Henry Bianchi
Um apartamento novo não estava em meus planos, principalmente por ser localizado na Califórnia. Beverly Hills foi a cidade escolhida por Alicia para morarmos devido a inauguração do seu ateliê e era óbvio que ficaria ainda mais difícil escapar de todo o caos envolvendo a minha noiva. Ela era muito fútil, vivia em shoppings e salões de beleza, aproveitava que a cidade era regada de lojas caríssimas e estourava todos os cartões, levando-me a um prejuízo salgado.
Como o esperado, eu passava a maior parte do tempo em Los Angeles na sede da empresa, resolvendo milhões de coisas que não eram a minha obrigação, e justamente em uma madrugada estressante no qual pilhas de papéis aguardavam a minha avaliação, uma mercadoria importante fora desviada do destinatário. Na mesma madrugada viajei de imediato para a Itália, mesmo contra a minha vontade.
Matteo estava na cidade, mas fora exilado pelo nosso pai devido aos acontecimentos de meses atrás. No entanto, pelas nossas conversas, aquilo não duraria muito e logo meu irmão estaria de volta aos seus afazeres.
Seria o certo a acontecer, senão fosse pelo simples fato de Matteo e Monique estarem juntos. Há meses comecei uma investigação minuciosa para descobrir mais sobre os Ferrari e em uma dessas investigações, uma foto de Matteo e a dita cuja aos beijos fora me enviado.
O caso estava durando, porém, Matteo não tinha comprometimento com ninguém e apareceu com uma modelo semanas atrás. Deve ser exatamente por isso que Monique se vingou, arrumando um namoradinho dias depois.
Matteo descobriu, inventou uma desculpa esfarrapada para o nosso pai e viajou para a Itália, justamente no dia que o container de Olívia e minha mercadoria tinham evaporado.
E falando nesse assunto, quando recebi o e-mail de Olívia foi um tremendo choque, principalmente quando encontrei com ela no bendito restaurante. Ela realmente tinha mudado, não era mais a mesma e parecia estar longe disso. Estava confiante, segura de si, porém paranóica como todos nós. Acusou-me de rouba-la e sequer esperou qualquer explicação vindo de mim. Estava convicta que o culpado era eu, mas não contava com o segredinho podre de prima.
Agora, Olívia me olhava confusa, surpresa e principalmente: com raiva.
— Você está blefando! Monique não seria capaz de me esconder uma coisa dessas! — nem ela acreditava no que dizia.
— É a mais pura verdade! Os dois estavam se relacionando há meses e só terminaram porque sabemos que Matteo não quer nada com ninguém!
Ela ficou em silêncio, parecia pensativa e quando tudo pareceu fazer sentido, ela respirou fundo quase incrédula.
— Agora tudo faz sentido. Ela não se distanciou de mim por causa da herança, mas sim porque não queria que eu soubesse desse relacionamento com Matteo. Seria muita hipocrisia da parte dela, visto que ela me deu a maior força para superar você. — Olívia levantou do sofá e caminhou de um lado para o outro.
— Mas se serve de consolo, os dois terminaram e estão em outros relacionamentos. Matteo está com dor de cotovelo, descobriu que Monique estava com outro e veio atrás dela.
Olívia respirou fundo e encarou o céu escuro pela vidraça.
— Você tem suspeitas de quem roubou as mercadorias? — mudou o assunto, ainda olhando para o céu.
— Estou investigando, mas creio que ele aparecerá o mais rápido possível.
Ela virou-se rapidamente e me encarou com dúvidas.
— Como tem tanta certeza disso?
— Acredito que quem roubou é alguém de nosso convívio.
— Do nosso convívio? Impossível! — cruzou os braços totalmente irritada.
— Você é nova nisso, baby. É certo de que não conhece nem a metade das pessoas ao seu redor.
Olívia ficou vermelha e quase pude ver seus olhos em chamas.
— Está me subestimando, senhor Bianchi? Pois saiba que serei uma ótima líder nos negócios da minha família!
— Acalme-se! Não a subestimei, mas você não pode confiar em todos que te tratam bem. Infelizmente, traições, falsidade estão no mundo há mais tempo do que possa contar e não é agora que será diferente.
— Não preciso das suas explicações sobre traições e falsidades, disso eu conheço muito bem! — senti a indireta me acertar em cheio. Olívia pegou sua bolsa, pronta para ir embora.
— Olívia... — ela me olhou, esperando por algo e depois de um longo suspiro falei: — Temos muito a conversar, preciso te explicar tanta coisa... Espero que me dê uma oportunidade.
— Você está prestes a casar, maldição! Como quer uma oportunidade? Você escolheu tudo o que está acontecendo, não ouse querer mudar de opinião agora!
Aproximei-me dela aos poucos e notei o quão desconfortável ela ficou.
— Não foi a minha vontade, acredite. Tem tanta coisa por trás, você...
— Não quero suas explicações. — sua voz vacilou por um momento. — Eu odeio você. — disse firme.
Engoli seco com aquela declaração e vi a raiva, a mágoa estampada em seu rosto. Me segurei para não abraça-la, beija-la.
— Você sabe que isso é mentira. — me aproximei mais um pouco, ficando próximo demais.
— Não... Não é. — ela estava nervosa, era nítido.
Inclinei a cabeça pronto para me deliciar em seus lábios, quando Olívia me empurrou levemente. Ela estava assustada com toda aquela aproximação.
— Eu queria tanto que as coisas fossem diferentes para nós. — murmurei a poucos centímetros de sua boca.
— Você vai casar com ela. — murmurou, encarando a minha boca.
— Mas eu queria você, caralho.
Por impulso, puxei sua cintura, colando nossos corpos e sem demora, capturei seus lábios completamente faminto por ela. No primeiro momento, Olívia tentou se desvencilhar, mas ela queria tanto entanto eu e quando percebi estávamos no sofá, prestes a cometer uma loucura... Até que a campainha tocou, atrapalhando-nos de repente.
— Henry! — era a voz de Alicia. Oh céus!
— Eu não acredito nisso. — Olívia sussurrou.
Eu estava no meio de suas pernas, totalmente imóvel.
— Henry, eu sei que você está aí!
Ela gritava enquanto tocava a campainha descontroladamente.
— O que vamos fazer? Essa doida vai acabar arrombando a porta. — Olívia disse, bufando de raiva.
— Vamos ficar em silêncio, logo ela vai embora. — sugeri e a mulher revirou os olhos.
Quase meia hora depois, Alicia finalmente decidiu ir embora. Olívia me empurrou fortemente e levantou, tentando se ajeitar.
— Era óbvio que ela viria atrás de você... Como eu sou burra! — penteou os cabelos com os dedos.
— Olívia, por favor...
— Entrarei em contato novamente, mas apenas pelo container. Boa noite!
Caminhou em passos firmes até a porta, deixando-me completamente sozinho.