Capítulo 18 - Feridas abertas.

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Miranda



Eu corri, corri e corri mais rápido e não consegui alcançar nenhum deles, tentei gritar seus nomes, mas Zoe, Luke e Tyler não me ouviam, eles estavam sendo engolidos pela escuridão.

Acordei assustada e me sentei na cama suando frio.

Eu estava em minha cama com dossel no castelo usando uma daquelas camisolas cheias de babados, quando me dei conta disso tentei voltar a respirar normalmente outra vez, nenhum dos meus amigos estava morrendo, tinha sido só um pesadelo.

Um pesadelo horrível, o terceiro nos últimos dois dias.

Apertei meu colar com a mão até sentir dor, isso me acalmou, como quando eu era mais nova e os pesadelos com monstros vinham.

Respirei fundo mais uma vez e como sabia que não voltaria a dormir joguei as cobertas para o lado e fiquei de pé indo até a varanda, as duas luas brilhavam no céu estrelado e isso me fez sorrir, apesar de tudo esse novo mundo era lindo e surpreendente. Senti o vento da madrugada balançar meus cabelos e me forcei a me acalmar, mas a verdade é que eu não conseguia, não conseguia mais.

Eu estava assustada com tudo que vinha acontecendo com os gêmeos e essa coisa toda de só eu e Luke enxergarmos a verdade, mas os pesadelos começaram no dia em que estávamos na biblioteca e Efiryn pareceu engolir Tyler bem na minha frente. Eu tentei explicar a sensação a Luke, mas acho que não consegui, não eram sentimentos como os que Zoe sentia, não tinha amor, dor, raiva, felicidade, não era isso, era uma sensação, uma de que ele estava sendo tragado para a escuridão como em meu pesadelo.

A sensação que tive foi que o Cavaleiro estava sendo levado por ela, por Efiryn, e por sua escuridão.

Já tinha dois dias isso e pior que a sensação que tive e os pesadelos que ando tendo, é a incerteza de que, se vai ou não acontecer alguma coisa, se eles vão ou não terminar o que começaram, e se vão, quando vai ser isso. Olhei para a palma da minha mão com a marca do meu colar, a meia lua na pele estava voltando a se tornar uma cicatriz e isso dizia muito sobre como eu estava me sentindo agora e odiava isso também.

Eu não gostava de ser a garotinha chorona que se encolhe, mesmo depois do ataque do homem-pássaro quando eu era criança eu sempre preferi sorrir e encarar tudo de frente, sempre gostei de ser e me sentir corajosa, então quando eu me encolhia de medo agarrada ao meu colar isso também me machucava, por que eu não quero mais deixar ser levada por esse tipo de sensação.

- Vamos treinar então – disse a mim mesma e as luas no céu. – Vou ficar mais forte e não pensar nisso. E para isso, primeiro de tudo, eu tenho que conseguir me transformar.

Eu era boa em todo o resto, lutava bem – mesmo com o vestido -, meus poderes de cura às vezes se manifestavam mesmo sem eu estar plenamente consciente de que os estava usando, já até reconhecia algumas palavras em Trig – apesar de que Tyler era o melhor de nós e isso provavelmente não ia mudar -, mas me transformar era uma coisa que eu ainda não tinha conseguido fazer plenamente ainda, uma ou outra vez rapidamente sim, mas ficar em minha forma de fada como naquela noite em que enfrentamos Cérbero e viemos pra cá? Nunca mais.

Os outros – Zoe, Luke e Tyler – já estavam aprendendo a usar uma arma, espadas e arco e eu ainda não sabia nem usar meus poderes, era frustrante.

Respirei fundo mais uma vez, limpei a mente, não pensei mais em meus pesadelos ou em qualquer outra coisa que não fosse à sensação incrível que senti na primeira vez em que me transformei, a liberdade, o poder, a coragem e, sobretudo, a vontade de ajudar meus amigos.

Toquei meu colar e fui inundada por um calor, uma sensação boa, e num minuto era eu de camisola na varanda e no segundo seguinte eu tinha sido cercada por um redemoinho de água e depois voava pelo céu em direção as estrelas, minhas asas e minha roupa brilhavam levemente banhadas pela luz das luas. Sorri e em seguida estava rindo da sensação. Dei rodopios pelo ar e só conseguia pensar em como tudo isso era incrível, da última vez estávamos todos em perigo e não pude aproveitar, então dessa vez voei, girei e deslizei pelo ar como uma borboleta, eu realmente tinha asas, grandes e translúcidas que às vezes brilhavam em azul em contraste com a minha roupa cheia de flores, era tudo surreal demais.

Esferas ElementaresWhere stories live. Discover now