Arrumamos nosso instrumento e o primeiro a tocar é o Colin, Matt se senta em uma das caixas que estão na sala, nos ouvindo mas sempre atento em mim. Nenhuma nota errada para estragar a música, estamos todos concentrados, ninguém saiu da linha, respeitamos o ritmo a risca, ainda falta um pouco de espontaneidade, mas pelo menos é harmonioso. Procuro o máximo ser otimista, mas o teste real será no show, em frente a uma plateia... (Aí meu São sinfrônio das pernas tortas, por favor, não me deixe errar...) temos que conseguir, não posso errar, o Colin nunca me perdoaria por isso.
No final da música o Matt aplaude com abas as mãos, ele se endireita e vem em minha direção sorrindo.
-Você está perfeita! PERFEITAAAAA!
Ele grita a palavra no final, como se fizesse o Colin entender seu significado
-Meu Deus, Matt.
-Vocês sem dúvida, serão um sucesso esta noite.
-É bom mesmo que sejamos, é uma oportunidade incrível.
Os olhos do Colin brevemente cruzam os meus quando ele tira a correia de couro de sua guitarra e a coloca sobre o amplificador. Ele não abre a boca, isso me dá um leve golpe no coração. Matt pressiona uma tecla do meu teclado.
-Você está muito bem, Denise! Tenho toda a certeza que você tem tudo que é necessário.
-Bom, eu ainda tenho que preparar algumas coisas para o show, eu vou dirigir a Van. Matt, me dá uma força?
Ele assente com a cabeça enquanto Adam sai com suas baquetas da sorte debaixo do braço.
-Você se encontra com a gente lá?
Colin acena com a cabeça e olha ansioso para mim.
Espera aí, como eles podem me deixar aqui sozinha com o Colin? Será que estão dando a oportunidade de conversarmos e esclarecermos as coisas?
Os dois rapidamente deixam a sala e eu me pergunto, será que isso foi um plano dos dois para fazer a gente resolver as nossas pendências?
Acho que já se passaram uns 5 minutos, a sala parece ter ficado mais gelada, até o momento, nenhum de nós trocamos uma palavra.
Colin foi gentil o suficiente para carregar meu sintetizador e colocá-lo no porta-malas do carro. Começo mentalmente uma oração antes de entrar no seu carro.
Quando ele se junta a mim, eu me seguro para não rir por ver um homem daquele tamanho sentado em um carro tão pequeno.
Rapidamente me perco em meus pensamentos, como ele pôde mexer tanto com a minha cabeça? As vezes eu tenho a impressão de que ele está em todos os lugares e que assombra todos os meus pensamentos. Olho pela janela e o carro segue em silêncio, olho os edifícios passando e começo a sentir a ansiedade chegando aos poucos. Um barulho chama a minha atenção, é o Colin batendo nervosamente em seu volante, ele parece estar envergonhado. Será que ele está com medo de eu cometer algum erro em seu show? Ele suspira e seus olhos cor de gelo se cruzam com os meus.
O calor toma conta do meu corpo e quando ele volta a olhar para a estrada, eu sinto o ar voltar aos meus pulmões. (mas o que esse cara tem que me deixa assim?)
Eu suspiro e sou interrompida por sua voz quente.
-Obrigado por estar aqui.
Eu o encaro com os olhos tão arregalados, que parecem que vão saltar para fora, mas também confusa. Esse cara tomou algum chá com efeito de ver doendes antes sair? Pq ele nunca me diria isso, eu sei que ele prefere arrancar os testículos com os dentes da Doris, mas não diria algo legal para mim.
-Uau! Você está bem? Está doente? Sente algo diferente? Meu Deus, não me diga que você acordou hoje sentindo que vai morrer? Por favor, me deixe sair do carro antes, eu sou muito jovem para partir!
Digo em tom sarcástico, isso o faz dar um sorriso. Ele volta a me olhar e quanto paramos em um farol, a luz vermelha ilumina seu rosto, e novamente ele volta a olhar para a estrada.
-Não, não é nada!
Ele respira fundo, seus dedos estão segurando aquele volante com tanta força, que por um momento imaginei meu pescoço no lugar. Eu morreria!
-Você sabe quando tem que começar, não se esqueça de emendar com a terceira faixa logo em seguida. Não erre depois do meu segundo verso, toda vez você toca Dó menor.
Eu começo a rir, não dá pra acreditar que ele está me lembrando isso novamente, eu o olho ainda sorrindo e ele me olha de volta, e então ele também sorri.
-Sim, eu sei que você sabe, mas eu prefiro me certificar de que você sabe.
-Relaxa, eu realmente sei o que fazer, senhor emburradinho, hoje eu não quero te deixar de mal humor.
Ele ergue uma sobrancelha irônica.
-Ah sim, claro, você quer que eu seja... An... Legal?
-É tipo isso, mas acredito que essa palavra não faz parte do seu vocabulário, sem ofensas, claro, e além do mais, você sabe o que isso significa?
Ele solta uma gargalhada que enche o carro, no mesmo instante, meu corpo se arrepia. Eu nunca vi esse homem rir desse jeito, mas que loucura.
-Digamos que eu escolho as pessoas que merecem o meu lado "legal".
-E pelo jeito eu não sou uma delas.
-Sua solicitação ainda está em observação, até onde eu sei, ainda estou pensando sobre isso.
-Uuuuh! Você definitivamente não é uma pessoa que toma decisões apressadas
Ele balança a cabeça sorrindo, seus dedos agora estão mais relaxados no volante.
-É superestimado.