Prólogo.

367 45 149
                                    

De acordo com os planos, essa deveria ser uma noite de festa, de comemorar a vitória, de celebrar a conquista de um povo que só aprendeu que eram mais fortes juntos, quando já era tarde demais, mas ao invés disso, os quatro homens na sala escura estavam se escondendo ansiosos dentro das paredes de pedra, ouvindo ao longe os sons das batalhas, nervosos e receosos da coisa que tinham que fazer ali, e ainda mais nervosos e receosos com a ideia de algo lhes acontecer antes de mandarem suas preciosas cargas para um lugar seguro. Afinal, graças à ganância dos reis, eles eram a última esperança de um povo que, apesar de tudo, parecia não entender o significado da palavra união.

- Onde estão as esferas? – o senhor da esquerda que possuía uma longa barba branca perguntou, todos eles usavam branco, ao menos ali, entre eles, não havia distinção de cores ou nações, ele puxou do bolso de suas vestes uma bolinha de vidro vermelha.

- Estão aqui – respondeu o da direita, possivelmente o mais novo deles, cujos cabelos brancos ainda possuíam fios escuros, tirando de seu próprio bolso uma bolinha verde muito parecida com a vermelha, os outros dois homens na sala repetiram o gesto e logo se podia ver quatro esferas de mesmo tamanho e igual poder, em cima da velha mesa de carvalho da sala onde se encontravam.

A única diferença entre as esferas era a cor, azul, amarelo, vermelho e verde, e o símbolo no interior de cada uma, a azul tinha uma gota, a verde uma folha, a amarela um espiral e a vermelha uma pequena chama. Quem visse as pequenas bolinhas de vidro jamais imaginaria o que elas significavam, eram poderosas e antigas demais para serem tratadas como meros objetos de decoração, mas ali estavam elas, juntas, fora de seus cofres, parecendo tão inúteis quanto os soldados que protegiam o exterior das paredes de pedra.

Mas antes que, qualquer um deles dissesse mais alguma coisa ou reunisse coragem para dar início ao que eles vieram fazer ali naquele porão escuro, um som incomum inundou o ambiente, era o som de o choro de um bebê. Alto e forte como um raio cruzando o céu em uma tempestade. Os senhores então se entreolharam sem entender nada, afinal aquilo era, definitivamente, uma criança.

- Você sabe alguma coisa sobre isso? – o senhor de barbas longas perguntou a um dos dois senhores parados mais perto da porta.

Os olhos azuis do homem pareciam se desculpar ao olhar para o mais velho, o cesto com o bebê estava aos seus pés e ele se moveu de forma protetora a sua frente quando sentiu não só o olhar do mais velho, mas também dos outros dois homens ali, sobre o pequeno e indefeso ser que ele havia trazido consigo e consequentemente tinha tornado parte desse emaranhado perigoso de ações e reações que eles estavam prestes a dar continuidade bem ali, naquela noite.

- Ele – o homem que protegia o cesto disse apontando para o bebê. – Vai com as esferas.

- O que!? – os outros três o olharam incrédulos.

- Que brincadeira é essa, Ronan? Nosso dever é proteger as esferas e nada mais – o mais velho disse lhe lançando um olhar incrédulo e até furioso. Quando o som de uma explosão tornou-se perigosamente próximo o mais velho correu o olhar pela câmara onde estavam, parecendo preocupado, e depois se voltou para Ronan. – Apenas livre-se dele.

- Ele é importante, Valac, foi ela, foi a própria... – Ronan se interrompeu sem conseguir dizer o nome da mulher que amara como uma filha e que não pôde proteger. Ele apenas abriu a mão revelando um amuleto que a mulher implorou a ele que deixasse com o seu bebê.

Ronan ainda se lembrava de horas antes quando a mãe do bebê o encontrou, ela estava usando roupas simples sujas pela viagem até ali e provavelmente pelas batalhas que enfrentara até chegar, seu rosto angelical estava sujo e suas lágrimas faziam trilhas pelas suas bochechas, foram raras as vezes que ele a havia visto chorar, mas ali estava ela aos prantos, pedindo, não, implorando que ele levasse o bebê que ela trazia no cesto consigo. Ele hesitou, mas ela o convenceu, principalmente depois de lhe dizer o que seu bebê significava, e não era apenas o coração de uma mãe, era muito mais.

Então ele aceitou o cesto e ela deu a ele um amuleto que tirou do bolso do vestido e depois apenas deu um último beijo na testa do bebê declarando todo seu amor aquele pequeno ser e Ronan viu quando ela deu as costas para eles, tirou a capa que usava e, bem ali, diante dos seus olhos, transformou-se mostrando todo seu poder, numa expressão furiosa de seus sentimentos que ele sabia que poucos podiam fazer, e assim, depois de lançar e ele e ao bebê um último olhar, ela sumiu em direção à batalha.

- Isso é loucura – disse o mais jovem. – Não podemos salvar um bebê de uma única nação alegando que ele vai ser importante.

- Devin tem razão, apenas não podemos – Valac suspirou e Ronan cerrou os punhos, ele teria dito alguma coisa se outra explosão não os tivessem interrompido. - Sugiro que nós prossigamos com isso de uma vez e... – o mais velho se interrompeu vendo o brilho que emanava de cima da mesa.

Todos se viraram surpresos quando uma das esferas emitiu uma luz tão clara e forte que quase os cegou, eles se afastaram protegendo os olhos e Ronan quase tropeçou no cesto do bebê, aquilo parecia um aviso. Era um aviso. Quando a luz cessou, eles viram, como num sonho em câmera lenta a esfera rolar pela mesa, cair no chão e seguir rolando até o cesto do bebê, ela parou ali ao lado da criança como se a pouco não brilhasse tão intensamente.

- Então, precisam de mais alguma prova? – Ronan perguntou e nenhum dos outros ousou protestar dessa vez, então ele se abaixou para pegar tanto a esfera quanto o cesto com o bebê que agora dormia. Ronan colocou os dois sobre a mesa, e, entre as mantas do bebê, o amuleto que a mãe lhe dera. Então se afastou e juntou-se aos outros em um circulo ao redor da mesa.

Os quatro homens ali deram as mãos no momento em que uma explosão soou sobre eles, as paredes de pedra ainda estavam de pé então ainda havia tempo. Eles não precisavam de muito, só o suficiente para realizarem o encantamento, para darem, literalmente, tudo de si para protegerem aquele bebê as esferas. Eles eram sacerdotes, ou pelo menos era assim que os chamavam, era dever deles auxiliar os reis e manter a paz, mas falharam em ambas as coisas quando deixaram a guerra vencer, então dessa vez não podiam se dar ao luxo de errar ou hesitar. Dariam sua vida, sua magia, dariam tudo para que Trigan tivesse uma chance outra vez.

Eles não tinham mais tempo, as esferas eram o símbolo de poder de cada nação, eram para serem os faróis que trariam os quatro guerreiros para o reino de Trigan, para que pudessem salvá-lo. E, quando as paredes e o teto tremeram, eles não hesitaram em usar até a última gota de seu poder para enviar aquele cesto e as quatro esferas para o mais longe que conseguiram, para o lugar onde deviam ir, para o mundo onde encontrariam segurança até chegar o dia de retornar.

E naquela mesma noite, em um lugar muito distante uma mulher abriu sua porta e encontrou diante dela um cesto, com o bebê mais lindo que já vira, e as esferas se espalharam como folha ao vento, todos esperando à hora certa de se reencontrarem e voltarem para o mundo mágico que estavam destinados a salvar.

~~ ♥ ~~

E foi isso, um livro completamente novo, com uma temática que sempre gostei e quis escrever sobre, vamos só ver se vai dar certo kkkk

Estou contando com a opinião de vocês! Comentem, por favor!

Beijocas e até, Lelly ♥

PS: O trailer está tão lindo que vou deixar ele aqui embaixo também u.u

Esferas ElementaresWhere stories live. Discover now