O Desconhecido

2.2K 126 4
                                    

Me sinto nostálgica, me lembro com carinho da sensação de tocar nas teclas.
Matt deixa uma caixa cair no chão fazendo um barulho que me faz sobressaltar, ele limpa a garganta com uma cara suspeita.

-Adam, não cante a minha amiga!

Adam me lança uma piscadinha, e faz uma reverência com o braço para mim.

-Eu não me atreveria senhorita. Mas desconfio que esse bobão está caidinho por você.

Balanço a cabeça olhando para Matt que tem suas bochechas tão vermelhas que parecem estar em chamas.

-Denise e eu? Até parece. Ela se comporta como minha mãe. IM-PO-SSI-VEL!

Ele separa bem as palavras, fazendo Adam rir tanto que ele se senta em uma caixa rodando um lápis em seus dedos.

-Eu já a ouvi cantar, ela é muito boa admito!

-A ultima vez que me ouviu cantar, disse que um animal degolado faria menos barulho.

Matt começa a rir colocando seu braço em meus ombros e cola sua bochecha na minha.

-Deve admitir que sou um mentiroso sem igual.

- Não, você é um bobão sem igual, um idiota de primeira.

Ele anda para trás abrindo os braços orgulhoso de sim mesmo.

-Denise, você acabou de me fazer o melhor elogio da minha vida!

Adam suspira.

-Você não se cansa nunca?

-Constantemente, vamos trocar de lugar, eu subo ao palco e você vai trabalha com ele.

-Sabe tocar bateria?

-Se der lucros posso soltar a minha imaginação.

Finjo tocar nas caixas sacudindo a cabeça e jogando meus cabelos em todas as direções.

-Ótimo, tem potencial, estou tranquilo.

Ele sorri e se levanta, eu digo em tom de voz sério:

-Me encanta este lugar, esta pequena tensão que reina nos bastidores. Não sei é... Apaixonante! Como se eu tivesse tomado toneladas de cafeína, e a única coisa que pode me tranquilizar é o palco. Entendem oque quero dizer?

Matt me olha surpreendido e assente com a cabeça.

-Oh sim! sinto isso todos os dias quando pego minhas baquetas, subir ao palco, tocar as músicas.. é eletrizante!

Eu gostaria de estar no seu lugar.

-Não há palavras para descrever oque se sente.. é algo potente. Sei exatamente oque sente, e não é pra menos.

Matt e Adam desaparecem em direção a van do grupo estacionada no pátio para buscar a última caixa. Eu fico rondando entre os bastidores.
Não é todo dia que se tem a oportunidade de ficar no meio de instrumentos musicais, que durante minha infância e adolescência, estiveram ao meu lado me reconfortado.

De vez em quando me lembro da sensação de quando tocava. Eu gostaria de sentir essa sensação de novo e de subir ao palco algum dia.

O palco continua deserto, exceto por uma bateria já instalada, uma guitarra com um amplificador, um baixo e uns suportes para microfone.

Olhando para todas essas coisas há minha volta, começo a pensar novamente nas sensações que se devem sentir quem esta no palco.
Quando se sobe, as luzes em sua direção, o grito da plateia, o arrepio que se sente ao tocar. Deve ser incrível. As vezes penso que nem os braços de um homem deve dar tanta emoção. Pelo menos, nenhum dos meus ex conseguiu me passar emoção maior que tocar o meu piano.

Levanto a tampa de uma caixa e entre algumas espumas negras vejo uma guitarra magnífica.

Fascinada, levo meus dedos devagar para tocar com cuidado as cordas, quando, de repente algo me tira do chão.

Minhas costas se chocam violentamente contra a parede e as baquetas de Adam caem no chão fazendo um pequeno barulho.
Uma mão aperta meus pulsos, unhas apertam a minha pele e uma alta silhueta se lança em mim,me fazendo sumir na escuridão.
Seu rosto tem uma parte oculta pela sombra e por seu longo cabelo negro. Só vejo dois olhos claros abertos me olhando com um brilho de fúria.
Surpreendida, levanto os olhos até o homem que está a minha frente.

Tento soltar meu braço, mas sem sucesso. Oque aconteceu com esse idiota? Que bicho o mordeu?

Seus dedos apertam ainda mais os meus braços, seu corpo está contra o meu, ele usa pulseiras de couro e está sem camisa.
Só tenho certeza de uma coisa. De sua raiva (Ah! Por Deus).

O desconhecido se aproxima ainda mais, me deixando vê seus olhos de um azul tão claro que parecem duas pedras de gelo.
Me perco neles um instante, sinto como se estivesse mergulhando em sua íris, parece que estou diminuindo.
Digo algumas palavras confusas. Ele me ignora, mergulhando ainda mais seu olhar no meu sem respostas.

Is it love? ColinOnde as histórias ganham vida. Descobre agora