Henry Bianchi
Depois da notícia que recebi de Olívia, fiquei ainda mais perplexo com as surpresas da vida e de como as coisas acontecem sem esperarmos. Paola me ligou, pedindo que eu fosse com urgência até o hotel que ela estava hospedada, vi certo nervosismo em sua voz, mas não passei para Olívia, ela já tinha problemas demais. Enquanto o motorista me levava, pensei em como seria minha reação ao descobrir que tive um filho, sem ao menos saber da gravidez da mãe da criança. Não sei o que faria, até porque há tempos não cogito a possibilidade de ter um filho.
Cheguei ao hotel e me apressei para o quarto onde minha irmã estava. No fundo, eu estava curioso e um pouco nervoso com essa urgência. Pensei em Giancarlo e um frio medonho percorreu meu corpo. Ele jamais fugiria da clínica, não da forma que estava. Quando avistei o quarto onde ela estava, apressei ainda mais os passos e toquei a campainha.
Paola atendeu de imediato, já estava esperando a minha visita. Seus olhos estavam vermelhos e por ser um pouco branca as bochechas também estavam. Ela não disse nada, apenas me abraçou e chorou um pouco nos meus braços. Não fiz perguntas, Paola não tinha condições de responder, pelo menos não agora.
Entramos no quarto e sentei em a poltrona, ela sentou na outra e me encarou, como se procurasse palavras para me dizer o que tanto afligia seu coração.
— Você está me assustando. — comecei e ela fungou, secando abaixo dos olhos com um pedacinho de pano.
— Acabei de receber uma ligação de Peter. — seus olhos voltaram a marejar — Adam sofreu um acidente de carro e está na UTI. Parece ser grave...
Aquilo foi como uma facada no meu peito, me senti sem sair, como se não o houvesse. Fiquei um pouco tonto, estava tentando assimilar aquela notícia e uma forte sensação de desespero me apossava. Adam sofreu um acidente?
— Não... Isso não pode ser real. Eu conversei com ele ontem a noite, estávamos falando sobre a vida... Ele me contou que finalmente conseguiu uma namorada legal, um apartamento novo na cidade e... Ele queria abrir o seu próprio negócio. — eu estava tão nervoso, que gaguejei boa parte das vezes que falei. Eu não queria acreditar.
— É a mais pura verdade, Henry. Está passando em todos os noticiários, foi um acidente feio e... O médico não deu muitas expectativas, estamos todos aflitos. Peter e Aaron estão no hospital, tentaram falar com você, mas o seu telefone estava desligado.
— E-eu estava com Olívia, nós... Acabamos conversando tempo demais e a bateria acabou. Coloquei para carregar e foi o tempo que você me ligou.
— Sinto muito, meu irmão. Eu estou tão preocupada, tão triste com essa notícia... Adam é uma das melhores pessoas que já conheci. — voltou a chorar.
— Não fale assim, ele vai se recuperar. E-eu vou pedir que preparem o jatinho, quero vê-lo, preciso disso. — peguei o meu celular e mandei mensagens para Carter, pedindo que o jatinho estivesse pronto para voar.
— Você acha que isso é um sinal? De todas aquelas baboseiras que Peter e nosso pai fizeram? — levantou da poltrona e cruzou os braços.
— Acho que Adam estava passando por problemas emocionais e que o acidente aconteceu justamente por isso. — pensei instantaneamente na filha que Emily teve. Será que Adam descobriu tudo? Mas, como? Quem mais sabia desse segredo?
— Mas você disse que ele estava bem, com uma namorada legal e um apartamento novo. Como explica isso?
— Até parece que dinheiro camufla os nossos problemas emocionais. Sabe muito bem que é impossível, você mesmo gastou milhares de dólares em terapias.
Paola ficou quieta, sabia que eu tinha razão nessa parte.
O jatinho foi preparado e em duas horas estávamos a caminho da área de embarque. Minha irmã não parava de ver as notícias pelo celular e eu tentava não olhar, não queria pensar no pior.
Flashback
— Você realmente ficou a Clara Peterson? Achei que seu amor platônico fosse a Meg. — perguntei vendo-o o corar.
— Meg não me quis, estava de papinho com o Tyler. Não me arrependo de ter perdido a virgindade com Clara, ela é uma ótima garota. — Adam respondeu enquanto andava de um lado para o outro no quarto.
— E por que você está tão nervoso? Não foi bom como imaginou?
— Não usamos preservativo, Henry. Estou com medo de que ela tenha um bebê. — confessou nervoso.
— Ela é mais velha, deve se previnir de outras formas, não? — ele não respondeu. — Que vacilo! Carmem sempre disse que quando fossemos... Hum.. Você sabe o que, deveríamos sempre nos prevenir e...
— Eu não sei se estou preparado para ter um filho, Henry. Eu só tenho dezessete anos!
— De qualquer forma, se esse for o caso... Saiba que sempre estarei com você. — forcei um sorriso.
— Mesmo? — sorriu.
— Exceto com os nomes peculiares que você gosta, tipo Harry Potter.
Adam pegou uma almofada e jogou em minha direção.
— É um nome muito bonito, idiota.
Atualmente.
Adam e sua falta de responsabilidade, não me admirei quando soube da criança, mas sim da forma que ela nasceu. O que será que ele ia fazer quando descobrisse? Creio que é tarde demais para colocar um nome desses no bebê.
Pegamos o gatinho e fomos para Manhattan. Por coincidência, meu melhor amigo estava na cidade há meses, ele não fazia ideia de que a mãe do seu filho também estava por lá, sofrendo pelo parto surpresa que teve. O destino chega a ser cruel as vezes.
Algumas horas depois e finalmente chegamos. Paola comunicou a Aaron que estávamos a caminho e o irmão caçula do meu melhor amigo nos recebeu na entrada do hospital.
Eu detestava hospitais. Acredito que pelo cheiro e o ar gelado dos corredores, também pelo modo em que ele é mencionado em boa parte das vezes. Petra estava em um desses quando faleceu, seu corpo frio, pálido e sem vida permaneceu por algum tempo aqui.
Eu jamais vou esquecer de tudo o que aconteceu naquela noite. Espero nãoe deparar com algo assim agora, principalmente se tratando do meu único melhor amigo, uma das pessoas mais importantes da minha vida.
— Peter! Como ele está? — falei ao desfazermos um abraço rápido que demos.
— Os médicos dizem que a situação é grave. Adam teve traumatismo craniano, entre outros... Ele disse que precisamos esperar, para ver se os tratamentos da UTI dão algum resultado. — seus olhos brilhavam, marejados, doídos... Peter estava sofrendo muito.
— Vocês já o viram? Tem como visitá-lo? — meu coração apertou ao vê-lo assim, eu estava segurando as lágrimas.
— Só pelo vidro... Henry, o meu filho não está morto, não é? — perguntou desabando no choro.
— Ele é forte, Peter.
Nós realmente tentamos acreditar que era, mas infelizmente não foi da forma que pensamos. Adam lutou o quanto pôde, porém estava cansado, precisava descansar. Meu melhor amigo se foi, naquele dia, às 2:45 da manhã, 1 hora antes da minha chegada. Adam sempre estará em meu coração, agora e pelo resto de minha vida.