Mabelle 🌙
Depois de um primeiro dia uma tanto peculiar, eu cheguei em casa pronta para contar tudo aos meus pais. Em como foi horrível sofrer preconceito por ser quem eu sou, simplesmente uma garota preta e lésbica. E contar que mesmo com esses pesares que provavelmente vou enfrentar muito na vida, infelizmente, foi bom conhecer garotas tão diferentes de mim e tão acolhedora, que hoje não posso chamar de amigas, mas quem sabe futuramente.
O único problema é o que eu tinha para contar, a minha mãe dormia pesadamente em seu quarto, provavelmente tomou algum remédio para suas dores intermináveis na coluna. Enquanto o meu pai deve ter pego mais alguma hora extra no seu trabalho, tudo isso para que eu, meu irmão mais velho e a minha mãe não precisem trabalhar.
Apesar que Matteo faz faculdade na capital do país, e trabalha meio período lá. Mesmo assim meu pai manda dinheiro para que ele não passe por tantas dificuldades.
Ponho as minhas coisas em meu pequeno quarto, o qual tenho orgulho de ter decorado da minha forma com coisas particularmente recicladas. A madeira que sustenta o colchão vem de sextas da feira onde o meu avô trabalha, luzinhas natalinas que não ficam no modo pisca-pisca por ter sua fonte quebrada, então a antiga dona me deu, eu restaurei ela e a coloquei na cabeceira da minha cama, alguns quadros de moldura antiga, mas com imagens que eu mesma mandei imprimir da Internet, um espelho redondo com moldura de madeira e o tapete onde Lupito gosta de dormir, completam a decoração do cômodo de paredes brancas.
Vou para a cozinha para ver o que tem para comer de almoço, e enquanto procuro o que tem na geladeira, ponho ração para meu gato que estranhamente não está perambulando entre as minhas pernas.
Vou atrás dele pelos cômodos da casa pequena, mas que é o lugar mais aconchegante do mundo, onde a maioria dos móveis foram feitas pelo talento excepcional do meu pai em transformar tralhas em coisas completamente úteis.
Encontro Lupito no quartinho de ferramentas do meu pai, dormindo de barriga para cima sobre uma das caixas que tem ali, sorrio vendo as patinhas com manchinhas pretas mexerem no ar, enquanto seu corpinho branco e preto permanece imóvel no sono profundo. O deixo descansar enquanto volto para a cozinha e então finalmente vou almoçar.
♤♡◇♧♤♡◇♧♤♡◇♧♤♡◇♧♤♡◇♧♤♡◇
Aimée ☀️
Eu quase não almoçava por conta de tudo que escutei na escola, mas ao ver a Pop almoçando sozinha após ter uma manhã pior que o minha na escola que ela estuda me faz sentar ao seu lado e não me conter em me alimentar bem.
Ainda bem que a minha mãe não estava em casa, pois cada garfada dada por mim seria muito bem julgada por ela.
Digamos que o sonho de ser bailarina não era só meu até certo ponto da minha infância, mamãe matou o mesmo dentro dela depois que fomos a centenas de nutricionistas e a maioria deles lhe falou que eu deveria perder uma quantidade mínima de peso, pois a maioria da minha massa corporal não era ruim pra mim, pois tinha relação com a minha estrutura corporal, e emagrecer de mais não iria me fazer bem tanto fisicamente como esteticamente.
Já outros nutricionistas me mandaram fazer centenas de dietas malucas, até chegar ao ponto de mecher com meu psicológico e eu mesma desistir de tal coisas para não se tornar algo pior, como eu lia muito sobre saúde sabia o tanto de doenças que poderia desenvolver se não parasse de escutar pessoas golpistas que só queria o dinheiro da minha mãe.
Mamãe só desistiu de me levar a esses profissionais depois que meu pai voltou para o país, trazendo o filho do seu casamento oficial, sim minha mãe foi amante do meu pai, eu e Pop não somos filhas do mesmo pai. Enfim, Alana Ávila desistiu de me tornar bailarina quando eu tinha 12 anos, e desde então eu venho lutando por esse sonho sozinha, enquanto ela a maioria das vezes apenas me julga com o olhar o que me deixa ainda mais abatida.
Acredito que já falei o quão sortuda eu sou por ter a Pop, que na verdade se chama Alice, ao meu lado, ela que é uma menina albina o que consequentemente é motivo de bullying em sua escola, o que me deixa completamente irritada pois ela é o serzinho mais lindo desse mundo.
Enfim, depois de almoçar com ela e deixá-la fazendo seus deveres de casa na sala de TV, vou para meu quarto que seria vergonhoso dizer se eu me importasse, mas é completamente em detalhes rosa e branco, com a cabeceira da cama rosa acolchoada, assim como o baú na direção que fica os pés, um penteadeira branca com luzes em volta do seu espelho, um lustre magnífico no centro do teto, o qual garanti a minha mãe que não iria quebrá-lo.
Me sinto um princesa dentro de seu quarto na torre, todas vezes que entro nele.
Apesar que mudei muito o meu guarda roupa nos últimos tempos, eu vestia tudo que me fizesse parecer uma bailarina de balé clássico e quase desmaiava com quanto as roupas eram desconfortáveis, até descobrir que cores trazem alegria, jardineiras são confortáveis e parecer alguém no mínimo feliz quando se está quebrada por conta dos julgamentos não me parecia tão ruim.
♤♡◇◇♧♡♧♤◇♡♧♤◇♡◇♡♧♧¡♧◇♧♡
Elouise 🌧
Ter uma crise, mesmo que pequena, na escola e ser acalmada por três estranhas com humores completamente diferentes, mas complementares, deveria ser considerado cômico, para não deixar o clima pior e deixá-lo trágico.
Enquanto desenho, ou tento desenhar, estando em meu quarto depois da aula, pois meu pai ainda não terminou o almoço que segundo o mesmo seria uma almoço especial de primeira dia de ensino médio para mim, penso em como gostei de conversar com a meninas, de saber mesmo que pouco sobre a vida delas.
Respiro fundo um pouco frustrada pelo meu primeiro dia, o qual o meu pai acredita que foi maravilhoso, sinto cheiro das plantas que existem em meu quarto. Uma vez li em um livro que plantas são fontes de paz e tranquilidade, tudo que eu preciso. Foi assim que o meu quarto, se tornou a casa de algumas plantinhas, eles servem tanto como algo terapêutico como decoração, que composta por cores claras e verde que é a minha cor favorita, fora que a janela enorme com um banco é meu lugar favorito do mundo, onde leio e os livros da minha prateleira a qual tenho orgulho de olhar pois lá está os mundos os quais visitei e me tomaram a atenção para si.
Desisto de desenhar me sentindo um pouco desinquieta, me jogo em minha cama pegando o meu celular, entro no Instagram e já vejo que tem algumas solicitações novas para me seguirem.
A primeira delas é da @/Aiméesemballet, me questiono o porquê dela ter usado esse user, pensei que ela gostasse de dançar, depois pergunto a ela.
A segunda solicitação é de quem eu menos esperava receber, pelo menos não no primeiro dia de aula, @/itsGael me surpreendeu completamente, penso por um tempinho se aceito ou não, mas acabando o aceitando e o seguindo assim como fiz com a sua meia irmã.
Sigo de volta a @/euloretta que com certeza é a melhor nas palavras de cada uma de nós, ao segui-la vejo que sua conta é aberta e ela tem como seguidor @/eualec o que é estranho pois a mesma disse o quanto ele foi escroto com ela o que me irritou bastante, ele não sabe respeitar as pessoas? Além de que o user deles é bem parecidos, o que é uma coincidência assustadora, em algum momento um deles deverá mudar, eu acho.
@/Mabellebiju é a última que eu aceito, entre a novas solicitações, ela também tem como seguidores a @/uni.oli, que é outra da mesma categoria do Alec tão preconceituosa quanto ele.
O ensino médio é algo consideravelmente engraçado, é a época que você é velho demais para algumas coisas e novo demais para outras. É quando você finalmente começa a se descobrir e enteder o que está descobrindo.