What Could Have Been

By ellebrocca

268K 21.5K 64K

Alcina Dimitrescu teve a infelicidade, ou talvez não, de sobreviver após a luta contra Ethan Winters sendo re... More

TEMPORADA 1 - O Corpo
Desconfianças
O Vilarejo
Dentro do Castelo
Primeiro Dia
Seguidas por Sombras
Descobertas
A Queda
Pistas e Suspeitas
Uma Boa Desculpa
A Máscara de Chris
O Plano de Miranda
Uma Verdade Dolorosa
Um Recomeço
TEMPORADA 2 - Fragmentada
Lado Sombrio
Alianças
Fuga
No Meio da Noite
Última Chance
Adeus, Rosemary
TEMPORADA 3 - De Volta ao Lar
O Badalar dos Sinos
A Colheita
Donzela
Um Leve Deslize
Incertezas
O Beijo do Dragão
Conexões
Deixe-me Ficar
A Escolha de Rose
A Sua Mercê
Segundas Impressões
Os Bons Filhos A Casa Retornam
Tormenta
Mãe
TEMPORADA 4 - Apresentações
Bela, Daniela e Cassandra
Corra
Conquistas
Pobre Daniela
Profundas Cicatrizes
A Herdeira
Miss D and The Pallboys
A Monarca da Casa Dimitrescu
Mente Estilhaçada
Megamiceto
O Parasita e a Hospedeira
Uma Dádiva
Domínio
O Dansă, Domnișoară?
A Chave

Quem Sou Eu?

3.1K 407 1.2K
By ellebrocca

Sinto q posso ser xingada nesse capítulo, então já alerto beberem água pra se hidratarem s2

Boa leitura (ou não ahahaha)


***

Quem Sou Eu?

O esquadrão se movimentava pela floresta seguindo por uma trilha de terra, um atalho conhecido por Chris e que foi utilizado por ele na noite que resgatou Alcina e Rose anos atrás. Aquela altura a jovem Winters já sabia de toda a sua história, e agora estava tirando algumas conclusões em sua mente enquanto seguia Chris silenciosamente junto dos demais. O mesmo percebeu que Rose estava quieta até demais, desde a hora em que ele contou toda a verdade pouco tempo atrás, e estava preocupado sobre o que estava se passando na cabeça dela.

— Então, a cerimônia que a Miranda tentou fazer comigo quando eu era bebê, é a mesma que ela pretende fazer com a Helena? — Pergunta Rose quebrando o silêncio.

— Sim. — Confirma Chris atento no caminho. — E meu maior medo é que a Helena recupere as memórias dela e se alie a Miranda novamente.

— Ela faria isso conosco?

— Eu não sei, Rose. — Chris estava sendo sincero, e era perceptível a tristeza em seu rosto. — Eu realmente não sei.

Até mesmo Rose compartilhou do mesmo medo de Chris naquele momento, e seu coração apertou-se. Outra vez o silêncio retornou, e Chris não gostava daquilo. Provavelmente deveria ter licanos espalhados pela floresta, ainda mais com Miranda prestes a realizar outra cerimônia. As coisas não seriam tão fáceis. Logo a frente o esquadrão encontrou um riacho, e Chris percebeu que eles estavam próximos da torre onde haviam resgatado Alcina.

— Alfa, eu estou detectando uma movimentação ao norte. — Alerta Uivo Noturno com seu óculos que captava o calor humano a distância. — Está correndo em nossa direção.

— Todos apostos! — Ordena Chris. — Rose atrás de mim.

Chris e sua equipe se juntaram formando uma barreira em torno de Rose, todos apontando suas armas na mesma direção em que Uivo Noturno os alertou. O som de galho quebrando soou entre as árvores, assim como o barulho de folhas sendo pisadas com força, e então a figura de alguém surgiu no meio da mata, mas não era um licano.

— NÃO ATIREM, POR FAVOR! — Exclama Amélia erguendo suas mãos com medo de levar um tiro.

— Amélia?! — Rose fica surpresa de ter encontrado a loira no caminho. — O que você tá fazendo aqui?

Os olhos de Amélia lacrimejaram antes mesmo de conseguir responder, e imediatamente Rose foi conforta-la com um abraço. Chris e o outros abaixaram as armas e aguardaram Amélia se recompor para lhes dar uma explicação.

— Eu estava procurando a Helena. — Diz entre soluços. — A Miranda levou ela.

— Quando isso ocorreu? — Rose se distancia para poder olhar nos olhos de Amélia.

— A pouco tempo. Ela tinha asas, e voou bem na frente com a Helena nos braços dela. Eu não entendo que porra tá acontecendo aqui, mas isso tudo poderia ter sido evitado se você tivesse contado a verdade pra ela! — Amélia acusa Chris diretamente.

— O que vocês descobriram? — O Redfield a interroga.

— A gente sabe sobre o parentesco da Helena com a Lady Dimitrescu, descobrimos alguns arquivos da Miranda no calabouço e vimos o quadro da Alcina escondido em uma das salas do castelo. O quadro foi a nossa prova de que a Helena é uma Dimitrescu, acho que por conta do DNA ela tem a mesma aparência da condessa. — Conta Amélia inocentemente.

Rose e Chris cruzam olhares, e Amélia pressente de que tem algo errado.

— Você conta ou eu conto? — Pergunta Chris para Rose.

— Contar o que? — Amélia se adianta por causa da ansiedade. — Tem alguma outra coisa que preciso saber?

— Amélia. — Rose toma iniciativa pretendendo ser a responsável por contar a verdade para ela. — Você entendeu a história errado.

— Como assim? — A confusão se viu presente no rosto de Amélia.

— A Helena não é nenhuma descendente da condessa. Ela é a condessa. — Revela Rose.

Amélia ficou muda por alguns instantes por ainda estar processando o que acabara de ouvir. Sua respiração ficou pesada e tudo a sua volta pareceu estar em câmera lenta, ou então ela estava prestes a desmaiar e por isso tudo ficou uma lentidão. Mas ela conseguiu ter controle de seu corpo e recuperar a sua voz.

— Tá me dizendo que a Helena é a Lady Dimitrescu?

— Sim. — Afirma Rose novamente. — Ela não morreu como todos acreditavam, ela conseguiu sobreviver e o Chris a resgatou na mesma noite que eu. O Chris escondeu a verdade de nós porque a Helena teve envolvimento com a morte do meu pai. Eu fui sequestrada quando era bebê pela Miranda e fui mantida no castelo para que ninguém me achasse, mas o meu pai veio atrás de mim e se sacrificou para me salvar.

— Eu não podia contar nada porque a Helena e a Rose criaram um laço forte de família. — Chris se explica. — Seria cruel demais para as duas se soubessem de seus passados, então achei que a melhor opção era manter toda essa merda em segredo e dar a elas uma vida nova.

— Quer dizer que... As histórias do castelo, os relatos sobre a Lady, era tudo verdade? — Questiona Amélia um pouco aflita.

— Infelizmente. — Sussurra Rose compreendendo a dor que a outra loira poderia estar sentindo. — Entendo o que você deve estar passando agora, pode acreditar, eu ainda estou em processo de aceitar também. Mas a gente precisa descobrir pra onde a Miranda levou a Helena e impedir que a cerimônia aconteça.

— Que cerimônia é essa?

— Miranda está tentando ressuscitar a filha dela através de um mofo, e a Helena é a hospedeira perfeita para isso, com exceção de Rose. — Responde Chris. — Se a Helena aceitar fazer parte da cerimônia, Miranda vai conseguir o que quer e isso pode causar um grande problema para a raça humana. Sabe de algum lugar que a Miranda poderia ter levado a Helena?

— Eu não faço ideia. — Suspira Amélia se sentindo uma inútil. — Não há nenhuma chance dela estar no castelo, ainda mais com as outras empregadas lá, e eu não conheço nenhum lugar pelo vilarejo que possa servir de esconderijo.

— Em qual direção a Miranda voou?

— Para o oeste.

— Não é pra lá que fica as ruínas? — Pergunta Rose se recordando do caminho.

— É sim. — Afirma Amélia.

— As ruínas fica em uma área aberta, não faria sentido a Miranda realizar a cerimônia onde seria alvo fácil. — Analisa Emily.

— A catedral! — Amélia raciocina melhor. — É claro, elas podem estar na catedral!

— Tem razão, o lugar é submerso na montanha onde fica as ruínas, descobrimos isso quando a Hel caiu no alçapão! — Relata Rose.

— Espere aí, vocês foram andar pelas ruínas sozinhas? — Chris encara Rose com uma expressão séria.

— Agora não é uma boa hora para dar um sermão, podemos deixar isso pra mais tarde. — Rose tenta fugir do assunto.

— Quando essa merda toda acabar a gente vai ter uma conversa, mocinha. — Chris deixa claro e Rose desvia o olhar. — Precisamos continuar, seguiremos para as ruínas.

— Espere, as minhas colegas estão no castelo e uma delas foi morta pelos experimentos da Miranda. Elas não podem continuar lá. — Diz Amélia pensando na segurança das outras empregadas.

— Emily, eu quero que você, Lobo e Olhos Castanhos evacuem o castelo e levem a Amélia junto das outras para um lugar seguro. — Chris passa as ordens para seus colegas.

— Nem a pau, eu vou com vocês para as ruínas. — Teima Amélia.

— Não posso permitir, é arriscado demais.

— Eu fico com ela. — Rose se oferece. — Eu tenho a minha arma e os meus poderes, se a Amélia ficar comigo ela estará segura.

— Poderes? — Amélia encara Rose com cara de paisagem.

— É uma longa história. — Suspira a jovem.

— Amélia. — Chris volta a falar. — Você tem certeza de que quer vir com a gente? Eu não posso garantir a sua segurança, mas não vou impedi-la.

— Se for para evitar da Miranda cometer mais alguma atrocidade e de mais mortes acontecerem, então eu quero ajudar. — Diz Amélia com alto confiança.

— Certo. — Suspira o Redfield admirando a coragem da loira. — Vocês duas fiquem perto de mim.

As duas mulheres seguem logo atrás de Chris e com Dion cobrindo-as pelas costas, seguindo rumo às ruínas na expectativa de encontrar Miranda e Helena. A verdade por trás de tudo ainda deixava Amélia atormentada, com as palavras de Rose se misturando a suas memórias de momentos que vivenciou ao lado de Helena. Cada troca de juras de amor, os toques íntimos, as risadas e promessas se misturavam de uma vez só em sua cabeça. Foi quando percebeu que ao se encontrarem novamente, ela não estaria diante de Helena, mas sim de Alcina Dimitrescu.

***

O calor envolvente do quarto causado pela lareira, e o silêncio avassalador já eram familiares para Helena. Não era a primeira vez que ela acordava no quarto que pertenceu a condessa, sendo acolhida pela enorme cama macia e que obtinha um cheiro suave de rosas. Helena sabia que estava tendo algum tipo de sonho por simplesmente estar vestida com a camisola vitoriana que pertencia a nobreza como da última vez, e também por se recordar de que estava investigando o castelo com Amélia momentos antes. Mas havia algo diferente naquele sonho. Levantou-se da cama com o tecido longo da camisola arrastando no chão, e seguiu atravessando o corredor do castelo até chegar ao Saguão dos Quatro, deparando-se com raízes cerebrais nas paredes, o que a fez suspeitar de que poderia estar dentro de sua consciência, e não exatamente em um sonho.

Todo o castelo estava em um silêncio anormal, e nenhuma das irmãs Dimitrescu apareceu. Decidida a procurar por uma certa pessoa Helena subiu os degraus que a levaram para o Salão Principal, seguindo em frente até chegar na sala de jantar tendo que contornar a longa mesa retangular para alcançar a porta que a levaria ao jardim, e lá estava ela. De costas, apreciando a estátua das três donzelas de mármore que eram o destaque do seu jardim, Lady Dimitrescu parecia estar aguardando por alguém. Usava o mesmo vestido branco e chapéu preto que Helena se recordava no seu último sonho, e em silêncio caminhou com leveza e sem qualquer vestígio de medo para perto da condessa parando a poucos metros dela. Sem precisar se pronunciar, Alcina já sabia que havia companhia.

— Eu sabia que você viria me procurar. — Diz a Lady permanecendo de costas ainda admirando as estátuas.

— Eu fui nas alas proibidas como você havia me instruído. — Começa Helena encarando a nuca da condessa.

— E encontrou o que procurava?

— Sim, mas acho que eu preferia nunca ter descoberto. — Murmura aflita. — Acho que preferia sofrer outro acidente pra esquecer que sou sua descendente e nunca mais pôr os pés neste lugar outra vez.

— Como você é ingênua. — Julga Alcina. — Essa com certeza é uma das qualidade que eu mais odiei em mim. Pelo menos antes de Miranda me transformar. Você compreendeu errado.

— Do que você está falando? O que eu poderia ter compreendido errado?

— O seu passado. Você se recusa a enxergar a verdade, o que dificulta na recuperação de suas memórias. Você tem medo das suas lembranças, e prefere me ignorar para que consiga seguir com a sua vida medíocre ao lado de Rosemary e Chris.

— Te ignorar? Do que você está falando? Quem é você afinal?!

— Eu sou a sua mente quebrada, Helena. Eu sou aquilo que você perdeu a dezesseis anos atrás, a sua consciência. Eu sou a parte do mutamiceto que habita em você, o seu passado, presente e até mesmo o futuro. Sou a voz que você ouvia em seus sonhos, te guiando através deles, a sua própria intuição.

Helena já estava farta, e não suportava mais ser perseguida por alguém que ela nunca viu o rosto presencialmente. Já estava na hora de encarar seus medos e acabar com aquela angústia.

— Vire-se para mim.

O pedido de Helena apesar de ter sido suave, soou quase como uma súplica de desespero para Lady Dimitrescu, que cedeu ao seu desejo. Virou-se enfim ficando cara a cara com a morena mais baixa, permitindo do seu rosto igualmente ao dela ser visível para seus olhos. Ela não era uma pessoa diferente, Alcina e Helena eram as mesmas pessoas.

— Não pode ser verdade. — Helena volta a rejeitá-la e não consegue impedir das lágrimas se ocuparam em seus olhos.

— Até quando continuará a mentir pra si mesma? — Alcina lhe questiona.

— Não, não... Você e eu somos completamente diferentes! Eu não sou você!

— A verdade dói, eu compreendo. Mas é idiotice continuar rejeitando o que você é e se permitir ser fraca! — Crítica Alcina andando vagarosamente até ficar a poucos centímetros de Helena. — Você precisa me aceitar para que suas lembranças retornem, só assim você conseguirá impedir de Miranda conseguir o que sempre quis. Você precisa de mim porque eu sou a sua força. Essa é a sua única opção. — Alcina lhe estende a mão para que a morena mais baixa a pegasse.

Helena encara os dedos grandes da condessa por causa de seu tamanho anormal, dividida entre suas escolhas de aceitar ou recusar. Mas infelizmente Alcina estava certa, sem suas memórias ela não teria a menor chance de combater Miranda se fosse necessário, pois precisaria de poder para isto. De fato, não havia outra opção.

— Vai doer? — Murmura Helena pronta para entregar-se ao seu verdadeiro eu.

— Apenas em seu coração. — Responde Alcina que pareceu estar em luto por si mesma.

Helena entendeu na mesma hora que sua resposta era diretamente sobre a perda de suas filhas. Com a respiração pesada e olhos inchados pelas lágrimas, ela fecha seus olhos erguendo sua mão para alcançar a da Lady, unindo o seu Cadou com o dela, até que ele tornou-se único novamente. Helena sentiu-se ser puxada para o mais profundo da sua consciência, entrando dentro do mutamiceto. A sensação era de estar dentro do mar, flutuando em suas memórias e tendo acesso a cada uma delas.

"Ora ora, Ethan Winters. Se safou dos jogos idiota do meu irmãozinho, não foi?" diz Alcina encarando Ethan ajoelhado aos seus pés após ser capturado por suas filhas. "Vejamos se você é mesmo especial." O cenário muda, e agora Alcina estava reunida junto dos lordes e Miranda. "Dê o mortal a mim, e eu me encarregarei de prepará-lo.", e com isso Karl se levanta aborrecido "Fecha essa matraca, e aceita que você perdeu!". Ela retorna para o castelo, e estava atendendo um telefone "Ele está em meu castelo, e já está causando dificuldade para as minhas filhas! Quando eu o pega-lo...!" e em seguida Alcina joga sua penteadeira para o outro lado do quarto usando sua força bruta "Que se dane a cerimônia! Esse homem vai pagar pelo o que fez!"

Um grito de dor ecoa por toda a parte, pertencente a Bela, o que faz Alcina quebrar um de seus vasos devido a morte de uma de suas filhas. "O que você fez com a minha filha?!" sua voz chega até Ethan o fazendo perceber de que seria caçado até a morte. A voz de Daniela foi a próxima a ser ouvida "Mãe! Eu não quero morrer!". A dor pela morte de sua filha mais nova deixa Alcina mais aborrecida e com sede de vingança. Suas lâminas surgem em seus dedos e ela arranha a parede do corredor para descontar a sua raiva "Foi frio, não foi, Daniela?"

Cassandra foi a próxima, e a Lady não suportando persegue Ethan pelo castelo até alcançá-lo em uma das torres do castelo. "Você estragou tudo!" suas lâminas o perfuram, mas Ethan revida golpeando Alcina com a adaga de venenos. Seu corpo sofre uma mutação que a transformou em uma criatura semelhante a um dragão albino e cristalino. O rugido da fera toma conta de todo o castelo, e uma batalha entre ela e Ethan se inicia. "Como você ousa pensar em salvar a sua filha, depois de matar as minhas?!". A batalha segue, até que Ethan consegue vencer Alcina e ambos caem dentro de uma das torres que desabou, e o corpo da Lady se desmancha pela carcaça. Mas logo ele renasce com a mutação do mofo e sua versão humana forma-se dentro do dragão.

Mais lembranças são liberadas, trazendo seus momentos com Rose ainda bebê; O nascimento de Bela, Daniela e Cassandra; O dia em que Miranda a salvou tornando-a parte de sua família; A chegada dos outros lordes; As donzelas que foram mortas por suas mãos... Tudo veio à tona de uma só vez. Sua última memória liberada foi o que ela poderia considerar do seu dia mais feliz. Estava reunida com suas amadas filhas na biblioteca, sentada em uma poltrona com um livro em mãos. Cassandra estava sentada em seus pés, com ambos os braços cruzados nas coxas da mãe enquanto a ouvia narrar a história. Daniela estava sentada no braço direto da poltrona com a cabeça apoiada no ombro de Alcina, e Bela estava do lado esquerdo na mesma posição. "Acho que está na hora de vocês irem para a cama." Alcina fecha o livro ao perceber o quanto sua filhas estavam sonolentas. "Por favor, só mais um capítulo" implora Daniela conseguindo fazer sua mãe rir. "Minha querida, você disse a mesma coisa três capítulos atrás.". "Só mais um..." Pede Daniela já caindo no sono. "Vamos, Dani, a mãe também precisa dormir." Diz Bela tomando a iniciativa de levantar-se. A loira beija a bochecha de Alcina e seu corpo torna-se um enxame de moscas que se retiraram da biblioteca. Cassandra boceja e puxa a mão de Alcina para lhe dar um beijo e faz a mesma coisa que Bela. Ao ver que Daniela já havia caído no sono e até mesmo roncava em seu ombro, com todo o cuidado Alcina a pega em seu colo como se a ruiva fosse um bebê e caminha pelos corredores de seu castelo até chegar ao quarto das três já encontrando Bela e Cassandra em suas devidas camas. Ao deixar Daniela em sua própria depositou um beijo na testa de cada uma, observando suas preciosas filhas dormirem profundamente antes de se retirar do quarto. As garotas eram o mundo para Alcina, e ninguém jamais poderia substituí-las. Para sempre elas seriam únicas.

Novamente tudo escure, e o silêncio permanece. Por dezesseis anos ela havia esquecido de suas filhas, e de sua verdadeira identidade. Uma verdade tão torturante a ponto de dilacerar seu coração aos pedaços. Por tanto tempo perguntou-se para si mesma "Quem sou eu?", e agora já sabia da resposta. A resposta que foi mantida em segredo por pessoas que conviveram a sua volta por a temerem, e com razão. Todos terão que temê-la, pois o dragão havia despertado do seu sono de dezesseis anos.

***

Sua pele tornou-se branca como gesso, a ponta de seus dedos escureceram dando lugar a unhas afiadas. Os cabelos preto como a noite estando mais vibrantes por conta do mofo estar a rejuvenescendo outra vez, lhe dando a forma que ela possuía em seus tempos como a Lady do castelo. Os raios solares que ultrapassavam o teto das telhas quebradas da catedral iluminavam seu rosto, causando seu despertar. Olhos dourados entram em contato com a luz, e Alcina se vê deitada no chão frio da catedral, estando bem no centro da antiga igreja onde ocorria a reunião dos lordes. Ela já estava ciente de que Miranda havia a raptado durante sua investigação e a trouxe para aquele lugar justamente por ser secreto, onde ninguém do vilarejo haveria chance de encontrá-las.

Alcina se ajeita para sentar-se e poder visualizar o local melhor, e ao que tudo indicava ela estava sozinha. Sua cabeça doía por conta das memórias recuperadas, mas ainda estava um pouco alarmada. Ela visualiza seus dedos, percebendo que seu corpo teve uma grande mudança e deixou de ser humano. Ou quase humano. Ela nunca deixou de ser quem era, apenas não obtinha mais Cadou o suficiente para ativar suas habilidades e continuar com sua juventude.

— Seja bem-vinda de volta, minha criança.

A voz de Miranda fez Alcina virar sua cabeça diretamente para a entrada da catedral, onde a loira havia surgido e agora caminhava em sua direção com suas asas expostas e um sorriso no rosto por vê-la desperta finalmente.

— Mãe Miranda. — Os olhos amarelados de Alcina vibram ao vê-la.

— Presumo que recuperou suas memórias. — Miranda se ajoelha diante da morena para que ambas pudessem ficar do mesmo tamanho, e para que a loira pudesse apreciar seu rosto transformado, se orgulhando ainda mais do seu experimento de sucesso. — Como está se sentindo, Alcina?

— Um pouco tonta, e desgastada. — Suspira enquanto olha Miranda com indiferença.

— São as consequências de ter ficado sem suas lembranças por muito tempo. — Miranda estende sua mão para acariciar o rosto de Alcina, a fazendo sentir a temperatura fria de seu bracelete de anéis que ocupavam seus dedos por inteiro. — A pressão dos meus chás feito do mofo também podem ter contribuído com alguma coisa, mas logo você estará totalmente estável. — Os dedos dela pousam no queixo de Alcina em seguida. — Não sabe o alívio que é saber que você sobreviveu, minha criança. Infelizmente não posso dizer o mesmo de seus irmãos, até onde eu saiba. E quanto as suas filhas...

— Sim?! — Alcina fica esperançosa de que Miranda possa lhe dar uma resposta positiva sobre o paradeiro de suas filhas.

No entanto, Miranda já demonstra através do olhar que não obteve sucesso.

— Eu lamento, Alcina.

A morena engole seco se contendo em não chorar na frente de Miranda, seria vergonhoso demonstrar fraqueza diante dela. Os dedos da loira se afastam do seu rosto, deixando Alcina mais confortável com isso e conseguiu disfarçar mantendo sua expressão ainda seria.

— E a Amélia? Onde ela tá?

— A deixei para trás, não se preocupe. Não fiz nada a ela. — Garante Miranda. — Devo avisa-la de que precisamos nos apressar para a sua cerimônia.

— Cerimônia?

— Para o seu mutamiceto, é claro. Preciso transferi-lo por completo junto de Eva, e ao completar a cerimônia poderemos ser uma família outra vez, como éramos antes. — Miranda mexe em uma das mexas escuras dos cabelos longos de Alcina. — Você sempre foi a minha preferida dos quatro, a única que eu realmente amava. Juntas podemos ter tudo o que sonhamos, até mesmo a nossa vingança. Seríamos invencíveis.

— Mãe e filha? — Alcina repete as palavras que Miranda referiu-se a elas.

— Sim, minha querida. — Confirma a loira acreditando que Alcina iria aceitar a proposta como da primeira vez. — É só juntar-se a mim novamente.

Miranda lhe estende a mão para que a mesma aceitasse, e a morena a encarou não sabendo o que fazer. Ela estava com raiva de todos, não conseguia acreditar em ninguém, ainda mais sabendo da verdade sobre Miranda. Contudo, antes de fazer qualquer coisa ambas são interrompidas inesperadamente. A porta por onde Alcina havia descoberto a catedral na vez em que caiu pelo alçapão fora arrombado por Chris em cheio que chegou já armado e acompanhado de Rose, Dion e Amélia.

— Helena, não faça isso! — Exclama Chris apontando sua submetralhadora não direção de Miranda, e o grupo se espalha em cada canto.

Dion e Rose também apontavam suas pistolas na direção da mesma, e os olhos de Amélia e Alcina se encontram por um tempo, mas a morena desviou por saber que seus olhos estavam amarelos e estava com vergonha de encarar a loira por conta de sua aparência.

— Você é uma pedra no sapato, sabia? — Resmunga Miranda levantando-se mas sem se distanciar de Alcina, sendo sua barreira caso fosse necessário.

— Helena, me escuta, não dê ouvidos a Miranda! — Chris ignora o comentário de Miranda para conseguir ganhar a confiança de Alcina. — Ela só quer te usar!

— Querida. — Miranda conversa com Alcina mas sem tirar sua atenção de Chris. — Por que não conta pra eles sobre o que descobriu?

Todos trancaram a respiração e encararam Alcina ao mesmo, que preferiu manter sua cabeça baixa e calada. Amélia estava quase tendo um ataque de ansiedade, não suportando em ver Alcina escondendo seu rosto, e Rose também não suportava em ter que vê-la a mercê de Miranda.

— Hel?!

O chamado de Rose fez um choque percorrer o corpo da morena, que ergueu sua cabeça olhando diretamente para Chris, e o mesmo teve um certo calafrio ao perceber os olhos dourados de Alcina, tão vibrantes quanto na foto que ele obtinha em seu celular. Por fim, ela se levanta do chão mantendo-se de pé e com uma expressão em seu rosto difícil de se ler.

— Meu nome é Alcina. — Esclarece com a voz firme. — E eu pertenço a casa Dimitrescu.

Miranda exibe outro de seus sorrisos vitoriosos, e os demais presentes sentiram que perderam uma guerra, mas a batalha estava apenas começando.

— Entendo. — Suspira Chris sentindo-se culpado por não ter feito o suficiente para garantir a segurança dela.

— Você mentiu pra mim esses anos todos. — Continua Alcina.

— Apenas pra te proteger. — Argumenta Chris. — Tanto da BSAA quanto da Miranda. Eu só queria garantir que você pudesse ter uma vida normal de novo, porque eu sabia o que a Miranda havia feito com você.

— Ele quer te enganar, Alcina. — Miranda tenta manipula-la.

— Nós sabemos quem é o verdadeiro manipulador aqui! — Chris joga a indireta para Miranda. — Ela não pensa em você como uma filha, ela só quer um hospedeiro para trazer a Eva! Ela não se importa com você de verdade, nunca se importou!

— É claro que você é como uma filha pra mim. — Miranda tenta convencer Alcina de sua mentira. — Eu te salvei da morte, te dei um castelo e filhas obedientes, isso tudo foi porque eu te amo!

Eram muitos argumentos sendo jogados de uma vez, o que já estava deixando Alcina agitada. Eram como se ela estivesse em uma sala pequena com várias pessoas gritando em seu ouvido, lhe causando dores insuportáveis. Aquilo era uma tortura.

— Parem... — Ela pede.

— Miranda não pensa nos outros além de si mesma, só está blefando pra conseguir o que quer!

— Você a quer para ser uma arma biológica! — Rebate Miranda contra Chris.

— CHEGA! — A voz de Alcina ecoa por toda a catedral silenciando a todos. — Todos calem a boca! — Sua respiração estava pesada, o coração acelerado por causa da adrenalina e agora era o centro da atenção de todo mundo. Ao se recuperar, Alcina lida com Chris primeiro. — Eu passei dezesseis anos vivendo na pele de alguém que eu não era, frustrada por não saber nada do meu passado e tendo que conviver com pesadelos que nunca tinham um fim. Precisei aceitá-los a força para tentar encontrar alguma felicidade e conseguir seguir em frente. Se você tivesse me contado a verdade, a dor que eu sinto no momento pelas minhas filhas e tudo o que me aconteceu neste vilarejo até então poderiam ter sido evitados. Não vou perdoa-lo por isto. — Miranda sentiu sua vitória com o julgamento de Alcina contra Chris, e acreditava ter conseguido conquista-la. — Mas seria hipocrisia da minha parte não mencionar nossos momentos de felicidade como uma família, e sou grata por você ter me dado algumas oportunidades. Você e Rose foram importantes para mim de alguma forma. — Chris ficou aliviado em ter ouvido aquilo, pois agora pareceu que o jogo havia virado, enquanto Miranda já não aparentava estar contente. — Quanto a você... — Alcina se vira para a loira para lhe dar seu julgamento. — Se me considerasse uma filha de verdade, e realmente me amasse, não teria me deixado na mão quando Ethan invadiu o meu castelo. — O remorso que Alcina sentia por Miranda era maior do que por Chris, e a loira percebeu isso quando as palavras foram jogadas com peso sobre ela. — Naquela noite eu te pedi ajuda, e uma das minhas filhas já tinha sido morta! E o que você fez a respeito? Nada! Você só se preocupava com a porcaria da cerimônia! — Uma lágrima escapa no canto do olho esquerdo da Alcina, mas ela não se importou com esse detalhe. Ela queria dilacerar Miranda com suas palavras. — Eu, Donna, Moreau e Karl fomos apenas cobaias suas. Peões descartáveis que você usava apenas para manipulação, mas quer saber de uma coisa? Eu não vou me unir a você, e muito menos deixar que você use o meu corpo para seu experimento outra vez. Eu quero que você, Eva e essa cerimônia se fodam!

Miranda ficou muda, e Chris junto do seu grupo estavam chocados como o quanto Alcina demonstrou ter um pouco de sua humanidade ainda viva dentro dela, como se uma parte da Helena estivesse no comando, e Amélia ainda não conteve um sorriso de orgulho com a morena finalizando seu discurso com um belo palavreado.

— Então essa é a sua escolha? — Questiona Miranda.

— Minha palavra final. — Afirma Alcina decidida a ser contra.

Ambas se encaram intensamente, deixando todos com falta de ar por não saberem o que viria a seguir, até Miranda quebrar o silêncio.

— Eu tentei do jeito fácil, mas parece que terá de ser do difícil.

Com um estrelar de dedos Miranda chama seu exército, e vários licanos chegam na catedral através das entradas subterrâneas, cercando todo mundo que estava presente. Alguns licanos carregavam tochas, e outros até mesmo usavam arco e flecha, e estavam sob total controle de Miranda.

— Matem-nos. — A loira ordena.

— FOGO! — Chris inicia o tirotero e Dion o cobre acertando nos licanos que avançaram contra eles.

Miranda usava suas asas para criar uma barreira contra as balas e Alcina aproveitou a distração para fugir entrando no alçapão que era interligado com o rio.

— Atrás dela! — Ordena Miranda para dois licanos seguirem Alcina.

Amélia não iria aguentar sem fazer nada e logo correu na direção do alçapão deixando o grupo pra trás. Chris tentou chamá-la mas a loira já havia pulado para dentro da entrada restando apenas ele, Rose e Dion contra Miranda. Percebendo que Amélia poderia lhe causar problemas e já estava farta da empregada, Miranda abre suas asas e voa na direção do telhado aberto da catedral na intensão de encontrar Alcina primeiro.

— Merda! — Exclama Chris ao não ter conseguido impedir Miranda outra vez.

— Tem muitos aqui! — Rose consegue matar um dos licanos com um tiro no peito.

— Por aqui! — Dion abre o caminho matando mais dois licanos de uma vez e alcança a entrada que levaria para o castelo.

Chris fica atrás de Rose para garantir que ela ficasse no meio deles e se responsabiliza para atirar nos licanos que viriam pelas costas. O trio corre pelo túnel o mais rápido que conseguiam, e Rose reconheceu as paredes interligando-as com o sonho que teve com Alcina quando a mesma lhe segurou nos braços e a levou para seu castelo a pedido de Miranda. Ainda não acreditava que Amélia havia ido atrás de Alcina, e temia pelo destino de ambas.

***

O túnel havia levado Alcina para o final de uma caverna que ficava em frente ao rio, onde o reservatório de Moreau era localizado. Seguiu correndo para dentro da floresta, sabendo que se ficasse embaixo das árvores e longe de áreas abertas poderia escapar de Miranda, por tanto ela não contava que dois licanos estavam a perseguindo. Ao perceber os sons selvagens que as criaturas deixavam escapar juntou a pouca força que tinha para correr mais rápido, puxando a saia de seu vestido para permitir de suas pernas terem mais liberdade. Alguns fios de seu cabelos grudavam no rosto por conta das gotas de suor, e ora ou outra Alcina olhava para trás desejando que os licanos estivessem longe, mas a cada virada de cabeça eles estavam mais perto.

Seus pulmões ardiam implorando por oxigênio, e tudo ficou pior quando Alcina percebeu que estava subindo a montanha, pois suas pernas eram forçadas a fazer o dobro do esforço para realizar a subida sem parar de correr. Os licanos estavam próximos, quebrando os galhos no meio do caminho com suas garras afiadas, e Alcina já estava sentindo que suas pernas não iriam aguentar por muito tempo, já que estava perdendo o ritmo e sua fuga já estava lenta. Para seu azar chegou à beira de um penhasco, e ao fundo ficava o rio. Não muito longe dava-se de se ouvir o som da cachoeira, e Alcina percebeu que estava próxima da propriedade de Donna.

Ao dar meia volta querendo se afastar da beira os licanos a alcançaram, não lhe dando nenhuma brecha para fugir. Alcina se amaldiçoou naquele momento por ter sido estúpida em não ter conhecido aquela área da montanha próxima da propriedade Beneviento, mas o desespero havia contribuído para ela não ter percebido que estava indo por um péssimo caminho. Andou alguns passos para trás na medida que os dois licanos se aproximavam aos rosnados. Ela tinha duas escolhas, permitir-se ser capturada ou pular. Porém a altura poderia não contribuir, e havia chances do rio não ser fundo o suficiente para amortecer sua queda.

Pule.

— O que? — Alcina olha atordoada para ambos os lados, até perceber que a voz veio de sua própria cabeça.

Pule. Apenas faça o que eu digo.

— Você é real?!

Se quer sobreviver, então pule. Eu faço o resto.

Assustada por estar ouvindo uma voz semelhante a sua vindo de sua própria cabeça e ainda com os licanos se preparando para avançar, Alcina fecha seus olhos temendo que fosse seu fim e se joga da colina de costas. Seu corpo caía cada vez mais rápido, com o vento batendo fortemente em suas costas e os cabelos cobrindo sua visão por causa da queda. No entanto, o medo deserdou dentro de si, lhe dando espaço para uma sensação de liberdade em ter contato com o ar. O efeito da adrenalina com a queda fez uma parte do dragão que habitava dentro de Alcina renascer, e asas rasgam a parte de trás de seu vestido alcançando a liberdade, a permitindo de voar de volta ao topo da colina. Ao mesmo tempo que as asas brancas despertaram suas lâminas surgiram através dos dedos de cada mão, e Alcina ficou diante dos dois licanos novamente, mas desta vez, seria eles a serem caçados por ela. Alcina retorna a sua origem por sede de sangue e ataca os licanos rasgando um deles ao meio com suas garras e permitindo do sangue respingar em suas roupas. O segunda foi morto lentamente, com a lâmina perfurando seu peito enquanto Alcina pressionava suas garras para cima até alcançar a cabeça da criatura até que fosse arrancada fora. Ela pousa na beira da colina novamente, arfando após ter matado os licanos com prazer, e passou a encarar seus corpos em pedaços pela grama. Alguns respingos de sangue sujaram sua bochecha, mas Alcina não se importou, muito menos se preocupou com sua vestimenta ensanguentada.

Como seus instintos estavam mais apurados Alcina foi capaz de sentir uma movimentação vindo por trás, e desconfiada de que poderia ser Miranda preparou suas lâminas para atacar quem estava chegando próximo dela. Mas ao virar-se com suas asas abertas e garras amostra Alcina paralisou ao ver Amélia a sua frente, totalmente em choque por presenciar o sangue em seu uniforme, com algumas gotas frescas escorrendo pelas suas lâminas dos dedos e os corpos dos licanos picotados aos seus pés.

— Amélia? — Ofega Alcina escondendo suas garras e as substituindo por seus dedos novamente. Suas asas se fecham mas ainda permaneceram em suas costas não retornando para dentro de seu corpo. — Por que está aqui?

A loira engole seco por estar diante de uma das formas de Alcina. Analisou por alguns segundos sua asas brancas, que eram muito semelhantes às de um morcego albino, isso sem mencionar as lâminas que agora não estavam mais a vista, mas recordava-se perfeitamente do quanto eram longas e afiadas. Agora os buracos na cama dela faziam sentido para Amélia.

— Eu... Não queria te deixar sozinha de novo. — Murmura a loira hipnotizada com a aparência de Alcina.

Sentindo-se desconfortável por Amélia estar a olhando com o que lhe pareceu um olhar de julgamento, Alcina desvia a cabeça para seu lado direito, não querendo que Amélia continuasse a encara-la diretamente.

— Você deve estar me achando um monstro. — Diz Alcina crente de que sabia o que se passava na cabeça de Amélia.

— Eu jamais pensaria algo assim de você...

— Não minta pra mim! — Vocifera Alcina causando um tremor em Amélia, e ela retorna a olhar para a loira. — Eu não suporto mais as pessoas mentindo pra mim!

— Eu estou falando a verdade. — Garante Amélia e andando alguns passos para frente para tentar se aproximar de Alcina sem assusta-la ou irritá-la.

— Amélia, olha pra mim. — As asas de Alcina voltam a se abrir para que pudessem ser visualizadas melhor. — Como que isto não pode ser monstruoso? Olha o que a Miranda me tornou. Um ser sanguinário, sem humanidade nenhuma e com um corpo horrendo. Até consigo ver o medo em seu olhar.

— Eu não estou com medo.

— Não é isso que parece.

— Aconteceram muitas coisas de uma vez em um dia. — Amélia se aproxima mais ficando a poucos metros de distância de Alcina. — Eu só preciso de tempo para poder digerir tudo isso, e acredito que você também precisa se recuperar. Podemos fazer isso juntas.

— Não posso. — Alcina nega. — Uma pessoa como eu não merece alguém como você.

— Se está falando isso porque você acredita ser um monstro, saiba que eu penso totalmente ao contrário. — Agora Amélia estava a poucos centímetros, deixando Alcina sem ter para onde ir outra vez. Mas no momento atual em que se encontravam ela não desejava ir a lugar algum. — O maior privilégio que eu tive foi ter te conhecido antes dessa merda toda, porque com isso eu percebi que as lendas ao seu respeito escondem o lado bom que existe em você. Todo mundo te transformou em uma vilã, quando na verdade você era uma vítima como todos nós, e apenas fez o que precisava para sobreviver.

— Então, você não sente medo pelo o que eu sou de verdade?

Amelia não queria responder aquilo com palavras, mas sim com uma demonstração de seu amor por Alcina. Não se importando com os respingos de sangue em seu rosto, suas mãos acariciam suas bochechas permitindo-se ficarem manchadas, e em seguida Amélia aproxima seus rostos, e Alcina logo fecha seus olhos para receber seu beijo. Aquele que deveria ser um momento somente delas foi interrompido por um bater forte de asas, causando uma forte correnteza de vento que quase foi capaz de fazer ambas caírem na beira do penhasco, mas Alcina segurou Amélia evitando disso ocorrer e se veem sendo cercadas por Miranda.

— Acredito ter chegado em um momento importante. — Miranda exibe um sorriso maldoso, e fica encantada ao ver Alcina com suas asas libertas. — Magnífico, você conseguiu liberar suas asas sem sofrer a mutação. Isto já prova que você é capaz de se tornar a hospedeira de Eva, definitivamente.

— Como se eu fosse permitir isso. — Para ameaçar Miranda, ela deixa suas lâminas retornarem e fica em uma posição de defesa caso a loira decidisse avançar.

— Nossas escolhas sempre nos trarão consequências, Alcina. — Alerta Miranda pacificamente. — Infelizmente, os preços a serem pagos serão sempre os mais altos.

Em uma fração de segundos os olhos de Miranda vão de Alcina para Amélia, e quando a morena se flagrou do que ela planejava já era tarde demais. Miranda reativa seus poderes e seu braço se transmuta em uma raiz do mofo que se esticou até atravessar o peito de Amélia, lhe causando uma ferida fatal. O que aconteceu a seguir foi como se Alcina estivesse presenciando as coisas em câmera lenta, e Amélia a olha com os olhos em lágrimas antes de perder o equilíbrio e cair do penhasco.

— AMÉLIAAAA!

Alcina se joga para conseguir salvá-la, esticando sua mão para tentar alcançar a de sua amada antes da mesma atingir o rio alguns metros abaixo delas. Foram alguns segundos, um curto período de tempo onde a esperança prevaleceu até ser dizimada quando o corpo de Amélia chocou-se contra a água e começou a afundar, e Alcina mergulhou logo depois de uma maneira brusca. A água gelada limpou o sangue seco em seu rosto, e até mesmo tirando o excesso que ficou impregnado no seu uniforme.

Sua mão alcançou Amélia puxando-a para perto de si, e com a ajuda de suas asas Alcina nadou até alcançar a superfície, ofegante e em meio ao desespero ela abraça o corpo de Amélia a levando para terra firme.

— Amélia, aguente firme! — Implora Alcina conseguindo sair da água e trazendo o corpo de Amélia para o seu colo, deitando sua cabeça em suas coxas e deparando-se com um buraco profundo em seu peito onde seu sangue pulsava para fora sem parar. — Mel, por favor, aguenta! Você vai ficar bem, eu juro... — As lágrimas começaram a embaraçar sua visão, e algumas gotas caíam sob o rosto da loira abaixo de si. — Por favor, fica comigo... Aguente firme e fique comigo... Por favor...

Amélia suspirava com dificuldade enquanto tentava dizer algo para Alcina. Seus globos oculares da cor de hortelã tremiam por estarem perdendo a visão, e ela queria fazer o possível para decorar cada detalhe do rosto de Alcina, e lembrou que ficou devendo sua resposta e não poderia partir sem que sua amada soubesse da verdade.

— Alcina...

— Mel?

A mão esquerda de Amélia se ergue para alcançar a bochecha direita da morena, que suspirou em meio ao choro e levou sua mão para unir-se com a dela em sua face.

— A sua beleza nunca me assustou.

Um sorriso formou-se no rosto da loira assim que ela conseguiu lhe dizer suas últimas palavras antes de seus olhos fecharem-se e seu corpo ficar molenga. Alcina segura sua mão com firmeza ao notar que ela iria cair para baixo, e então paralisa assim que Amélia não demonstrou mais sinais de vida.

— Mel? Mel! — Alcina toca o rosto gelado de Amélia, sem ter nenhum retorno. Não conseguia mais sentir sua pulsação, e o corpo parecia cada vez mais mole a todo instante. Sua amada Amélia havia partido, deixando Alcina com uma grande culpa por não ter conseguido salvá-la a tempo, cometendo o mesmo erro que fizera com suas filhas. — Amélia, volta pra mim... Por favor, não posso te perder também...

Alcina continua insistindo para que Amélia pudesse reviver, entre choros e múrmuros, a abraça com força contra o seu peito. Era como se fosse uma maldição, na qual qualquer um que se atravesse a se aproximar-se dela pagaria com a própria vida. A perda de suas filhas e agora de Amélia havia sido o auge, ainda mais por terem sido garotas tão jovens que ainda haviam muito pela frente, um mundo a fora para conhecer e sonhos para realizar. Amélia tinha seus desejos, e ela queria ter tido a oportunidade de vivê-los ao lado de Alcina. Mas eles jamais vão acontecer. A morena pressiona sua testa contra a de Amélia, fechando seus olhos como uma última tentativa de conter suas lágrimas, e dolorosamente aceita que sua amada havia partido do seu mundo.

— Para sempre estarás em minhas memórias, draga mea.

Sabendo que Miranda estava no topo do penhasco as observando a longa distância, Alcina deixa o corpo de Amélia, a deitada com cuidado na areia úmida próxima a água, e dominada pela sede de vingança ela se permite levar-se pelas suas emoções de luto enquanto levanta voo. Seu corpo se alarga ficando cada vez maior, obtendo a forma de uma enorme criatura de asas com uma longa calda. Uma segunda cabeça se forma soltando um rugido estridente por toda a região, causando uma agitação por todo vilarejo. A criatura albina de tamanho absurdamente assustador voa para o topo da colina ficando cara a cara com Miranda. A sacerdotisa aprecia a segunda forma monstruosa de Alcina, sendo a segunda vez que ela a via nesse estado.

— Ora ora, parece que eu despertei o dragão.

***

Bom, desde o início, quando tive a ideia de escrever essa fanfic, Amélia já me vinha à cabeça para ser uma personagem que seria importante para Alcina mas que acabaria morrendo no final. A morte dela foi crucial para a história e o desenvolvimento da Alci, então não havia como mudar isso, não importa o quanto eu quisesse (por favor, não me odeiem!)

No entanto, a personagem predestinada a ser o amor da Alci irá chegar futuramente (e spoiler: Ela já apareceu em um dos cap anteriores...)

Continue Reading

You'll Also Like

684 94 12
Bárbara Lima é uma famosa escritora e estilista, tem duas filhas e vive sua vidinha em uma cidadezinha pacata na França. A mulher escreve cartas na m...
1.1M 53.2K 73
"Anjos como você não podem ir para o inferno comigo." Toda confusão começa quando Alice Ferreira, filha do primeiro casamento de Abel Ferreira, vem m...
633 59 10
Sucy fez uma poção mas não queria beber, pois se qualquer coisinha desse errado teria pesados efeitos colaterais. Com medo disso acontecer decidiu t...
279K 13.2K 64
• Onde Luíza Wiser acaba se envolvendo com os jogadores do seu time do coração. • Onde Richard Ríos se apaixona pela menina que acabou esbarrando e...