Ensaio

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Entramos em uma sala que era mais um estúdio que um sótão, o lugar era todo preparado, havia revestimento acústico, e algumas guitarras penduradas na parede, em um canto dali tinha os aparelhos para regular o som, do outro lado estava a bateria do Adam, ao lado um suporte para o teclado, perto da mesa de som tinha a guitarra do Colin e um baixo, provavelmente o da Dóris.
Eu olhava tudo maravilhada, não conseguia acreditar que estava em um estúdio, e pela primeira vez.

-Nossa, isso aqui é demais!

O Adam começa a rir da minha reação e eu não me importo, estou tão animada que não consigo deixar nada atrapalhar este momento.

-Isso aqui é um estúdio, Denise estúdio, estúdio Denise.

O encaro com um pouco de sarcasmo e dou um soco de leve em seu braço.

-Ei, dá pra me deixar curtir o momento um pouquinho, eu nunca estive em um estúdio antes.

-Tô vendo pela sua reação. Sei que você vai se divertir muito aqui ainda.

Automaticamente meus olhos pousam no Colin, ele me olhava e regulava o som, não sei se é o calor do momento, mas posso afirmar que vi um sorriso em seus lábios. Decido ser um pouco durona.

-Eu sei que vou.

O Adam caminha até o suporte e coloca meu teclado ali, aproveito para dar mais uma olhada no lugar, e a cada coisa que vejo, mais animada eu fico, devo estar parecendo uma criança em um parque de diversões, mas vou aproveitar, afinal, não sei quando vou acordar desse sonho, ou talvez seja um pesadelo. Adam vai para sua bateria e pega suas baquetas, Colin pega a guitarra e começa a afina-la, e eu vou na direção do teclado para me preparar. Conecto os cabos nos seus devidos lugares e me sento no banquinho, passo meus dedos de leve nas teclas e sinto uma certa euforia passando em meu corpo.

-Por aqui tudo certo, quando estiverem prontos podemos começar, a partitura das músicas está na sua frente Denise, se você quiser já ir dando uma olhada pra pegar as notas.

O Adam diz, me tirando dos meus pensamentos, olho para o Colin e ele parece estar pronto, quando seu olhar se encontra com o meu, sinto uma corrente elétrica passando pelo meu corpo, e eu congelo. Um misto de emoções toma conta de mim, e começo a me arrepender de estar aqui.
Começamos a tocar, e eu estou tão nervosa que não paro de errar as notas, estou suando e com tanto medo, não sei oque está acontecendo comigo, a situação só piora quando vejo a raiva nos olhos do Colin, meu Deus, abra um buraco nesse chão para eu me enfiar dentro e nunca mais voltar.

-Mais uma vez.

Escuto ele dizer com raiva, e sua voz me faz dar um pulo.

-Calma Colin, hoje é o primeiro dia dela, ela ainda não pegou as notas.

Vejo ele revirar os olhos, tento me concentrar, preciso focar no que estou fazendo, preciso manter meu olhar sobre meus dedos, a música começa novamente, estou olhando para um ponto fixo no chão, ótimo, agora está tudo certo, sem erros, mas o diabo insiste em atormentar, como se meus olhos fossem imã e o olhar do Colin o metal, assim que sinto o peso de seus olhos sobre mim, meu olhar sobe, e então começo a errar.

-Ja chega, pra mim já deu.

Ele coloca sua guitarra no lugar e deixa a sala. Olho para o Adam e ele está olhando tudo bem atento.

-Eu vou falar com ele, não se preocupe, ele vai voltar.

O Adam deixa a sala, e assim que ele sai sinto meu olho pesar, estou tão magoada que só tenho vontade de chorar.
Olho para meu teclado e toco as teclas, respiro fundo e começo a tocar a melodia, dessa vez sem erros. Por que não consigo tocar assim quando estou na frente dos meninos?
Alguns minutos se passaram e eu decido pegar minhas coisas e ir pra casa, não vou continuar pagando de ridícula aqui. Pego minha bolsa e me levanto e então a porta se abre novamente revelando Adam e Colin.

-Aonde você vai?

Ele me olha ainda com fúria, mas não vou me abaixar para você querido.

-Vou para minha casa, ou espera que eu passe a noite aqui com sua falta de paciência?

Ele arqueia uma sombrancelha e bufa.

-Senta aí, ainda não acabamos.

Ele volta a caminhar e pega sua guitarra, olho para Adam que me dá uma piscadinha e se senta em sua bateria.
Me ajeito novamente e começamos de novo, mas nada acontece, meus dedos parecem travar eu não entendo.
O Adam tenta contornar a situação mas o Colin insiste em ser rude.

-Qual o seu problema? Você disse que sabia tocar, você sabe ao menos ler uma partitura?

Eu estou tão sensível que não consigo responder.

-Colin, dê a ela um tempo, ela ainda tem que pegar a coisa.

-Você não disse que tocava desde os dez anos? Ah claro, só se esqueceu de falar que toca mal pra caramba.

A raiva me vence e eu não consigo me controlar mais.

-Colin, ela não está acostumada a tocar heavy metal. Ela precisa de tempo.

-Foi oque eu disse, ela não vai conseguir.

Eu estou cansada desse idiota querendo destruir os meus sonhos, eu não vou deixar ele acabar com tudo com essas palavras nojentas.

-Cala a porra da sua boca caralho! Eu não consigo me concentrar.

Ele me olha incrédulo, pisca várias vezes sem ter certeza de que ouviu direito. É isso aí, vou mostrar para você oque a burguesinha aqui sabe fazer.
Ele solta um grunhido e volta a tocar a música de onde ele parou. Mas eu continuo errando miseravelmente.
Eu não posso desistir, eu não posso deixar ele vencer essa.
O Colin para de tocar e suspira alto no microfone, eu o olho e ainda deixo escapar outra nota errada.

-Ei Denise, olhe para mim. Por dois minutos.

O Adam me chama, sinto minha coluna rígida, minhas costas doem. Mas decido olhar para o Adam.

- Não preste atenção nele, Denise, ele é um homem das cavernas, é óbvio que você sabe tocar. Não deixe ele te ferrar, curta oque está fazendo.

Tento pegar as palavras do Adam e agarrá-las como se fosse um colete salva vidas. Mas não adianta, eu continuo errando. Mais uma vez escuto Colin suspirar, minha vontade é arrastar a cara dele no chão, mas preciso me controlar. Eu não vou desistir disso, eu preciso mostrar a ele que sou capaz.

Is it love? ColinOnde as histórias ganham vida. Descobre agora