Olívia Miller
Depois de tudo que rolou, passei boa parte dos dias trancada em meu quarto, sem ânimo para fazer nada ou tentar fazer alguma coisa. Monique não recebeu muito bem a notícia, mas se manteve firme pela criança que estava carregando. Meu corpo doía, minha mente me traía e o tempo parecia era traiçoeiro, pois quando olhei no calendário já era o dia do casamento de Henry. Decidi me afundar ainda mais em mágoas, ansiosa por ele, com medo de que seu plano não desse certo e eu estava disposta a fazer isso, mas Adriana resolveu aparecer e eu não podia ignora-la, afinal, ela ainda era minha advogada.
— Desculpe por recebê-la assim, acabei de sair do banho. — sorri envergonhada.
Eu estava acabada, com olheiras e os cabelos ensopados de água. Já não era mais a Olívia de antes e lá no fundo eu não fazia questão de ser.
— Eu voltarei para o Brasil neste fim de semana e resolvi visitá-la. — sorriu.
Aquilo me pegou de surpresa, não pensei que ela fosse embora tão de repente.
— Pensei que fosse passar suas férias aqui. — a convidei para sentar e ela aceitou.
Estávamos próximas uma da outra, tão próximas que eu sentia seu perfume de lírios me inebriar.
— Acho que essa viagem já me deu bons frutos. — olhou paras as mãos, parecia envergonhada, o oposto da Adriana que conheci. — Olívia, eu... Eu não estou aqui como advogada, mas sim como amiga. O casamento de Henry será hoje e... Eu não gostaria de ter magoada mais do que você está, então... O que acha de ir para o Brasil comigo?
Aquela proposta me pegou em cheio. Fiquei sem palavras e sem saber exatamente o que fazer ou como agir. Adriana aproximou-se e levou a mão até meus cabelos, acariciando os fios de forma gentil. Seu rosto foi se aproximando do meu, estávamos perto o suficiente para o que estava por vir... Quando me dei conta, seus lábios grudaram nos meus e um beijo calmo começou, arrancando suspiros da mulher a minha frente. Aos poucos, aprofundamos o beijo e um calor gostoso percorreu meu corpo, arrepiando-me de uma forma boa.
Adriana já estava prestes a me deitar no sofá, quando por impulso se afastou. Seus lábios estavam inchados pelo beijo e um breve sorriso confuso apossou-se de sua face.
— Desculpa! Eu... Não pude me segurar.
— Tudo bem, você está aqui como uma amiga. — sorri tentando acalma-la.
Adriana pegou minhas mãos e as apertou como se esperasse uma resposta.
— E então? — questionou.
Apesar de me sentir completamente atraída por ela, eu sabia que não ia ser feliz, não sem Henry ao meu lado. Nós tínhamos uma história e por mais que eu quisesse ir, eu não podia!
— Adriana, não posso fazer isso. — respondi quase em um sussurro.
Ela soltou minhas mãos, parecia desconfortável e arrependida. Eu não queria magoa-la, mas não podia fazer isso comigo mesmo.
— Desculpa novamente, acho que tomei uma atitude precipitada. — levantou-se do sofá. — Ainda bem que consegui me despedir de você.
— E fico feliz por isso. Se você fosse embora sem se despedir... — fingi ameaça-la e ela riu.
— Olívia, eu estive pensando... Por que não recorre a decisão do juiz?
— Recorrer? Não sei se estou disposta a me desgastar por isso. O juiz Xavier não gosta muito de mim e...
— Se conseguir provar que houve um equívoco e que o documento é falso... Ou até mesmo pode passar o processo para outro juíz.
Ergui a sobrancelha surpresa, eu não tinha pensado nisso antes.
— Mudar o juíz? Mas não posso fazer isso, não é?
— Isso é verdade, porém se você o conhece, deve saber de algum podre dele, pode jogar baixo dessa vez, assim como jogaram contra você. Não gosto de aconselhar isso aos meus clientes, mas claramente tudo não passa de um tremendo golpe. — cruzou os braços.
Seria arriscado, mas preciso. Eu teria de arrumar provas de que Xavier é corrupto e de que tudo não passa de um golpe. Com certeza Rafael está dando algo em troca para aquele salafrário.
— Você me deu uma ótima ideia, Adriana. Fique com o telefone ligado, pois a qualquer momento posso precisar de você. — avisei, sentindo esperanças.
Quando minha advogada se foi, corri para o meu quarto e procurei alguns relatórios e documentos importantes no computador, mas qual não foi a minha surpresa ao ver que todas as senhas haviam sido mudadas? Rafael estava mostrando as garras! Suspirei, lamentando aquela situação.
Como posso ser tão burra? O juíz está sendo pago ou seja fazendo o errado. Eu só preciso provar isso e o caso será repassado para outro juíz. Contudo, minha família não é a mais perfeita, também temos nossos podres, preciso agir de forma silenciosa e sem que ninguém saiba. Preciso de Monique! Ela poderá me ajudar, mesmo de longe.
Saí de casa o mais rápido possível e me dirigi até o hospital onde minha prima estava internada. Dei meu nome na recepção e esperei até que me chamassem.
Ela estava comendo e assistindo televisão, ao notar minha presença apenas sorriu de forma carinhosa. Aproximei-me e beijei sua testa, ela parecia bem melhor do que antes.
— Você sumiu. — limpou os lábios com um guardanapo.
— Precisei de um tempo, o processo me deixou em um estado nada bom. Estou tentando reagir. — confessei, olhando a televisão. Um programa de fofocas havia acabado de começar.
— Você é uma Ferrari, não pode deixar a tristeza te pegar. Rafael ganhou a batalha, não a guerra. Em seis meses terei meu filho e voltarei as ativas, pronta para recuperar nosso dinheiro.
Fiquei feliz por sua confiança. Monique sabia muito bem como acabar com Rafael.
— Eu tive um plano, acho que dará certo. O juíz que estava no tribunal e deu causa ganha para aquele inútil...
— Xavier Gonzalez. — me interrompeu. — O maledetto trabalhou para o meu pai há anos. Ele recebia um tipo de pensão mensalmente para ajudar o meu pai com os negócios. Com a grana alta que recebia, Xavier fechava os olhos para as coisas ilícitas da nossa família. — endireitou-se na cama. — Enrico tinha várias boates ilegais pelo México e uma delas foi dada de presente para Xavier. Além do dinheiro que vinha do meu pai, o figlio di puttana recebia pela boate. Ao assumirmos o negócio, todas as boates foram fechadas, inclusive a dele.
— É por isso que ele tem tanta raiva da gente.
— Qual o seu plano? — questionou me encarando. Monique confiava em mim e isso era tudo que eu precisava.
Expliquei tudo o que se passava na minha mente e ela apenas ouvia, sem questionar ou alterar nada. Minha prima tinha sangue nos olhos, estava louca para acabar com aquele
— É um pouco arriscado. — disse quando terminei de falar. — Vamos ter que nos unir aos irmãos Bianchi.
— Acha que eles irão topar? Estamos falando de denunciar um juiz corrupto e bastante poderoso.
— É claro que irão. Não se preocupe, apesar dos nossos amiguinhos serem bonzinhos conosco, ainda são filhos de Giancarlo Bianchi. O sangue do psicopata corre nas veias dos dois, eles são bem mais perigosos do que pudemos imaginar. Já ouvi falar cada coisa de Henry.
Engoli seco, Monique tinha razão.
— O casamento de Henry Bianchi e Alicia Montenegro teve início agora. O herdeiro da redes de hotéis Bianchi Gali levará a filha de um dos maiores empresários dos Estados Unidos para o altar. A cerimônia será em um dos hotéis do noivo... Que chique, não? Essa união está dando o que falar...
— Como você está? — perguntou com dó.
Olhei para a televisão onde estava passando a decoração da cerimônia e senti meu coração apertar. Será que ele iria conseguir se livrar daquele casamento?
— Tenho certeza de que tudo dará certo. Ele não vai casar com ela, isso eu garanto. — afirmei convicta.
Monique aumentou o volume da TV e pelos próximos minutos ficamos de olho em cada notícia que saía. Alicia chegou no hotel deslumbrante, estava com um vestido perfeito, brilhoso. Ela parecia uma boneca com tantos frufrus, o pai a acompanhava com tanto orgulho.
— E demos início a cerimônia. Alicia está perfeita! Para quem deseja acompanhar, a modelo fez questão de transmitir tudo em uma live do Instagram. Que fofa!
— Isso eu não vou perder! — Monique pegou o celular e entrou no Instagram.
Olhei de relance e vi quando minha prima clicou na live de Alicia. A cerimônia seguia perfeitamente, o que estava me deixando angustiada. O padre falava palavras bonitas, se não os conhecesse diria que aquele casamento era por amor, mas era tudo mentira, tudo feito por um mísero contrato.
Minhas mãos estavam geladas, a barriga dava voltas, sentia que a qualquer minuto eu desmaiaria ali mesmo. Alicia declarou-se para o noivo, como se o amasse mais do que tudo e no fim disse aquela palavra perturbadora: Sim, aceito!
De repente, a câmera mudou e encontrou o rosto de Henry. Ele não parecia nada bem, seu semblante era de um homem nervoso e aflito. Naquele momento, lágrimas inundaram meus olhos e quase corri dali para não vê-lo casando com outra...
— Não! — ele dissera firme.
— Porra, isso está melhor do que uma novela! — Monique riu.
Meu coração palpitava e um sorriso aliviado brotou em meus lábios.