- 𝘼𝙉𝙏𝘼𝙍𝙀𝙎; (𝘮𝘪𝘯𝘴𝘶...

By godhannie

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AVISOS
Prólogo | I can't forgive and I can't forget
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LIVRO FÍSICO CONFIRMADO
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AGRADECIMENTOS + LIVRO FÍSICO
PRÉ-VENDA ABERTA!!!!!!!

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By godhannie

— "Embarque para Taiwan" – leu no televisor – Sabe, eu estive tentando aprender chinês durante esse tempo, mas eu descobri que é um saco.

Xiaojun mordeu o pirulito dentro da boca, e o barulho era como se ele estivesse mastigando vidro. Gahyeon sentiu o som entrar pelos ouvidos e fazer seu interior todo tremer, odiava barulhos desse tipo, e é claro que ele fazia de propósito.

— Eles tem várias entonações, se você errar a entonação acaba falando uma palavra completamente diferente. Não acha isso difícil demais?

Gahyeon ignorou, deixou seu olhar preso no portão de embarque do aeroporto porque não queria olha-lo nos olhos. Sentia nojo dele, não conseguia esquecer da sensação da agulha perfurando seu pescoço quando ele a encontrou um quarteirão antes da rua da sua casa.

Ainda se sentia zonza pela droga, os olhos mal conseguiam ficar abertos e as pernas estavam dormentes. Ela queria dormir pra sempre, mas pensou que se cedesse aos efeitos da droga ia deixar qualquer oportunidade de fugir passar, então apenas se forçou a ficar acordada, esperando pelo momento oportuno onde pudesse pedir ajuda a alguém.

— Você deve ter aprendido toda essa merda com seus pais na China – comentou enquanto balançava a perna naturalmente, como se estivesse em um dia normal da sua vida – Mas pra te falar a verdade, eu acho uma grande bobeira. Estou feliz que não preciso mais fingir.

A garota quis se virar com brusquidão e lhe acertar um soco na boca, talvez assim ele ficasse em silêncio ou se engasgasse com o maldito pirulito lhe permitindo fugir, mas Gahyeon mal tinha forças pra mexer um dos braços, e a cada segundo que passava sua cabeça caía pra frente com o cansaço extremo.

— Se você se comportar vamos visitar alguns lugares na Tailândia, ir a alguns restaurantes e comer comida boa. Quando eu me cansar, descarto você e Minho tem o que merece. Não é maravilhoso?

Xiaojun gargalhou sozinho, e Gahyeon tentou não se concentrar no som da sua risada pra que não acabasse com seu auto-controle. Precisava apenas focar em ficar acordada, em observar as pessoas a sua volta pra encontrar alguém que pudesse pedir ajuda, pois sabia que não tinha condições físicas pra sair correndo pelo aeroporto e fugir de Xiaojun. Ele seria mais rápido e mais forte que ela, então precisava arranjar outra alternativa pra se livrar dele.

— Gostou do seu novo nome? – abriu o passaporte falsificado na sua frente – Saori. É lindo, não é?

Gahyeon permaneceu em silêncio, sabia o quanto ele ficava irritado quando era ignorado, e ela queria vê-lo cada vez mais nervoso e fora do sério.

— Tudo bem, vou deixa-la descansar. Você deve estar triste por deixar o país que nasceu e também pelo seu irmão ter sido preso.

Gahyeon arregalou os olhos e olhou pra ele, sua reação de surpresa era o que Xiaojun estava esperando pra dar uma gargalhada alta e cheia de satisfação por deixa-la daquela forma.

— Ah, você não sabia? – perguntou cínico – Me desculpe, estraguei a surpresa.

Seu coração disparou e a respiração acelerou, mas seu corpo ainda não correspondia aos seus comandos, suas mãos e até seus lábios estavam dormentes e ela não conseguia se mexer muito bem.

— Sinto muito, ele não vai poder se despedir de você – forçou uma expressão de pena – Mas nós podemos mandar um cartão postal da Tailândia, o que acha? Ele vai ficar feliz quando receber.

Gahyeon quis chorar, seus olhos até encheram de lágrimas mas ela piscou uma única vez e não derramou nenhuma delas. Não podia demonstrar fraqueza agora, se Minho estiver mesmo preso, ela está sozinha nessa situação.

Olhou pro televisor do aeroporto e viu que ainda resta quarenta e cinco minutos antes do embarque, o tempo que lhe restou pra tentar fugir do inferno que viveria na Tailândia. Ela tentou não entrar em desespero, precisava fazer isso por si mesma e por Minho, precisava fugir pra que conseguisse provar que ele é inocente.

— Eu avisei, Gahy – esticou os braços pra estalar os ossos – Avisei pra não mexerem com a família de Youngsoo, mas todos resolveram tentar a sorte.

Youngsoo.

Ela se lembrou das palavras de Chan na fita, e seu coração disparou como uma bomba.

— Eu e Sicheng fizemos de Chan nosso soldado, ele estava tão drogado que obedeceu nossas ordens. Que pena que ele arrancou só um pedaço do seu ombro naquela noite, eu lhe disse pra acabar com você por inteiro.

Gahyeon teve espasmos no corpo, seus pés se mexiam sem tocar o chão e suas mãos tremiam em seu colo. Ela olhou pra Xiaojun com os olhos arregalados, a respiração descontrolada e o rosto todo tremendo como se fosse ter um colapso. Ela quis levantar da cadeira e sair correndo, mas além de não ter disposição, sentiu a mão de Xiaojun em seu joelho fazendo força pra que ela não saísse.

— Calma, meu bem – ele sorriu passando o metal gelado do seu anel em sua bochecha – Não faça uma cena aqui, teremos todo o tempo do mundo pra isso. Posso te contar tudo o que quiser saber, detalhe por detalhe, afinal de contas, eu tenho orgulho do que fiz.

Ela gemia enquanto respirava, mas Xiaojun a olhou no fundo dos olhos como se ordenasse pra que fizesse silêncio. Mesmo sem dizer nenhuma palavra, Gahyeon se forçou a respirar com mais calma e não fazer nenhum som, tinha medo do que ele faria com ela caso chamasse muita atenção das pessoas.

— Shhh – continuou acariciando seu rosto e causando calafrios de medo na sua pele – Isso, muito bem.

Aos poucos ela se acalmou, ou melhor, se obrigou a parecer calma pois nunca em toda a sua vida sentiu tanto medo quanto naquele momento. Queria gritar e chorar, queria se virar pro lado e pedir ajuda pro guarda que estava só a alguns metros de distância, mas sabia que Xiaojun ia conseguir contornar a situação e a fazer parecer como uma louca. Estava condenada e presa assim como Minho, e talvez nunca mais pudesse vê-lo de novo.

— Que tal um mocha pra relaxar? – ele guardou a embalagem do pirulito na mochila e estendeu a mão a ela – Vamos?

Ela demorou um tempo pra conseguir erguer o braço, mas colocou sua mão trêmula sobre a dele e Xiaojun a puxou pra se levantar, passou um braço pela sua cintura pra lhe dar firmeza, e a guiou em direção a escada rolante que leva pra praça de alimentação.

Quando chegaram no segundo andar, Gahyeon andava devagar sem muita força, e sempre olhando pra todas as pessoas que passavam por ela na esperança de que alguém entendesse seu olhar e desconfiasse que havia algo de errado.

— Droga, que fila enorme – Xiaojun bufou, mas mesmo assim a puxou pra fila do Starbucks mais próximo.

Ficaram atrás de um casal de latinos, e Gahyeon se xingou mentalmente por nunca ter feito nenhuma aula de espanhol. Precisava de alguém que a entendesse, e olhou ao seu redor procurando por outro coreano próximo o suficiente pra que ela colocasse algum plano em execução, mas assim que sentiu o aperto de Xiaojun na sua cintura, voltou a olhar pra frente como um cavalo com antolhos.

— O que está olhando tanto, minha querida? – ele sorriu acariciando sua cintura e Gahyeon não respondeu.

A fila andou mais um pouco, e a garota resolveu não tentar mais nada. O aeroporto estava cheio de pessoas correndo pra todos os lados, com pressa pra reencontrar seus parentes ou embarcar em seus vôos, ninguém ia se preocupar se ela estava em perigo ou não, e não se dariam o trabalho de ajuda-la se estivessem com pressa.

Decidiu se conformar, talvez esse seja seu fim assim como o de Minho vai ser na cadeia. Talvez, em um futuro próximo, seus pais consigam encontra-la depois de tanto tempo procurando por pistas. Gahyeon só rezava pra que eles não demorassem tanto, e que não chegassem depois de Xiaojun ter lhe assassinado por vingança.

— Próximo – ouviu a atendente chamar, e a fila andou mais um pouco. Xiaojun lhe sustentava com a mão nas suas costas, ao mesmo tempo que lhe assegurava de que ele estava ali atrás dela, e que não importava o quão próximo ela estivesse de outras pessoas, jamais ia conseguir pedir ajuda.

E pensando bem, Gahyeon se sentia tão impotente e cansada que talvez nem conseguisse explicar o que estava acontecendo pra outra pessoa. Sua cabeça por mais que estivesse cheia de dúvidas e pensamentos, não tinha concentração pra focar em nenhum deles, e seu olhar se fixou em um ponto qualquer e permaneceu ali, sem saber o que fazer e sentindo o cansaço lhe corroer de dentro pra fora.

Andou mais um pouco quando Xiaojun lhe empurrou pra seguir a fila, seus olhos estavam se fechando sozinhos e seu corpo tão relaxado que ela sentia vontade de se deitar no chão. O próximo a ser atendido seriam eles, e Gahyeon forçou pra deixar seus olhos abertos e focados na atendente, uma garota coreana de cabelo ruivo.

— Com licença – a garota ouviu uma voz feminina do seu lado, mas seu rosto parecia pesar dez quilos quando tentou olhar pra cima – Alguém pode me dar uma informação?

— Claro – Xiaojun respondeu.

— Próximo! – Gahyeon ouviu a atendente chamar e o olhar de Xiaojun alternou entre ela, e a moça que pediu a informação que segurava um bebê de colo.

Sem saber o que fazer, ele colocou a mão no bolso e pegou a carteira, tirou algumas notas de dinheiro de lá e colocou na mão de Gahyeon.

— Pede um mocha pra mim e o que você quiser tomar.

A garota olhou pro dinheiro em sua mão, em seguida ouviu a voz da atendente chamar pelo próximo da fila outra vez. Gahyeon juntou todas as forças que tinha nas pernas dormentes e andou até ela, completamente desesperada pois de repente a moça de cabelos ruivos se tornou sua única esperança, e ela só tinha alguns segundos pra pedir ajuda. Nada podia dar errado.

— Sabe se o vôo da China já desembarcou? Estou esperando meu marido mas me atrasei pra chegar até aqui.

Gahyeon debruçou sobre o balcão da atendente com tanta força que a mulher pulou de susto. Seus olhos desesperados e afobados olhavam pra mulher tentando fazê-la entender que estava precisando de ajuda, mas isso só lhe deixou mais assustada.

— É...– ela pigarreou – Qual o seu pedido?

— Mocha e chocolate quente – disse em uma única lufada de ar, com sua voz rouca e fraca, e o pânico logo lhe impediu de respirar normalmente.

— Da China? Ah sim, já desembarcou, foi há meia hora atrás – ela ouviu Xiaojun responder, e ele se virou pra trás pra olha-la por alguns breves segundos. O bebê da mulher começou a chorar, o barulho fez as mãos de Gahyeon tremerem e Xiaojun fez um carinho singelo na cabeça da criança.

— Sério? Meu Deus, não acredito que cheguei tão tarde.

— Qual nome eu colo...

— Me dá a caneta! – Gahyeon sussurrou enquanto hiperventilava, e tirou a caneta da mão da mulher com tanta rapidez que até as outras pessoas na fila ficaram olhando.

Ela usou a nota de dez mil wons pra escrever em cima, seus dedos tremiam tanto que a letra saiu garranchada, quase ilegível, mas foi o melhor que Gahyeon conseguiu em menos de três segundos.

— Muito obrigada – a mulher se curvou enquanto balançava a criança no colo.

Gahyeon colocou o dinheiro na mão da atendente, apertou levemente seus dedos e a olhou nos olhos com o reflexo de todo o desespero da sua alma.

— Leia – ela disse com os lábios, e a mulher imóvel e completamente assustada abriu a nota nas mãos e leu a frase.

"Chame a polícia. Estou sendo sequestrada"

A mão de Xiaojun voltou a agarrar sua cintura, e Gahyeon tentou recuperar o ritmo da sua respiração pra não levantar suspeitas. Estava suada, cansada, completamente exausta, mas estava ciente de que tinha feito o que podia, e rezou pra que a garota entendesse o que havia escrito pois jamais teria outra chance de pedir ajuda.

A ruiva a olhou brevemente, Gahyeon viu como ela respirou pesado e como seu olhar reparou em cada detalhe do rosto de Xiaojun. Ela pigarreou nervosa, ajeitou o cabelo e deu seu melhor sorriso falso, mas Gahyeon entendeu que tinha dado certo.

— Qual nome coloco no copo?

— Yuma e Saori, por favor – ele respondeu sorrindo e deu um beijo na têmpora da garota.

— Certo – a atendente entregou o troco pra Xiaojun, em seguida olhou pra Gahyeon e deu a resposta que ela precisava – Aguarde por favor, seu pedido será preparado.

***

Departamento da Polícia de Seul.
07:21

— Polícia Federal Aeroporto

— Oi. É... Meu nome é Bora, eu trabalho no Starbucks da praça de alimentação.

— Certo. O que houve?

— Bom, eu... Eu acho que uma garota está sendo sequestrada, ela me deu um bilhete pedindo socorro e ela não parece muito bem. Um homem está acompanhando ela, ele me disse que se chama Yuma mas eu não acreditei muito, sabe?

— Eles ainda estão aí?

— Sim, estão esperando o pedido na fila. O homem tem cabelo vermelho e a garota é baixa, tem cabelo preto e está com um uniforme.

— Por favor, tente mante-los no mesmo lugar. A polícia está a caminho.

— Certo, obrigada.

***

— Aquele bebê era fofo – Xiaojun tirou um pirulito do bolso enquanto esperava seu mocha – Não achou?

Gahyeon tentava não olhar fixamente pro balcão de atendimento, não queria que Xiaojun seguisse seu olhar e levantasse suspeitas, mas ao mesmo tempo estava desesperada pra ver se a atendente já tinha feito a ligação que salvaria sua vida.

— É claro que você não acha – ele deu de ombros – Sua maternidade ainda não está muito desenvolvida, o que é uma pena, porque eu cheguei a pensar que em um futuro próximo nós poderíamos ter filhos.

A garota sentiu seu estômago revirar só de pensar nisso. Odiava ter se envolvido com Xiaojun, queria apagar da memória tudo que viveu com ele, e sentia até nojo de pensar nele sendo pai dos seus filhos.

— Mas agora eu também não quero ser pai – mordeu o pirulito fazendo barulho outra vez – Crianças são um saco, sabe? Se você for parar pra pensar, são como cachorros. Choram, pedem comida, fazem cocô, a diferença é que o cachorro não vai virar pra você um dia e dizer que você é a pior mãe do mundo porque não deixou ele ir pra balada com quinze anos de idade. Então pensando bem, é melhor ter um cachorro, não acha? Ele nunca vai dizer uma palavra.

A garota olhava para as próprias mãos completamente desinteressada em qualquer coisa que saísse da boca de Xiaojun, e só se importava em espiar a escada rolante tentando avistar a polícia, e de vez em quando olhar pro balcão do Starbucks onde a garota ruiva estava.

— Tudo bem, o gato comeu sua língua – ele riu – Me desculpa por isso, você deve estar cansada, eu sei. Pense bem, da próxima vez que formos pra algum lugar você pode simplesmente se comportar e não me dar trabalho, então eu não vou precisar te deixar assim de novo.

Gahyeon pensou na possibilidade de seu plano dar errado, e ela ter que viver presa com Xiaojun em um país desconhecido. Imaginou como seria ser dopada outra vez, forçada a visitar lugares contra a sua vontade, sem poder pedir ajuda pois ninguém entenderia seu idioma. É completamente assustador pensar nisso, e seu coração dói de pensar nesse pesadelo se tornando realidade. Provavelmente nunca mais veria seus pais ou Minho, nunca se formaria na faculdade, e nunca teria a chance de conhecer alguém que realmente a amasse.

— Que demora – ele bufou olhando pro relógio em seu pulso – Vamos esperar mais cinco minutos, depois disso precisamos descer.

O coração dela disparou, e seus olhos imediatamente olharam pra escada esperando por alguém, qualquer pessoa, nem que fosse um dos seguranças do aeroporto que pudesse abordar Xiaojun e confronta-lo até perceberem que ele está escondendo alguma coisa. Qualquer pessoa que pudesse salva-la dele.

Gahyeon viu uma mulher com uniforme, e atrás dela mais dois homens com coletes neon indicando serem da polícia federal. A garota tentou não olhar muito, Xiaojun continuava olhando ao seu redor enquanto mastigava o pirulito falando sobre algo que ela já não escutava mais. Precisava continuar agindo naturalmente, mas suas mãos voltaram a tremer quando ela viu pelo canto dos olhos que a mulher vinha em sua direção, e a ansiedade começou a ficar cada vez mais forte.

— Bom dia, tudo bem?

Gahyeon olhou pra cima pra vê-la. Ela vestia um blazer preto, tinha o cabelo amarrado em um rabo de cavalo, e óculos quadrados em seu rosto. Sua voz era tão imponente e grave que lhe assustou um pouco, mas ao mesmo tempo lhe deu segurança.

— Olá – Xiaojun sorriu naturalmente. Gahyeon quis bater nele por saber fingir tão bem, e seu coração ficou aflito com medo dele acabar persuadindo até a polícia.

— Meu nome é Yerin, sou da polícia federal – ela tirou o distintivo do bolso pra mostrar a ele – Posso ver seus passaportes, por favor?

— Ah, sim. Claro! – ele sorriu tentando parecer prestativo e gentil. Alcançou sua mochila retirando os dois passaportes falsificados de lá, e entregou ambos a mulher.

— Yuma Yoshida. Você é japonês? – perguntou olhando pro passaporte.

— Sim.

— Posso ver sua certidão?

— É... Sim, é claro – ele foi pego de surpresa mas tentou disfarçar. Tirou outro documento falsificado e entregou a mulher, Gahyeon percebeu um leve tremor em seus dedos e tentou esconder um sorriso.

— O que estava fazendo na Coréia, Yuma?

— Eu vim visitar alguns amigos.

— E pra onde você vai agora? – ela levantou as sobrancelhas desconfiada.

— Tailândia.

— O que vai fazer lá?

Xiaojun olhou para os lados começando a ficar nervoso, e seus olhos piscaram freneticamente enquanto ele tentava esconder seu desespero sutil.

— Por gentileza, pode me explicar por que tantas perguntas? – ele riu sem graça – Não me leve a mal, mas isso é um pouco invasivo.

— Você tem algo a esconder da polícia?

— Claro que não, senhora – riu sem humor nenhum.

— Então é só responder.

Ele engoliu em seco, desviou o olhar e buscou pelos olhos de Gahyeon de forma automática, mas ela mantinha seu olhar no piso do aeroporto enquanto rezava pra que ele fosse pressionado o suficiente pra não ter mais pra onde fugir.

— Vamos fazer uma viagem romântica – passou seu braço pelos ombros da garota – É só isso.

A mulher abriu o passaporte falso de Gahyeon, olhou pro nome e a nacionalidade e em seguida se virou pra garota.

— Saori, também é japonesa?

— Ela é – ele respondeu.

— Deixe a garota responder – disse com grosseria – Saori, você também nasceu no Japão?

Gahyeon levantou o olhar encarando a mulher, seu coração disparou de nervoso e ela sentiu tanto medo que pensou que não conseguiria dizer nada, mas essa era sua única chance.

Respirou fundo, seus pulmões estavam cansados e ela quase não conseguia dizer uma única palavra, mas juntou todo o restante da sua força pra olhar no fundo dos olhos da mulher e dar a resposta que salvaria sua vida, ou resultaria em sua morte.

— Senhora Yerin, minha namorada faz tratamentos severos contra uma doença, ela está muito cansada agora.

— Silêncio – ela levantou o indicador pedindo que ele ficasse calado – Saori, você consegue me ouvir? Pode me responder?

— S-Sim – Gahyeon assentiu com a cabeça e respondeu com a voz baixa.

— Certo – ela olhou pra Xiaojun – Viu? Ela pode responder.

— Senho...

— Saori – ela chamou – Tasuke ga hitsuyō?

Gahyeon a olhou com as sobrancelhas franzidas, não sabia o significado do que ela tinha acabado de dizer, mas foi o suficiente pra que ela entendesse que era um teste.

— Entendeu o que eu disse?

Xiaojun passou a mão pelo rosto limpando o suor da testa, e sentiu o olhar do outro policial em cima dele.

— Não.

— Bingo – ela sorriu satisfeita olhando pra Xiaojun.

— Minha namorada não está respondendo por si mesma, isso não é...

— Chega – o policial que a acompanhava falou, e Xiaojun ficou em silêncio tentando disfarçar sua crise de pânico.

— Saori, vou te fazer uma última pergunta. Preciso que me responda com sinceridade.

Ela se abaixou pra ficar na mesma altura da garota, segurou suas mãos com cuidado e notou como sua pele estava ralada e com alguns ferimentos leves.

— Você está em perigo?

O garoto de cabelos vermelhos riu, achou que se demonstrasse estar incrédulo isso lhe favoreceria, mas na verdade só fez Yerin ter mais certeza de que ele estava tentando se safar.

Gahyeon tinha lágrimas nos olhos, sentia tanto medo de dizer a verdade que seu coração parecia tremer. Antigamente costumava ter medo apenas por Minho, mas agora que ele está preso, ela sentiu que não tinha mais nada a perder além da vida, o que particularmente era o que menos lhe importava.

Ela olhou pra mulher como uma criança olhando pra uma super-heroína, e as lágrimas escorreram pelo seu rosto enquanto ela balançou a cabeça afirmando.

Yerin olhou pra Xiaojun sem dizer nada, e ele não precisou que ela falasse pra entender que estava completamente fodido. Sentiu o coração bater na garganta e um calafrio percorrer a espinha, quis sacar um revólver e estourar os miolos de Gahyeon ali mesmo, mas não tinha nenhuma arma consigo.

— Podem levar – ela ordenou aos policiais, e os dois se aproximaram pra imobiliza-lo.

Gahyeon não quis olha-lo, não tirou seu olhar do chão por nenhum segundo, mas pode sentir o olhar dele queimando sobre ela e a amaldiçoando pra sempre enquanto grunhia nervoso.

Ela ainda tremia de medo, e só quando sentiu Yerin lhe fazer um carinho nas costas percebeu que tinha sido salva. O alívio tirou sua dor e seu desespero como morfina, e o sorriso da policial lhe fez lembrar que nem tudo estava perdido, e que por mais difícil que parecesse, sempre teria luz no fundo do túnel.

— Vamos, vai ficar tudo bem – a mulher lhe guiou em direção a delegacia do aeroporto, e Gahyeon nunca se sentiu tão segura quanto naquele momento.

Olhou pra trás tentando encontrar o cabelo ruivo da atendente, e a viu concentrada anotando um pedido sem perceber que Gahyeon estava saindo da praça de alimentação.

Jurou pra si mesma que um dia voltaria pra agradecer, mas por agora só precisava se livrar de Xiaojun o mais rápido possível pra que pudesse ver Minho e tentar tira-lo da prisão o quanto antes.

As duas desceram pela escada rolante, Xiaojun vinha em silêncio logo atrás, sendo puxado pelos dois policiais que o seguravam.

Quando Gahyeon adentrou o departamento de polícia, sentiu que fosse desmaiar de tanto alívio, e agradeceu mentalmente quando Yerin lhe ajudou a sentar na cadeira da sala de espera.

— Levantem informações dele enquanto eu cuido da garota – Yerin ordenou.

Xiaojun foi encaminhado pra outra sala, e Yerin se sentou ao lado de Gahyeon quando viu que os outros escritórios também estavam ocupados, e todos os funcionários estavam cuidando de vários casos ao mesmo tempo.

— Você está bem? Te deram alguma substância?

Gahyeon assentiu com a cabeça e a mulher fez uma expressão de pena apesar de já ter suspeitado antes.

— Seu nome é mesmo Saori?

A garota se concentrou pra puxar o ar outra vez, sentia como se o mundo inteiro estivesse girando ao seu redor, e seu corpo todo doía como se tivesse corrido uma maratona.

— Gahyeon – disse em uma lufada de ar – Lee Gahyeon.

Yerin retirou um papel do bolso com toda a velocidade do mundo, e anotou o nome com uma caneta que guardava em seu blazer.

— Sabe o nome verdadeiro dele?

Se lembrou da conversa que tiveram mais cedo, onde ele disse pra não mexerem com a família de Youngsoo, provavelmente o ex-presidente da Coreia.

Gahyeon se lembrava vagamente da fita que Chan deixou, mas não podia afirmar com completa certeza se Xiaojun era mesmo filho de Youngsoo e se matou Chan pelos motivos que o mesmo disse na fita.

Estava confusa, sua mente não conseguia se lembrar com clareza e nem juntar todas as peças desse quebra-cabeça infernal. Percebeu que se aquele não fosse mesmo o seu nome, ela não sabia qual era o verdadeiro. Nunca o conheceu de verdade, só tinha se envolvido com o personagem que ele criou.

— Não.

— Tudo bem – Yerin sorriu – Tem algum familiar seu que pode vir te buscar?

Gahyeon quis chorar com essa pergunta, pois se lembrou que Minho não viria busca-la dessa vez, e provavelmente nem saberia que ela estava em perigo. Só o que lhe restou foi seus pais, mas eles não conseguiriam imediatamente pegar um avião na China e ir até ela. Se sentiu completamente sozinha e devastada, percebeu que Minho era tudo que tinha, e agora que lhe perdeu não sobrou nada.

— Meu pai é Lee Chinhae, o CEO.

— O empresário da China? – Yerin arregalou os olhos e Gahyeon assentiu – Sério?

A garota concordou mais uma vez, e temeu que a mulher fosse desconfiar dela, mas depois que a surpresa passou ela apenas aceitou sem questionamentos.

— Tentaremos entrar em contato com ele – ela lhe assegurou – Enquanto isso, posso te fazer algumas perguntas sobre aquele homem? Consegue responder agora?

— Sim – disse baixinho. É claro que Gahyeon preferia ficar em silêncio esperando o efeito da droga passar, mas não conseguiria fazer Xiaojun ir preso se ficasse só sentada esperando seu pai chegar da China algum dia.

Yerin a segurou pelo braço e lhe ajudou a ir pra outra sala que já estava desocupada, lhe colocou sentada na cadeira e depois se sentou em sua frente. Abriu o notebook que estava em cima da mesa, anotou o nome da garota e logo depois enviou um e-mail pedindo que o outro policial tentasse contatar seus pais ou qualquer outra pessoa que pudesse lhe ajudar nesse momento.

— Gahyeon, certo? Vou te fazer algumas perguntas, me diga se precisar respirar um pouco.

— Tudo bem.

Antes que a mulher começasse o interrogatório ela puxou o ar devagar, tentando manter os olhos abertos e os ouvidos atentos, rezando pra que o efeito do sedativo passasse logo e ela pudesse voltar pra casa e pra seu irmão.

***

Delegacia de Seul.
08:17

— Ei – ouço alguém chamar de longe – Minho, acorde.

Estava imerso em um sono tão profundo que a voz parecia estar muito longe, mas a medida que eu voltava à consciência, percebi que estava apenas a alguns metros de distância.

Esfrego os olhos cansados e percebo que acabei dormindo além da conta, o cansaço bateu forte e se misturou com o sono acumulado me proporcionando uma noite de sono maravilhosa pra um recém presidiário. Há muito tempo não sabia o que era dormir por uma noite toda, e não pensei que seria possível fazer isso deitado em um pedaço de cimento que chamam de colchão.

— Minho – alguém bate alguma coisa contra o metal da cela e o barulho me faz abrir os olhos. Vejo a parede cinza e pixada outra vez, e confesso que já estou me acostumando com essa visão. A expectativa de ver algo diferente está aos poucos indo embora, e estou me acostumando com a mesmisse de sempre.

Me sentei sentindo como se meus ossos estivessem esfarelando, e automaticamente me arrependo de ter dormido quando percebo a dor no corpo que isso me causou. Estou um pouco menos exausto que antes, mas não sei se vale a pena já que meu corpo parece que foi atropelado várias vezes seguidas.

Olhei pra fora da cela e vi Hyunjin, vestido com seu uniforme policial e com a chave nas mãos. Tentei não ficar feliz ou empolgado por vê-lo, pois da última vez que recebi sua visita não tive a melhor das experiências.

— Oi – eu disse sem jeito, e me levantei pra ir até ele novamente percebendo que ele não me olha mais nos olhos. É uma pena, isso ainda é algo que me magoa, mas talvez quando eu for transferido pro presídio vai deixar de me machucar. Nunca mais vou ver Hyunjin, e vou estar ocupado sendo ainda mais solitário e lendo livros pra não ter que olhar para as paredes da minha nova cela. Vou ter mais motivos pra chorar e esse vai ser só mais um deles.

— Oi – ele respondeu com um sorriso fraco e simplista – Tem visita pra você.

— Gahyeon! – disse imediatamente e sorri feito um bobo. Posso respirar aliviado agora, meu coração dispara de felicidade e um peso enorme é tirado das minhas costas.

Hyunjin move as sobrancelhas de um jeito estranho, e minha alegria desaparece em um piscar de olhos quando eu entendo seu olhar.

— Ainda não achamos ela – disse preocupado – Sinto muito.

Um desânimo avassalador invade meu corpo, e meus olhos se fixam no chão sem conseguir erguer meu rosto, pois de repente a tristeza é tão grande que fica difícil me mover.

Estou tão preocupado que sonho com ela todas as vezes que fecho os olhos, meu coração chora o tempo todo e minha mente não consegue esquece-la. Eu sei que aconteceu alguma coisa, eu sei que Gahyeon não me abandonaria em um momento como esse, por isso é tão difícil ficar aqui, preso, sem poder correr pelo mundo procurando por ela. Minha mente pensa nas piores hipóteses, minha preocupação me leva a lugares obscuros onde não posso salva-la de nenhum perigo. Estar preso não doeria tanto se eu soubesse que ela está livre, mas eu nem mesmo sei se ela está bem.

— Eu já vou – disse a ele antes de ir ao pequeno banheiro dentro da cela. Não faço ideia de quem veio me visitar, mas se não é Gahyeon, eu não me importo o suficiente. Ninguém mais viria me visitar além dela.

Uso o sabonete barato pra lavar meu rosto e minhas mãos, e escovo os dentes com uma escova que acabei achando em cima da pia. Ontem não havia nenhum item de higiene, acho que acabaram colocando aqui enquanto eu dormia. Provavelmente foi Hyunjin, isso é o máximo que ele consegue fazer por mim depois de nem conseguir me olhar nos olhos.

Quando saio do banheiro, Hyunjin destranca a cela e me escolta pelo corredor. Ainda estou me acostumando com essa sensação de estar sempre sendo escoltado, vigiado, preso, como se eu fosse um dos maiores monstros da Coréia do Sul. Se alguém me visse desse jeito, acharia que cometi um crime violento, que sou perigoso e ameaçador, quando na verdade, do fundo do meu coração, a única coisa que mais quero desde que cheguei aqui é um abraço.


Hyunjin e eu paramos em frente a sala de visitas, ele novamente usa outra chave pra destrancar a porta e quando ela se abre vejo uma mesa com duas cadeiras frente a frente.

Jisung está sentado em uma delas.

Meus pés travam no chão. Eu não estava esperando por isso, e pensei que jamais o veria de novo depois do sequestro.

Meu coração dispara. Vê-lo é o suficiente pra me causar uma arritmia. Ele veste roupas diferentes das que eu lhe comprei um tempo atrás, tem seu cabelo arrumado e calça tênis brancos. Apesar de estar cabisbaixo e ter os olhos fundos e cansados, ele parece bem arrumado e diferente, como se alguém estivesse lhe ajudando a cuidar de si mesmo depois de tudo que aconteceu.

Isso me faz feliz, vê-lo bem e saudável sempre foi minha maior prioridade, e me sinto aliviado quando vejo que ele se manteve assim mesmo sem que eu estivesse por perto. Não há nenhuma parte egoísta dentro de mim, nenhuma parte que acreditou nem que fosse por um milésimo de segundo que Jisung não seguiria em frente, ou que o estrago que eu fiz em sua vida seria irreparável e ele jamais seria o mesmo outra vez. Pelo contrário, essa parte de mim morreu quando eu conheci Jisung por inteiro, quando vi que sua força era muito maior do que eu achava que fosse, e que ele sempre daria a volta por cima, com ou sem mim.

Me sinto mais aliviado agora, mas meus pés ainda não querem se mover. Eu o machuquei, e sei que por mais que ele esteja tentando superar isso, ainda leva um tempo pra ferida cicatrizar. Sinto que eu deva virar as costas e voltar pra cela, deixa-lo voltar pra onde quer que ele esteja, e seguir sua vida como se eu nunca tivesse existido. Entretanto, apesar de me sentir culpado em me aproximar, sei que não posso simplesmente deixa-lo aqui. Eu devo mais coisas a ele do que devo a qualquer outra pessoa no mundo, e se ele está aqui e agora, quer dizer que essa é mais uma oportunidade pra que eu mostre a ele que sinto muito por tudo.

— Entra – ouço Hyunjin sussurrar baixinho quando fico muito tempo parado ali, perdido em meus próprios pensamentos – Vocês tem vinte minutos.

Minhas pernas parecem dormentes, e sinto minhas mãos suarem frio. Me aproximo da mesa, ele não ergue a cabeça pra me olhar e permanece exatamente do mesmo jeito, e eu confesso que até prefiro que ele não me olhe nos olhos ainda. Sinto que isso vai doer mais do que eu estou esperando.

Puxo a cadeira que está a sua frente, o metal raspa no piso e faz um barulho irritante. Jisung continua imóvel, e eu me sento devagar enquanto Hyunjin fecha e tranca a porta novamente.

Estou em pânico.

Minhas pernas tremem assim como minhas mãos e meus lábios, o suor deixa meu pescoço úmido e minhas pálpebras também se mexem com o tremor. Eu engulo em seco, tento focar meu olhar em qualquer outra coisa que não seja ele, mas sem perceber eu encaro cada detalhe do seu rosto tentando memorizar tudo com perfeição pra que eu nunca me esqueça.

Os minutos passam, Jisung respira com calma e pisca devagar, ele não parece se importar com o fato de que só temos vinte minutos. Pra ele, vinte minutos não fazem diferença alguma já que eu tive vários meses pra dizer a verdade. Enquanto pra mim, esses vinte minutos serão minha única lembrança dele antes de ir definitivamente preso. É extremamente valioso pra mim, e eu gostaria que ele falasse alguma coisa, mas acho que ele veio até aqui pra me ouvir.

— Eu... – minha voz treme e eu acabo tossindo – Eu... Não imaginava que você viria.

Não sei o que dizer, tem tantas coisas que eu gostaria de falar, mas sei que ele não quer ouvir nenhuma delas. Eu só queria aproveitar esse tempo pra pedir perdão mais uma vez, mas as palavras de Felix ecoam na minha mente e eu me lembro de que é inútil fazer isso agora. Ele não vai me perdoar, e ele também não vai me visitar outra vez. Esse é nosso último encontro, e por isso é tão difícil dizer alguma coisa tendo apenas vinte minutos pra justificar uma história inteira.

— Eu também não.

Meu peito dói imediatamente. Não sei o que o trouxe até aqui, e tenho certeza que ele não veio por livre e espontânea vontade. Ninguém acorda querendo ver o rosto de quem lhe machucou, pois pelo tamanho da mágoa que deixei dentro dele, sei que ele provavelmente tenta esquecer meu rosto a cada segundo, enquanto eu tento desesperadamente me lembrar do dele. É igualmente difícil pra nós dois, e queria que ele soubesse que também é difícil pra mim.

— Você... – o silêncio me pressiona a dizer algo – Você está bem?

Nesse momento, Jisung pisca uma única vez e seus olhos se encontram com os meus. Seu olhar é frio, quase que insensível, e em todo esse tempo com ele eu nunca vi ele olhar pra alguém assim.

Parece que alguém ateou fogo em meu coração, meu peito dói e meus olhos queimam. Não quero chorar na frente dele, não quero que ele pense que estou me vitimizando pra que ele me perdoe, mas ao mesmo tempo é muito difícil esconder o estrago que essa dor fez em toda a minha alma.

— Depois de tudo o que houve – ele diz com a voz firme e alta – É isso que você me pergunta?

Droga. Arruinei tudo outra vez.

É tão óbvio a resposta dessa pergunta que eu confesso que mereci que ele me respondesse dessa forma. Não há possibilidade dele estar emocionalmente bem depois do que fiz com ele, e de todo o histórico que ele já tinha antes de me conhecer. Acho até que ele fez muito de vir até aqui e me olhar nos olhos, pois qualquer outra pessoa escolheria nunca mais ter que me ver de novo.

— Me desculpa – sussurrei envergonhado.

O clima tenso entre nós persiste, e seu olhar continua sobre mim enquanto eu olho fixamente pra mesa. Me sinto agoniado e aflito, quando o vi sentado aqui pensei que vê-lo de novo poderia ser algo bom, mas agora acho que é tão doloroso pra mim quanto pra ele.

Eu levantei o rosto pra vê-lo, seu olhar ainda é frio e não carrega nenhum sentimento. Pensei que ele me olharia com ódio e mágoa, mas ao contrário disso ele me olha com indiferença, e isso chega a ser mil vezes pior do que se ele estivesse com raiva de mim.

— Eu só vim aqui te entregar isso.

Ele tira algo do colo e coloca sobre a mesa. É meu livro, o caderno onde escrevi toda a minha história, e que ele costumava ler sempre que havia uma parte nova.

— Eu terminei de ler como o combinado – disse – Você ainda não escreveu o final, mas acho que já deve saber como termina.

Eu engoli em seco, senti meu coração doer com uma pontada. Eu não imaginei que ele ia continuar lendo depois de tudo que aconteceu, e agora eu me preparo pro pior.

— Jihoon é um idiota e Minjae é um traidor.

Meu coração se quebra assim que ele termina de falar. Não consigo sustentar meu olhar no dele, isso foi tão inesperado pra mim que agora sinto como se tivesse levado um tapa na cara. É doloroso e talvez até um pouco humilhante, mas Jisung tem razão no que diz e é por isso que permaneço em silêncio. Não tenho mais nada pra falar, o que fiz com ele é tão injustificável que me poupo do esforço. Ele não quer me ouvir, acho que ele só veio aqui pra me dizer tudo que está entalado.

— Jisung, eu...

— Você foi esperto, Minho – me interrompeu – Você se aproximou devagar, ganhou minha confiança, fingiu ser meu anjo da guarda quando eu precisava de um. Todos os seus passos eram calculados, e eu não posso negar que foi um belo teatro. Você me enganou do jeitinho que planejou.

— Eu não planejei me apaixonar por você! – disse desesperado como se isso fosse fazê-lo acreditar em mim, mas é claro que não fez.

— Eu também não planejei me apaixonar por você – ele respondeu, e por um milésimo de segundo uma chama se acendeu no meu coração – Porque se eu tivesse planejado, eu escolheria nunca ter te conhecido em toda a minha vida. Nem sequer cruzar com você na rua. – continuou.

Seu olhar é indiferente e insensível, e isso faz com que as lágrimas escorram pelo meu rosto e eu soluce feito uma criança indefesa. Isso é como afogar minha alma em um mar aberto, e todo o meu peito dói como se a água estivesse entrando nos meus pulmões. Eu mereço, eu sei que eu mereço, mas isso dói muito mais do que eu imaginei.

— Me perdoa – disse com a voz fraca enquanto chorava. É tão inútil dizer isso, mas diante desse silêncio torturante, isso é só o que sei dizer – Eu não queria ter escondido por tanto tempo, eu queria ter te contado desde o começo mas eu... Eu não consegui!

Me sinto submisso ao seu olhar, mesmo chorando e me afogando nas minhas próprias lágrimas, ele não demonstra nenhuma reação. Eu não queria que ele tivesse pena de mim, mas eu esperava que ele tivesse raiva ou mágoa, eu até queria que ele tivesse raiva. Preferia mil vezes que ele estivesse me xingando agora, pois pelo menos eu saberia que a raiva era passageira, mas a indiferença não é. Ele pode até estar magoado, mas ele não sente mais nada. Nosso amor morreu tão rapidamente quanto veio ao mundo, mas é tão difícil deixa-lo ir embora.

— Veja pelo lado bom, não faz mais diferença agora – respondeu – Eu não amo mais você, e você nunca mais vai me ver de novo. Nada disso importa mais.

A dor me dilacera por dentro, e o desespero me faz tropeçar nas palavras e repeti-las outra vez. Essa é a última vez que eu o vejo, a última oportunidade que tenho pra reafirmar isso mesmo que pra ele não faça diferença alguma.

Sou um covarde e um traidor, sei disso mais do que ninguém, mas também sei que todo o meu amor é verdadeiro, e eu preciso que ele também saiba.

— Eu... Eu só quero que saiba que eu... Eu sinto muito – disse entre soluços – Eu espero que possa me perdoar um dia, eu não quis mentir, eu estava perdido, eu não sabia o que fazer. Mas você foi a única parte real disso, Jisung. Eu te amei, e eu te amo, não importa o que aconteça. Isso nunca vai mudar.

Ele levanta as sobrancelhas agora, e essa é a primeira reação que ele demonstra desde que chegamos aqui. É quase como um deboche sutil, como se ele estivesse se perguntando se eu estou mesmo dizendo isso, porque todas essas palavras se parecem como um texto decorado.

— Um pouco tarde demais pra isso, não é?

— Eu sei – enxugo meu rosto.

— Como eu disse, não faz diferença agora, Minho. Nós não temos mais nada, não somos mais nada – disse – E a propósito, eu não consigo perdoar você, assim como não consigo mais te amar.

Meu corpo fica dormente, e me pergunto se o que ouvi foi mesmo real, pois isso doeu tanto que por um segundo eu desejei que estivesse delirando.

Eu o olho a espera de mais alguma coisa, talvez esperando que ele me dissesse que estava brincando ou mentindo, porque meu coração se recusa a se render a escuridão que me puxa pra baixo depois daquelas palavras.

— Você destruiu uma parte de mim que talvez eu não possa reconstruir de novo. Você me ensinou a amar mas não me ensinou como viver sem amor, você me fez te dar tudo que eu tinha, mas não me ensinou a viver sem nada. Você fez parte de mim, Minho, você foi meu único lar e meu único abraço. E você nunca disse que tudo aquilo ia desmoronar. Você não me ensinou a viver sem você.

É isso. A nossa história acabou, e nossas almas que se tornaram uma só agora se separam pra viver sozinhas. Isso dói como o inferno, é como se toda essa dor fizesse parte do processo de desgrudar minha alma da dele, juntando cada pedaço que antes era meu e um dia foi nosso, pra que agora seja só meu outra vez.

— Mas eu vou aprender sozinho. Meu irmão me ensinou que eu poderia fazer qualquer coisa que eu quisesse. Ele acreditava em mim – disse – E quanto a você, Minho, eu não posso te acusar de nada, eu não sou ninguém pra fazer justiça. Eu só espero que pague pelos seus erros, pois é assim que deve ser.

Vejo seus olhos brilharem com algumas lágrimas, mas ele se levanta da cadeira assim que eu noto. Esse é nosso fim, nem vinte minutos foram necessários pra que nossa última conversa acabe. Não há mais nada pra ser dito, minha alma volta a ser minha, e seu coração finalmente me tira por inteiro de dentro dele. Nossa história acaba aqui, como deve ser. Nossa estrela finalmente explode e morre pra sempre.

— Jisung!

Eu o chamo antes que ele saia pela porta. Ainda tenho uma última coisa a ser dita, e ainda preciso olhar pro seu rosto uma última vez antes de finalmente deixa-lo ir.

Ele se vira, seus olhos estão levemente avermelhados assim como suas bochechas. Reparo em seu cabelo loiro e bem penteado, seus olhinhos pequenos e puxados, seu nariz longo, seus lábios cheios e seus dentinhos tortos.

Eu nunca vou me esquecer dele, nunca vou me esquecer de nada que vivemos juntos. Esse pode ser nosso fim, mas ninguém vai tirar de mim nossas lembranças. Fui o homem mais feliz de toda a face da terra em menos de um ano, e vou me lembrar disso durante o resto da minha vida, pra que eu seja o homem com as lembranças mais lindas de todo o planeta.

— Eu... Eu espero que seja feliz. Espero que tenha uma vida bonita.

Sei que o destruí, mas também sei que com o tempo Jisung vai ser capaz de reconstruir essa parte de si e se abrir a novas pessoas. É isso que eu mais quero pra ele. Espero que uma boa pessoa o ame, que ele faça amigos, que construa uma vida onde ele possa ser cercado de amor e alegria até seu último momento. Se isso acontecer, eu estou satisfeito.

— Eu vou ter.

Talvez seja uma questão de honra pra ele, ser feliz depois que eu o destruí, ser feliz apesar do quanto eu o destruí. Não importa. Só o que me importa é saber que ele vai viver a vida que eu não pude lhe dar, a vida que eu gostaria de ter vivido do seu lado. Isso é mais que o suficiente pra mim.

E então, Jisung se curva brevemente, e mesmo depois de tudo ele ainda me trata com respeito. Eu me levanto da cadeira e me curvo igualmente, me despedindo dele pra sempre e o vendo sair pela porta sem olhar pra trás.

Hyunjin volta pra sala, dessa vez seu olhar é de preocupação e sei que apesar de tudo ele sente um pouco de pena de mim.

— Está tudo bem? – ele pergunta segurando meu braço e me guiando de volta pra cela. Esse é o único caminho que vou fazer de agora em diante.

— Sim – respondo com sinceridade, porque apesar de doer tanto, eu sei que vou ficar bem um dia.

***

Delegacia de Seul.
12:39

— Changbin Hyung! – Changkyun passa pelo salão principal até chegar na porta da sala do investigador – Changbin Hyung, abra a porta!

— Agora não, eu estou em uma reunião! – ele grita com raiva enquanto clica pra colocar seu microfone no mudo na reunião online.

— É urgente! – ele grita outra vez – Eu vou ser rápido, prometo!

Changbin suspira irritado e clica no microfone outra vez.

— Com licença senhores, eu já volto – ele sorri educadamente e desliga sua câmera.

Changbin se levanta da mesa com todo o mal humor do mundo e anda batendo os pés até a porta.

— O que foi? – ele olha irritado pra Changkyun.

— Achamos o filho de Youngsoo, está com a polícia federal no aeroporto.

— O que? – ele arregala os olhos – O garoto que Minho falou? Xiaojun?

— Isso! Mas seu nome verdadeiro é Kwan Jaehyun.

Changbin sorriu empolgado, adorava a adrenalina de estar prestes a capturar alguém que esteve buscando por tanto tempo. Precisava estar presente nisso, finalmente ia poder prende-lo e arrancar dele toda a verdade que o faria solucionar o caso. A empolgação que tomou conta do investigador era gigante.

— Prepare os carros, eu já estou indo – ordenou.

Changkyun saiu rapidamente, avisando o delegado e mais dois policiais pra se prepararem enquanto ele corria pra garagem da delegacia.

— Senhores, me desculpe. Tenho uma prisão pra fazer – disse para os outros dois homens presentes na reunião – Podemos remarcar depois. Tenham um bom dia.

Changbin fechou o computador com toda a velocidade do mundo, e correu pra fora da sua sala indo até os carros da polícia que já estavam estacionados em frente a delegacia.

— Pronto, Hyung? – Changkyun o olhou com um sorriso maléfico e estendeu sua mão para um hi-five rápido.

Changbin retribuiu o sorriso e bateu na mão do amigo, se preparando pra finalmente descobrir a verdade sobre tudo. O policial no banco do motorista acelerou, seguindo em direção ao aeroporto da cidade o mais rápido que podia, mas mesmo assim a viagem durou mais de trinta minutos.

Quando o carro parou no estacionamento principal, Changbin desceu acompanhado de Changkyun e o delegado Ten. Andou com passos firmes e um olhar audacioso até o departamento da polícia aeronáutica, esperando ver o rosto daquele que Minho disse ser o culpado por tantas coisas.

— Delegado Ten – mostrou o distintivo para um dos seguranças na porta.

O homem deu passagem pra eles, e Ten entrou indo em direção a sala onde Yerim estava, segundo um dos policiais do departamento. Ele deu duas batidas na porta, Changbin ficou parado logo atrás esperando a ansiosamente pra que a mulher abrisse.

— Bom dia, Ten – A agente apareceu com o cabelo preso e os óculos pendurados na cabeça, e deu passagem pra que o delegado e os demais entrassem.

— E então, onde ele está? – Ten perguntou diretamente.

— Na sala ao lado, não conseguimos tirar muitas informações dele. Ele se recusou a dizer algo sem a presença de um advogado, mas também não quer fazer nenhuma ligação.

— Tem certeza que ele é o filho de Youngsoo? – Changkyun perguntou ainda incrédulo.

— É claro, já verificamos as digitais – respondeu ríspida.

— Mas ele pode não ser o tal de Xiaojun que o Minho falou. Não confio em nada que aquele garoto fala – disse Changkyun dando risada – Não acha, Hyung?

— Temos tempo pra descobrir – respondeu Changbin.

— Você disse que ele tentou sequestrar uma garota, o que foi isso? – perguntou Ten.

— Ah sim, ela está sentada na recepção. Seu nome é Kim Gahyeon – Yerin respondeu se sentando em sua mesa para organizar alguns papéis – Ela foi drogada por ele, disse que não se lembra de muita coisa. Ele a forçou a vir com ele e portava passaportes falsos.

— Gahyeon? – Ten se lembrou do nome imediatamente – Esse é o nome da irmã de Minho, não é?

— Sim, ela estava desaparecida – Changbin respondeu – Pelo jeito ele estava certo.

— Não acredito – Changkyun arregalou os olhos – Duvido que aquele garoto não tenha culpa.

— Ele tem – o delegado disse – Só não é o único culpado.

— Certo, vocês podem discutir isso depois – Yerin interrompeu sem muito tempo pra problemas que não eram seus – Já providenciei os papéis, só preciso que assine antes de leva-lo.

Ten pegou a caneta em cima da mesa e deixou sua assinatura em alguns papéis. Yerin se levantou indo em direção a porta, mas parou em frente a Changbin.

— Peço que leve a garota também. Seus pais moram na China, ninguém pode vir busca-la e ela não parece muito bem pra ir embora sozinha.

— Tudo bem – ele concordou e se curvou pra se despedir dela.

— Obrigada. Tenham um bom dia – Yerin se curvou despedindo-se e logo saiu da sala.

O delegado terminou de assinar os papéis e fez o mesmo, sendo seguido pelos outros dois homens até a sala onde Xiaojun estava sentado, algemado na própria cadeira.

— Kwan Jaehyun? – Ten chamou ao vê-lo e o garoto olhou pra cima com desprezo.

— Quem é você? Meu advogado? – perguntou arrancando risadas de deboche dos outros três policiais.

Ten tirou o distintivo do bolso outra vez e estendeu pra mostrar a ele. Xiaojun arregalou os olhos sutilmente, tentando esconder sua surpresa pra que não demonstrasse vulnerabilidade.

— Delegado da Polícia de Seul – respondeu.

— Hum – ele torceu os lábios em um bico e fingiu indiferença, mas por dentro sentiu um leve frio na barriga.

— Jaehyun, você está preso por suspeita de assassinar Bang Chan.

Dessa vez, ele não conseguiu esconder quando arregalou os olhos em choque, e engoliu em seco como se não fizesse ideia de que isso fosse lhe acontecer um dia.

— O que? – ele levantou as sobrancelhas fingindo ter ouvido um absurdo.

Changbin riu, se aproximou dele pra destrancar as algemas, lhe puxou pra ficar de pé e trancou novamente com seus dois braços pra trás.

— Quem é esse? O que está acontecendo? Eu não matei ninguém! – ele riu incrédulo e franziu as sobrancelhas olhando confuso para os policiais que o cercavam – Escuta, deve haver um engano. Eu não conheço ninguém com esse nome.

O investigador empurrou o garoto pra frente, lhe forçando a andar pra fora do departamento enquanto ele resmungava feito uma criança brava.

— Sempre esse mesmo papo – debochou Changbin – Eu não faço ideia do que está acontecendo – imitou com a voz fina.

Eu não fiz nada – Changkyun continuou enquanto ria.

Xiaojun tentou se livrar das algemas porque quis esmurrar a cara de Changbin, mas o investigador foi mais forte e segurou seu braço com força, o que deixou o garoto de cabelos vermelhos com mais raiva ainda.

— Escuta, eu não fiz nada tá bom? Você precisa me soltar, inferno! – grunhiu feito um cão raivoso.

— Segura esse mala, Changkyun. Vou falar com a garota, vocês podem ir na frente – Changbin deu espaço pra que o policial segurasse o braço de Xiaojun, e em seguida voltou até a recepção onde reconheceu a irmã de Minho sentada.

Estava com os cabelos pretos bagunçados, o uniforme escolar grudado no corpo devido ao suor, e as mãos pálidas segurando um copo de água.

Changbin se aproximou vendo seus olhos fundos e o rosto molhado, a expressão de cansaço e sonolência lhe partiu o coração. Imaginou que ela devia estar faminta e exausta, não sabia a quanto tempo Xiaojun tinha lhe sequestrado e isso era desesperador.

— Ei, Gahyeon – chamou.

Demorou alguns segundos pra que a garota levantasse o rosto e olhasse pra ele. Sentiu pena dela, nunca tinha visto alguém tão abatida. Talvez ela estivesse esperando por alguém pra busca-la há muito tempo.

— Sou Seo Changbin, investigador. Se lembra de mim?

Ela olhou pro seu rosto por alguns segundos, e só depois acentiu quando conseguiu acessar as memórias que tinha dele.

— Vou te levar pra casa, tá bem? Você não parece muito legal.

— É... – ela gemeu e esfregou os olhos vermelhos – Eu não estou... Não estou muito bem.

— Eu sei – ele estendeu a mão – Vamos?

Ela segurou sua mão e ele andou com passos lentos e cuidadosos até a saída, não queria que ela se cansasse mais e sabia que a caminhada até o estacionamento era longa.

Depois de andar em silêncio pelo salão principal e pegar o elevador até o primeiro andar, Changbin finalmente chegou até o carro. Xiaojun já tinha ido embora com os outros, e apenas um policial lhe esperava em outra viatura.

Ele dirigiu de volta pro centro da cidade, e de lá seguiu as coordenadas do GPS pra chegar até o endereço de Gahyeon, o que foi difícil pra ela lembrar.

Logo que ele estacionou na frente da casa, a garota sentiu uma pontada de tristeza ao imaginar que Minho não estaria lá dentro lhe esperando. De agora em diante, a casa sempre estaria vazia, assim como ela sempre estaria sozinha, e nada que ela fizesse poderia tira-lo de onde ele está.

— Descanse um pouco, amanhã provavelmente você terá que comparecer a delegacia pra prestar seu depoimento.

Gahyeon olhou pro investigador com imenso desânimo. Não conseguia nem mexer seu corpo direito, suas pálpebras pesavam demais e ela se sentia extremamente exausta. Só de pensar em um depoimento seu corpo quis desmaiar, e ela desejou dormir por meses e meses até que toda essa fase ruim passasse.

A garota acentiu, abriu a porta do carro e respirou fundo antes de descer.

— Obrigada – disse ao investigador. Apesar de não gostar dele, precisava agradecer. Se ele não tivesse aparecido, ela apodreceria naquele aeroporto enquanto o sedativo estivesse correndo pelas suas veias.

Ele acenou pra ela, e Gahyeon desceu encarando a porta da casa como quem olhava pra um batalhão inimigo.

É uma nova vida agora, uma vida que ela nunca quis viver, mas que agora era seu fardo a ser carregado. Uma vida sem Minho, sem seus pais, sem amigos ou sem qualquer outra pessoa que pudesse contar. Uma vida onde sua única companhia seria o seu reflexo no espelho, e as dores que a visitariam todas as noites antes de dormir.

Sabia que tudo terminaria assim, mas não podia culpar ninguém por isso. A única coisa que culpava era o amor.

Por amar Yunho, acabou se envolvendo com Xiaojun e lhe causando sua primeira decepção amorosa. E por Minho amar Jisung, causou nele uma das piores dores que poderia sentir, além de condena-lo pra sempre a uma cela vazia.

E por amor a seu irmão, Gahyeon precisava seguir em frente, e precisava lutar pra tê-lo de volta o mais rápido possível. É difícil ter tanta responsabilidade em cima de seus ombros, e é difícil não ter ninguém pra dividir suas preocupações e medos agora que Minho está longe.

Mas mesmo assim, Gahyeon decide ser forte, porque afinal de contas, Minho ainda precisa dela, assim como ela precisa desesperadamente ter sua família de volta.

***

Antares, Gangnam.
15:18

— É aqui – Hyunjin aponta pro letreiro vermelho com o nome Antares e o policial estaciona em frente.

— Tem certeza? – ele pergunta quando não vê nada demais na fachada do estabelecimento, mas Hyunjin confirma o endereço no papel que lhe foi entregue.

Os dois descem da viatura e andam até o estúdio, assim que Hyunjin empurra a porta vê que está trancada e há uma placa de fechado.

— Certo, hora de mostrar meus talentos – disse orgulhoso pra si mesmo, e arrancou uma risadinha do amigo policial.

Hyunjin tirou um grampo que prendia uma mexa de seu cabelo, e um clips que sempre carregava no bolso caso precisasse disso um dia. Colocou os dois na fechadura, entortando o arame até que ficasse no formato desejado. Ele encaixou precisamente, mas na primeira tentativa não conseguiu destrancar.

— Não é melhor arrombar? – o policial sugeriu, mas Hyunjin franziu o cenho ao olha-lo.

— Não, a porta é de vidro – respondeu – Vai fazer uma sujeira.

— Então tá – deu de ombros.

— Eu consigo – disse empolgado, e encaixou novamente os dois pra fazer sua segunda tentativa.

Ao girar, ouviu o click da fechadura destrancando e não se conteve ao sorrir e comemorar orgulhoso de si mesmo.

— Deu certo, rapaz – o homem deu tapinhas no seu ombro lhe parabenizando.

— Sou bom nisso – piscou convencido – Vamos.

Abriu a porta do estúdio se deparando com vários desenhos e tatuagens na parede, e a decoração vermelha e chinesa exagerada que fez os olhos de Hyunjin arderem com tanta poluição visual.

— Fotografe tudo primeiro, precisamos mandar pra perícia – orientou o policial mais velho.

— Pode deixar – Hyunjin mostrou sua câmera nas mãos e esperou pela próxima ordem.

— Comece pelo fundo, pegue tudo que achar útil pra investigação e levaremos de volta pra delegacia.

— Sim, chefe – o garoto sorriu empolgado e se curvou antes de ir pra próxima sala.

Acendeu a luz encontrando uma cadeira reclinável preta, mais fotos de tatuagens e certificados na parede, e algumas agulhas e itens descartáveis. Como o orientado, ele fotografou toda a bancada, o chão, e a cadeira antes de começar a vasculhar por algo que fosse ajudar na investigação.

Depois de algum tempo, acabou não achando nada. Abriu todas as gavetas e só encontrou itens pra tatuagem, estoque de papéis, tinta e agulhas. Acabou desistindo, e andou mais a fundo até achar um pequeno banheiro onde também tirou fotos antes de procurar mais pistas. O lixo estava vazio assim como o armário, e Hyunjin bufou irritado antes de ir pra última parte do estabelecimento. Um pequeno quintal de fundo.

— Droga, eles já levaram tudo – Hyunjin reclamou sozinho quando viu o quintal vazio. O chão estava limpo, as vassouras e produtos de limpeza organizadas no fundo do quintal, e alguns aventais estavam dobrados em cima da máquina de lavar.

Hyunjin se sentiu um pouco decepcionado, estava ansioso pra achar algo útil que surpreendesse seu chefe, mas estava tudo organizado como se soubessem que a polícia viria procurar por provas.

Mesmo assim, o garoto bufou e pegou a câmera outra vez pra fotografar o quintal mesmo sem pistas. Apontou a lente para os aventais em cima da máquina de lavar, e ao apertar o botão, pensou ter ouvido algo além do barulho do flash.

Hyunjin ficou paralisado esperando ouvir o barulho outra vez, e arregalou os olhos assim que ouviu um gemido vindo do que parecia ser o banheiro dos fundos, o último cômodo que ele precisava checar.

Correu pra porta de madeira no fundo do quintal, e abriu com cuidado sentindo um pouco de medo. Seus olhos se arregalaram quando viu que o gemido vinha de um garoto com uma mordaça na boca, com os pés e mãos amarrados e deitado no chão do banheiro.

— Meu Deus – Hyunjin sussurrou assustado e correu até ele pra tirar a mordaça da sua boca. Era um garoto novo, não tinha mais de vinte e um anos, estava suado e pálido, e seu cabelo negro estava grudado na testa.

— Você está bem? Está machucado? – perguntou puxando seu braço pra ajuda-lo a levantar.

O garoto mal tinha forças pra ficar de pé, e piscava várias vezes tentando desembaçar sua visão. Hyunjin passou o braço pela sua cintura para sustenta-lo, e o ajudou a caminhar pra fora do banheiro pra que pudesse respirar ar fresco.

— O que houve com você? – perguntou outra vez, mas percebeu que o garoto não queria ou não conseguia falar.

— Hyung, me ajuda aqui –  Hyunjin chamou o outro policial ao chegar na recepção do estúdio outra vez. O homem lhe ajudou a colocar o garoto sentado em uma cadeira, e buscou um papel pra que Hyunjin pudesse limpar o suor que escorria pelo rosto do garoto como se ele tivesse tomado chuva.

— O que aconteceu? – perguntou o mais velho.

— Ele estava amarrado no banheiro dos fundos, não sei a quanto tempo ficou lá – respondeu Hyunjin – Você tem uma garrafa de água? Acho que ele está desidratado.

Os lábios do garoto estavam pálidos e descascando, e seus olhos fundos e com olheiras. Hyunjin pensou em leva-lo pro hospital, mas tinha medo que ele acabasse desmaiando no caminho. Estava fraco demais.

— Eu vou comprar algo na conveniência aqui perto – o policial disse antes de sair – Já volto.

Hyunjin se agachou em frente ao garoto que respirava com um pouco de dificuldade, e enxugou o suor em sua testa com um papel.

— Pode me dizer seu nome?

O toque delicado e sutil da mão de Hyunjin no rosto do garoto ganhou sua confiança. Percebeu o cuidado que o policial tinha, e o olhar preocupado que tentava ao máximo lhe ajudar. Mesmo estando em um dos piores momentos da sua vida, pensou que deveria ser grato pelo homem ter lhe encontrado.

— Yang Jeongin – respondeu com a voz baixinha, e Hyunjin sorriu se curvando para cumprimenta-lo educadamente.

— Sou Hwang Hyunjin, eu trabalho na delegacia da cidade. Pode confiar em mim – disse terminando de secar o rosto molhado do garoto – Há quanto te prenderam aqui?

— Eu... – ele fechou os olhos e estremeceu de frio – Eu não sei. Dois dias, talvez.

Hyunjin tocou sua testa e sentiu a pele do garoto arder debaixo dos seus dedos.

— Você está ardendo em febre – disse preocupado – Espere um pouco.

Ele se levantou pra pegar o pano que usou pra secar seu suor, foi até o banheiro para enxagua-lo, e torceu até que estivesse úmido.

— Aqui – colocou sobre a testa do garoto e continuou segurando – Precisamos te levar ao hospital.

— Não – disse seguido de um suspiro cansado – Eu vou ficar bem.

Hyunjin ouviu a porta se abrir outra vez e o policial entrou carregando uma sacola. Tirou de lá uma garrafa de água, e um sanduíche industrializado.

Assim que estendeu a Jeongin, ele agarrou com desespero a garrafa de água e abriu com as mãos trêmulas. Tomou toda a garrafa de uma só vez, e enquanto dava grandes goles Hyunjin trocou um olhar assustado com o outro policial. Não podia nem imaginar o tamanho da fome e sede que aquele garoto estava, e assim que ele devorou o sanduíche com a mesma rapidez e desespero Hyunjin nem se assustou.

— E então – voltou a dizer quando ele estava na última mordida – Pode me contar o que houve?

O garoto limpou a boca que estava suja de molho, e respirou fundo antes de falar. Já se sentia muito melhor agora, mas emocionalmente falando continuava péssimo.

— Eu não vou mentir – suas bochechas coraram de vergonha, e ele não conseguiu sustentar seu olhar no de Hyunjin – Eu trabalhava pro dono desse estúdio, Xiaojun. Eu estava... Eu estava vendendo drogas pra ele.

O mais velho já imaginava que Xiaojun estava envolvido nisso, e não se assustou com a confirmação de Jeongin. Quando recebeu ordens pra vasculhar o estúdio, sabia que poderia encontrar alguma evidência essencial, só não imaginava que essa evidência seria um garoto amarrado no banheiro, e alguém que Hyunjin particularmente sentiu um estranho carinho e preocupação.

— Meus pais me expulsaram de casa quando descobriram sobre a minha... Bom, a minha sexualidade – pigarreou nervoso com medo da reação dos policiais – Eu não sabia como arranjar dinheiro, eu me arrependi muito de ter entrado nisso e eu disse pra Xiaojun que não queria continuar. Foi então que ele me prendeu no banheiro, disse que eu ficaria na solitária até entender que quem manda é ele.

Jeongin segurou algumas lágrimas enquanto falava, e Hyunjin sentiu o desprezo por Xiaojun crescer em seu peito. Se ele for mesmo esse monstro que todos estão dizendo, Hyunjin faria questão de estar presente no seu julgamento onde ele certamente pegaria bons anos na prisão.

— Esse desgraçado de novo – o policial mais velho murmurou pra si mesmo com raiva.

— Está tudo bem agora, não precisa se preocupar – Hyunjin assegurou o garoto com um sorriso doce que fez a agonia no coração de Jeongin se dissipar por um momento.

— Podemos te levar pra casa – ofereceu o outro homem.

— Eu... Eu não tenho casa – disse com a voz embargada – Obrigada, mas entre voltar pra lá e viver na rua, eu prefiro a segunda opção.

— Bom, eu posso te ajudar com isso. Acho que conheço um lugar que você pode passar a noite – ofereceu Hyunjin – Mas amanhã você precisa ir até a delegacia prestar um depoimento, tudo bem?

— Sim, é claro – sorriu extremamente grato – Obrigada, de verdade. Não quero incomodar, mas ficarei muito grato se eu tiver um lugar pra dormir.

— Não precisa agradecer – Hyunjin sorriu e desviou o olhar um pouco tímido. O silêncio entre os dois era um pouco estranho às vezes, mas Hyunjin já tinha percebido que isso era devido ao fato de que seu coração estava amolecido por ele – Vamos?

Jeongin se levantou e Hyunjin lhe estendeu o braço pra que ele segurasse firme. Novamente, passou seu braço pela cintura do mais novo pra ajuda-lo a caminhar mas dessa vez sentiu que Jeongin estava mais forte.

— Eu já volto, Hyung. Vou leva-lo – avisou ao outro policial que concordou.

Hyunjin abriu a porta da viatura, ajudando o garoto a se sentar no banco do passageiro. Deu a volta e entrou no carro, se sentando ao seu lado e ligando o rádio pra que o silêncio não lhe deixasse nervoso outra vez. Não estava misturando sua vida profissional com a pessoal, só tinha um coração fraco demais pra resgatar pessoas de possíveis cativeiros.

— Como se sente? Melhor?

— Um pouco. Acho que só preciso de um banho e algo pra comer – Jeongin respondeu – Obrigada por me ajudar, não sei como te agradecer.

— Está tudo bem – Hyunjin sorriu tímido outra vez, e o assunto se encerrou depois disso.

Ele dirigiu por mais dez minutos até finalmente estacionar em frente a casa. Respirou fundo um pouco nervoso, não sabia se isso realmente ia dar certo, mas seu coração sentiu tanta pena de Jeongin que ele precisava tentar.

— Espere aqui, eu já volto – disse antes de sair do carro e o garoto assentiu.

Bateu na porta algumas vezes, seu coração esperava aflito pra que alguém lhe atendesse, e depois de alguns segundos viu Felix diante dos seus olhos com um avental e uma colher de madeira na mão.

— Hyunjin? – franziu o cenho um pouco surpreso – Oi.

— Oi, Lix – ele se curvou sem jeito e nervoso, sabia que isso era uma ideia maluca, mas precisava tentar. Nunca teve muita intimidade com Felix, mas pelas poucas vezes que falou com ele na delegacia, percebeu que era alguém de bom coração, apesar de não gostar de demonstrar muito.

— O que houve? – perguntou pensando ser algo com Changbin, e Hyunjin coçou a cabeça sentindo seu rosto ficar vermelho.

— Eu... Eu queria te pedir uma coisa.

— Pode falar.

— Nós fomos até o estúdio de Xiaojun tentar achar algumas pistas, e ele prendeu um garoto em seu banheiro, estava amordaçado e...

— Meu Deus! – Felix arregalou os olhos em choque – Ele é um belo de um desgraçado! Changbin e Ten já sabem disso?

— Sim, quer dizer, não. Eles ainda não sabem, o garoto está ali dentro do carro. Ele não está muito bem.

— Leve ele pra casa ou pro hospital, Hyunjin. Aquele monstro deve ter machucado ele – Felix disse incrédulo – É bom que eu não conheça Xiaojun, vou acabar sendo preso por agressão.

Hyunjin não conseguia achar uma brecha, Felix nem mesmo deixava ele acabar de falar e já lhe dava uma resposta imediata. Sentiu que se não arrumasse cinco segundos de coragem ia acabar desistindo de perguntar, e Jeongin não ia ter nenhum outro lugar pra ficar, já que seus pais jamais deixariam ele levar alguém pra dormir em sua casa.

— Felix, ele pode ficar aqui? Ele não tem casa, seus pais lhe expulsaram.

— O que? – o loiro praticamente gritou – Ficar na minha casa?

— Escuta, ele foi expulso porque seus pais descobriram que ele é... Gay – sussurrou pra que Jeongin não ouvisse – Ele começou a trabalhar pra Xiaojun em troca de dinheiro, e ele lhe prendeu por dias quando ele pediu pra parar! Ele não tem pra onde ir Felix, eu prometo que é só por hoje. Amanhã vejo na delegacia se consigo algum abrigo pra ele.

— Hyunjin, não viaja – Felix imediatamente negou – Você não tem noção da briga que arrumei com Changbin depois que deixei Jisung ficar aqui. Não posso sair fazendo caridade pra todo mundo, entendeu?

— É só por hoje! – insistiu juntando suas duas mãos como se estivesse implorando.

— Eu não posso, Changbin pode acabar tendo problemas na polícia por conta disso.

— Eu converso com ele, eu assumo todo o risco. Pode ficar tranquilo, ninguém jamais vai saber e assim que eu conseguir um abrigo pra ele, venho busca-lo – insistiu pela última vez, jurando desistir se Felix negasse novamente, pois não queria ter problemas.

— Hyunjin, eu... – ele começou a falar, mas desviou seu olhar pra algo atrás de Hyunjin, e levantou as sobrancelhas como se estivesse com pena.

O garoto se virou, avistando do outro lado da rua Gahyeon colocando o lixo pra fora. Sentiu em seu coração a mesma coisa que Felix sentiu, um misto de pena ao ver sua solidão, ao mesmo tempo que sentia vontade de ajuda-la sem saber como.

A garota levantou o rosto por um momento, e mesmo de longe os dois puderam notar sua postura cansada, os cabelos sem pentear, as roupas velhas e os olhos fundos. Felix sentiu seu coração doer, da mesma forma que doeu quando Minho lhe contou a verdade sobre tudo, mas dessa vez doía um pouco mais. Gahyeon não tinha culpa dos erros do irmão, não merecia ter que sofrer as consequências deles.

— Ei – Felix gritou acenando pra ela, e andou até chegar um pouco mais perto da rua.

Gahyeon estava voltando pra dentro de casa, mas se virou pra ver o loiro parado a olhando.

— Você... Você está bem? – ficou inseguro ao perguntar pois sabia que a resposta era um pouco óbvia.

— Na medida do possível – deu de ombros.

— Se você precisar de algo, eu estou logo aqui do lado. Sabe disso.

— Eu sei – tentou seu melhor ao dar um sorriso – Obrigada.

Ela entrou na casa, e Felix respirou fundo com o coração pesado. Odiava estar cercado por esse caos, cheio de pessoas machucadas e perdidas, sem saber como ajuda-las enquanto seu coração se sentia cada vez mais pesado por tudo.

— E então? – Hyunjin parou do seu lado com um olhar preocupado, e Felix bufou revirando os olhos.

— Se você não vier busca-lo, eu juro por Deus que faço sua caveira pro Changbin – ameaçou arrancando risadas de Hyunjin – Vai, trás ele logo. A casa de caridade do Felix tá aberta!

— Eu adoro você – Hyunjin deu tapinhas no seu ombro enquanto gargalhava, e Felix lhe mostrou a língua fazendo cara de nojo.

— Cara de pau!

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