Mientes

SamilaGrey tarafından

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"E com os olhos fechados eu te segui. Se eu busquei a dor, consegui. Não és a pessoa que pensei, que acredite... Daha Fazla

I - PRIMORDIUM
Capitulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
II - PASSIONNEMENT
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capitulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capitulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
III - PAS DU TOUT
Nem um pouco.
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Capítulo 60
Capítulo 61
Capítulo 62
Capítulo 63
Capítulo 64
Capítulo 65
Capítulo 66
Capítulo 67
Capítulo 68
Capítulo 69
Capítulo 70
Capítulo 71
Capítulo 72
Capítulo 73
Capítulo 74
Capítulo 76
Capítulo 77
Capítulo 78
Capítulo 79
Agradecimentos.

Capítulo 75

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SamilaGrey tarafından

Ao mesmo tempo em que tudo ao redor se tornava caos, pros dois o momento pareceu passar em câmera lenta. Ela cambaleou brevemente e ele a amparou pelos braços, os dois baixando o rosto e vendo o sangue fluir, maculando o jaleco.


Ainda assim, apesar do mundo parecer focado naquilo, o cenário em volta não parou. Ainda haviam gritos, tiros, e agora havia sangue.


Alfonso: Tudo bem. Você está bem, eu vou cuidar de você. – Prometeu, puxando o jaleco dela as pressas. Anahí parecia concentrada demais no que sentia pra esboçar uma resposta; só os olhos denunciavam o choque e a dor que sentia.


Então, quando pareceu que tinha acabado, a policia chegou. Houve um baque forte na entrada, que pareceu fazer o chão tremer, e Anahí, sem estabilidade, cambaleou; ele estava basicamente sustentando ela, e os dois terminaram no chão. O chão não era amigo, haviam cacos de vidro, mas antes de poder pensar nisso houveram mais tiros. Alfonso precisou puxar ela do caminho, arrastando os dois pra trás de um biombo, e o caos seguiu.


Então ela finalmente agarrou a barriga, onde parecia ser a fonte do sangramento, grunhindo alto de dor. Ele puxou a mão dela, erguendo a camisa, o olhar fazendo um avaliação inicial, mas era difícil dizer assim, havia sangue demais.


Alfonso: Ok. Me dê só uns instantes, e eu vou tirar você daqui. – Pediu, falando mais alto pra poder ser ouvido. Olhou por cima do ombro, mas os funcionários estavam todos em posições semelhantes, agachados pelos cantos, no chão, e os pacientes infelizmente estavam expostos – Ana, fale comigo. Vamos lá. Precisa ficar consciente. Me diga qualquer coisa. Você vai desmaiar? – Ela piscou, hesitando um momento.


Anahí: Acho que não. Jesus! – Rosnou, tornando a apertar a barriga, o sangue escorrendo entre os dedos.


Alfonso: Tudo bem. Você está bem, não vou deixar nada te acontecer. – Ela o encarou, assentindo. Ele pôde notar o suor começando a brotar na testa dela, bem do lado da fonte de um sangramento na raiz do cabelo que ele não sabia justificar, mas não disse nada.


Anahí: Isso precisa parar. – Murmurou, e ele não sabia dizer se era sobre o cenário em volta ou sobre o sangramento fluido na mão dela.


Alfonso: Vai parar. – Prometeu, de qualquer forma.


Anahí: Não me deixe sozinha. – Pediu, por fim, antes de grunhir de novo. A dor não deixava espaço pra pensar, e agora a visão dela começava a oscilar.


Alfonso: Nunca mais. – Garantiu, e ela assentiu. – Só aguente mais um pouco.


Mas como o mundo não está em um ponto só, você precisa entender que houveram outros cenários envolvidos. Cenários não tão próximos ao foco do desastre, por assim dizer. Robert e Nate não estavam de plantão; Kristen estava prestes a sair, Madison lia em sua sala, Ian monitorava um paciente, Clair vistoriava a maternidade. Era só um dia normal.


Ian: Preciso de atenção com isso. – Pediu, mostrando um prontuário a um enfermeiro – Não estou gostando da reação no pós operatório. Madison está ciente do avanço?


- Sim, mas a resposta dela foi "não gosto de como está evoluindo". – Ian assentiu, tirando o óculos.


Ian: Então eu não preciso dizer nada que ela não saiba. Qualquer avanço, por menor, quero ser avisado pessoalmente. Pode ir. – O enfermeiro assentiu, saindo.


Rebekah: Sempre mandão. – Ian virou o rosto, vendo-a parada no corredor – Olá, Ian. – Disse, sorrindo.


Houve um momento de silencio, onde os dois se encararam, se reconhecendo depois da passagem dos anos. Muito pouco e ao mesmo tempo tudo parecia ter mudado, mas lá estavam os dois: Ele de jaleco, fardado, ela usando uma calça preta e uma blusa longa, cinza, o adesivo de visitante colado, os cabelos soltos pelos ombros.


Ian: Estive me perguntando quando viria atrás de mim. Como vai, Rebekah? – Perguntou, por fim.


Rebekah: Muito bem. – Disse, com um sorriso de canto – O que você esteve aprontando?


Ian: Nada do que eu possa ser culpado, garanto. – Brincou, arregalando os olhos pra ela – Eu estou trabalhando, então...


Rebekah: Pode continuar, estou só visitando. – Ele assentiu, guardando o óculos no bolso do jaleco e avançando no corredor – Como tem sido os últimos anos?


Ian: Gloriosos. Eu sou pai. – Comentou, o olhar duro. Ela, que vinha ao lado dele, o olhou como se tivesse sido cutucada. Ele sorriu, irônico.


Rebekah: Não é, não. – Negou, sondando-o.


Ian: Claro que sou. O nome dela é Brit, uma vira-lata mimada que atualmente é meu único foco de paz. – Comentou, divertido, e ela precisou esperar, porque ele entrou em uma porta que dizia "acesso restrito a funcionários". – O que exatamente pretendeu vindo aqui, Bex? – Perguntou, a voz de longe.


Rebekah: Fui convidada. – Comentou, as mãos nos bolsos.


Ian: Isso eu sei. – Ele voltou com um fichário na mão – Mas não veio só pelo convite. Como vai a sua vida? – Devolveu.


Rebekah: Estável. Quase me casei de novo, então percebi que não havia me curado de você o suficiente pra me comprometer assim com outra pessoa. Ainda há danos. – Ele assentiu, concentrado no que lia.


Ian: Responsável da sua parte. – Murmurou, quase parando de andar. Apanhou o celular no bolso, digitando algo que estava lendo e enviando – A profissão?


Rebekah: Bem. A sua? – Ele fez um biquinho.


Ian: Eu consegui me acostumar com Madison ao ponto de poder enxergar que ela é a profissional mais brilhante que eu vou encontrar. Estou muito bem. – Assentiu. – Essa é minha sala. – Ele abriu, e ela entrou.


Rebekah: Madison Salvatore? – Ele assentiu – Ela tem conseguido seguir, com tudo? – Perguntou, e ele piscou.


Ian: Ah, não. Ela está limpa. Há anos agora. – Rebekah sorriu, surpresa. – Está limpa, irritante, e tem gêmeos, o que torna ela mais enxerida que o normal, não me pergunte o por que. – Rebekah riu.


Rebekah: Sua vida amorosa? – Ele se sentou, cruzando os dedos.


Ian: Tive casos, nada sério. Namorei Kristen e me apaixonei por ela, mas fazem anos. Vamos, vai ficar em pé ai? – Ela sentou, com um sorriso surpreso.


Rebekah: Kristen, mulher de Robert? – Ele riu de leve.


Ian: Não mais, faz anos. Eu posso fazer uma redação de atualizando. – Percebeu. Rebekah fora embora muitos anos atrás; antes de Alfonso, enquanto Madison estava afundada em dependência e Kristen e Robert iam se casar.


Rebekah: Você ama ela? – Sondou.


Ian: Amei. – Admitiu – Mas nosso amor foi tipo diarréia. – Percebeu e riu com a cara de indignação dela.


Rebekah: É o que?!


Ian: Veio, tirou minha paz por um tempo, então passou. Fiquei um tanto abalado quando passou, mas nos recuperamos. – Ela revirou os olhos - Precisa admitir que é o mesmo que acontece com diarréia. Mas estamos bem agora, somos amigos.


Rebekah: Jesus, Ian, que descrição horrível. – Dispensou.


Ian: Eu estou sendo interrogado? – Perguntou, cruzando os dedos sobre a mesa.


Rebekah: Eu sempre acho que você deveria, mas não. Só faz muito tempo. – Ele assentiu, sorrindo de canto.


Ian: Seja lá qual o motivo que Nathaniel tenha apresentado pra te trazer aqui, posso garantir a você que sou inocente, Bex. – Garantiu.


Rebekah: Ele não me trouxe aqui. Digo, deu a ideia, mas se arrependeu uns dias depois. – Ian ergueu as sobrancelhas – Me pediu para não vir, mas ai eu já estava curiosa. Sua vida sempre foi fascinante.


Ian: Por um tempo eu estive receoso em encontrar você. – Ela colocou a mão no peito – Mas olhando você aqui só consigo me divertir, porque esqueci que você odeia perder fofocas, e perdeu mais de uma década delas. – Ela riu, pondo o cabelo atrás da orelha – É bom vê-la tão bem.


Rebekah: Eu tinha esquecido esse apelido. Bex. Ninguém usa. – Admitiu.


Ian: Tem alguma coisa direta que você queira me perguntar ou me pedir, ou...? – Sondou.


Rebekah: Não consigo pensar em nada. Minha curiosidade era sobre quem você tinha se tornado, mas ai está você. – Ele sorriu, e ia responder, mas olhou pra porta – O que foi? – Perguntou, estranhando.


Ian: Tem alguma coisa errada. – Percebeu, se levantando. Ao tempo que abriu a porta, notando a agitação anormal, o celular e o bipe vibraram no bolso – Mas que... Eu preciso ir. Tem alguma coisa errada. – Repetiu, então arregalou os olhos, vendo duas enfermeiras passarem correndo. Não houve tempo pra perguntar.


Rebekah: O que é? – Perguntou, se levantando na defensiva.


Ian: Não sei, mas não é bom. – Murmurou, voltando e apanhando o estetoscópio na mesa – Fique aqui até por um tempo, até as coisas aquietarem, olhe direito antes de sair. – Pediu.


Rebekah: Está me assustando. – Ele olhou da porta.


Ian: Que bom. Mas estou falando sério. Não abra a porta e dê um tempo. Até que foi bom te ver, Bex. – Sorriu, por fim, antes de sair.


Acabou de uma forma um tanto louca, e eles só ouviram o arrastar de pneus, então a sirene se afastando. Os tiros pararam e o falatório ficou alto. Anahí viu Alfonso se afastar um instante, o olhar sondando, então se levantou, dando uma ordem ríspida, o tom sério. Ela estava sinceramente oscilando agora.


Madison: Que diabo aconteceu aqui?! – A voz era distante.


Alfonso: Preciso de suporte, Anahí está ferida. Não posso ficar pra avaliar danos, e temos muitos. Chame os outros. – Madison assentiu, atordoada, ao mesmo tempo que Ian entrava, os olhos chocados.


Anahí se sentiu ser movida, mas as pálpebras estavam muito pesadas. Os outros quiseram muito dar suporte a ela, mas ela mesma teria arrancado os olhos deles se tivessem deixado o cenário daquele jeito pra focarem só nela.


Ela não soube, mas dois enfermeiros a colocaram em uma maca que foi erguida, sendo retirada dali as pressas. Foi só um conjunto de borrões e luzes, então a dor passou e ela pôde descansar, porque a dor a deixou exausta.


Alfonso: Campo. – Pediu, avaliando, após a barriga de Anahí ter sido higienizada. Ele a observou por um momento, deitada na mesa de cirurgia, sendo que a anestesia era local, mas parecia apagada, dormindo. Olhou os sinais dela, mas estavam bons. O campo foi instalado, isolando a área ao redor e deixando apenas o local a ser operado exposto. A luz era forte em cima do local, e ele levou um instante avaliando. – Pinça.


Foi uma cirurgia relativamente rápida. A bala apanhara a lateral do corpo dela, próximo a cintura. A perfuração foi relativamente superficial, mas há algo que sobre projeteis que poucos não sabem: Eles fazem o maior estrago depois de terem entrado no corpo. Não é apenas o furo ou o impacto; o projetil faz seu próprio estrago, dependendo do calibre, danificando toda área ao redor, e ele estava preocupado com o rim dela. Agiu de forma concentrada, focada, e não demorou muito a voltar com a bala presa na pinça, erguendo-a na luz para observá-la. Graças a Deus estava inteira.


Alfonso: Sem fragmentos. – Uma enfermeira se aproximou e ele dispensou a bala com um "clique, passando os olhos nos sinais dela. Estáveis, mas o sangramento seguia – Bisturi.


Uma pequena incisão foi feita, os olhos atentos buscando algo que pudesse ter passado despercebido, mas não havia nada. Anahí terminou com uma carreira de 06 pontos, e Alfonso nunca caprichou tanto em uma sutura em sua carreira como naquela, saindo perfeitamente alinhada, o sangramento parando. O ultimo ponto foi dado e a enfermeira se aproximou mas, ao contrário do procedimento, ele não se afastou: Pegou o instrumento de higienização, ele mesmo limpando a área com a solução que ela trazia, observando como reagia.


Alfonso: Tudo bem. Mantenha o soro, eu quero uma ultrassonografia da área, focando na região renal. Cuidado com ela. – Ordenou, o olhar duro.


Anahí ainda dormia enquanto isso ocorreu, mas a ultrassom apenas revelou o trauma do tiro. Nenhum órgão foi atingido. Era o que se chamava de "tiro de raspão", por assim dizer. Foi transferida pra um apartamento, um curativo na testa e um na parte de trás do ombro, onde se cortara com vidro.


- Vai descer, doutor?


Alfonso: Não. Vou ficar aqui. – Ele prometera, se lembrou, olhando-a apagada na cama. Por outro lado, ele era médico, e não só médico dela; havia um juramento pra todo e qualquer paciente – Desça até lá. Faça a equipe toda descer. Eu quero um panorama geral do estrago.


- Sim, senhor.


A enfermeira saiu e quando a porta fechou, finalmente houve silencio. Ele respirou fundo, se aproximando. Aquele sono era incomum, a anestesia não justificava. Ele tocou o cabelo dela, retirando-o do rosto.


Alfonso: Você está bem. Está fora de perigo agora. – Ela pestanejou, suspirando – Ei.


Anahí: Ei. – Respondeu, rouca.


Alfonso: A bala não te fez nada. Vai sair nova. Está tudo bem. – Ela piscou, parecendo grogue – O que está sentindo?


Anahí: Fraqueza. – Murmurou, parecendo lutar por consciência. Ergueu a mão que devia estar suja de sangue, mas estava limpa... E tremia – Minha visão está fugindo.


Alfonso: Você perdeu sangue. Se dê um tempo. – Ela pestanejou, olhando o teto.


Anahí: A emergência...


Alfonso: Estamos lidando. Você não está trabalhando, Anahí. – Ralhou, severo, e ela sorriu brevemente... Caindo no sono de novo.


Ele ergueu os olhos, checando os sinais dela. Estava bem, e possivelmente se recuperaria com o tempo... Mas sangue ajudaria. Rodeou a cama, como se observasse o panorama geral, e decidiu que meia bolsa seria suficiente. Apanhou o celular no bolso, discando. A consciência não o deixava em paz por saber que estava se ausentando do cenário abaixo.


Madison: Sem tempo, querido. – Informou, ao atender. Andava com cuidado para passar pelo vidro.


Alfonso: Eu preciso descer? – Perguntou, direto.


Madison: Não, fora a bagunça estamos bem. Os outros estão vindo, está tudo sob controle. Ian, aqui. – Aponto e Ian assentiu.


Alfonso: Alguma perda?


Madison: Fora o executado, nenhuma. Ele não teve chance. Mas está o inferno aqui embaixo, a policia está aqui. Não posso ficar no telefone, Alfonso. – Respondeu, óbvio.


Alfonso: Eu não desci porque... – Ele hesitou, olhando Anahí dormir – Eu não... Me avise se eu for necessário.


Madison: Já disse que não é. Como ela está? – Ele suspirou.


Alfonso: Estável. – Madison assentiu.


Madison: Me avise se eu for necessária. – Devolveu – Christopher chegou, eu vou desligar. – E a ligação acabou.


Alfonso se concentrou quando o sangue que pediu chegou, instalando a bolsa. Os sinais dela não se alteraram, mas ajudaria a recuperação a longo prazo. Não havia muito o que fazer a não ser esperar.


E isso o dava tempo de repassar a cena na cabeça. Ele a observava, os olhos sérios, refletindo. Estava com o paciente, por algum motivo ela se alardou, então tudo perdeu o sentido. Mas seu cérebro retivera o ultimo momento, o momento onde ela surgiu, tomando a frente dele...


Porque aquele tiro era pra ele. E de alguma forma ela viu, assumindo a frente. Estava ali agora no lugar dele, porque optara por protegê-lo, assumindo o que aquilo fosse custar. Aquilo significava demais pra ser ignorado.


Madison: Tudo bem aqui. – Aceitou.


Clair: Madison, me dê suporte aqui. – Madison rodeou a maca, as mãos assumindo o lugar e Clair pôde focar, finalizando uma sutura – Muito bem... Pronto. – Ela suspirou, ajudando a deitar o paciente – Pra enfermaria.


- Doutora, a enfermaria está alcançando nível de lotação agora. – As duas olharam.


Madison: Libere a ala 03 de quartos para os pacientes que estavam aqui antes disso, foque a enfermaria para os feridos aqui. – Decidiu.


- Eu preciso do DA da doutora Portilla pra isso. – Clair revirou os olhos.


Madison: A Doutora Portilla está na ala três se recuperando de uma operação. Faça o que eu digo. – Houve um momento de hesitação, então a maca foi levada.


Clair: Esse foi o ultimo. – Percebeu, retirando as luvas. Agora só restava sujeira, cacos de vidro, macas tombadas e o rombo onde era a entrada. Christopher, Arthur e algumas pessoas do conselho conversavam com a policia – Eu vou checar a maternidade.


Madison: Clair, espere. – Clair a olhou – Até quando vai me tratar assim?


Clair: Eu não tenho tempo pra isso agora, Madison. – Dispensou.


Madison: Eu posso pelo menos saber que diabo eu fiz, meu Deus? – Perguntou, exasperada. Clair parou, jogando as luvas usadas fora.


Clair: Que ideia foi essa, hã? Revirar meu passado, fichas medicas da minha família, envolver outras pessoas, fazer contas, chegar a conclusões? – Cobrou, dando de ombros – Que amizade é essa, Madison?


Madison: Eu só... Eu queria ajudar. – Disse, quieta. Na verdade era o que Madison sempre fazia por todos os amigos: Passar do limite pra ajudar.


Clair: Ajudar em que?! – Perguntou, erguendo as mãos – Eu pareço mal? Eu te pedi ajuda?!


Madison: Não, mas... – Ela hesitou, parecendo pensativa – Eu não quis ofender. Eu nem sei o que aconteceu. Eu só queria estar presente, e te ajudar, como você me ajudou. – Explicou, simples – Me desculpe se de alguma forma eu te ofendi com o que eu fiz.


Clair: Me ajudar como?! – Perguntou, lívida.


Madison: Na minha gravidez tudo foi sempre tão no limite, e você sempre estava lá. A cada minuto. – Lembrou – Então eu quis retribuir. Na sua primeira gravidez eu estava internada, e tudo o que eu sabia é que você não estava bem. Que seu casamento parecia em crise, e você sempre parecia... Doente. Eu não sabia porque, eu estava trancada, mas as noticias não eram boas. Você só não estava bem. – Explicou.


Clair: E eu não estava, meu Deus, mas isso foi há anos! Esse é outro bebê, e nós estávamos bem, Maddie! – Apontou.


Madison: Eu vi vocês na defensiva. Eu ouvi Nathaniel dizer que não queria Ian "tão envolvido". Eu só tentei entender pra que sua nova gravidez não fosse tão problemática quanto a primeira. – Explicou e Clair suspirou – Eu nunca entendi o que houve, mas eu só quis estar presente. Me desculpe, sério.


Clair: Maddie... – Suspirou, pondo as mãos na cintura – Ok. Está tudo bem. – Ela avançou, abraçando a outra.


Madison: Me perdoe. Seja lá o que eu tenha causado, não foi por mal. – Clair assentiu.


Clair: Só não tente mais resolver minha vida, tudo bem? – Madison riu de leve, assentindo.


Madison: Ok. – Ela colocou um fio de cabelo de Clair atrás da orelha – Você quer conversar? Está sempre parecendo tão estressada. Você me diz que não faz bem. – Clair riu.


Clair: Não faz, mesmo. – Apontou, respirando fundo em seguida – Eu e Nate temos tido dias difíceis, com tudo, mas é o que acontece quando se toma a decisão que nós tomamos. Eu não vou dizer qual é. É pessoal. Mas eu vou me acalmar e vou ficar bem. Não preciso de ajuda. – Madison assentiu – É uma menina, sabia? – Madison piscou, abrindo um sorrisão.


Madison: Sério?! Oh, parabéns, Claire! – Ela abraçou a outra, que riu.


Alfonso fez uma promessa, mas por outro lado ele tinha um juramento: Era médico. Não só médico, mas chefe da clinica médica. Quando a policia foi envolvida, ele foi literalmente convocado para dar um parecer sobre os feridos, e após uma longa analise dela, a deixou dormindo.


A verdade é que fora o morto, apenas duas pessoas se feriram a bala, fora Anahí. Os outros acidentes eram pancadas e cortes de vidro; o dano ao patrimônio, por outro lado, foi enorme, e precisava ser avaliado. Muita burocracia; custou tempo, paciência, custaria dinheiro e resultaria um trabalho enorme no final.


Mas nada do que foi visto foi tão chocante quanto a aparição de Anahí, que aparentemente se dera alta, usando um sutiã branco manchado de vermelho e a calça do hospital. Avaliava o cenário, e parecia odiar tudo o que a luz tocava.


Ian: Você só pode estar de brincadeira! – Atirou, exasperado, e os outros se viraram, vendo ela entrar. Segurava o curativo na lateral do corpo e andava devagar.


Anahí: Muito bem... – Continuou, parada onde estava, os olhos azuis parecendo duas pedras de gelo.


Madison: Querida, onde está sua roupa? – Perguntou, como se temesse que a outra estivesse tendo um acesso. Alfonso a observava como se tivesse esse mesmo receio.


Anahí: Gostaria de saber, mas só deixaram minha calça no quarto. – Dispensou, sem interesse. – Você, você, você e você, na minha sala, agora. – Rosnou, dando a volta.


Alfonso: Anahí, como seu médico, eu estou te afastando do trabalho até que se recupere do trauma. – Ela revirou os olhos.


Anahí: Alfonso, como sua chefe, eu estou desabonando sua ordem. – Dispensou, desinteressada.


A ideia foi de que o caos havia acabado, mas o cenário na sala de Anahí foi pior ainda. Ela arrumara uma presilha de cabelo, prendendo o cabelo de qualquer jeito em um coque alto, e simplesmente se recusava a se sentar, possuída de raiva. Apenas segurava o curativo dos pontos e andava de um lado pro outros.


Anahí: Quem foi... O imbecil... Que derrubou a portaria 458? – Perguntou, olhando o chão.


Ian: Você realmente deveria estar em repouso agora, sabe disso, não é? – Pontuou.


Estavam na sala Alfonso, Madison, Ian, Kristen, Christopher e Arthur, fora a presença de Anahí, que irradiava ódio no momento; aliás, aparentemente ódio era o que a mantinha de pé agora, o que parecia alardar a todos.


Anahí: Eu continuo esperando alguém me dizer que diabo aconteceu aqui. – Apontou, dando de ombros. Doeu e pinicou, e ela levou a mão livre por cima do ombro, arrancando o curativo. A dor a fez grunhir, e ela dispensou a gaze. Alfonso encostou a cabeça na parede, assoviando.


Madison: Aparentemente você está fora de si. – Comentou, aleatória.


Anahí: Minha vida nesse hospital está UMA DESGRAÇA! – Atirou, fazendo os outros se sobressaltarem – Parece que só tenho problema aqui dentro! Não posso fazer uma vistoria simples, ir no meu pronto socorro, sem tomar um tiro no caminho! – Apontou.


Ian: Você está sangrando. – Informou e Anahí revirou os olhos. Kristen se levantou, olhando o ombro dela, e Anahí a espantou como quem afasta um mosquito. Kristen suspirou, saindo as pressas.


Anahí: Eu instalei a portaria 458 pra isso não acontecer de novo e isso aconteceu de novo, então vocês vão precisar me dar uma justificativa boa. – Alfonso ergueu as sobrancelhas, se lembrando de uma conversa antiga sobre esse tipo de situação, no dia em que ele chegou ao hospital. Foi algo breve, esqueceu com o tempo. – Há quanto tempo nós estamos atendendo chamados de violência de rua?


Alfonso: Ham... Três semanas? – Anahí riu de leve. Era assustador, com o curativo na testa, o sangue no sutiã e o que escorria nas costas – Não é frequente, só veio e foi atendido.


Anahí: Quantos pacientes? – Cobrou. Kristen voltou com um kit na mão, e já estava de luvas.


Kristen: Olhe pra mim e respire fundo. – Anahí a encarou – Eu preciso suturar seu ombro e preciso que você fique quieta pra isso, tudo bem? – Anahí revirou os olhos.


Alfonso: Esse corte não precisa de sutura. – Avisou, estranhando.


Anahí: Provavelmente não precisava, mas minha unha bateu em cima quando eu arranquei o curativo. – Informou, impaciente, erguendo a mão que tinha dois dedos sujos de sangue. Ian apoiou o rosto na mão, parecendo assistir algo surreal – Podemos? – Ela silvou quando Kristen queimou a ferida com álcool – Eu te fiz uma pergunta, Alfonso. – Rosnou.


Alfonso: Eu... 07 pacientes, esse foi o sétimo. – Informou.


Anahí: Não pensou em me reportar? – Perguntou, finalmente quieta enquanto a outra trabalhava em seu ombro.


Alfonso: Não me passou pela cabeça. Muita coisa ao mesmo tempo. – Anahí assentiu.


Christopher: Eu não mexi nisso. Eu fui uma das pessoas na reunião a favor de levantar essa portaria, porque ia derrubá-la sem reporte anos depois? – Perguntou, óbvio.


Arthur: Se não passasse 80% do tempo brincando de ciranda com seus filhos, quem sabe? – Christopher o deu um olhar gelado, que combinava com o de Madison.


Christopher: Eu dei a impressão de estar aceitando opiniões sobre meus filhos? – Perguntou, parecendo confuso – Foi o que eu pensei.


Arthur: Vamos lá, se todo hospital se considerar bom demais pra atender determinadas demandas, vamos finalizar com pacientes morrendo nas ruas. – Apontou, óbvio.


Houve um momento de silencio pesado, onde só Kristen se movia, finalizando a sutura no ombro de Anahí. Essa encarava Arthur, enquanto a percepção do que acabara que acontecer assentava.


Anahí: Derrubou a portaria sem me avisar? – Perguntou, quieta.


Arthur: Não te devo satisfações das decisões que eu tomo. – Lembrou.


Anahí: Se são decisões que afetam a segurança dos meus funcionários, você me deve, sim. – Rebateu – Mas era importante que eu não soubesse. Porque, Arthur?


Christopher encarou Madison, que parecia pensativa. Ian tinha o cenho franzido, olhando o chão enquanto pensava. Kristen terminava o curativo... Mas Anahí encarava Arthur. A linha de pensamento era direta.


Um paciente vítima de violência de rua dava entrada na emergência, onde era recebido por enfermeiros. Um medico, no mínimo, sempre estava lá. Se o caso se agravasse, subia para o centro cirúrgico; se não, para a enfermaria. De toda forma, a situação se focava dentro do setor da clinica médica. Se um episódio como esses acontecesse, como aconteceu, um clinico estaria lá, como alvo... Assim como esteve. Quase foi possível notar o olhar dela endurecendo ainda mais ao chegar na conclusão.


Anahí: Não era pra eu estar lá. – Percebeu.


Arthur: Isso é verdade. Deveria rever o que faz com seu tempo útil. – Anahí parecia não ouvir.


Anahí: Mas ele, sim. - Arthur sorriu. Christopher se moveu na cadeira, ao mesmo tempo que os outros olhavam Alfonso, mas esse parecia calmo.


Arthur: De quem está falando, querida? – Perguntou, divertido. Kristen terminou o curativo novo, se afastando quieta. Parecia irradiar algo venenoso tamanho ódio de Anahí naquele momento.


Anahí: Você derrubou uma portaria de segurança que eu instaurei, por capricho. Colocou minha equipe em risco, incluindo meu homem de confiança aqui dentro. – Seguiu. Arthur riu.


Arthur: "Homem de confiança"? É assim que você chama agora? – Christopher levou as mãos ao rosto.


Christopher: Está insustentável continuar desse jeito. – Rosnou, parecendo se irritar.


Anahí: Eu tenho dois funcionários feridos a bala, 16 com ferimentos leves. Um morto. Eu tomei um tiro. – Resumiu – Por capricho seu.


Arthur: Sem drama. Quando você infartou aqui dentro ninguém fez alarde e ficou na conta do hospital de qualquer forma. – Christopher se levantou.


Christopher: Alguém precisa cuidar do estrago. Eu não tenho paciência pra isso. – Dispensou – Madison, eu precisei sair correndo, não deu tempo de chamar a babá, nosso vizinho está com as crianças. – Madison ergueu o rosto, assentindo. – Com licença.


Anahí: Eu quero você fora do meu hospital. – Arthur se recostou, sorrindo.


Arthur: Ah, quer? – Ele riu de leve.


Anahí: Fora do meu hospital, fora agora! – Rosnou – Eu juro por Deus que mais uma dessas e eu te mato, Arthur, fora daqui!


Alfonso: Certo. – Disse, se levantando – Anahí, seu curativo está sangrando. – Ela o olhou, impaciente, e ele apontou com o olhar. Ela soltou a mão, vendo-a suja de sangue – Com certeza estourou um ponto. Parabéns. Agora vamos. – Chamou, paciente.


Ian: Nada produtivo vai sair daqui agora. Só está se cansando. – Kristen assentiu.


Madison: Eu vou ajudar Christopher lá embaixo. A conter os danos. Tem muito a ser feito, mas você não pode ajudar agora. – Continuou.


Kristen: Clair está supervisionando tudo com Nathaniel e Robert. Eu vou ajudar. Você precisa descansar. – Anahí encarava Arthur, os olhos faiscando de ódio.


No final, um ponto se rompera. Ela pediu um banho primeiro, pelo amor de Deus, e depois ele refez a sutura, obrigando-a a se deitar. Voltou pro soro e pro sangue que ela mesma retirara, mas parecia longe do sossego inicial.


Alfonso: Um ponto no ombro, cinco na barriga, um curativo na testa. Se ajude e fique onde eu coloquei. – Pediu.


Anahí: Ninguém foi dizer a Alícia que eu tomei um tiro, não é? – Perguntou, direta.


Alfonso: Eu não deixei. Ela estaria aqui no próximo voo, e o cenário não está bom. Conte quando achar melhor. – Ela assentiu, respirando fundo – Está sentindo alguma coisa?


Anahí: Dor no corpo todo, mas é tolerável. Obrigada. – Ele assentiu e ela se acomodou, impaciente – Pode me dopar? – Ele ergueu as sobrancelhas – Preciso dormir, mas estou nervosa demais.


Alfonso: Acabei de ter um deja vu com Madison. Um dos fortes. – Avisou.


Anahí: Nossa, você é insuportável. – Dispensou, impaciente.


Alfonso: Um calmante, no máximo. Temos um regime rígido quanto a uso de tarja preta aqui. – Informou, se aproximando do armário ao lado da cama. Ela revirou os olhos, mas terminou rindo de leve, com uma careta.


Anahí: Que piada de merda, Alfonso. – Desprezou.


Alfonso: É, eu faço isso. Beba. – Ele ofereceu o comprimido e ela olhou com desprezo – É pegar ou largar.


Anahí: Em pensar que quem assina seus contracheques sou eu. – Comentou, aleatória, aceitando o calmante e pegando o copinho d'agua na mão dele.


Alfonso: Bom pra você, significa que tem um funcionário excelente. – Ela dispensou com o rosto.


Anahí: Modesto também. Quanto tempo vai me deixar aqui? – Perguntou, ainda impaciente. – Olhei meu prontuário antes de sair, não foi grave.


Alfonso: O suficiente. – Cortou e ela tornou a respirar fundo – Anahí?


Anahí: Hum? – Perguntou, sem interesse. Tudo a estava irritando, desde o acesso do soro até a cor da parede do quarto.


Alfonso: Você viu que iam atirar em mim? – Ela o encarou, se aquietando.


Anahí: Sim. Você estava mexendo o alvo deles de lugar. Inteligente, Alfonso. – Ironizou.


Alfonso: Tomou a frente de propósito? – Ela o encarou de forma demorada, um olhar cheio de significado.


Anahí: O que quer que eu diga? – Perguntou, por fim.


Alfonso: Obrigado. – Ela assentiu, quieta.


Levou um tempo absurdo pra limpar a entrada da emergência. Uma vez livres de cacos de vidro, o resto da porta arruinada foi removida pra instalação de uma nova, mas a essa altura a imprensa já estava lá, o que era irritante. Os equipamentos foram recolocados no lugar, e os que haviam sido danificados foram retirados dali.


Os dias seguintes foram calmos. A emergência foi 100% recuperada, e só 03 funcionários deram entrada com processos contra o hospital. A portaria 458 foi reinstalada com louvor, e Christopher acolheu a moção de Anahí contra Arthur, que foi afastado do hospital enquanto o tramite corria. Alícia de fato brotou no próximo avião quando recebeu a noticia; independente do que acontecesse, Anahí ainda era o único membro da família dela que restara, e a fobia de perder a irmã não era algo que passaria.


Anahí: Que surpresa vê-lo. – Comentou, recostada na cadeira. Tivera alta no dia seguinte, e pra irritação de Alfonso, começara a trabalhar no mesmo dia.


Henry: Você precisa entender que onde quer que eu vá, Madison está lá. – Apontou, parecendo irritado – Se eu vou a um restaurante almoçar, ela está lá. Se eu estou indo pra casa, ela está lá. Se eu venho aqui falar com você, ai está ela. – Ele apontou pra Madison, que sorria pra ele como quem não tem um arrependimento na vida. Anahí riu de leve.


Anahí: Sente-se. – Apontou, divertida. Henry se aproximou.


Henry: Ele fez mesmo você tomar um tiro ou foi gracinha de Madison? – Anahí ergueu a camisa, mostrando o curativo ainda ali. – Eu não estou satisfeito em aceitar esse divórcio, Anahí. – Informou.


Anahí: Mas está aceitando mesmo assim. Posso viver com isso. – Assentiu.


Henry: Eu tenho uma condição. – Anahí esperou – Eu só brigo dessa vez se for pra arrancar tudo dele. Sem aquele papinho de "ceda o que for necessário pra que acabe logo". – Dispensou – Se eu for dessa vez é pra brigar. – Estipulou. Anahí sorriu abertamente.


Anahí: Estamos trabalhando nos mesmos termos. Eu quero que ele pague por cada dia que ficou comigo desde que colocou os olhos em mim. – Estipulou e Henry assentiu, parecendo satisfeito.


Henry: Temos trabalho a frente, então. – Aceitou, finalmente se sentando.


A agressividade com que Henry deu entrada naquele divórcio foi a mesma de alguém que arromba a porta com um chute: Ele queria o divórcio, ele queria os bens, uma ordem de restrição contra Arthur, e ele queria uma restituição por danos físicos e morais, incluindo um adendo por agressão a Alícia Portilla, menor de idade na época. Não haviam concessões a serem feitas. Anahí ficou satisfeita.


Não estava satisfeita, entretanto, com o cuidado que os outros estavam tendo com ela. Era o inferno. De meia em meia hora alguém "dava uma passada", e ela recebia comida de 03 em 03 horas. Se trabalhasse demais, ralhavam. Se estivesse estressada, ralhavam.


Anahí: Você vê, eu agradeço mesmo vocês terem me perdoado e tudo... – Ela parou, tomando um gole da garrafa d'agua – Mas se eu não trataria vocês assim, não. – Acusou.


Nathaniel: Problema seu. – Dispensou, tranquilo. Era o responsável por fazê-la beber agua – Vamos, pare de enrolar.


Alfonso: Com licença. Anahí, eu... – Ele hesitou – Interrompo?


Anahí: Nathaniel está tentando me afogar, o que parece? – Nate bocejou, mostrando que por ele ela podia demorar o que quisesse. Anahí revirou os olhos, bebendo até esvaziar a garrafinha e ele sorriu, satisfeito. – Pode me deixar em paz?


Nate: Volto daqui a uma hora. – Informou, saindo, tranquilo.


Anahí: E você? – Atacou e ele riu, recuando um passo.


Alfonso: Vim avisar que você precisa abrir um espaço pra tirar os pontos. – Ela ergueu as sobrancelhas, assentindo – Vão encravar. – Ela assentiu.


Anahí: Claro. Agora estou lotada, mas até o fim da tarde. – Ele assentiu. Ia embora então pareceu achar algo no bolso que o fez rir, voltando. Ela esperou, na defensiva, e viu ele colocar uma balinha, das que davam as crianças na pediatria, na mesa na frente dela.


Alfonso: Tome. Pra dar um up na sua glicose. – Ela ergueu a sobrancelha.


Anahí: Fora da minha sala, Herrera! – Cuspiu e ele saiu, rindo e se esquivando da balinha – E pare de roubar as balas da pediatria! Inferno. – Ele ainda ria quando colocou a balinha na boca, saindo dali. Eram boas, o que ele podia dizer?


Aos poucos o Team A ia se reintegrando, o que era bom. Kristen tinha um bom relacionamento com Robert e Ian, e a convivência era agradável; Madison estava sempre lá, e Alfonso vinha se aproximando como um animal desconfiado. Só o triangulo Ian x Nate e Clair ainda estava um tanto avulso, mas com a volta de Anahí ainda era uma vitória.


Kristen: É verdade que Rebekah esteve aqui? – Perguntou, correndo pra acompanhar o passo dele. Ian achava graça.


Madison: É sim, que eu vi. – Denunciou.


Ian: Vocês são duas fofoqueiras. – Dispensou.


Madison: Vocês estão saindo de novo ou...? – Perguntou, intrigada – Pare de andar rápido, é judiação com ela. – Ralhou. Kristen, que era pequena, quase corria pra acompanhar. Ian riu gostosamente.


Ian: Não. Acho que estamos sendo amigáveis, no máximo. Ela vai embora em uns dias. – Dispensou.


Kristen: Eu achei que meio que tinha um tabu entre vocês e etc. Sempre achei que podia usar ela pra te manter na rédea. – Ian ergueu a sobrancelha pra ela.


Ian: Não. Só não conseguimos encontrar um consenso, e nosso casamento acabou. Vocês tem a mente fértil. – Dispensou – E parem de me atrapalhar, eu vou entrar em cirurgia.


Madison: Ai, ele sabe estragar uma fofoca. Que coisa insuportável. – Dispensou. Kristen olhava Ian com desgosto.


Ian: Boa tarde, senhoras. – Dispensou, divertido.


Era bom. No final da tarde, pra exasperação de Alfonso, Anahí não apareceu. Caso não tivesse resolvido tirar os pontos sozinha, o que era bem a cara dela, sabia que estavam secos, mas preferia trabalho. Irresponsável até pra ela.


Alfonso: Sabe onde diabos Anahí se meteu? – Perguntou, irritado, parando na porta de Madison.


Madison: Sei mas só conto se me disser o que quer com ela. – Ofereceu, de novo sorrindo como se não tivesse um arrependimento na vida.


Alfonso: Mulher, fofoca é algo horrível, sabia? – Repreendeu.


Madison: Se você não souber fazer, é mesmo. – Apontou, tranquila.


Alfonso: Ela precisa tirar os pontos, gênio. – Madison fez um "ah" decepcionado – Mas sumiu.


Madison: Já deve estar chegando. Saiu faz umas horas pra a primeira audiência do divórcio, mas disse que não demorava. – Alfonso levou um instante longo calado, as sobrancelhas erguidas – O que é?


Alfonso: Anahí está se divorciando? – Perguntou, quieto.


Madison: Sim, e isso é noticia velha. Você vê, é isso que acontece quando você vira um ranzinza que não interage. As noticias não correm. – Aconselhou.


Alfonso: Desde quando? – Perguntou, sem se conter.


Madison: Ham... Ela nos pediu desculpas no dia depois. Isso foi uns dias antes de Alícia me chamar pra trancar vocês em casa. – Alfonso ergueu as sobrancelhas – Mas ai Kristen exigiu que ela convencesse Henry a defende-la, como condição pra aceitar ela como amiga de volta. Levou um tempinho chato, mas já rolou.


Alfonso: Eu... Ok. Peça pra ela me procurar quando chegar. Estou fazendo hora extra só pra checar esses pontos. – Madison assentiu, com um sorriso que parecia curtir uma piada particular.


Anahí: O que é antiético da sua parte, porque você trabalha pro hospital, não pra um paciente. – Alfonso se sobressaltou quase com um pulo, vendo-a atrás dele no corredor, parecendo tranquila em uma calça de linho branco e uma camisa cinza. Madison riu. – Mas tudo bem, estou aqui. – Aceitou.


Foi só o tempo dela se trocar e seguiram pra um consultório da clinica médica, onde ele podia examiná-la. Ela tirou a camisa, de novo ficando de sutiã e calça e esperou, parecendo entediada. O ponto do ombro foi tranquilo, mal deixando cicatriz. A barriga demorou mais. Ele examinou, olhou, testou, e ela só esperou.


Alfonso: Sem inchaço, sem secreção. Está ótimo. Sentindo alguma coisa? – Ela negou – Perfeito. – Aceitou, puxando um banco pra se sentar. Ela estava sentada na maca, quieta.


Anahí: Por favor, não toque na minha barriga. – Pediu, quieta.


Alfonso: Está sentindo dor? – Perguntou, alarmado.


Anahí: Não, eu só... – Ela respirou fundo – Eu não gosto de falar disso. Mas evite.


Alfonso: Estou aqui como seu médico. Pode me dizer, o que for. – Ela o olhou, parecendo incomodada.


Anahí: Eu não gosto de falar disso, Alfonso. Nem precisa. – Ele esperou – Você é teimoso.


Alfonso: E você está nos fazendo perder tempo. Eu estou em hora extra. – Lembrou. Ela ainda levou um tempo.


Anahí: Depois... Depois da perda do bebê, eu criei aversão. – O semblante dele endureceu – A minha barriga. Ao toque. Me dá agonia. – Explicou.


Alfonso: Porque? – Ela olhou o teto – Era nosso filho, Ana. O que dói em você precisa doer em mim também. – Ela o encarou, quieta.


Anahí: Era onde ele estava. Depois eu fico com a sensação de que ele foi, e eu fiquei... Suja. Como se tivesse ficado morte no lugar dele. – Resumiu – Nunca contei isso a ninguém. Eu só não consigo me acostumar, esse era o lar dele. O único que ele teve, aliás. – Ele assentiu.


Alfonso: Tudo bem. Vou evitar ao máximo. – Ela se amparou no braço, oferecendo a lateral do corpo, facilitando o trabalho.


Ele trabalhou apenas com uma mão, cuidando pra respeitar o limite dela. Anahí parecia tensa, mas foi rápido, e no final sobrou uma cicatriz na lateral da barriga, no formato de uma linha fina. Ele a liberou e ela agradeceu, dizendo que tinha muito trabalho, o que o fez a colocar pra fora dali.


Em casa, ele ainda pensava nisso. Passara na lavanderia e agora organizava suas roupas, repassando tudo o que ocorrera nos últimos dias e as coisas que sabia. Estava tão imerso que nem viu Brenda chegar.


Brenda: Oi? – Ele piscou, saindo dos pensamentos onde estava e sorriu pra ela.


Alfonso: Oi. – Disse, se aproximando com um beijo carinhoso – Estava longe, não ouvi a porta.


Brenda: O que está fazendo? – Ele esperou e ela apontou o cabide na mão dele.


Alfonso: Aproveitei o tempo e busquei as roupas na lavanderia. – Ela fez uma careta.


Brenda: Nós temos empregados pra isso, você sabe, não é? – Perguntou, dando de ombros – E pra fazer a cama, e pra varrer a casa, e lavar os pratos... Cozinhar, já que você parece preferir comida caseira agora. – Apontou, se sentando pra tirar os sapatos.


Alfonso: Eu gosto de organizar minhas coisas. Minha casa, aliás, assim fica do meu jeito. – Ela grunhiu, se apoiando nas mãos – O que foi?


Brenda: Pelo amor de Deus, quem é você?! – Perguntou, exasperada.


Alfonso: É o que?!


Brenda: Esse... Isso... – Ela apontou e ele cruzou os braços – Nunca foi você! Você sempre foi um cara pratico, não perdia tempo com coisas que podemos facilitar, e do dia pra noite você...


Alfonso: Eu...? – Perguntou, esperando.


Brenda: Você pendura roupas, e lava o banheiro e põe o lixo pra fora. – Ele riu de leve – Coisas pequenas, desnecessárias, Alfonso, isso me dá agonia!


Alfonso: Cuidar de casa te dá agonia? – Perguntou, divertido.


Brenda: Não é isso, mas você sempre deixou os empregados fazerem o trabalho deles! – Apontou, obvia – Agora você está tirando carne pra descongelar e dobrando roupas, qual é? – Perguntou, exasperada – Me dá... Agonia viver com uma pessoa que fica perdendo tempo com coisas simples, trabalho dos outros!


Alfonso: Nós somos dois. A casa é simples. Precisamos mesmo de tantos empregados? – Ela ergueu as sobrancelhas.


Brenda: Nós sempre tivemos, ué! – Apontou, obvia.


Alfonso: Eu nunca te pedi nem pra afofar uma almofada. O que está te incomodando? – Perguntou, se aproximando.


Brenda: Essa mudança! Você não me pede, mas de repente mudou do 8 a 80, e você faz! Meu Deus do céu, semana passada eu cheguei e você estava lavando o carro! – Ele se agachou na frente dele – Dois anos de casados e meu marido nunca limpou nem o retrovisor, se precisava ia pro lava jato, é assim que você é! – Ele sorriu. Era um sorriso meigo, de reconhecimento agora.


Alfonso: Não é. A verdade é que nós precisamos conversar. – Disse, quieto.


Brenda: Conversar o que agora? – Perguntou, parecendo cansada.


Alfonso: Quando você me conheceu, eu estava no meu pior momento. – Começou.


Brenda: Quando ela deixou você. Eu me lembro. – Apontou, amarga. Ele assentiu.


Alfonso: Quando eu precisei partir. – Corrigiu – Eu tive dois momentos onde a vida me derrubou: Quando meu pai morreu e quando Anahí me machucou. Nessas duas ocasiões eu precisei me reconstruir, porque eu havia perdido tudo. Na segunda ocasião foi pior, porque eu só tinha sentimentos ruins dentro de mim. Quase como uma doença. Foi quando eu te conheci. – Apontou.


Brenda: Está rodeando. – Apontou, impaciente.


Alfonso: O homem que você conheceu não sou eu. Era o que eu conseguia ser doente de dor, de ódio, como eu estava. Esse cara, que gosta de cozinhar, que prefere cuidar das próprias casas... O cara que você está estranhando sou eu. – Explicou.


Brenda: Então isso aponta que eu não nunca te conheci. – Disse, irônica – Que o homem com quem eu me casei é um estranho!


Alfonso: Tanto é que você está me conhecendo, e pelo visto não está gostando do que está vendo. – Ela o olhou, parecendo em conflito.


Brenda: Você se acostumou a ser daquele jeito. – Apontou – Não precisa mudar tanto assim.


Alfonso: Não estou mudando, Brenda, estou voltando ao normal. – Esclareceu.


Brenda: Nessa vibe pacifista? Fazendo sobremesas e colocando função soneca do despertador pra não levantar de manhã? Do nada? – Insistiu.


Alfonso: Deus, eu odeio acordar cedo. – Confessou e ela negou com o rosto, se levantando.


Brenda: E nesse contexto você estaria "curando"? – Ele se sentou no chão.


Alfonso: Achei que não ia acontecer, mas agora tenho esperanças. – Admitiu, sincero.


Brenda: Você não pode virar pra mim, dois anos depois, e me dizer que você é outra pessoa. Com outros hábitos, outros gostos, outra personalidade. Pelo amor de Deus. – Dispensou, andando de um lado pro outro.


Alfonso: O que você acha que tem acontecido, cada dia quando você entra e se incomoda com algum habito meu? – Perguntou, obvio.


Brenda: Isso não é cabível. – Murmurou.


Alfonso: Eu tenho um respeito enorme por você, Brenda. E sei que muitas vezes não fui um homem que valesse a pena. Que fiz você sofrer. Mas estou me corrigindo. Todos os dias. Te dando todo o meu tempo, meu carinho, minha afeição. – Apontou – Mas a verdade é que precisamos pensar até onde vale a pena seguir, se enquanto você está me conhecendo, detesta tudo o que vê. – Concluiu – Pense sobre isso.


Brenda: Estou pensando, Alfonso. – Assentiu – Eu... Eu preciso sair um pouco. Respirar. – Dispensou, apanhando os sapatos de novo e saindo.


Ele ficou sentado, olhando-a sair... Como se ignorasse o fato de que tinha acabado de chegar.


Anahí: Visitas tão cedo. – Comentou.


Henry: Passageira, de fato, mas preciso informar uma coisa. – Disse, se apoiando na cadeira dela.


Anahí: Sou toda ouvidos. O que ele fez agora? – Perguntou, tranquila.


Henry: Arthur contestou o afastamento dele do hospital solicitando o seu afastamento da diretoria. – Anahí ergueu as sobrancelhas – Você está sendo acusada por autoritarismo, má gestão, má administração de verba, nepotismo e, é claro, de ter um caso com um funcionário casado. – Anahí sorriu de canto.


Anahí: Esse hospital vai ruir das fundações antes que eu seja afastada daqui. – Negou – Estão realmente considerando isso?


Henry: Por enquanto só recebi a notificação, mas achei que você devia saber. Seus atos e decisões muito provavelmente estão sendo avaliadas a partir de agora. – Anahí revirou os olhos.


Clair: Com licença. – Os dois olharam – Anahí, um minuto?


Henry: Eu já terminei, era só isso. – Concluiu – Informo você de qualquer atualização.


Anahí: Sempre um prazer, Cavill. – Aceitou, tranquila – O que houve, Clair?


Clair: Eu só... Meu Deus, eu não acredito que estou passando por isso outra vez. – Comentou consigo mesma.


Anahí: Algum problema com o bebê? – Perguntou, sem entender.


Clair: Não, estamos ótimas, obrigada. – Assentiu – É só... Ok. Depois do episódio do tiro nós fizemos exames de check up, se lembra?


Anahí: Sim. Estou bem, posso me auto atestar. – Garantiu.


Clair: Seu nível de HCG foi detectado no hemograma. – Anahí hesitou, esperando – Eu não tenho outra forma de dizer isso, mas até onde eu tenho conhecimento, você está grávida. – Apontou, quieta. 




Próximo capitulo: Sábado, 07/05.

Okumaya devam et

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