Henry Bianchi
Me deixei inundar pelos saborosos e carnudos lábios de Olívia, era como se há muito tempo meu corpo e a minha mente precisasse daquele beijo e quando por fim, consegui a dádiva de tê-la em meus braços, o destino traiçoeiro e desagradável, puxou-nos agressivamente para de volta a realidade. Ela me olhou arrependida, deixando meu coração apertado e com uma tristeza imensurável. Eu não queria vê-la arrependida, não por ter me beijado!
— Henry, você sabe que isso é errado, não sabe? Nós temos relacionamentos, pessoas que esperam pela gente. — expôs sua opinião e mesmo com o coração partido, assenti.
— Eu sei, mas... Você sabe que esse noivado não é real, nada disso é real, Oli! Nem mesmo o seu relacionamento com aquele francês de caráter duvidoso... — deixei escapar e me repreendi mentalmente por não segurar a língua.
— Como sabe que meu namorado e francês? Henry, você está me espionando?! — o barulho do trovão impediu a minha resposta, antes mesmo de eu tentar formular uma. — Nossa, não percebi que a chuva tinha aumentado assim.
— Eu sei que o que estamos fazendo é errado, mas não consigo ficar longe de você. — confessei, aproximando-me outra vez.
— Não posso fazer isso com ele, Henry. Não é certo! Sabe muito bem o que eu acho de traições.
— Termine com ele. — pedi e ela arregalou os olhos. — Tentaremos mais uma vez e sei que dará certo.
— Não é tão simples quanto parece. Somos de famílias rivais e você está noivo de Alicia. — cruzou os braços, olhando em direção ao para-brisa do carro.
— Monique e Matteo fizeram dar certo e em relação ao noivado, sei que posso arrumar uma forma de burlar tudo isso. — aleguei.
— Ok, eles fizeram dar certo e acabaram machucados. — rebateu, fazendo-me rir.
— Sabe que os dois estavam tendo sexo casual, sem nenhum sentimento envolvido, o que não é o nosso caso. — deixei escapar novamente e Olívia engoliu seco.
— Ainda sim, não sei se podemos fazer dar certo. São tantos problemas, chateações...
— Vamos tentar, ora. Termine o seu relacionamento e confie em mim, logo estarei descompromissado também.
Olívia pensou por um momento e enquanto não obtive resposta, admirei seu belo rosto, o quão bem desenhado era. Os cabelos soltos em ondas, negros como o céu de uma noite sem estrelas, os lábios carnudos pintados por vermelho e a pele... Ah, a pele! A cor, o brilho e a maciez.. Eu amava aquilo.
— Tudo bem, posso tentar. Mas enquanto o noivado permanecer de pé, você não poderá encostar em mim.— provocou, passando a mão discretamente pela minha perna.
— Sei que me provocará no processo, mas serei firme. Estou disposto a tê-la novamente, senhorita Miller.
E eu realmente estava, não importava qual dificuldade teríamos em ficar juntos. Se Olívia me queria novamente, eu lutaria com milhares de leões e subiria o Monte Everest diversas vezes por ela.
▪️▪️▪️
A chuva se foi uma hora depois de ter começado, aproveitei para conversar com Olivia, saber como estava sendo sua nova vida. Era tão bom ouvir sua voz, o jeito meigo que ela ria ao falar sobre os pequenos erros que havia cometido durante as suas aulas de tiro no alvo, da forma em que ela conduzia bem o assunto, lembrando de pontos importantes que marcaram-na para sempre. Quando a chuva resolveu ir embora, deixei Olívia próxima à sua residência e segui rumo para a minha. Logo, logo eu teria de voltar para a Califórnia e tentar de alguma forma amenizar o estresse causado pelo roubo das minhas mercadorias.
Ao chegar em meu apartamento, Matteo estava me esperando no hall do condomínio. Meu irmão encarava o celular nervoso, como se algo o irritasse profundamente. Ele notou minha presença apenas quando toquei seu braço, assustando-se como tivesse visto um fantasma.
— Até que enfim! Onde você estava?
— E eu te devo satisfações desde quando, Matteo? — perguntei, enquanto caminhava em direção ao elevador. Matteo me acompanhou irritado, como sempre.
— Desde quando temos milhões de problemas em volta de você! Estou uma hora te esperando, vamos conversar? — revirei os olhos, mas não tive para onde correr, acabei aceitando.
Mal abri a porta do apartamento e Matteo começou a tagarelar sobre os problemas das empresas.
— Disso nós já sabemos, irmão. Pode me falar uma novidade? Não creio que passou uma hora no hall do hotel a toa.
— Eu contei de Amsterdã recentemente e descobri que desviaram aquela mercadoria do Filipe. Quando ia me contar?
— Quando você resolvesse me contar do caso com Monique. Sei que você não estava viajando coisa nenhuma e que está na Itália por conta de dor de cotovelo. — revelei, preparando uísque em um copo para beber.
— C-como você sabe? Não pode contar para Giancarlo, Henry! Ele vai me exilar novamente e não sei se tenho saúde mental para isso.
— Por sua sorte, não sou do tipo que trai o meu próprio sangue, como você fez no passado. Estou de consciência limpa e de boca fechada, fique tranquilo. — dei um gole no uísque, sentindo o líquido descer queimando na garganta.
— Eu já me desculpei. E se estou aqui, é porquê me preocupo com você.
— Do que está falando? Eu estou perfeitamente bem, não preciso das suas preocupações. — dei um gole novamente e senti a necessidade de acender um charuto.
— Tem certeza? Henry você está dando tiros nos próprios pés há meses! Que merda foi aquela com o Don Gallo, pazzo?
— Não me recordo do que aconteceu, Matteo. Você está bem?
— Não finja que nada aconteceu! Você não está bem psicologicamente, Henry. O que tinha na sua cabeça para matar dois seguranças de confiança do Don Gallo a troco de nada? Sabe o quanto isso irá custar?
— Não me importo! Ele foi imprudente nos negócios, apenas me vinguei. E sabe de uma coisa? Nenhum Bianchi tem o psicológico perfeito! Eu estou sendo o filho que Giancarlo gostaria que fosse e se for para matar, matarei todos no meu caminho! — joguei o copo no chão, que se estilhaçou em pedacinhos.
— Não pode agir assim, não como ele quer! Você fez chacinas sem motivo algum, isso está errado, não condiz com a forma que lidamos com negócios. Nossos parceiros não são inimigos, não tem necessidade de ataca-los! Pare de se comportar como um maluco ou as consequências serão terríveis, irmão.
Cansado, sentei no sofá, encarando a paisagem da Itália pela grande vidraça da cobertura. Matteo aproximou-se e sentou ao meu lado.
— É, eu não estou muito bem, mas sei que vou ficar. Esse casamento, as exigências do meu pai, tudo isso está me abalando. — confessei, sentindo a garganta arranhar.
— Concordo com você, por isso te peço para não me julgar. Monique estava me ajudando, me trazendo de volta para a realidade, entende? Apesar do gênio forte, a ragazza é incrível. — suspirou, seus olhos brilhavam ao falar dela.
— Olívia me fazia sentir a mesma coisa, irmão. — respirei fundo. — E Giancarlo arrancou de mim, sem dó e sem piedade.
— Não pode se casar com Alícia, Henry. Será infeliz pro resto da sua vida e ainda acabará com a vida de um inocente. — ele estava certo, completamente certo.
— E o que posso fazer? O contrato está assinado, o casamento está perto...
— Ou você mata o nosso pai ou tente tirar a ideia de casamento da cabeça de Alicia, o que vai ser bem mais difícil. — arregalei os olhos surpreso com as palavras de Matteo.
— Matar o nosso pai? — era tão estranho falar assim, mas não tão errado como parecia ser.
— Já está na hora de voltarmos ao início do plano. Agora, temos a herdeira Ferrari do nosso lado — referiu-se a Monique. — E quem sabe, Olívia também.