Esferas Elementares

By LeticiaMedeiiros3

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Quando coisas estranhas começam a acontecer na vida de Miranda, ela começa a se perguntar se a possibilidade... More

Notas Iniciais.
Prólogo.
Parte I
Capítulo 1 - Um péssimo começo.
Capítulo 2 - Palestras e discussões.
Capítulo 3 - Uma conversa irritante.
Capítulo 4 - Vamos ao parque?
Capítulo 5 - Encontros.
Capítulo 6 - O mago do ar.
Capítulo 7 - Apresentações.
Capítulo 8 - Conversas dolorosas.
Capítulo 9 - Pequenas grandes coisas.
Capítulo 10 - Uma pequena fada azul.
Parte II
Capítulo 11 - Bem-vindos a Trigan!
Capítulo 12 - Banhos, discussões e profecias.
Capítulo 13 - Os pássaros negros.
Capítulo 14 - Emoções.
Capítulo 15 - Mal-entendidos.
Capítulo 16 - Você se lembra?
Capítulo 17 - Indo a lugar nenhum.
Capítulo 18 - Feridas abertas.
Capítulo 19 - Cicatrizes da alma.
Capítulo 20 - Conversas, muitas conversas.
Ficha e curiosidades sobre os personagens.
Capítulo 22 - Despedidas.
Capítulo 23 - A beira do precipício.
Capítulo 24 - Sozinhos.
Capítulo 25 - Tempestades.
Capítulo 26 - Despertar.

Capítulo 21 - Feliz aniversário!

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By LeticiaMedeiiros3

Zoe


Observei as garotas em vestidos compridos dando ordens aos homens que não tinham coragem de não as seguir, Mira e Anarita estavam organizando a enorme sala de jantar do palácio para a minha "festa de aniversário" e Tyler e Serian eram seus ajudantes. Mesmo que fossemos só nós quatro, nossos ajudantes - que aceitaram meio relutantes - e a família real.

- Leva aquela cadeira para aquele lado - Mira apontou uma cadeira pesada de madeira e lá foi Tyler fazer exatamente o que ela tinha pedido.

Sorri vendo-os.

Para mim a Florzinha e seu Cavaleiro tinham pulado a parte do pedido e de todo o flerte e foram direto para o relacionamento, eles agiam como aquele tipo de casal que estavam juntos há vários anos mesmo que, na verdade, não fossem oficialmente nada um do outro.

Observar era uma coisa, mas quando a princesa pediu a minha opinião sobre o cardápio eu simplesmente inventei uma péssima desculpa e saí dali, eu não gostava mesmo desse tipo de coisa, principalmente quando minhas companhias eram dois casais apaixonados exalando toda aquela aura de romance que eu não conseguia não sentir.

Segui pelo castelo admirando os corredores de pedra e as janelas enormes, eu adorava como às vezes parecia que tínhamos entrado em um filme de época. Quando alcancei o jardim nos arredores do castelo vi Luke deitado de costas na grama com os olhos fechados e os braços atrás da cabeça.

Era uma visão... Interessante.

Parei ali perto do muro da imponente construção onde estava e o observei. Seu corpo esguio estava esticado e o cabelo loiro parecia brilhar ao sol. Eu sabia como Luke ficava desconcertado perto de mim, eu literalmente conseguia sentir, então, por vezes, era estranho ficar perto dele, não que eu tivesse qualquer coisa contra o loiro, só não queria me envolver com coisas complicadas como relacionamentos.

Eu não era tão corajosa como Miranda nesse quesito, não conseguia simplesmente ficar calma e ver onde isso ia dar, meu primeiro instinto era fugir correndo ao menor sinal de algo - ou alguém - que fosse diferente.

Como se sentisse que estava sendo observado, por mais tempo do que era normal, Luke virou a cabeça na minha direção e abriu os olhos, então piscou e se sentou parecendo confuso, sua reação me fez sorrir. Isso o fez corar e desviar o olhar e eu não soube como me sentir sobre isso. Por que eu tinha que adquirir esses poderes irritantes? A minha vida era consideravelmente mais fácil quando eu não sabia o que os outros sentiam.

- Fugindo também? - perguntei tentando tornar a situação toda menos estranha.

- Como? - ele me fitou com as íris de cores diferentes. Sempre as achei lindas, diferentes, sim, mas encantadoras também, eram desconcertantes de um jeito bom.

- Das duas organizadoras de aniversário. Lá dentro está uma loucura. Serian e Tyler já foram pegos – comento me aproximando e ele sorri.

- Eu tenho uma teoria de que eles se deixaram ser pegos. Serian não me parece do tipo que nega alguma coisa à Anarita, e Tyler com certeza não é do tipo que vai dizer não à Mira.

- Você também acha? – pergunto divertida me aproximando dele. Por que, realmente, eu duvido que o Sr. Cavaleiro vá negar alguma coisa a sua Florzinha.

- Com certeza. Eu já tive minhas dúvidas, mas agora acho mesmo que aqueles dois são completamente apaixonados um pelo outro.

- Zoe! – ouço Mira gritar e me abaixo na mesma hora perto de Luke, ele me olha curioso e ponho o indicador perto dos lábios pedindo silêncio.

O garoto loiro volta a se deitar e me puxa junto, sufoco um arquejo de surpresa quando nos abaixamos na grama. Nesse momento estou procurando qualquer coisa para me concentrar – como se o pequeno muro de arbustos vai ser capaz de nos cobrir – que não seja os braços quentes de Luke a minha volta, ele é magro e forte e estou rígida e prendendo a respiração com a cabeça em seu peito. Tenho tantos sentimentos – meus - nos quais me concentrar que, felizmente, não consigo distinguir nenhum dos de Luke. Nesse momento nós dois somos uma enorme confusão deles.

- Acho que ela já foi – consigo sussurrar depois de uma pequena eternidade enquanto ouço as batidas do coração de Luke competindo com as minhas para ver quais estão mais aceleradas.

- Ela...? Ah, a Mira – ele parece se recordar do por que estamos assim no meio do jardim. – Sim, ela foi.

Os braços do loiro desfazem o aperto a minha volta e me sento a quase meio metro dele mais que de pressa. Luke se senta também e nós ficamos nos encarando pelo que parece uma vida toda. Eu me concentrando mais do que tudo para não sentir nada vindo dele, eu acho esse meu poder uma invasão de privacidade, principalmente em uma situação assim. Ele parecia gostar de mim, e, parte de mim, não queria saber se isso era verdade ou não. Não que eu preferisse o mistério, só gostava de pensar que era minimamente verdade.

Tendo por exemplo o histórico da minha mãe, era difícil acreditar em um homem, então eu preferia não me envolver.

Era mais fácil.

Fiquei de pé com esse pensamento em mente e bati a saia do vestido. Luke me olhou ainda sorrindo, como se só me olhar fosse de fato uma grande coisa.

- Então eu vou indo, dar um passeio quem sabe – disse e fiz menção em ir embora, mas a voz do loiro me fez parar.

- Quer companhia?

- Como? – voltei a olhá-lo e agora Luke estava de pé e parecia fazer um enorme esforço para fazer as palavras saírem.

- Perguntei se quer companhia em seu passeio.

Eu o olhei por mais um minuto inteiro e estava prestes a dizer que não, mas eu quase conseguia ouvir a voz de Mira dizendo "Sério que não aceitou? Você é mais corajosa que isso, Zo!" e, talvez, só talvez ela tivesse razão.

- Eu ia adorar. Vamos até a vila, o que acha? A gente nunca foi até lá só para dar uma volta.

- Espera – o loiro estava surpreso e sua reação me fez sorrir. – Você aceitou?

- É Luke, aceitei. Vamos.

Eu me virei para sair do jardim e dessa vez ele veio atrás de mim.

Encontrei Eminn no meio do corredor e lhe contei da minha ideia, ela se animou em me ajudar, Luke disse que precisava falar com Serian e que me encontraria na entrada do palácio perto da fonte, assenti e pedi para a minha amiga me ajudar com tudo o que eu ia precisar, como, por exemplo, um jeito de chegar à vila.

Quinze minutos depois eu estava olhando para um lindo e grande cavalo com pelos castanhos brilhantes e muito bem escovados e com mantas grossas sobre o lombo e arreios firmes na boca.

- O que é isso? – Luke surgiu ao meu lado e sorri.

- Nosso meio de transporte até a vila – digo e sinto seu medo antes mesmo de ver o rosto surpreso do loiro.

- Não mesmo – ele dá um passo para trás. – Nem pensar.

- Não me diga que está com medo?

- Você já sabe a resposta – ele resmunga ficando vermelho. – Um animal desse tamanho não foi feito para ser montado é só isso.

- Para ser montado ele precisa ser grande. E é isso ou ir de carruagem e achei demais. A não ser que prefira caminhar até a vila.

- A gente já caminhou – ele contrapõe.

- No dia em que chegamos, quando estávamos presos e depois corremos de volta pra lá no meio da confusão com os pássaros negros. Isso não é parâmetro.

- É sim, com certeza. E eu não vou montar nessa coisa.

- Ah vai sim – digo divertida. – Pode me ajudar Eminn?

A garota se apressou em me ajudar e eu finalmente subi no lombo de Bets – esse era o nome do cavalo – e me ajeitei ali. Era bom estar sobre um cavalo outra vez, era algo familiar em meio a um mar de estranhezas que vinham acontecendo nos últimos tempos.

- O que aconteceu com seu vestido? – Luke perguntou depois que me ajeitei se esquecendo de nossa pequena discussão.

Sorri ao olhar para a saia que se abriu até a altura da minha cintura. Eu já estava cansada de usar essas saias longas e que me atrapalhavam a fazer quase tudo então pedi ajuda a Eminn para modificar alguns dos meus vestidos. Nós tínhamos aberto uma fenda na saia comprida, da barra até o limite da cintura de modo que eu podia mexer as pernas livremente e quando estivesse de pé ou sentada – como uma dama – em uma cadeira ela ficasse como se estivesse normal. E, por baixo da saia eu usava uma calça preta e colada que, nesse momento com a saia aberta até o limite, era tudo que cobria minhas pernas. Minha amiga/empregada/ajudante, ficou meio horrorizada em me ajudar a modificar uma calça para eu mesma usar, mas o fez mesmo assim.

- Fiz umas modificações, agora posso me mexer, lutar e cavalgar sem me estressar – disse sorrindo. – Agora sobe aí.

- Boa tentativa. O vestido está ótimo. Mas não – Luke cruza os braços a uns dois passos de Bets e de mim. Então me olha com um sorriso. – Eu não vou subir.

- Qual é, Luke! É só um cavalo. Ele não vai te pisotear até a morte, só vai nos dar uma carona até a vila.

- Quem garante que ele não vai me pisotear?

- Eu – digo exasperada. – Eu garanto, vamos logo de uma vez ou juro que te deixo bem aí.

- E você ao menos sabe o que está fazendo?

- Se sei montar? – pergunto depois que ele se aproxima e finalmente sobe no cavalo. Luke faz que sim rígido como uma taboa sentado a poucos centímetros de mim. – Eu aprendi com o Joe. Ele é avô da Mira, não meu. Mas como nos conhecemos desde que éramos crianças eu passei várias férias na fazenda dos avós de Miranda e lá nós aprendemos a montar. Sou muito boa nisso se quer mesmo saber.

- Menos mal – ele murmura quando começamos a nos afastar de Eminn e do empregado que ela tinha chamado para ajudar com Bets.

Despeço-me de Eminn e finalmente aumento a velocidade do trote de Bets na estrada de terra em direção à pequena vila.

- Melhor se segurar – digo a Luke. Ele parece prestes a negar quando Bets pula um buraco relativamente grande e nós nos balançamos, então ele simplesmente desiste de tudo e fecha os braços a minha volta como duas chaves de aço.

- A gente vai cair, a gente vai cair, a gente vai cair... – Luke está murmurando e sinto toda a sua apreensão em ondas assustadoras. A cada pulo de Bets seus braços me apertam com mais força, quem diria não é? Que um cara de mais de 1,80m tenha medo de andar a cavalo e que seus braços esguios sejam tão fortes assim.

- Se você continuar a me apertar nós com certeza vamos cair, por que eu desmaio por falta de ar antes de chegarmos – arfo e seus braços deixam minha cintura na mesma hora. Suspiro. – Não precisa soltar, só diminui o aperto. Vamos, segure-se. E não, nós não vamos cair Sr. Bigodes. Vamos apreciar a viajem e nos divertir.

- Isso foi uma péssima ideia – ouço Luke resmungar antes de voltar seus braços para a minha cintura e sorrio sentindo o vento no rosto, eu realmente estava com saudades disso.

Nós seguimos pela estrada de terra e é bom me concentrar apenas em meus sentimentos. Como tudo o que vem de Luke é apreensão, é fácil bloqueá-la. É fácil apenas pensar e me concentrar em como gosto de estar montando, em estar nesse mundo em uma aventura completamente surreal com minha melhor amiga que, por acaso se transforma em fada, no fim, acreditar em Miranda quando éramos crianças não foi de todo ruim.

Quando chegamos o sol já brilha alto no céu da tarde, algumas pessoas param para nos olhar, seja por que nos conhecem das recentes batalhas, seja por causa da cor do cabelo de Luke, mesmo no palácio onde temos estado todas essas semanas desde que chegamos ele e Mira ainda chamam atenção. Encontramos um estábulo para deixar Bets e quando penso que vai precisar de ajuda, Luke desce com uma rapidez e desenvoltura assustadoras do lombo do cavalo.

O loiro para ao meu lado e me estende a mão para descer também, hesito por um instante antes de aceitar o auxilio. Agarro sua mão firme e me apoio para descer. Quando o faço e meus pés tocam o chão, nossos rostos ficam tão próximos que reparo nas pintinhas douradas em sua íris verde, de perto seus olhos são ainda mais desconcertantes. Não sei até quando pretendíamos ficar ali nos encarando, mas Bets decide encerrar o contato quando se move e nos assusta e nos separamos.

Eu ainda estou com o coração batendo loucamente de susto – com certeza é pelo susto! – quando Luke dá algumas moedas ao homem responsável pelo estábulo e começamos a caminhar pela rua principal.

- Nem me lembrei de trazer dinheiro – comento depois de uns minutos de silêncio em que estamos andando e olhando as lojas e pessoas.

- Eu fui buscar no quarto um pouco do que o rei me deu – ele suspira. – É irritante precisar da ajuda de outra pessoa outra vez. A ajuda financeira – ele se apressa quando o olho sem entender. – Eu fiquei no orfanato até os dezoito e até aí eu tive poucas coisas que foram realmente minhas. Depois que sai e consegui o emprego foi uma das melhores coisas que me aconteceram. Agora estou eu aqui outra vez, mal sabendo contar o pouco dinheiro que tenho e não fiz nada para merecer.

Surpreendo-me com suas palavras – a quantidade, acho que Luke nunca falou tanto assim comigo -, mas sobretudo, o assunto. No fim acho que temos alguma coisa em comum.

- Acho que finalmente te entendi um pouco mais.

- Por que está me olhando assim? – ele pergunta depois que sorrio.

- Estava pensando que tínhamos algo em comum. Apesar de a família de Mira nos ajudar, no fim éramos só eu e minha mãe, então tive que começar a ajudar em casa muito cedo. Fazia tarefas, ia às compras, procurava pelos menores preços e, finalmente, quando consegui meu primeiro emprego foi que pude realmente ajudar minha mãe e, como você disse, ter coisas que fossem minhas sem pensar que só estava dando mais trabalho para a minha mãe que sempre trabalhou demais – quando paro de falar me surpreendo com a facilidade com que as palavras saíram, normalmente não costumo falar de assuntos como esses assim. Prefiro não pensar.

- Eu sempre achei que se meus pais estivessem vivos minha vida seria mais fácil. Mas aí escuto você e vejo que não é por que sua mãe esteve com você que as coisas foram simples.

- Nem todo mundo tem a sorte da Mira de ter ambos os pais e todos os avós e algum luxo – digo sorrindo.

- Como ela se descreveu daquela vez na casa dela? – Luke pergunta e sorrio, por que sei exatamente do que ele está falando.

- Filhinha de papai – digo e ele ri. – E ela é realmente uma. Mas não de um jeito ruim, só abençoado. Acho – comento e isso só faz o sorriso do loiro aumentar, acabo sorrindo com ele. Então vejo uma loja do outro lado da rua que me chama atenção. – Aquilo é uma padaria?

- Parece. Quer ir até lá? – Luke me chama e faço que sim.

A loja é como todas as outras, com paredes feitas de madeira e degraus de pedra na entrada. Há uma pequena varanda coberta na frente onde tem uma mesa forrada com um tecido vermelho e algumas badejas em cima, o cheiro que vem das iguarias de cima da mesa é maravilhoso. Nós nos aproximamos e vejo comidas que me lembram pães e bolos.

- Ah! São os heróis! – uma mulher que vem nos atender exclama. Ela para a alguns passos de nós sem parecer saber o que fazer. Ela está nervosa e suspiro.

- Viemos ver o que cheirava tão bem – digo sorrindo para tentar acalmá-la e parece funcionar, por que ela relaxa e sorri de volta.

- Fico grata que gostem. Fiquem à vontade e escolham o que quiserem.

- Eu posso provar aquele? Quanto é? – pergunto para o que me parece um pãozinho doce com creme por cima.

- Pode provar – a mulher sorri e se apressa em pegar um dos pãezinhos com um pequeno pedaço de tecido que muito provavelmente é um guardanapo. Ela me estende logo em seguida. – Aqui. Não custa nada.

- Como? – paro com o pão na metade do caminho até a boca.

- É só o nosso jeito de agradecer – diz ela olhando para trás e há um homem no batente da porta. Ele também nos olha com curiosidade, mas há um sorriso gentil em seu rosto. – É modesto, mas espero que aceitem. No dia em que os pássaros-negros atacaram, sua amiga, aquela com os lindos olhos azuis salvou nosso filho. Ele ficou para trás quando saímos da loja e não percebemos, quando vi os monstros e o fogo achei que nunca mais o veria com vida então vocês vieram, surgiram como anjos e nos protegeram e ela em especial o salvou. Ele era uma das crianças que ela protegeu. Nunca vou ser grata o suficiente, então aceitem, por favor, e transmitam meus sentimentos a ela.

Seu relato me pega de surpresa por um momento e então sorrio. É uma sensação boa, saber que pudemos ajudar nem que seja um pouco. E então sorrio um pouco mais ao pensar que Mira vai adorar saber sobre isso, tenho certeza que naquela ocasião e em nenhuma outra na verdade, ela fez tudo o que fez para receber qualquer coisa em troca e, acho que é exatamente por isso que ela o faz tão bem.

- Miranda, a minha amiga, vai adorar saber que ele está bem e com a família. Eu vou contar tudo a ela. E obrigada – digo me referindo ao pãozinho antes de dar uma mordida. Eu poderia insistir em pagar – Luke poderia o fazer e depois eu o reembolsaria -, mas não o faço por que sinto como ela fica feliz com minhas palavras e por eu ter aceitado o humilde presente.

- E você? – ela pergunta a Luke. – O que vai querer?

- Eu não... – ele começa e o olho feio negando com a cabeça. Termino de engolir e faço com os lábios "Aceite". Por fim o loiro sorri para a mulher. – Vou querer aquele ali.

Ele aponta para o que pode ser um bolo ou um pudim que é cor de rosa e está coberto de açúcar. Ela pega uma fatia com outro pedaço de tecido e dá a ele. Eu termino meu pãozinho mais do que satisfeita.

- Estava uma delicia, obrigada mesmo por isso – digo sinceramente e, como se fosse possível, vejo mais do que sinto o quão feliz fica a mulher. Seus olhos brilham.

- Você acha que sua amiga e o outro amigo de vocês iam gostar de um pouco dos nossos doces? – a mulher pergunta com expectativa e nem tenho tempo antes de responder antes dela sorrir e decidir por si mesma. – Vou preparar um embrulho com alguns para eles.

Eu não tenho tempo de dizer que não precisa e Luke está ocupado demais se deliciando com o bolo cor de rosa para dar qualquer opinião a respeito, então acabo sorrindo, a situação toda é um pouco surreal, mas no fim acho que talvez ganhar doces deliciosos de presente não seja assim tão ruim.

No fim eu e Luke saímos da padaria com uma pequena cesta muito bem embrulhada cheia de guloseimas que cheiravam muito bem, eu tinha certeza que Mira e Ty iam adorar prová-las.

- Você pode considerar isso um presente de aniversário - o loiro disse sorrindo quando voltamos a andar pela rua.

- Gostei da ideia, por que assim não preciso dividir com nenhum de vocês.

- Que mulher egoísta - ele brincou e eu dei de ombros divertida.

- Quando se trata de comida gostosa eu sou mesmo.

Luke está prestes a falar alguma coisa quando um pequeno furação de tranças escuras se choca contra ele. Nós dois paramos e ele segura a garotinha que trombou em suas pernas. Ela balança as trancinhas quando se endireita e sorri para ele.

- Obrigada, moço. Meu Deus! Olha a cor do seu cabelo moço! É amarelo – ela ri apontando para Luke. – Você é bem estranho, por que tem um olho de cada cor? Moço! – ela insiste quando ele não fala nada.

Eu continuo observando a interação. Não há maldade alguma nas palavras da garotinha, nem medo, só diversão e curiosidade. Luke por outro lado está em pânico.

- Eu nasci assim – Luke responde por fim.

- Ah isso é muito legal! Eu nunca tinha visto ninguém assim tão diferente que nem você. É muito bonito. Você acha que eu ia ficar bonita com o cabelo da cor do seu? Moço! – ela insiste mais uma vez e contenho o riso vendo que Luke está fazendo um tremendo esforço para não sair correndo dali. A garotinha então me olha. – Moça, seu marido não gosta de conversar! Você acha que eu ia ficar bonita com o cabelo que nem o dele?

- Ia, com certeza ia – digo sorrindo e ignorando totalmente a parte sobre Luke ser meu marido. – Você me lembra uma amiga. Ela gosta de conversar assim que nem você.

- Ela também tem um olho de cada cor que nem o moço?

- Não. Mas os olhos dela são azuis.

- Azul!? – ela está surpresa e isso me faz rir.

- É.

- Você está brincando – ela me acusa e nego com a cabeça divertida.

- Juro pra você que são azuis. Os dois.

- É verdade moço? – a garotinha se vira outra vez para Luke que ainda está parado no mesmo lugar. Como ele não reage, ela segura uma de suas mãos e chacoalha. – Moço! Vocês têm mesmo uma amiga de olho azul?

- Temos – ele consegue responder.

- Kita! – uma mulher grita se aproximando e então vê a garotinha conosco e segurando a mão de Luke. – Me desculpem! Ela gosta muito de falar e... Kita, pelo amor de Deus eu já não disse para não sair sem mim? E para não falar com estranhos e os atrapalhar?

- Mas mãe, o moço tem cabelo amarelo e um olho de cada cor, olha! – Kita aponta com a mão livre para o rosto de Luke que, dessa vez, sorri. A incredulidade da mulher pelas palavras da filha é mesmo hilária.

Por fim a mãe se desculpa pela filha o que eu e Luke garantimos não ser preciso e Kita se despede de nós toda animada acenando e vai com a mãe que só espera virarem as costas para começar a dar um sermão na pequena.

- Então além de ter medo de cavalos você também tem medo de crianças? – pergunto a Luke para provocar quando voltamos a andar. Ele me olha feio. – O quê? É no mínimo engraçado, você cresceu cercado de outras crianças, como pode não gostar delas?

- Eu não falava com ninguém, lembra? E não é que eu não goste, eu não sei lidar com elas. Você viu essa com milhares de perguntas e toques e um monte de coisas? É demais pra mim. Eu prefiro observar as pessoas a interagir com elas, e isso vale para crianças também.

- Então você era o menino solitário?

- Basicamente. Mas eu gostava de fazer brinquedos para as crianças do orfanato. Eu montava várias coisas com sucata e recicláveis e dava a elas. Minha diversão era ficar horas fazendo os brinquedos e depois vê-las brincar. Observar a felicidade delas era o suficiente pra mim.

É nessa hora que Luke parece perceber que falou demais e se cala. E depois de vários minutos quando percebo que ele não vai mais dizer nada resolvo mudar de assunto.

- Mas e agora, qual a próxima parada? – pergunto sem olhá-lo, acho que concordamos mutuamente que essa conversa tinha tomado um rumo pessoal demais.

- Que tal tomarmos alguma coisa? Eu vi algo que pode ser um bar ou um restaurante mais adiante - ele oferece e sinto sua vergonha ao fazer o convite, isso me deixa um pouco nervosa, mas consigo respirar fundo e assentir.

Nós seguimos até o bar/restaurante em um silêncio constrangedor por que dessa vez eu não puxei assunto e Luke já tinha extrapolado toda a sua coragem em falar comigo me fazendo o convite e contando um pouco mais sobre sua infância. É, assim nós íamos longe.

Eu gostava da companhia do loiro, era fácil conversar com ele mesmo que às vezes fosse mais um monólogo do que qualquer coisa, mas tinha vezes, como agora, que era estranho e desconcertante estar ao lado dele. Isso não acontecia com Miranda ou Tyler, ou qualquer outra pessoa. Quando falei sobre isso com Mira ela me deu uma resposta que ainda me faz pensar a respeito.

- Talvez isso seja por que nenhum de nós tenha sentimentos como os de Luke por você, já pensou nisso? - ela sorriu para mim divertida. - Sentimentos românticos, caso não tenha ficado claro.

Depois disso eu neguei - obviamente - e ela ficou me enchendo com o assunto, por que essa é a função da melhor amiga, certo? Aí quando eu comentei sobre ela e Tyler, ela finalmente me deixou em paz.

Mas agora, andando ao lado de Luke pela rua de terra, me pergunto se não é esse mesmo o problema, dele - e seus sentimentos - me incomodarem tanto.

Estar perto de Luke era... Complicado.

Quando alcançamos a porta do bar o loiro a abriu e esperou que eu entrasse primeiro o que me fez dar um sorriso contido, cavalheiros eram raros hoje em dia. O lugar por dentro se parecia com os bares de filmes antigos, principalmente os do velho oeste, com mesas e cadeiras de madeira, assim como o balcão que tinha um homem de bigode atrás dele, haviam homens e mulheres nas mesas em várias variações de roupas antigas e mulheres usando vestidos longos e aventais de amarrar na cintura servindo as mesas.

Eu e Luke seguimos para uma mesa no canto e nos sentamos ali. Não demorou a uma das garçonetes vir nos atender. A garota de cabelos castanhos compridos presos numa trança e olhos igualmente castanhos nos sorriu e, como esperado, seu olhar se demorou um pouco mais em Luke – seus olhos dispares e cabelo loiro – antes dela se dirigir novamente a nós dois.

- O que vão querer?

- Vocês têm galenc? – Luke pede para a minha surpresa.

- Temos sim. Uma caneca? – a garota pergunta e o loiro assente. – E você, senhora?

- Sua melhor bebida sem álcool – pedi por que eu realmente não entendia nada das comidas e bebidas de Trigan. Claro que já havia provado várias delas – que eram muito boas – no palácio, mas a verdade era que eu não tinha me dado ao trabalho de saber seus nomes.

A garota volta a confirmar antes de nos deixar sozinhos outra vez.

- Desde quando você sabe tanto sobre as bebidas daqui? – pergunto a Luke realmente curiosa e ele finalmente me dá um sorriso inteiro outra vez.

- Eu bebi no baile e gostei, então perguntei a Hytus depois o que era. Galenc é uma espécie de vinho doce e suave que tem baixo teor alcoólico, eu devo ter bebido umas cinco taças ou mais naquela noite.

- Ah então deve ser bom. Podia ter pedido para mim também! – acuso e ele me olha arqueando uma sobrancelha.

- Não achei que você fosse gostar de ter alguém tomando decisões por você.

Suas palavras me pegam de surpresa por que, geralmente, eu sou exatamente assim.

Quando não digo mais nada, nós esperamos nossas bebidas em silêncio, aquele silêncio constrangedor e estranho de sempre. Sinto a ansiedade de Luke e acho que ela é contagiosa, por que eu também estou começando a ficar desconfortável fingindo prestar atenção às pessoas do bar e não no homem loiro sentado a minha frente.

Nossa garçonete volta com duas canecas e as coloca cada uma a frente de um de nós e então sorri.

- Se precisarem de alguma coisa é só me chamar – diz antes de se afastar outra vez.

- Aqui – Luke me estende a sua caneca e fico sem entender.

- O quê?

- Você queria provar, certo? Pode ficar com a minha.

- Mas achei que você queria beber.

- Eu quero – ele sorri e empurra a caneca um pouco mais em minha direção. – Mas não me importo em deixar para a próxima. É seu aniversário, pode ficar a vontade.

- Tem certeza? – pergunto olhando para a caneca depois para ele. Luke faz que sim com a cabeça. – Então fica com o meu – digo lhe estendendo a caneca. – Por favor.

- Tudo bem, vamos experimentar – ele ergue a caneca que devia ser minha em um brinde e faço o mesmo com a sua. Nós brindamos e em seguida cada um de nós da um gole em sua bebida.

Sorrio ao terminar de saborear o vinho e Luke tem razão, ele é doce e suave e eu provavelmente poderia continuar bebendo isso por algumas horas sem problema.

- É uma delícia! – digo sinceramente depois de mais um gole. – Adorei e agora entendi por que você bebeu algumas taças.

- Isso aqui também é bem gostoso – ele indica a própria caneca. – Me lembrou suco de morango. Vou perguntar o nome depois.

Quando um feixe de luz entra pela janela e bate em nossa mesa eu olho para o céu lá fora e fico surpresa ao perceber que o sol já está se pondo.

- Acho melhor a gente ir. Já está ficando tarde.

- Nossa, está mesmo – Luke diz surpreso olhando pela janela. – Se você se atrasar hoje a Mira te mata.

- Mata mesmo, vai ser o meu presente – comento e então levanto a mão para chamar a garota que nos atendeu.

Ela se aproxima da mesa e observo Luke separar as moedas para pagá-la. Eu ainda não entendo muito bem como funciona o dinheiro aqui, a única coisa que me lembro das "aulas" com a princesa é que a moeda de ouro é a que vale mais, uma delas vale cinco de prata e dez de cobre. Mais não sei o que fazer com essa informação. No fim Luke paga duas moedas de cobre pelas bebidas e saímos do bar.

Nós seguimos pela rua de volta conversando sobre o que será que nos espera – principalmente a mim – quando voltarmos. A perspectiva de um jantar de aniversário não me deixa exatamente animada, mas não me importo de participar, principalmente quando sei que Mira se esforçou por isso e que todos estão ansiosos com qualquer coisa que soe mais animadora que o último grande acontecimento do palácio, o ataque dos gêmeos.

Recuperamos Bets no estábulo e finalmente estávamos prontos para ir. Dessa vez não teve toda a ladainha de Luke do "Não vou subir no cavalo", ele se limitou a resmungar alguma coisa – que provavelmente era um xingamento – e subir no lombo do animal sem mais protestos.

Luke ficou responsável pela cesta de doces, passou a alça longa pelo ombro cruzando-a no peito de modo a deixá-la o mais segura possível, eu me recusava a perder qualquer guloseima que fosse.

Depois de todo esse malabarismo, ele finalmente resolveu se segurar, suas mãos me tocaram de forma hesitante e sua hesitação me deixava inquieta por que eu sentia seu nervosismo. Quando Luke finalmente apertou minha cintura nós já estávamos perto da saída da vila.

Dessa vez sem ele ficar resmungando e reclamando que ia cair era mais difícil ignorar seus braços firmes ao meu redor.

Quando viemos eu estava muito animada com a sensação de montar outra vez e Luke estava usando toda a sua determinação para pensar que íamos cair dali então não havia mais nada em que me concentrar. Mas agora estamos os dois em um silêncio quase confortável, cavalgando calmamente – mesmo que em ritmo constante – com os últimos raios de sol iluminando nosso caminho, então é difícil não reparar em coisas simples como o calor do peito de Luke tocando minhas costas ou seus braços firmes se apertando ao meu redor, ou ainda suas mãos em minha cintura, tudo isso fazia meu cérebro zunir, era muita informação, principalmente quando eu sentia – em mim e Luke – sentimentos que eu não sabia nem identificar.

Nós seguimos assim até os portões de ferro do palácio e eu agradeci a Deus quando chegamos ao jardim perto dos estábulos reais, eu só queria sair de perto de Luke e organizar meus pensamentos. Quando paramos ele desceu primeiro outra vez, então me estendeu a mão como tinha feito na vila e dessa vez, apesar de tudo, não hesitei, só aceitei o gesto e desci do cavalo, mas tomei cuidado para não me colar a Luke como da outra vez.

Depois de mais tempo que o suficiente nós soltamos as mãos e entregamos Bets ao cuidador do estábulo e começamos a andar em direção a entrada do palácio, Eminn e Hytus nos esperavam lá quando chegamos e pareciam impacientes. Depois de alguns cumprimentos e perguntas nós descobrimos que era Miranda que já estava louca a nossa procura e que eles foram nos esperar ali simplesmente para fugir dela, minha amiga irritada era realmente assustadora.

Seguimos em direção aos quartos e Hytus - para quem Luke tinha dado a cesta de doces - nos garantiu que nossa oferta de paz chegaria a Mira antes de nós, mas que precisávamos nos apressar e nos arrumar para o jantar e assim fomos fazer.

Minha última olhada para Luke no corredor dos nossos quartos me confirmou o que eu acreditava, ele ainda me olhava, principalmente quando achava que eu não estava vendo. Então seus olhos de cores diferentes encontraram os meus, ele corou e entrou em seu quarto, eu fiz o mesmo ignorando minha própria pontada de nervosismo.

Eminn me ajudou com as roupas e me fez entrar no banho que já estava morno de tanto me esperar, minha ajudante me ajudou a me lavar, secar e entrar em um vestido limpo e muito bem passado, dessa vez dos normais com as saias compridas que me atrapalhavam a fazer tudo. O vestido era de veludo verde com mangas que iam até os cotovelos, adornado com renda branca, era incrível e quando Eminn fez um trança em meus cabelos sorri, estava me sentindo linda.

- A aniversariante mais bonita de todas - minha nova amiga me sorriu quando saímos do quarto.

- Eu concordo - para minha surpresa foi Luke quem me elogiou, ele estava no corredor com Hytus e ambos pareciam nos esperar.

- Obrigada - sorri abertamente e dessa vez ao invés de corar vi os olhos de Luke brilharem de um jeito diferente, ignorei por completo seus sentimentos, eles não eram da minha conta. E não pensei nos meus também.

- Estavam nos esperando? - Eminn perguntou e Luke fez que sim quando começamos a andar.

- Pelo que Kenad falou quando fui levar a cesta de doces, só está faltando a gente - Hytus respondeu. - Mas isso ainda é estranho, a senhora quer mesmo a nossa presença? O rei vai estar na mesa também.

- E daí? Eu continuo querendo a presença de todos - digo com convicção. - Vocês são meus amigos tanto quanto os príncipes e mais que o rei se querem saber.

- Senhora! - Eminn me repreende, mas estou sorrindo.

- O quê? É a verdade.

Negando com a cabeça e realmente sem acreditar Eminn e o resto de nós seguimos em direção à sala de jantar. No fim quando alcançamos as grandes portas de madeira estou sorrindo, festejar com todos não é assim tão ruim afinal.

Estão todos lá quando meu pequeno grupo chega - Mira, Tyler, Odilee, Kenad, Anarita, Serian e o rei - eles conversam e tem taças nas mãos.

- Finalmente chegou a Margarida - Mira me olha. - Já estava achando que tinha fugido de mim.

- Nunca - digo quando ela me abraça e então nos afastamos e sorrio. - Só às vezes.

- Zo! - ela reclama e gargalho. Então Mira me olha mais uma vez e sorri. - Feliz aniversário! – me deseja antes de me esmagar em mais um abraço repleto de carinho.

- Obrigada – digo depois que nos separamos. Mira sorri.

- Espero que aceite a festa como presente de aniversário por que eu não tenho mais nada para te dar – ela admite fazendo um bico e acho fofo. Miranda é do tipo que gosta de dar presentes a outras pessoas, mesmo fora de datas comemorativas pelo simples fato de ver alguém feliz. Em datas especiais isso era um quase um ritual para ela.

- Você não precisa me dar nada, a festa e estar aqui nessa loucura comigo é mais que suficiente – digo sinceramente e espero que Miranda entenda. Ela ser minha amiga há tantos anos é o meu maior presente.

- Mas queria! – ela insiste como uma criancinha e acho graça. Por fim minha amiga suspira e me olha. – Tudo bem então. Mas saiba que não vou desistir, só que infelizmente você sabe que sou péssima em trabalhos manuais e aqui não tem nenhum shopping.

- É eu sei, todos se lembram do desastre do tricô.

- Não vamos falar disso.

- O que foi o desastre do tricô? – Tyler pergunta e sorrio.

- Outra hora te falo – prometo ao meu amigo e vejo Miranda me olhar feio.

- Vou te cobrar isso aí – Ty sorri e vem até mim me abraçar. – Feliz aniversário!

- Obrigada.

- Aqui – ele me estende um pequeno rolo de papel amarelado e espesso preso com uma fita vermelha. Pego o embrulho o olhando curiosa. – Seu presente.

- Não é justo! Você me disse não tinha encontrado nada! – Mira acusa e Ty tem a decência de parecer arrependido.

- Como você falou que estava sem ideia eu não quis te deixar mal – ele explica e deixo os dois em mais uma discussão e me apresso em abrir o laço para ver o que poderia ser.

Sorrio com o título no alto da comprida folha que desenrolei.

"Trigan e Trig para iniciantes. Por Tyler Blackwell".

Passo os olhos pela folha e tem de tudo ali, o alfabeto, palavras traduzidas, expressões, costumes, características das nações e até informações sobre o dinheiro de Trigan.

- Você me deu um guia sobre Trigan? – pergunto a Tyler entre divertida e surpresa. Ele faz que sim sorrindo.

- Só queria te dar algo que fosse útil e estivesse ao meu alcance. Ser um nerd serve para alguma coisa afinal.

- Eu adorei! – digo sinceramente.

Eu sou esse tipo de garota, prática e simples, gosto de coisas úteis e que tenham um propósito, presentes como esses são meus favoritos. Teve um ano que ganhei uma bola de pilates e uma calça legging da Mira e amei por que estava precisando para o trabalho.

Dou mais um abraço em Tyler e quando nos separamos me viro lá está Luke com um sorriso tímido me estendendo um pequeno saquinho de tecido.

- Feliz aniversário, Zoe – ele diz meu nome e encaro seus olhos dispares sorrindo. Gosto de como meu nome soa em seus lábios.

- Obrigada – agradeço, aceito o presente, mas dessa vez não há abraço. Nenhum de nós está confortável com a ideia e posso, literalmente, sentir. Eu preciso de tempo para processar tudo o que acontece quando eu e o loiro estamos juntos.

Abro o saquinho e há um amontoado dourado no fundo, viro o conteúdo na palma da mão e fico surpresa quando pego a pequena e delicada corrente de elos de tamanhos variados. É uma pulseira dourada com um único e pequeno pingente em forma de folha também dourado. É linda e combina perfeitamente com o meu colar da esfera.

- Não sei se você vai gostar ou mesmo usar, e com certeza não é útil como o do Tyler, mas fui eu que fiz – Luke diz tímido e levanto os olhos para o seu resto completamente surpresa.

- Como assim você que fez?

Ele dá de ombros como se fosse à coisa mais normal do mundo alguém fazer uma pulseira. Mira vem até mim e pega a jóia para vê-la de perto, eu deixo por que estou mais interessada em olhar nos olhos de Luke e ouvir sua resposta.

- Eu sempre passei muito tempo sozinho então sou bom em fazer coisas assim. Eu fazia brinquedos para as crianças no orfanato, lembra que te falei? Também consigo montar e desmontar o motor de um carro. Sou bom com as mãos – Luke diz e suas últimas palavras têm um duplo sentido tão grande que dessa vez, além dele, eu fico vermelha também. Mas da minha parte não é vergonha, é de imaginar o que ele pode fazer com essas mãos habilidosas.

Recrimino-me pelo pensamento assim que vejo o sorrisinho de Mira olhando de mim para Luke e vice versa.

- Isso é ótimo – digo ainda meio desconcertada e então recupero a pulseira das mãos de Mira. E olho mais uma vez para ela sorrindo. – Eu amei o pressente e vou usá-la com certeza, é linda. Obrigada.

- Fico feliz que tenha gostado – Luke me olha e ficamos nisso por mais uns segundos até eu guardar a pulseira outra vez no saquinho e fingir que tudo isso não foi grande coisa.

Depois desse pequeno momento – pelo qual Mira vai me encher muito depois, tenho certeza – há mais felicitações e presentes. Eu ganho um vestido incrível da princesa, um livro de Serian, que nem sei se vou conseguir ler, e o rei me dá um saquinho cheio de moedas de ouro. Mesmo eu que não entendo disso sei que é muito dinheiro, então tento não pensar muito nisso. Nossos ajudantes – Eminn, Odilee, Hytus e Kenad – me dão, em conjunto, um lindo par de brincos com pequenas perolas, é encantador.

Nós continuamos com a festa, tem bebida e finalmente o jantar. É engraçado ver Eminn e os outros olhando para a família real na mesa como se ela fosse avançar neles. Depois de comer o rei se retira para descansar e nós – os jovens – continuamos com a festa. Não é nenhuma rave eletrônica, a única música que temos são de uns músicos que tocam pra nós, mas conversamos e contamos histórias de aniversários e rimos. É divertido.

É bom ter momentos como esse, em que a gente pode simplesmente se esquecer que estamos em outro mundo e o que viemos fazer aqui e só aproveitar o momento.

Em determinado ponto da festa Serian tira An para dançar e Tyler faz o mesmo com Mira, os quatro estão dançando e eu estou com Eminn e Odilee estipulando quanto tempo o segundo casal vai demorar a se declarar um paro o outro e começar um romance de fato. É não importa muito o mundo, a fofoca sempre será um entretenimento de qualidade, ou não. Os meninos conversam também e eu evito Luke de todas as formas possíveis pelo resto da noite, Anarita é a primeira a ir se deitar e Serian fica um pouco mais antes de ir atrás da esposa, isso depois de estarmos todos cansados demais e meio bêbados o que foi graças a muitas garrafas de galenc e algumas outras bebidas que não tenho nem ideia do nome.

Nós quatro – eu, Mira, Tyler e Luke – nos dirigimos a nossos quartos depois de expulsar nossos ajudantes para os próprios. Subimos as escadas rindo e tentando fazer silêncio, coisa que não conseguimos.

- Obrigada por hoje, de verdade, pessoal. Eu adorei – digo sinceramente quando alcançamos o corredor dos nossos quartos e Mira me aperta em mais um abraço de urso antes de se despedir de todos entrar no próprio aposento.

Os meninos fazem o mesmo e eu os acompanho seguindo para o meu próprio quarto e estou prestes a fechar minha porta quando olho para a de Luke e lá está o loiro me olhando como sempre, me atrevo a sorrir para ele e faço com os lábios, sem emitir som algum: "Obrigada por hoje", antes de fechar a porta sem esperar por sua reação. Mas sorrio um pouco mais só de imaginá-lo corando por causa disso.

- Idiota – murmuro negando com a cabeça mesmo que ainda sorria. Só não sei de quem, exatamente, estou falando.

~X~

Tyler

Estou tão concentrado no livro que leio que só percebo que estão todos aqui – na biblioteca – quando o rei pigarreia e levanto os olhos. Ao que parece estavam todos só esperando por mim.

Dessa vez somos só nós quatro o rei e Serian. A princesa está descansando depois da festa de ontem e, sinceramente, eu adoraria estar fazendo o mesmo, mesmo que, essas bebidas chiques de Trigan não dêem quase nenhuma ressaca. Mas já que não posso estar dormindo ao menos vou estudar, assim não penso que já tem três dias que Mira não aparece no meu quarto para dormir. É claro que eu fico feliz com o fim dos seus pesadelos, quero mais é que minha Florzinha durma bem, mas a verdade é que sinto falta dela, muita, agora quem está com dificuldade para dormir sou eu, é ridículo.

Ignoro todos esses pensamentos e me forço a prestar atenção no que o rei diz.

- Vocês continuam com a ideia que me apresentaram semana passada? – ele pergunta e eu e meus amigos assentimos.

- Sim – sou eu quem responde. – Nós vamos embora do castelo.

A ideia surgiu depois de algumas conversas, só que após o ataque dos gêmeos nós vimos a necessidade real disso. Nós quatro conversamos a respeito logo depois de repassarmos tudo o que aconteceu há alguns dias com os gêmeos e o que isso gerou, quando apresentamos a proposta, o rei foi o primeiro a ser contra, mas depois de listarmos tudo o que aconteceu por nossa causa e desde que chegamos aqui até ele viu que era mais seguro irmos embora.

- É mais seguro para vocês – diz Mira como se lesse meus pensamentos, essa ideia me faz sorrir, ela provavelmente se assustaria com tudo o que penso a seu respeito. – O ataque do vilarejo, o dos gêmeos, os outros ataques, aqueles menores por aqui e nas redondezas nesse meio tempo, todos nós sabemos que são todos por nossa causa. Então ir embora até o babaca que quer nos matar e machucar os outros no processo é mais rápido e menos perigoso.

- Pra gente, certo? – Serian pergunta suspirando. De modo geral nenhum deles gostou da ideia, muito menos Anarita. – Por que vocês só vão se por em mais perigo. E se algo realmente grave acontecer?

- Nós temos nossos superpoderes, temos armas e graças a vocês agora temos treinamento e, se nada disso for suficiente – Zoe sorri. – Nós temos a Mira para nos trazer de volta. Já nos decidimos, não vamos esperar Arian vir nos buscar e machucar as pessoas que nós gostamos. Isso não.

- Vocês não vão mudar de ideia, vão? – o rei pergunta e nos entreolhamos antes de responder.

- Não – dizemos todos juntos.

- Certo então – o monarca decide. – Vamos tomar todas as providências para que vocês tenham tudo o que precisarem.

- Majestade? – Serian questiona e o rei dá um meio sorriso.

- Eles vieram até aqui para isso, Serian, quer qualquer um de nós goste ou não. Então vamos fazer nossa parte e ajudá-los – o rei diz ao príncipe e então nos olha. - Vocês partem em três dias.

~~ ♥ ~~

Olá meus amores! Dessa vez eu só esperei o mês começar pra voltar aqui! Estava animada kkkk

E esse capítulo super fofo desse nosso outro casal? Eu amo a interação delas, mas acho que alguém vai ter que reagir pra esse negócio dar certo!

Mas e vocês, o que estão achando? E essa saída deles do castelo? Que opiniões, comentem!

Beijocas e até, Lelly ♥

PS: Não vai demorar para eu voltar com um extra muito legal desse pessoal!

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