Bella Mafia - Dinheiro se lav...

By vittograziano

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Figura influente no horário-eleitoral e sócio majoritário da maior mineradora de brita do Rio de Janeiro, Sal... More

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Acervo de Capas
Prefácio
Capítulo 01 - O Pistoleiro I/II
Capítulo 02 - Os Peões
Capítulo 03 - O Pistoleiro II/II
Capítulo 04 - O Homem do Povo I/II
Capítulo 05 - Mazzaropi I/II
Capítulo 06 - O Motorista I/II
Capítulo 07 - Os Chefões
Capítulo 08 - O Homem da Lei I/VII
Capítulo 09 - O Homem de Deus I/II
Capítulo 10 - O Motorista II/II
Capítulo 11 - O Homem de Deus II/II
Capítulo 12 - O Homem do Povo II/II
Capítulo 13 - O Homem da Lei II/VII
Capítulo 14 - O Condomínio
Capítulo 16 - Laços de Sangue I/II
Capítulo 17 - Morto-Vivo
Capítulo 18 - Laços de Sangue II/II
Tomo I - Início de Festa
Capítulo 19 - O Ébrio I/II
Capítulo 20 - Mazzaropi II/II
Capítulo 21 - A Isca e os Tubarões
Capítulo 22 - O Homem da Lei III/VII
Capítulo 23 - O Rei Postiço
Capítulo 24 - O Boi de Piranha
Capítulo 25 - O Ébrio II/II
Capítulo 26 - Coral Verdadeira I/II
Capítulo 27 - O Pistoleiro e o Enxadrista
Capítulo 28 - O Falso Profeta I/III
Capítulo 29 - Coral Verdadeira II/II
Capítulo 30 - O Falso Profeta II/III
Capítulo 31 - O Homem da Lei IV/VII
Capítulo 32 - O Falso Profeta III/III
Tomo II - Sinfonia Escarlate
Capítulo 33 - O Filho Pródigo II/II
Capítulo 34 - Canção da América I/III
Capítulo 35 - Rap da Felicidade I/III
Capítulo 36 - Canção da América II/III
Capítulo 37 - Rap da Felicidade II/III
Capítulo 38 - Canção da América III/III
Capítulo 39 - Rap da Felicidade III/III
Capítulo 40 - A Raposa e as Uvas
Capítulo 41 - Roda Viva I/II
Capítulo 42 - Agridoce
Capítulo 43 - Roda Viva II/II
Capítulo 44 - Prova de carinho I/II
Capítulo 45 - Por quem os sinos dobram?
Capítulo 46 - O Homem da Lei V/VII
Capítulo 47 - Prova de carinho II/II
Capítulo 48 - Não me deixes mais
Capítulo 49 - Reais Amigos I/II
Capítulo 50 - O Senhor da Guerra
Capítulo 51 - Reais Amigos II/II
Capítulo 52 - Por Enquanto
Capítulo 53 - Faroeste Caboclo
Capítulo 54 - Pot-pourri dos infernos
Tomo III - O Fim de uma Era
Capítulo 55 - O Homem da Lei VI/VII
Capítulo 56 - O Filho da Máfia
Capítulo 57 - Coração de Porcelana
Capítulo 58 - Fim da Ilusão
Capítulo 59 - O Homem da Lei VII/VII
Capítulo 60 - Assunto de Família
Capítulo 61 - Sombras de um Passado Jamais Esquecido
Capítulo 62 - Fim da Linha
Capítulo 63 - Heroísmo da Palavra
Capítulo 64 - Pedaço de Mim
Capítulo 65 - Serpente Amiga
Capítulo 66 - Fogos de "Artifícios"
Capítulo 00 - Jogada de Mestre
Capítulo 67 - Cartada Final
TOMO IV - Por um Brasil diferente...

Capítulo 15 - O Filho Pródigo I/II

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By vittograziano

Domingo, 07 de setembro, 18h00 – Tijuquinha – Barra da Tijuca

A noite era quente ao ponto de derreter o tutano dos ossos. O ambiente fedia a suor azedo, enquanto sobre alguns colchões de enrolar Nazareno olhava para o teto composto por telhas de amianto. Um ano havia passado e, raquítico ao ponto de os ossos quase irromperem a pele, em nada lembrava a fama de pistoleiro inato, que só sossegava a fúria no gatilho. Sequer conseguia dar cabo dos poucos "serviços" encomendados ou manter-se longe da "pedra". Depois da infausta punição, sua vida havia virado de ponta a cabeça. Culpa daquele em quem confiou seu amor. Um golpe sujo, dado por seu pai adotivo.

***

— Olha pra porra do chão — dizia Salvador Lavezzo ao enfiar a pistola em sua nuca. — O seu mal é pior que um câncer — fitava-o de cima a baixo. — O seu mal é a burrice.

Melado com o próprio sangue, Nazareno não tinha ideia do quanto durava aquela agonia: dias, horas ou minutos? Humilhado pelo homem que um dia chamou de pai, num passe de mágica seus amigos sumiram, da mesma forma que o dinheiro fácil e a segurança de ser um intocável, pois diferente dos peixões, não possuía berço de ouro ou a influência necessária para ser insubstituível. Este seria o seu fim. Punido sem o mínimo de razoabilidade, de joelhos na cova chorou como uma criança.

O corpo doía, mas nada se comparava ao mal contra sua alma. Marcado pela desilusão arrependeu-se de hesitar durante a reação e, com os braços quebrados, lançado de quase três metros de altura, aguardava pela morte numa vala clandestina que, tão impiedosa quanto Salvador Lavezzo, não pensaria antes de soterrá-lo vivo.

***

A despeito dos olhos grandes quase pretos, as trevas constituíam parte de seu ser. Forjado a ferro e fogo, Nazareno de Jesus, desde os dez anos de idade, havia aprendido o que era ter gosto pela morte, contudo, a lembrança daquele dia nunca o abandonaria. Eram apenas ele, o medo de morrer e as dezenas de perguntas. Um ano já havia se passado, mas as palavras de Salvador Lavezzo, assim como o sabor do esgoto, jamais seriam esquecidas. Socos, pontapés, afogamento e muitas ameaças, mas o estouro não chegava. Encontrava-se repleto de lama e destituído de qualquer dignidade. O suor salgado, mesclado com sangue, tinha um aroma ímpar e a cada lembrança parecia mais insuportável como o cheiro de vala.

Já dizia o velho ditado: que um homem não vale o que é, mas o que tem ou o que pode oferecer. Se na política o valor de um candidato é medido pelo número de votos angariados para a legenda, com os Amigos não seria diferente. Caso produza dinheiro, concessões podem ser feitas e como não passava de mais um "sem futuro", pagaria com o próprio sangue. O mesmo fim de tantos outros jovens encontrados nos subúrbios cariocas que caíam do cavalo muito antes da hora.

O cachimbo de vidro queimou seus lábios. Despertou do estado de catarse e escutou uma sequência de sons. Os traçantes sem endereço cruzavam o infinito. Gritos, estampidos e palavrões avulsos. Novamente olhou para o vidro estalado e as pedras sobre a mesa, mas desviando sua atenção, pôde ver a realidade, no formato de um traçante, cruzar a vespertina. Algo de ruim estava prestes a acontecer. O mais prudente seria sair dali enquanto tinha oportunidade, no entanto, perdendo o controle das funções motoras, caiu de bruços e espatifou o cachimbo junto ao peito.

***

O sol da vida e morte nordestina estava a se pôr. O céu cor de rosa padecia diante o último raiar. Eis que o luar do sertão vazou a escuridão junto à mata brilhante, a chuva de prata.

Fruto do cenário mais ignorado pelo Estado brasileiro, não passava de mais uma carcaça raquítica, chamuscada pelo sol e explorada por um fazendeiro bravo, de posses, batizado Sebastião Silva, porém, conhecido pelo título de Coronel.

Seus pais, pessoas humildes, nasceram e morreram por aquelas terras contraindo dívidas de seus avós. Coagido a viver naquela prisão invisível feito a imitação de uma vida comum, Nazareno sentia que havia algo de errado, injusto. Bastava aquela imagem rechonchuda e de bochechas rosadas pelo sol surgir que seus sonhos escapavam entre os dedos e a aroeira cantava em suas pernas. Golpe atrás de golpe até sua carne grossa sangrar. Era uma sensação de agonia constante, impedindo seus movimentos. Uma dormência total.

— Seu problema é pessoal, deixe minha família em paz, desgraçado! — dando um salto no tempo lembrou-se dos berros desesperados do Coronel.

— Desgraçado? É assim que vai tratar um enviado do patrãozinho? — disse um jovem Salvador Lavezzo antes de chutá-lo na altura das costelas. — Olha pra trás e resolve com ele.

Entrando na sala à passos vagarosos, quase desconfiados, por um momento Nazareno riu da maneira como aquele homem cismou de chamá-lo. Feliz como nunca havia estado, em posse de sua primeira arma de fogo, Nazareno encarou os olhos assustados e suplicantes do Coronel. Diante do canhão ali estava o homem que havia matado seus pais sem remorso algum. O mesmo homem que havia lhe privado de todo o amor de uma família ao jorrar o imaculado sangue de sua mãe e humilhar seu pai cortando-lhe os culhões antes de arrastá-lo pela cidade. Seu maior pesadelo agora se limitava a um velho cretino com a cara arrebentada e que de tão abatido não tinha um pingo de sangue nos lábios.

— Deixe minha família em paz... — à mercê da vontade da criança que tanto maltratou, Coronel não acreditava em tão miserável fim, ainda mais, nas mãos tão pequenas.

O tremor das mãos atrapalhava o manuseio da pistola. O metal pendia de cima para baixo, enquanto, segurando a coronha, Nazareno o encarava num misto de ódio e pavor. Enfim o sangue tornou a circular sem seu corpo e no exato momento em que tocou o gatilho, antes de imprimir a força necessária, ouviu um som. Ao seu lado, escondido embaixo da mesa do corredor, havia um menino, uns cinco anos mais novo, encostado na parede. Ele estava chorando, podia ver seus lábios tremerem de pavor.

— Seu problema é comigo, capeta! — berrou Tião.

O filho mais novo do Coronel tentava lhe dizer algo, porém não emitiu som algum após o disparo.

Os olhos da criança morta debulhavam-se em lágrimas e sangue. Nazareno assustou-se com a explosão, porém, estendeu novamente o revólver calibre 380, desta vez em direção ao Coronel. Uma lágrima sofrida desenhou o rosto daquele homem tão temido que, depois do segundo dedilhar, teve sua cabeça desmanchada.

De pernas bambas, coberto de Coronel dos pés à cabeça, Nazareno largou o revólver sobre o assoalho e tentou chamar por Salvador, mas a língua inchada enrolou-se dentro da garganta. Confuso, sem saber para onde ir ou que fazer, deu dois passos trôpegos em direção à sala quando, tirando-o daquela cena horrível, recebeu um abraço.

— Muito bem, patrãozinho— erguido aos céus como um vencedor, Salvador o pôs sobre os ombros. Nada fez além de sorrir. — Esse é o seu batismo de fogo.

***

Doze anos mais tarde, o mundo se pôs a girar. Antes conhecido por sua valentia, Nazareno era um talento lapidado pelos Amigos durante os anos em que estivera sob a tutela de Salvador Lavezzo. Peça rara, gostava de ser cruel ao ponto de encarar a morte de frente e driblá-la, entretanto, caíra no limbo feito um cão aguardando pelo sacrifício. Seu destino não poderia ser outro que não morrer pelas próprias armas que tanto disparou.

Que merda foi essa!? — contorcendo-se de dor, disse num esgar seco fincou os dedos no assoalho quando, libertando-o da onda, escutou a tão esperada ligação.

— Boa noite, Nazareno — disse a rouca voz.

Seje direto, De Creta — Nazareno com sofreguidão equilibrava o aparelho.

— Sua encomenda já chegou? — foi direto ao assunto.

Desdi onti — Nazareno disfarçou a voz lenta e espaçada.

— Perfeito, meu rapaz. A partir de agora você é o Zero. — comentou Francesco.

que porra é essa de Zero, hômi? — Nazareno reclamou, visivelmente contrariado. — Eu num sô lixo não.

— Acalme-se, garoto. Você é o Zero porque depois do serviço será invisível. É o homem que vai zerar o número de testemunhas e nos deixar a par de todos os acontecimentos. — disse Francesco após uma risada.

— Se você tá dizendo... — disse Nazareno, embora ainda não estivesse totalmente convencido — Siga com a prosa.

—A missão é simples, mas acho melhor repassá-la — aguardou pela resposta que não veio e prosseguiu. — Como o combinado, o Número Quatro lhe dará cobertura na entrada leste do condomínio. Em seguida, repasse o carro que lhe será entregue para o Número Um no lugar indicado. Caso haja alguma falha no meio do caminho, dê cabo das testemunhas e vá atrás do prêmio — deu uma breve pausa antes de continuar. — Pense bem e dê tudo de si, pois se conseguir lograr êxito reassumirá sua vida.

— Babaca mitido a genti — desabafou após desligar o aparelho enquanto buscava entender o que significava "dobrar" êxito. — Ou seja, lá que porra esse babaca falou.

Permitiu um momento de silêncio para que a dor se acomodasse. Sentia falta da época em que a crueldade do homem era medida pelo tamanho do seu espírito, assim como dos velhos amigos e o cheiro da pólvora queimando a cada missão. Lembranças de uma época em que não existia o medo de morrer. Ou morreria na bala como herói, ou na miséria, como agora, relegado ao anonimato de uma comunidade qualquer.

Os olhos de Nazareno faiscavam a cada recordação dos  Lavezzo. Ainda deitado sobre chão de cimento queimado, retomando suas funções motoras, Nazareno engatinhou em direção ao terno e à chave do seu bem mais precioso que, estacionado ao lado de fora, lhe daria a oportunidade de reencontrar seu "amado pai". Francesco poderia prometer-lhe o mundo inteiro, mesmo assim, acima de qualquer missão, só desejava devolver soco por soco a humilhação passada.


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