Laço de cetim

By Margarethhale

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A história se passa na Inglaterra de 1875 e conta a história de duas famílias intimamente ligadas, os Woody e... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27

Capítulo 10

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By Margarethhale


                       Eis que o grande dia havia chegado a galopes, trazido pelos ventos gelados do norte. Poucos convidados estavam presentes por preferência da família, apenas os mais íntimos e que isto não soa-se como se eles fossem maus anfitriões. Alguns irmãos de Juan estavam ali, com sua tez morena, seus traços marcados e seu charme latino, e aquilo definitivamente chamava e também cheirava a confusão. Alícia vinda de Londres, fez questão de estar boquiaberta perto de todos eles, pena que já fossem todos casados para o seu mais completo desgosto.

— Isto seria uma loja? — Questionou ela olhando para Céu muito seriamente. A mulher olhou um pouco assustada.

— Como?

— Isto seria uma loja... de homens? Sinto que estão todos reservados. — E seus olhos brilharam e um sorriso espalhafatoso aterrissou em seus lábios. A mulher fez uma careta ao olha-la. Será que nenhuma palavra que saí-a daquela boquinha podia ser séria?

— Pelo amor de Deus Alícia. — Céu moveu-se para longe, precisava ainda ver como alguns preparativos estavam, tropeçou um momento em Sophie que corria de um lado a outro ordenando funções e afazeres aos empregados. Pararam por um momento se entreolhando e logo se abraçaram.

— Isto não te parece uma insanidade? Quando que eu poderia imaginar nossos filhos se casando? — Disse Sophie e seus olhos quase transbordaram.

— É, eu sei, parece um sonho bastante estranho, estranho digo por aqueles tolos com cara de poucos amigos que por acaso são os nossos queridos maridos. — E olharam a dois homens altos, longe um do outro, com os braços cruzados no meio do imenso jardim onde seria realizada a cerimônia.

— Sinto que vou matá-los se não fizerem as pazes. Sou uma má pessoa por isto? — E riu passando os dedos no cabelo castanho.

                      Do outro lado Margareth usando um vestido azul passeava de braços dados com o noivo Valentim, que parecia feliz com seu sorriso bobo de sempre no rosto, e suas abotoaduras caras.

— Em breve será o nosso casamento querida, não fica feliz? É claro que faremos uma festa muito maior que esta, quero uma festa que dure dias.

— Não pensa que seria um exagero sem propósito? — Questionou ela.

— Só se casa uma vez na vida, por que não o melhor? Es tão minimalista Maggie.

— As pessoas não me chamam de Maggie, Valentim, eu odeio a este apelido. Sou Margareth. Maggie é apenas doce, e não sou eu. — Respondeu de modo rápido gesticulando no ar. Valentim se questionou porque ela tinha que estar tão zangada, mas adotou a teoria de que seria o casamento. — Eu preciso ajudar a Aurora a se arrumar, com licença. — Dirigiu-se a casa. 

                     Em um quarto junto à penteadeira, encontrou uma das mulheres mais bonitas que havia visto. Os longos cabelos escuros ondulados caindo pela cintura desenhada, e pelos quadris largos. Os olhos grandes amendoados e castanhos só faziam um complemento como joias preciosas em uma pele de pêssego, mas algo muito obscuro se escondiam atrás deles, a menina podia ver, algo que não existia anos atrás quando aquela mulher era apenas uma garotinha, mas que agora pairava como uma névoa por sobre sua cabecinha, algo triste que aos mais sensíveis poderia fazer chorar como bebê, algo profundo que produzia nós na garganta, algo que causava calafrios. O véu da noiva continuava posto sobre a cama, era longo e belo com bordados florais. O vestido bem ajustado ao corpo extremamente feminino tinha bordados em toda a barra, e as mangas eram de um tecido transparente que também cobria o pescoço com alguns desenhos bonitos. Nós pés botinhas de salto também brancas. Nós lábios uma cor muito ousada de batom, vermelho, e Margareth tinha certeza que escutaria exclamações quando aquela dama tão perfeita atravessa-se o tapete vermelho ao encontro do noivo para proferir juramentos.

— Batom vermelho? — Questionou a prima preocupada e surpresa.

— Não poderia ser negro não é? — Sorriu levemente a moça e a outra teve certeza que aquela mulher definitivamente faria sucesso na França. Na verdade ela faria sucesso em qualquer lugar com sua beleza extraordinária e seu mistério.

— Pensei que poderia precisar de ajuda, mas ao que vejo já está completamente pronta prima.

— Não completamente. Ajude-me a colocar o véu. — A menina ruiva correu e apanhou com as duas mãos o tecido bonito e esvoaçante, e com muito cuidado colocou em cima da noiva, e percebeu que este a cobria até os pés como se fosse imaculada, uma santa de altar.

— Está linda prima, na verdade nunca vi algo tão primoroso em minha vida. Alguns amigos artistas meus de Paris sonhariam em poder reproduzi-la em uma tela tal qual está aqui.

— É muito doce de sua parte... E... Heath? O viu? — E havia algum tom excitado naquela voz trêmula, algo preocupada.

— Ainda não, mas ele estará lá, não se preocupe, ele cumpre sempre sua palavra. Bem o sabe. — Tentou soar reconfortante.

— Com certeza que o sei, não temo por isto. Se não se importa gostaria de ficar a sós um momento, sim? — Pediu a noiva em quase ordem, e a outra a compreendeu perfeitamente. Quando a porta se fechou Aurora colocou-se de pé olhando para o seu velho quarto, todas as memórias atravessando sua cabeça como um turbilhão. Atravessou o aposento e puxou um quadro, um quadro que o pai havia pintado dela quando era um bebê e sentava-se no colo da mãe Céu. Jogando-o a um canto, vislumbrou uma abertura na parede e de lá um caderninho de veludo de capa azul e letras douradas escrito Amy. Abriu sentindo o cheiro de poeira e olhando folhas amareladas pela ação do tempo. Encontrou uma grande tigela de prata e alcançou uma vela que mantinha acesa no quarto em todo e qualquer horário. Provavelmente não precisaria daquela vela, pois chamas crispavam de seus próprios olhos. Com raiva iniciou a rasgar as folhas com bastante rapidez jogando-as na tigela.

— É tudo sua culpa, absolutamente sua culpa Amy. — A lembrança de ter lido as palavras contidas naquelas folhas, a fez tornar-se mais vermelha como fogo. Viu perfeitamente o rosto de Heath ainda mais jovem a sua frente, profundamente constrangido olhando para a pequenina Amy, tão nova que mais parecia uma criança com seus 12 anos. Sentiu a indiferença que após aquele episódio atingiu ao seu único amor, os olhos azuis frios e tão sem paixão. Odiou-o também, pois ele era tudo o que ela tinha.

                       Pegou a vela, a chama tremeluzindo, pegou um pequeno pedaço de papel e o viu queimar tornando-se cinzas à medida que o fogo avançava consumindo-o. Jogou sobre os outros pedacinhos de papel e tudo tornou-se apenas como uma bola colorida laranja, presos ao passado assim como ela também sentia-se. Lágrimas cristalinas caíram de seus olhos quase apagando o fogo. Com raiva na tentativa de se livrar de tudo aquilo o quanto antes jogou a vela dentro da tigela contaminando com a chama outros pedaços de papéis. Satisfeita saiu, não vendo a cortina serpentear tocando a vela branca.

                         Quando a noiva apareceu, todos os olhos se concentraram unicamente nela e em sua formosura. Podiam escutar anjos do céu cantando em suas vozes líricas algo divino a cada passo que ela dava, e uma atmosfera cristalizada. Toda ela parecia de fato santa e imaculada, um perfeito presente de Deus, totalmente moldada as suas preciosas mãos sagradas, cada pedacinho pequeno de seu corpo com um toque especial, sua cinturinha, seus pés pequenos, os fios de seu cabelo, o nariz arrebitado, os lábios carnudos. Era divina e deveriam estar fazendo oferendas a ela. Ao final do imenso tapete vermelho coberto por pétalas de rosa que dançavam ao vento a cada lufada o noivo com uma tempestade perigosa nos olhos a esperava, muito sério observando cada pequeno passo que dava como todos os outros. Heath tinha as mãos geladas como o gelo, e qualquer um que o observa-se naquele momento juraria que sua alma o era assim também. Junto a ela formariam um par impar em beleza, como Apollo e Afrodite. Margareth ainda olhou para trás, as suas costas ali sentada no banco onde estava para ver se avistava um desnaturado Diego, mas este apenas tinha desaparecido o dia inteiro, o que era absolutamente de se esperar da parte dele.

                            O padre iniciou suas palavras de uma união sagrada, enquanto cada um deles repetia o que lhe era compelido até as suas últimas palavras. A um canto, Juan tentava se fingir de muito sério, no entanto de seus olhos brotavam lágrimas que ele insistentemente impedia de cair, assim o fora também em seu próprio casamento, e era verdade que também as mães choravam, o único que parecia alheio e muito sério era Ian, mas todos poderiam entender que sua natureza era daquele modo bastante controlada.

— Vós aceitais a senhorita Aurora Salles como sua legitima esposa para amá-la e respeitá-la até que a morte os separe? — Heath virou-se para a noiva de olhos castanhos e sentiu calafrios na espinha que se agravaram até ter as mãos trêmulas. Tentou lembrar a si mesmo do sentimento que tantas vezes proferira por ela, que o fazia se sentir sufocando, a sensação de pertencimento completo. Dissera a Amy que amava Aurora ainda e que imploraria para que ela retorna-se aos seus braços. Agora tudo se cumpria como uma profecia, não precisava temer. Ele a conhecia, não conhecia? Ansiava por tê-la por baixo do seu toque não o era?

— Aceito. — Disse ele por fim, e naquele mesmo instante Aurora que segurava um buquê de rosas na mão furou o dedo em um espinho perdido e esquecido e gotas vermelhas pingaram sobre o vestido pálido quando Heath aproximou-se a colocar a aliança dourada em seu dedo.

— Senhor está pegando fogo, está pegando fogo. — Surgiu um empregado gritando de detrás da grande e imponente casa dos Salles casa que um dia pertencera a Antony Moore, pai biológico de Céu Salles, que havia morrido anos atrás de velhice. Os convidados admiraram uma fumaça espessa e negra elevar-se ao céu coberto pelos primeiros sinais do pôr do sol, de tons laranjas, roxos, róseos, violáceos. 




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