Capítulo 6 - O mago do ar.

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Luke



Minha vida sempre foi cheia de altos e baixos e eu nunca tive muita certeza do que aconteceria em seguida, mas mudar como mudou nos últimos três anos, isso foi demais até pra mim. Afinal, minha última grande mudança tinha sido há dezessete anos e não foi das melhores.

Viver praticamente a vida toda em um orfanato não é uma experiência das melhores, mas depois de determinada idade eu aceitei que não seria adotado, se ninguém me quis quando eu era criança, depois que completei meus quinze anos eu sabia que essa seria a minha realidade então tentei não me importar muito com isso. Preocupei-me em fazer o que eu podia, estudar, cuidar dos pequenos, trabalhar e viver pensando no dia que sairia daquele lugar.

E esse dia chegou, em meu último dia, quando estava indo embora do lugar em que vive mais da metade da minha vida e nunca consegui chamar de lar, eu a vi.

A bolinha de vidro amarela que brilhava de forma fraca quando os raios de sol a tocavam, havia um espiral dentro dela que parecia ter sido congelado ali, ela estava no meio do jardim onde as crianças brincavam e ninguém parecia vê-la e isso devia ter sido o primeiro indício de que alguma coisa estava errada, mas eu não percebi, na verdade fingi não ver e fui até a bolinha e a peguei. Ninguém pareceu notar o movimento ou o objeto em minhas mãos, então impelido de um sentimento que não sei de onde surgiu guardei a bolinha no bolso e fui embora daquele lugar sem olhar para trás.

Não era ingratidão, muito pelo contrário, eu era muito grato a Sra. Forbs e todas as outras pessoas que trabalhavam lá, mas eu nunca consegui sentir que aquele orfanato era um lar, por que não era, não devia ser, e talvez parte da culpa de nunca ter saído dali com uma nova família tinha sido minha, mas o que mais podia esperar de uma criança de quatro anos na minha condição? Eu estava perdido naquela época e ainda me sinto um pouco hoje, mesmo já tendo passado quase duas décadas do acidente.

Sempre que minha cabeça ficava cheia assim e eu não tinha serviço para fazer eu gostava de caminhar, desde sempre isso me ajudou. Ficar sozinho e organizar meus pensamentos, respirar fundo e me lembrar que não sou mais aquele garotinho e que não posso mudar o que aconteceu, só posso aceitar e seguir em frente da melhor forma que conseguir.

Saio do meu pequeno apartamento respirando fundo pela milésima vez e me perguntando mais uma se eu ter me mudado para essa cidade tinha sido apenas uma coincidência. A Sra. Forbs, a diretora do orfanato, havia me conseguido esse emprego na mecânica de um amigo e eu tive que me mudar e, desde então, o disco em meu bracelete não parava de brilhar. E, desde que eu me mudara, não sabia mais o motivo de tanto brilho, antigamente, a maioria das vezes, o brilho significava monstros, mas agora, com o disco acendendo e apagando como luzes de natal eu já não sabia mais o que estava acontecendo. Não que eu soubesse no início, mas tudo bem.

Eu soube que tinha sido uma péssima ideia levar aquela bolinha de vidro comigo quando, pouco mais de seis meses depois de eu ter ido embora do orfanato ela começou a brilhar. Eu me assustei com aquilo e a joguei fora, uma, duas, três, quinze vezes e todas às vezes a encontrava outra vez. Era assustador para dizer o mínimo, mas o que eu não sabia era que assustador mesmo era o que viria depois, muito provavelmente por causa da bolinha.

Quando o primeiro monstro apareceu eu achei que fosse morrer, mas depois de muito pânico e gritos eu me transformei, como em um filme de super-herói, num minuto era só eu, no segundo eu usava roupas brancas e amarelas com detalhes em dourado, um casaco que ia até meu tornozelo e tinha um cajado de madeira escura nas mãos com mais de um metro de comprimento e uma enorme pedra amarela ponta. Eu era como um mago dos animes que via. Com direito a transformação e superpoderes.

Eu ainda não sabia do que se tratavam muitas dessas coisas, mas depois de varias batalhas e algumas descobertas eu estava tentando encontrar as outras esferas – nome que descobri depois de algumas pesquisas - e seus donos. Eu precisava desvendar esse mistério e entender o porquê disso tudo.

Esferas ElementaresWhere stories live. Discover now