Olívia Miller
Rafael estava hospedado em um pequeno hotel próximo ao bar onde eu estava. Desci do carro um pouco apreensiva e caminhei até a recepcionista, dei o nome dele e aguardei alguns minutos — o que não demorou quase nada. Ele parecia saber da minha visita muito antes de que eu pensasse em visitá-lo, agradeço a moça da recepção e entro no elevador, seguindo o percurso que me foi dado. O quarto ficava no quinto andar, o último do corredor, aquilo me deixou mais alerta, não me parecia uma boa ideia, mas eu já estava lá, era a hora de enfrentar os meus problemas.
— Olívia Ferrari... Ou melhor Miller?
Rafael debochou com um sorriso cínico no rosto. Entrei no apartamento sem esperar qualquer permissão, o que lhe fez assoviar com a minha ousadia.
— Você fez a tarefa de casa bem. O que mais descobriu? — falei enquanto observava o quarto em que ele estava.
Era pequeno, não tinha muitos móveis e apenas uma janela minúscula iluminava o quarto com o sol ardente lá de fora.
— Moradora do Brooklyn, operadora de caixa... Você deu um ótimo golpe, devo confessar. A estratégia do sorteio e a viagem para Las Vegas, nossa! Excelente!
Revirei os olhos em tamanha irritação. Ele não ia me estressar, não agora.
— Não melhor do que o seu. Quanto você quer para deixar a cidade? Deve querer uma quantia boa para sumir e deixar minha família em paz. — sentei no pequeno sofá, pronta para negociar. Se o maldito queria dinheiro, ele teria.
— Inocência a sua achar que quero apenas dinheiro. — ele tirou uma cartela de cigarro do bolso e me ofereceu, porém neguei de imediato.
— O que você quer então? — observei ele acendendo um cigarro e tragando logo em seguida.
— Quero liderar os negócios da família. Pesquisei muito nos últimos meses e posso afirmar com total certeza de que vocês estão destruindo o império construído por Enrico Ferrari. Fornecedores, clientes e até mesmo funcionários estão em revolta com tudo o que está acontecendo! O roubo foi só um aviso prévio do que vai acontecer sem a liderança de um homem. Mulheres não servem para esse tipo de negócio.
— Que nojo! Não sabe o que está acontecendo, não sabe de nada para falar a verdade! Está jogando baixo com todas essas teorias criadas na sua cabeça. Posso garantir que o negócio está melhor do que antes! — afirmei e o homem riu.
— Vocês fecharam as boates, tiraram funcionários e estão negociando com um maluco que não sabe nem ao certo que dia é hoje. A qualidade do produto decaiu, o fornecedor das armas não leva você e Monique a sério, demora dias e até semanas para mandar o que precisam. Já falei: Mulheres não são capazes!
— É claro que fechamos! Os sócios de Enrico estavam traficando mulheres, obrigando-as a fazerem coisas inusitadas, arriscando a vida delas e não pagando nem o básico para todas! As boates estavam virando um circo de horror... A qualidade do produto não decaiu! Você não sabe de nada! — apontei o dedo em sua direção, totalmente tomada pela raiva. Rafael, por sua vez, pegou o meu braço e me fez encarar seus olhos.
— Eu acho melhor você baixar a sua bola, amor. — sorriu com um brilho ameaçador nos olhos. — E se quiser continuar usufruindo do dinheiro de Enrico, aconselho que fique do meu lado.
— O quê?! Nunca! — encarei seus olhos com firmeza. Ele não ia me abalar.
— Não fale assim, você tem muito a perder. — sorriu irônico.
— Por que tem tanta certeza de que vai ganhar algo com esse processo? O que está tramando? — questionei, podendo o meu braço com força.
— Você saberá muito em breve, não seja ansiosa. Como sei que está muito cedo para alinhar as coisas, te darei 48 horas para pensar e ficar ao meu lado.
Ele estava tão convencido que ia ganhar o processo, algo estava me dizendo que não era somente aquilo. Peguei minha bolsa completamente enjoada de estar na presença daquele homem e optei por me retirar dali antes de cometer uma loucura.
— Você não tem o meu apoio. — falei antes de abrir a porta.
— É o que veremos. — respondeu, por fim.
Cheguei em casa loucura para me banhar e assim fiz, passei alguns minutos relaxada dentro da banheira, escutando música clássica e tentando não me preocupar com a conversa com Rafael. No entanto, a minha ansiedade me traiu e uma breve sensação de angústia se apossou do meu peito. Desci para almoçar e me surpreendi ao ver Monique sentada a mesa, ela não almoçava comigo há dias pelas complicações da gestação.
— Não deveria estar almoçando no seu quarto, mocinha? — a repreendi, caminhando até o meu lugar.
Dispensei os funcionários e ficamos a sós, ela parecia bem disposta apesar dos pesares.
— Lúcio me ajudou a descer as escadas. Estou cansada de viver trancada naquele quarto, sabe como sou. — sorriu. Ela estava pálida, com olheiras evidentes e os cabelos pareciam mais ralos.
— Você está bem? — questionei preocupada.
— Não tanto quanto gostaria. O meu advogado não pode vir a cidade, então indicou outra pessoa para assumir o processo, por sorte, ela está na cidade e aceitou. — explicou, remexendo a comida com o garfo. — Estou um pouco nervosa com esse processo e sabe bem que não me preocupo facilmente.
— Você mudou, Monique. — ela me olhou. — É mãe, você pensa no seu filho, luta por ele.
— É, eu sei disso. — confessou. — Acha que perdemos algo?
— Alguns milhares de dólares não farão falta. Rafael está atrás de dinheiro, é um golpista miserável.
— Será que é só isso?
— Se não for, estaremos juntas de qualquer maneira e prontas para o que vier. — tentei ser otimista, não queria deixá-la mais preocupada do que já estava.
— Eu casei quatro vezes, com quatro homens diferentes e poderosos. Com a morte de cada um deles, me foi deixado dinheiro, imóveis e status. Mas, ainda sim, precisamos de um plano B — me encarou, largando os talheres. — Antes de papai falecer, eu desviei dinheiro da conta dele.
— Monique! — arregalei os olhos.
— Não me julgue. — pediu. — Ele não sentiu falta. Quer dizer, não sei se sentiu, mas a questão é: O dinheiro está guardado em um porto, no México. Caso aconteça alguma emergência, peço que vá até lá e retire toda a quantia.
— Não vai acontecer nada! Não sei porque está falando isso.
— Não sabemos do futuro, Olívia. Você não pode afirmar isso... — fomos interrompidas pela campainha.
A funcionária foi atender de imediato e logo nos informou de quem se tratava.
— A advogada chegou, senhorita Ferrari. — anunciou.
— Mande-a para a biblioteca. — Monique pediu. — Diga que já estaremos lá e por favor, sirva-nos café e aqueles biscoitos amanteigados. Agradeço — sorriu.
A funcionária assentiu e sumiu das nossas visões.
— Essa advogada é boa mesmo? Aparentemente parece ser pontual com os horários. — questionei, levantando-me da mesa.
— Leôncio não me indicaria senão fosse, prima. — a ajudei a levantar.
Fomos ao encontro da tal advogada, Monique fez questão de entrar primeiro no cômodo, logo após fui eu. A advogada estava de costas e assim que notou nossa presença, virou-se rapidamente... Meu queixo foi no chão ao reconhece-la, ela era...
— Advogada Adriana Araújo. — Monique a cumprimentou.
Ela me olhou sem jeito e caminhou até Monique, apresentando-se da melhor maneira. Eu ainda estava em choque.
— Agradeço por ter interrompido suas férias para me atender. — Monique novamente falou, mas ainda sim, meus pensamentos estavam longe, precisamente na noite intensa que tive ontem à noite.
— É um prazer para mim, advogar uma pessoa tão importante para o doutor Leôncio.
Ela não parecia nada com a Dina que conheci naquela boate. Era uma mulher séria, bem vestida e aparentava ser muito competente.
Monique me apresentou e ainda imóvel pelo choque, apenas forcei um sorriso. Fomos as três para a grande mesa que ocupava o meio da biblioteca e Dina, ou melhor Adriana explicou o processo maravilhosamente bem para nós duas.
Rafael não queria apenas dinheiro, ele queria todo o império Ferrari.