo que a história repetia-se sempre que tentava aproximar-me de alguém. Por isso, decidi mudar de escola. Acho que o que aconteceu ontem foi uma forma de eles me dizerem que não se tinham esquecido de mim.

O rapaz desviou o rosto, a sua expressão impossível de decifrar. Sentindo que tinha forçado os seus problemas em alguém que mal conhecia, Ling apressou-se a desculpar-se.

— Peço desculpa, eu não devia ter dito nada! Não tens que te preocupar com os meus problemas.

— Não faz mal. — ele disse, com a sombra do que parecia ser um breve sorriso. — Fui eu que perguntei. Obrigado por me contares.

As palavras suaves dele devolveram o ritmo acelerado ao seu coração e o nervoso miudinho espalhou-se por todo o seu corpo. O sorriso dele era incrivelmente bonito.

— Ainda não sei o teu nome. — ele retrucou, trazendo a jovem de volta à realidade.

Sentindo as bochechas ferver, ela agarrou na alça da mala com força e fez uma pequena reverência, mais desajeitada do que esperava.

— Chamo-me Ling Akimoto. — ela disse, sem conseguir conter o sorriso doce nos seus lábios.

— Ling, huh? É um nome engraçado. — o sorriso dele voltou e Ling não conseguiu perceber a explosão de sentimentos que a atingiu. Só sabia que queria voltar a ouvi-lo dizer o seu nome. — Eu chamo-me Masao Hamasaki, mas podes chamar-me apenas de Masao.

— Mas... — a jovem ia protestar, mas o rapaz foi rápido demais, virando-lhe as costas ao mesmo tempo que lhe respondia.

— Eu não gosto do meu último nome, por isso não faz mal. Vemo-nos por aí.

E com aquela despedida rápida e estranha, ele desapareceu numa das ruas à direita e Ling ficou parada onde estava, encarando a rua vazia. O seu coração ainda batia forte e uma vontade enorme de voltar a falar com ele apoderou-se dela.

— Masao... — ela deixou escapar, sentindo uma vergonha enorme em pronunciar o nome dele em voz alta.

Sentindo-se cada vez mais confusa, começou a correr em direcção a casa, as memórias daquele pequeno encontro repetindo-se na sua mente.

Masao. Masao Hamasaki.

E aquele sorriso do nada voltou aos seus lábios.

-x-

Já se tinha passado perto de uma hora e Keiichi continuava a percorrer as ruas de Sapporo, à procura de Yoriko.

Após se despedirem de Ling, o rapaz das madeixas azuis deixou Ken por sua conta e decidiu resolver a questão de Yoriko o mais rápido possível. Já tinha procurado pela cidade inteira, mas não havia sinal da jovem.

Sabia que ela não tinha voltado para casa, por isso não lhe restava outra hipótese senão continuar a procurar. No momento, o rapaz dirigia-se para o último sítio que se tinha lembrado: a escola.

Apesar de ser o seu último recurso, o telhado da escola era o esconderijo favorito de Yoriko quando o que a jovem tinha feito era tão impensável, que nenhum dos seus outros sítios eram o suficiente para ela se esconder.

Já fazia tanto tempo desde a última vez que tivera de a arrastar de lá, que Keiichi julgava que a jovem tivesse deixado de lado essa sua pequena mania. Pelos vistos, velhos hábitos são difíceis de se perder.

— Eu já devia saber que estavas aqui, Yoriko. — disse o rapaz, assim que abriu a porta para o telhado e encontrou-a sentada no chão de cimento, a cabeça deitada sobre os joelhos.

— Vai-te embora, Keiichi.

— Desculpa, mas não posso. — ele devolveu, ao lado da amiga. Ela virou-lhe a cara. — Tens ideia de como o Sr. Donovan ficou chateado com a tua atitude? — começou o rapaz, indo directo ao assunto.

— Achas que eu ligo? — ela replicou, irritada.

— Eu sei que ligas. — o rapaz afirmou, seguro das suas palavras. — Sobretudo, por causa da tua mãe.

O comentário só fez a jovem enterrar ainda mais a cabeça sobre os joelhos.

— As coisas não deviam ter acontecido assim. — Yoriko deixou escapar, revelando os seus olhos inchados ao companheiro. — Quem devia ter-se juntado à nossa equipa era o Masao, não a Ling.

— O Masao fez a sua escolha. — disse Keiichi, num tom cansado. Aquele assunto estava a tornar-se repetitivo.

— A escolha errada! — exclamou Yoriko, encarando o amigo de cabelos azulados. — Era ele que devia substituir o Yousuke! Ele é nosso amigo, cresceu connosco! O lugar na equipa pertence-lhe!

— O lugar na equipa pertencia ao Yousuke! — ripostou Keiichi, mostrando-se irritado pela primeira vez. — Mas o Yousuke está morto. O Masao tomou uma decisão e, como amiga dele, devias respeitar isso.

A jovem voltou a enterrar o rosto sobre os joelhos. A verdade estampada nas palavras de Keiichi era dura demais para ela a aceitar.

— O Yousuke era irmão dele. Ele tem a obrigação de tomar o seu lugar. — ela murmurou, tentando mais uma vez mostrar que tinha razão.

Porém, as suas palavras tiveram o efeito contrário, irritando Keiichi ainda mais. O rapaz, contudo, não se exaltou. Em vez disso, lançou-lhe um olhar frio.

— Pareces o avô dele a falar. — o rapaz declarou, fitando a jovem ao seu lado.

A comparação de Keiichi foi o suficiente para a jovem de cabelos pretos e rebeldes perceber a gravidade do que estava a dizer. Do que estava a fazer.

— Eu...! — ela tentou começar, mas foi interrompida pelo companheiro de equipa.

— Sem falar na Ling, que ficou a pensar que saíste daquela maneira por culpa dela! — Yoriko voltou a baixar o rosto, desta vez aceitando as acusações de Keiichi. — Nós podemos nem a conhecer muito bem, mas ela não tem culpa das decisões do Masao. Nós somos uma equipa, Yoriko. Se vamos agarrar aquele título, temos que ultrapassar contratempos como este.

— ...Eu sei. — ela sussurrou, percebendo enfim as consequências da sua atitude repentina. — Mas não consigo deixar de pensar no Masao.

— É melhor começares. — disse o rapaz, voltando ao seu tom calmo de sempre. — O Masao vai para a Austrália e nós vamos ficar aqui.

Sentindo as palavras do amigo atingi-la muito mais do que esperava, Yoriko encolheu-se o máximo que conseguiu. Não queria ouvir mais nada.

— Leva o tempo que quiseres para digerir isto tudo. — o rapaz continuou, preparando-se para se ir embora. — Mas promete-me que quando voltares, vais aceitar os Seiryuu tal como eles são. Comigo, com o Ken e com a Ling.

A resposta demorou a vir. Minutos de silêncio pareceram horas, cada um deles fazendo Keiichi acreditar que nada do que ele tinha dito havia resultado. Nada tinha entrado naquela cabeça dura e teimosa, apenas fazendo ricochete e tornando-se em pó levado pela brisa daquela tarde fresca de Primavera.

Mas um leve movimento naquela forma aconchegada e amuada fez a esperança voltar ao rapaz.

— ...Eu prometo.

-x-

Continua...

- - - - - - - -

N/A: Coisas importantes a esclarecer antes das minhas notas finais.

- Os japoneses têm a tendência em não partilhar os seus problemas pessoais com os outros, como forma de não serem rudes e incomodar os outros com a sua vida. É daí que tirei a reacção da Ling assim que ela terminou de contar a sua história ao Masao;

- Japoneses têm costume de chamar as pessoas que não conhecem bem pelo último nome, pelo que quando o Masao diz à Ling que ela o chame pelo primeiro nome, é algo forte;

- É claro que eu tinha que escrever uma cena no telhado da escola :v;

E chegam de notas!

Espero que todos tenham gostado do capítulo! E que tenham gostado do facto de eu ter FINALMENTE revelado o nome do rapaz (Masao), hehehe. Tinha que ser de maneira especial. o/ Próximo capítulo será sobre um grupo de personagens diferentes que, quem leu a fanfic, vai reconhecer de certeza. Mas... quem será? Alguém atreve-se a adivinhar?

Para terminar, quero agradecer a todos que estão a acompanhar e relembrar para deixarem a vossa opinião, ela é MUITO IMPORTANTE para mim. Não se esqueçam de votar e, se puderem, partilhar a história! o/

Obrigada a todos! Até ao próximo!

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